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Guias e Dicas
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p37-52 Guidon As ocupações pre - historicas do Brasil, Notas de estudo de Antropologia

História dos indíos no Brasil

Tipologia: Notas de estudo

2016

Compartilhado em 07/07/2016

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Baixe p37-52 Guidon As ocupações pre - historicas do Brasil e outras Notas de estudo em PDF para Antropologia, somente na Docsity! MANUELA CARNEIRO DA CUNHA (ORG.) FRANCISCO M. SALZANO NIÉDE GUIDON ANNA CURTENIUS ROOSEVELT GREG URBAN BERTA G. RIBEIRO LÚCIA H. VAN VELTHEM BEATRIZ PERRONE-MOISÉS ANTÓNIO CARLOS DE SOUZA LIMA ANTÓNIO PORRO FRANCE-MARIE RENARD-CASEVITZ ANNE CHRISTINE TAYLOR PHILIPPE ERIKSON ROBIN M. WRIGHT NÁDIA FARAGE PAULO SANTILLI MIGUEL A. MENÉNDEZ MARTA ROSA AMOROSO TERENCE TURNER BRUNA FRANCHETTO ARACY LOPES DA SILVA CARLOS FAUSTO MARY KARASCH MARIA HILDA B. PARAÍSO BEATRIZ G. DANTAS JOSÉ AUGUSTO L. SAMPAIO MARIA ROSÁRIO G. DE CARVALHO SILVIA M. SCHMUZIGER CARVALHO JOHN MANUEL MONTEIRO SÓNIA FERRARO DORTA HISTÓRIA DOS ÍNDIOS NO BRASIL 2? edição FaPESP ^fefe. _SMC Fundação DE AMPARO Á Pesquisa y, i -T^ i ltlUsicir«i o! Ti in s DO ESTADO Dt SÃO PAuuí COMHAN H IA DaS LiriRAS iD...JL1"l>..1 .., C:op>rinht © 1992 hy os Autores Projeto editorial: NrCIS.O DF. HISTÓRIA INDÍGF^A E DO INDIGENISMO Capa e projeto gráfico: Motmd CMvakanti Assistência editorial: Mjrta Rosa Amoroso Edição de texto: Otanlío Fernando Nunes Jr. Mapas: Alíàa Roíla Tuca Capelossi Mapa das etnias: Clame CA)hn FJmundo Peggion índices: Beatriz Perrvne-Moisés Clame C^hn Edgar Theodoro da Cunha Edmundo Peggion Sandra Cristina da Silva Pesquisa iconográfica: Manuela Cimeiro da Cunha Marta Rosa Amoroso Oscar Cuilávia Saéz Beatriz Calderari de Miranda Revisão: Cármen Simões da Costa FJiana Antonioli 1^ edição 1992 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (iip) (Câmara Brasileira do Lixro, sp. Brasil) 921393 História dos índios no Brasil / organização Manuela Carneiro da Cunha. — São Paulo : Companhia das letras Se- cretaria Municipal de Cultura : f*pf.sp. 1992 Bibliografia ISBN S5-7164-260-5 1. índios da América do Sul — Brasil — História 1 Cunha. Manuela Carneiro da. (Di>-980.41 AL BR F2519 .H57 1998x índices para catálogo sistemático 1 Brasil índios História 980 41 1998 Todos os direitos desta edição leservados à KDl rC)R.\ St:H\\ARt J'. l.Tlí.V Rua Bandeira Paulista. 702, cj. 72 04532-002 — São Paulo— SP Telefone: (011) 86tU)801 Fiix: (011) 8t)tU)814 e-niail: ct)leiiasiííinleiiu't.sp. ioin.br Biblioteca Digital Curt Nimuendajú http://www.etnolinguistica.org/historia \S ()( rPXÇÕES FUÉ-mSTÓRICAS DO BRASIL 39 A descoberta no Piauí do Ancilostoma duo- denalis (Ferreira, Araújo e Confalonieri, 1988), parasita intestinal do Homem que exige de- terminada temperatura para que a larva pos- sa se desenvolver e se tornar infestante, de- monstra que tudo deve ser repensado, e no- vos modelos devem ser propostos. Esse achado tem uma data comprovada de 7750 anos an- tes do presente (AP). Uma população vinda por Bering não teria podido trazer o parasita até a América porque o mesmo teria desapa- recido durante a passagem pela Beríngia e o Alasca. A menos que se admita que tal passa- gem se fez muito rapidamente, em uma só ge- ração. A existência do parasita no Piauí há mais de 7 mil anos demonstra que um povo vindo de um país quente, por rotas de clima quente, portanto vias marítimas, chegou até aí nessa data. Calculando a distância que separa São Raimundo Nonato, o local do achado, do mar podemos propor que esses grupos navegavam até à América entre 9 mil-10 mil anos, no mínimo. Refletimos sobre diversas possibilidades, e hoje é válido propor como hipótese de traba- lho que diversos grupos humanos chegaram à América, por diferentes vias de acesso, tanto marítimas como terrestres. Pode-se também propor que os primeiros grupos chegaram até o continente há pelo menos 70 mil anos. Os sítios nos quais foram encontrados ves- tígios datados do Pleistoceno final são raros na América, mas no Brasil temos alguns para os quais a quantidade e a qualidade dos vestígios encontrados e o número de datações 14^ ob- tidas são excepcionais e nos permitem afirmar que o Homem colonizou as terras do conti- nente bem antes da data admitida pela teoria clássica. Na região de Central, na Bahia, Maria C. M. C. Beltrão indica a existência de ossos fos- silizados de animais da megafauna que teriam marcas feitas pelo homem e que forneceram datações da ordem de 300 mil anos .\P. Tais datações, feitas por uma técnica que conside- ra outros elementos c^ue não o carbono radioa- ti\o, têm uma importante margem de erro, o (jue tem levado certos autores a não aceitar tais resultados. Considerando o enorme hiato (jue separa essas datações das outras obtidas no mesmo sítio e das de outros sítios pleistocê- incos do Brasil, achamos prudente aguardar no\os achados. Em Minas Gerais existem indícios de pre- sença humana no Pleistoceno. A Laming-Em- peraire dirigiu, entre 1971 e 1976, escavações no abrigo Lapa Vfermelha I\", na região de La- goa Santa em Minas Gerais, tendo obtido da- tações entre 25 mil e 12 mil anos (Laming-Em- peraire, 1979). Os sedimentos desse abrigo es- tavam parcialmente perturbados, o que resul- tou em uma inversão das camadas, e também a escavação não foi terminada. Mesmo assim algumas lascas e raspadores mais antigos do que 15300 anos foram seguramente encontra- dos (Prous, 1986). Não existiam estruturas e o número de peças líticas era pequeno. O sítio de Alice Boér, perto de Rio Claro, no estado de São Paulo, forneceu uma data- ção de 14200 anos AP, associada a um raspa- dor unifacial, uma lasca e duas pontas pedun- culadas (Beltrão, 1966; Biyan e Beltrão, 1978; Hurt, 1986; Guidon e Delibrias, 1985). Segim- do Beltrão (1982) o sítio conteria indústrias de 20 mil e 40 mil anos. Tratando-se de um sítio localizado em um terraço fluvial, parcialmen- te erodido, e não tendo sido encontradas es- truturas, alguns autores não aceitaram sua co- locação no Pleistoceno final; outros du\idani da origem antrópica das peças dos níveis in- feriores. Uma data da ordem de 43 mil anos obtida no Morro Furado (norte de Goiás) foi divul- gada na imprensa (Barbosa, 1976), mas não confirmada. No Abrigo do Sol, Miller (1983) obteve uma datação de cerca de 12 mil anos AP, ligada a uma bela indústria de sílex e a gra- vuras rupestres da tradição Itacoatiaras de Oeste. No sudeste do Piam", na área arqueológica de São Raimundo Nonato, escavações e son- dagens pernútiram a descoberta de três sítios que forneceram amostras de cai"vão cujas da- tações 14* mostram indubitáveis provas da presença humana durante o Pleistoceno final. As camadas pleistocênicas desses sítios forne- ceram \estígios de origem antrópica; são eles a Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Fura- da, a Toca do Sítio do Meio e a Toca do C>al- deirão dos Rodrigues I. Os dois últimos foram unicamente sondados, ao passo que o primei- ro foi objeto de uma ampla esca\ação quv du- rou dez anos. A Toca do Bocjueirão do Sítio da Ptnlra Fu- rada é um grande abrigo rochoso, situado no sopé da cuesfa arenítica, fazendo face à planí- 40 IllMOKU 1X)S INUIDS NO UUVMI cie pré-canibriana. A partnle do fundo é co- berta por mais de mil fíii;uras pintadas, (lue são os resciuícios de pinturas nuiito mais abundan- tes. Diferentes processos naturais de destrui- ção causam descamavões e quedas de blocos, tendo já destruído cerca de 40% das pinturas pré-lnstóricas. A inclinarão do paredão, com 150 m de al- tura, cria um amplo espaço abrigado da chu- \a. O abrigo está a cerca de 19 m acima do núel do \ale e domina do alto a desemboca- dura do boqueirão da Pedra Furada. As esca\ações, iniciadas em 1978, demons- traram que o abrigo foi utilizado pelo homem pré-liistórico, pelo menos desde há cerca de 50 mil anos (Guidon e Delibrias, 1986). As pri- meiras ocupações, reduzidas, utilizaram par- te da base rochosa próxima ã parede do fun- do. O local era então protegido do vale por um amontoado de blocos caídos. A medida que o tempo passaxa a erosão fazia com que sedi- mentos desprendidos da parede, em curso de desagregação, cobrissem aos poucos os vestí- gios humanos que aí eram depositados de ma- neira intermitente. Desse modo formaram-se camadas que refletem quinze fases de ocupa- ção, as quais podem ser agrupadas em três fa- ses culturais: uma primeira. Pedra Furada, que compreende os grupos do Pleistoceno; a fase Serra Talhada, que corresponde às populações que freqiientaram o abrigo desde o início do Holoceno, de 12 mil anos atrás até cerca de — 7 mil/ —6 mil anos; e finalmente uma ter- ceira. Agreste, que parece corresponder à che- gada de um novo grupo à região. Esse abrigo parece ter ser\ido no início co- mo um refúgio temporário, sendo o abasteci- mento de água garantido por um caldeirão de cerca de 7 mil litros de capacidade que se en- contra no próprio sítio; subsequentemente ele passou a servir como um sítio cerimonial ca- racterizado pela prática intensiva da pintura, por um uso intermitente e pelo trabalho oca- sional de lascamento da pedra para obter fer- ramentas. Durante a fase cultural mais antiga. Pedra Furada, foram construídos grandes fogões cir- culares graças à utilização de blocos caídos, ar- rumados de modo a circunscrever a fogueira. No interior desses fogões encontramos abun- dante quantidade de carv ão. .\ indústria lítica se concentrava especialmente nas v izinhanças desses fogões; os homens pré-lnstóricos lasca- vam então seixos de quartzo e de quartzito. existentes nas v izinhanças do sítio. Os artefa- tos retocados intencionalmente constituem de 11% a 6,35% das peças no Pleistoceno (dimi- nuindo no Holoceno). Durante a fase Pedra Furada o retoque é limitado unicamente às margens dos bordos; o tipo mais comum de ferramentas são os raspadores, de formas mui- to variadas. O conjunto de artefatos das cama- das pleistocênicas é dicotômico: ao lado de pe- ças maciças, grandes e pesadas {core-tools e pebble-tools), existe um conjunto menor de pe- ças leves, feitas sobre lascas. As primeiras são usualmente relacionadas com a quebra de os- sos enquanto as lascas são normalmente asso- ciadas com as atividades de cortar a caça e ou- tros materiais (Toth, 1985). Fragmentos utili- zados, com marcas de uso nos bordos, são os componentes mais comuns do complexo líti- co Pedra Furada. Os subprodutos dessa indús- tria são, principalmente, lascas corticais e sub- corticais (Guidon, Parenti e Pellerin, 1990). A análise fina da coleção de peçiis líticiís co- letadas durante esses dez anos de escavação está em curso (F Parenti) e seu resultado per- mitirá conhecer outros detalhes sobre a vida desses povos. Os resultados das escavações peniiitem iifir- mar que esses grupos caçadores-coletores vi- viam explorando de maneira equilibrada as múltiplas potencialidades dos diversos ecos- sistemas da área. O relevo, a disposição das fontes de água, a riqueza da fauna (demons- trada pelas escavações de sítios paleontológi- cos) faziam dessa região, atuiilmente miserá- vel e quase que inteiramente desprovida de caça, um local ideal para a instalação de gru- pos de economia extrativ ista e de tecnologia simples. .\ pesíjuisa está em fase de coleta de dados visando um estuda detalhado dos padrões de ocupação do espaço e dv manejo dos recur- sos naturais. O levantamento dos sítios ivupa- dos pelas populações pleistocênicas, a identi- fk-ação da função desses sítios, suas relações topográficas com os acidtMitt>s do relevo e as fontes de iígiia permitirão uma an;ilise da intor- relação entre o homem e o moio ambiente no primeiro período da a\entura humana n.i região). .\s primeiras manifestações de ivgistix» ru- pestres eucontram-se em pedaços de paivde caídos, uos quais se notam ainda leves mau- AS OCIPAÇÕES PRK-IIISTÓKICAS DO BKASll 41 chas de pigmento vermelho (Pessis, 1987). Carvões recolhidos em fogões descobertos na mesma camada em que foram encontrados es- ses blocos puderam ser datados; assim sabe- mos que por volta de 32 mil anos atrás essas populações já aplica\am pigmentos sobre as paredes do abrigo. Um bloco, encontrado ao lado de um fogão datado de 17 mil anos, mos- trava duas retas paralelas de pintura \ ermelha, sendo essa a primeira manifestação segura da prática da arte rupestre na área. As sondagens praticadas nos dois outros sí- tios citados, Toca do Sítio do Meio e Toca do Caldeirão dos Rodrigues I, completam e con- firmam essa seqiiência cronocultural. Um con- junto de datas 14*^ situa cronologicamente a fase Pedra Furada. As datações obtidas na To- ca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada vão de 14 mil até 48 mil AP. No Sítio do Meio as datações corresponden- tes à camadas do Pleistoceno vão de 12 mil a 14 mil AP. Uma data pleistocênica de 18600 anos AP foi obtida graças a amostras obtidas em uma pequena sondagem realizada na Toca do Cal- deirão dos Rodrigues. Considerando-se que até um metro abaixo da camada datada de 48 mil anos ainda havia material arqueológico, pode-se afirmar que a área arqueológica de São Raimundo Nonato foi ocupada pelo Homem desde há cerca de 60 mil anos. Os primeiros grupos parecem ter se instalado no sopé da cuesta, mas foram en- contrados vestígios de suas incursões no inte- rior do sistema de canona do relevo interno do maciço sedimentar. Na planície pré-cambriana aparecem vestígios de aldeias que podem ter sido o habitat permanente desses povos. Os grupos pleistocênicos desenvolveram-se muito lentamente, evoluindo in sitti, parecen- do não terem sido perturbados por invasões ou outras levas populacionais. Suas origens são completamente ignoradas e é urgente que uma pesquisa em nível regional seja realizada, pa- ra se obterem dados que permitam defnnr a direção da migração dessas etnias que desco- briram e colonizaram a área. Somente então poder-se-ào levantar hipóteses sobre as origens dos grupos humanos mais antigos. Segundo uma das hipóteses de tral)alho (|ue orientam nosso programa, esses grupos pleistocênicos são os mesmos ({uv perduraram na área até o im'cio do Iloloceno. A evolução da tecnologia lítica, a existên- cia de certos tipos de ferramentas que perdu- ram desde as primeiras ocupações até o Ho- loceno, a semelhança entre os tipos de fogões e a manutenção do mesmo modelo de ocupa- ção de espaço intra-sítio fundamentam essa hi- pótese. Não se \erificam mudanças bruscas, que caracterizariam a chegada de um novo grupo. Em síntese pode-se admitir que, penetran- do no país por uma \ia ainda desconhecida, grupos humanos chegaram até o sudeste do Piauí há cerca de 60 mil anos. O sul de Minas Cerais estaria povoado por volta de 30 mil anos atrás, e no Sul do Brasil grupos humanos es- tariam estabelecidos há pelo menos 15 mil anos. Deveremos encontrar sítios ainda mais antigos (jue os de São Raimundo Nonato nas regiões pelas quais entraram esses primeiros povoadores: Oeste, se optarmos por uma ori- gem asiática, como parece indicar a indústria lítica dos sítios do Piauí, nuiito próxima das australianas e da de Choukoutien, sítio próxi- mo a Pequim, ou Leste se escolhermos optar como \ia de penetração o oceano .Vtlântico. Sítio Alice Boèr. Pontas de flechas foliáceas e com pedúnculo (projéteis). A ponta com pedúnculo foi datada pelo método do 14^ em 14200 + 1150 anos. Os números (de 7 a 10) referem-se ao nível arqueológico (7 corresponde a 60,7 cm: 10 corresponde a 90,1 cm). 44 msTOKlV IX>S IMllDS \H HK\slI tratam com detalhes a e\olu(;ão sociocultural desses s;nipi)s durante pelo menos 6 mil anos, o que constitui um tios mais longos e impor- tantes tirqui\os \ isuais sobre a Humanidade disponúel, hoje, no mundo. C) clima parece ter mudado de maneira ra- dical; os dados paleontológicos evidenciam a instalação do regime semi-árido e o desapa- recimento dos grandes animais, sobretudo de animais que \ i\ iam em giupos. Atualmente es- tão sendo feitas as aniílises em lal)oratório das amostras coletadas, principalmente de pólen ióssil, para poder identificar de maneira pre- cisa as mudanças na vegetação, que são em menor escala um excelente indicador das mu- danças climáticas. Pode-se entretanto supor que houve uma aridificação marcada, com modificação de uma grande parte dos recursos naturais. Isso teria tornado os ecossistemas mais frágeis e com pouca capacidade para suportar um ex- trati\ismo intenso. O fato de que durante o Holoceno outros grupos ocuparam os espaços \izinhos à área demonstra que a população do continente já era densa e que se espalhava por todo o terri- tório sul-americano. A área não era mais uni- camente a terra dos po\os de tradição Nordes- te, já ha\ia uma "internacionalização" e, sem dúvida, usos e costumes sofreram modifica- ções profundas em razão dessa coabitação. Os padrões de ocupação do espaço e o manejo dos recursos naturais se adaptaram às novas condições. O posicionamento de sítios dos po- vos de tradição Nordeste e o imbricamento com sítios de etnias pertencentes a outras tra- dições são uma fonte preciosa de dados para o estudo desses novos padrões. O estudo dos registros gráficos rupestres se desenvoKe conjuntamente com as pesquisas feitas em outras áreas da pré-história. Assim, todas as conclusões que podem ser obtidas e as sínteses preliminares que são propostas re- sultam de um trabalho conjunto, em que os dados interdisciplinares servem para confirniiir ou refutar as distintas hipóteses que são le\an- tadas a partir das análises dos painéis de pin- tura. Até hoje os trabalhos de pesquisa se con- centraram particularmente sobre os registros gráficos picturais, de\ ido ao \alor (jue os te- mas reconhecí\eis tinham para o trabalho de antropologia pré-histórica. Mas dacjui para o futuro as pesíjuisas \ão se orientar para outros registros, as gra\ uras, pois já se dispõe de um referencial gráfico claramente identificado e associado aos outros dados arqueológicos. Existem abundantes vestígios da ati\ idade gráfica do homem pré-histórico em todo o país, mas na região Nordeste eles aparecem em maior número e são mais diversificados. Na área arqueológica de São Riiimundo No- nato esses registros foram estudados em um conjunto de mais de duzentos sítios, o que per- mite que se chegue a conclusões seguras. Os po\os das fases culturais Pedra Furada e Serra Talhada, da tradição Nordeste, são os autores das pinturas rupestres que cobrem as paredes de um grande número de sítios na área de São Raimundo Nonato, e também no Seridó e nas proximidades da cidade de Passa e Fica (Rio Grande do Norte) (Pessis. 1990). Elas são caracterizadas pela presença de gra- fismos reconhecíveis (figuras humanas, ani- mais, plantas e objetos) e de grafismos puros, os quais não podem ser identificados. Essas fi- guras são, muitas \ezes, dispostas de modo a representar ações, cujo tema é, às \ezes, re- conhecível (Pessis, 1987). Os grafismos que não representam elementos conhecidos do mundo sensíxel são nitidamente minoritários. As figuras humanas e animais aparecem em proporções iguais e são mais numerosas que as representações de objetos e de figiiras fito- morfas. Algumas representações humanas são apresentadas rexestidas de atributos culturais, tais como enfeites de cabeça, objetos cerimo- niais nas mãos etc. As composições de grafis- mos representando ações ligadas seja à \ida de todos os dias, seja a cerimoniais são abun- dantes e constituem a especificidade da tra- dição Nordeste. Quatro temas principais apa- recem din-ante os 6 mil anos. atestados, de existência dessa tradição: dança, praticas se- xuais, caça e manifestações rituais em torno de uma ánore. São também fi-eqúentes as composições gráficas representando ações identificá\eis mas cujo tema não podeinos re- conhecer; um exemplo desse c;u;o é uma cx^m- posição na c|ual \ árias figin-as human;is apart^ cem dispostas umas sobre os ombivs d;is ou- tras, formando uma pinimide humana, o que faz evocar uma representação acn^bática. Ou- tro tipo de composição gráfica, que se acl\a com fretiiiència eju todas as sul>tradiçòt"s da tradição Nordeste, é dt^signada como com^w siçiui emblemática. Trata-se de tig\u-;is dispo<- AS OCUPAÇÕES PRÉ-IIISTÓRICAS DO BUASII 45 tas de maneira típica, com posturas e gestos de pouca complexidade gráfica mas que se re- petem sistematicamente. Uma das composi- ções emblemáticas dessa tradição representa duas figuras humanas colocadas costas contra costas e frequentemente acompanhadas de um grafismo não reconhecível. Essa tradição revela uma pintura figurativa mas não realista; a maioria das figuras é reco- nhecível mas representada segundo um códi- go gráfico convencional muito afastado da rea- lidade natural (Pessis, 1987). Ela associa a pin- tura figurativa a um tipo de representações gráficas — grafismos puros — que são as uni- dades de um código do qual somente os auto- res possuíam a chave. Ela existe em outros es- tados do Nordeste onde foi datada de 9 mil anos AP (Martin Ávila, 1988), chegando, no es- tado do Rio Grande do Norte, até a 50 km do mar. Já foram descritos sítios com pinturas apresentando as características da tradição Nordeste em Minas Gerais, Goiás e Mato Gros- so, mas seu foco de origem parece ser a área de São Raimundo Nonato, particularmente em razão de sua antigiiidade, do número de sítios e da diversificação estilística. Graças à abundância de sítios e à sua larga distribuição espacial e temporal pudemos clas- sificá-la em subtradições e estilos. Atualmen- te conhecemos a subtradição Várzea Grande, no sudeste do Piauí (Guidon, 1984) e a sub- tradição Seridó, no Rio Grande do Norte (Mar- tin Ávila, 1988). A subtradição Várzea Grande, a mais bem estudada e representada, está dividida em es- tilos que se sucedem no tempo: Serra da Ca- pivara, o mais antigo, complexo estilístico Ser- ra Talhada e Serra Branca, estilo final dessa subtradição na área de São Raimundo Nonato. O estilo Serra da Capivara apresenta figu- ras cujos contornos são completamente fecha- dos, desenhados por traços contínuos e uma boa técnica gráfica. Na maioria das vezes, so- bretudo (juando o tamanho o permite, as fi- guras são pintadas inteiramente com tinta li- sa. As representações humanas são pequenas, geralmente menores (|ue as figuras animais. Estas liltinias são em geral colocadas em um local visível e dominam o conjunto das com- posições; a cor mais utilizada é o xcrinciho. O estilo Serra Branca apresenta figuras hu- manas com uma forma nuiito particular do corpo, o (|ual loi decorado por linhas vcrtic-ais Sítio Alice Boèr, camada III, nível 8 (70 a 80 cm). Raspador "lesma' tamanho natural. ou por traçados geométricos cuidadosamente executados. Freciíientemeute os animais são desenhados por uma linha de contorno abiM- ta; alguns têm o corpo preenchido por tinta lisa, mas a maioria apresenta um picenelii- 46 HisTOKi V nos i\nios \o hkxsii mento geométrico semelhante àquele dos se- res humanos. O complexo estilístico Serra TaUuuUi é mui- to mais iieterogèneo e possui diversas carac- terísticas classificatórias que nem sempre es- tão presentes em todos os sítios pertencentes à classe, mas quando uma falta outra está re- presentada. A classe se caracteriza pelas sé- ries de figuras humanas dispostas em linha e a utilização de \ árias cores (vermelho, bran- ca cinza, marrom, amarelo), sendo comuns as tiguras bicromáticas ou tricromáticas. Apare- cem também figuras com características grá- ficas muito peculiares, por exemplo figuras hu- manas que apresentam as extremidades exa- geradamente compridas; abundam também as figinas extremamente pequenas. A técnica de pintura do corpo das figuras se diferencia: iilém da tinta lisa e dos traçados gráficos com- plexos aparecem outros tipos tais como pon- tos ou zonas reservadas. Os dados atualmente disponíveis permiti- ram propor uma explicação segundo a qual es- sa sucessão de estilos não representa diferen- tes unidades estilísticas perfeitamente distin- tas e segregáveis, mas sim reflete uma evolução lenta e contínua que durante cerca de 6 mil anos introduziu micromodificações no estilo básico Serra da Capivara. Isso levou a um de- senvolvimento contínuo da subtradição Vár- zea Grande, sendo o complexo Serra Talhada resultado desse processo evolutivo que acumu- lou microdiferenças, as quais redundaram no estilo final, Serra Branca (Pessis, 1987). Talvez em razão da diminuição dos recur- sos naturais, e pressionados por povos que mesmo tendo uma tecnologia e uma prática rupestre menos perfeitas dominavam a arte da guerra, os povos de tradição Nordeste abando- naram a área. Por volta de —6 mil anos desa- parecem todos os vestígios desses hábeis ar- tesãos pré-históricos. Em seu lugar, podemos propor como uma hipótese, dominam agora vários grupos, acantonados dentro de limites definidos: nas serras, nas antigas posses dos po- vos Nordeste, situam-se os povos de tradição Agreste; na planície pré-cambriana encontra- mos manifestações de um povo ligado a uma tradição que tem uma vasta distribuição geo- gráfica em todo o Nordeste: a tradição Uacoa- tiaras de Leste; este último parece ter aí se ins- talado desde há mais tempo, taKez cerca de 8 mil anos. Algumas figuras pintadas em abri- gos das três tradições acima citadas mostram que outros grupos atravessavam de maneira es- porádica a região: são os grupos responsáveis pelas manifestações gráficas da tradição Geo- métrica. Outra hipótese plausível é que as ma- nifestações rupestres das tradições Itacoatia- ras de Leste e Geométrica, ligadas a indústrias de técnica semelhante, mesmo se existem di- ferenças moríológicas entre os tipos presen- tes, são o testemunho de situações distintas na \ ida de uma única sociedade. Nesse caso as diferenças verificadas no complexo técnico se- riam o resultado de diferenças funcionais en- tre os sítios. Somente a realização de escava- ções extensivas poderá testar essas hipóteses. A fase cultural Agreste tem uma indústria lítica de má qualidade técnica; o sílex deixa de ser tão abundante e volta-se a utilizar em grande escala, os seixos de quartzo e de quart- zito que se encontram facilmente em tomo dos sítios. O retoque é raro e de má qualidade; pre- dominam as ferramentas de tipo chopper e chopping-tools e as lascas sem retoques; os ras- padores laterais completam a coleção. Pessis (1990) fornece uma descrição das pinturas dessa fase: "Os povos de tradição Agreste deixaram inúmeros testemunhos giilficos Uiis paredes ro- chosas dos abrigos do Nordeste. Essa tradição de pintura se caracteriza pela predominância de grafismos reconhecíveis, piu-ticularmente da classe das figuras humanas, sendo raros os animais. Nunca aparecem representações de objetos, nem de figuras titomorfas. Os gnifis- mos representando ações são raros e retratam unicamente caçadas. .\o contrário da tradição Nordeste as figuras são representadas parad.is: não há nem mov imento nem dinamismo. Os grafismos puros, minto mais abundantes cjue na tradição Nordeste, apresentam uma morfo- logia bem diferente e diversificada. Com freqiiència as figuras Agf\'Af<" toauii realizadas no interior de painéis Nonicste. o (jue dificultou os trabalhos an;ilíticos na segit^ gação das tradições. E também muito comum achar os grafismos desta tradição super^iostos a grafismos lU^ outras trailiç«.Vs. C) estiuU> deste procedimento de supeiposiçào permitiu iden- tificar a existência de um critério de e.scollui do espaço pictorial que e próprio da tradição A^vste quando ela partilha um espaço mate- rial com a tracliçào \onlt'stt\ \ técnica de dt^ senho e de pintura e de ma qualidade, os di^ AS OCUPAÇÕES PKÉ-inSTÓRIOAS DO BHASII 49 Segundo Schmitz (op. cit.), "é caracterizada por uma economia caçadora-coletora genera- lizada que explorava nichos variados. Em um extremo está o cerrado, a caatinga ou a sava- na; no outro extremo está a floresta. Tipos de vegetação intermediários e transicionais in- cluem o semideserto ('agreste') e o cerrado denso. Foram encontradas ocupações huma- nas em cavernas ou abrigos em Minas Gerais, Goiás, Pernambuco e Piauí e em topos de co- linas em Goiás, Bahia e Pernambuco. Alguns sítios parecem permanentes, como no sudoes- te e no centro de Goiás, onde os recursos de- vem ter sido abundantes, mas a maioria eram acampamentos temporários". Segundo esse autor os mais importantes e frequentes tipos líticos da tradição Itaparica são as lascas, raspadores, furadores, facas, chop- pers e percutores. As pontas de projéteis são muito raras. Prous (1986) trata de um horizonte antigo, às vezes denominado paleoíndio, que no pla- nalto Central e no Nordeste se caracterizaria pelo retoque unifacial de lascas de quartzito, cristal de rocha ou sílex visando a obtenção de "artefatos rústicos plano-convexos: raspa- dores carenados, lesmas [...]. Perto de Lagoa Santa já se encontram pontas de projétil pe- dunculadas em cristal de rocha e machados lascados com a borda polida". Entre 8500 e 6500 anos se situaria, segun- do Schmitz (op. cit.), o período de transição. Durante essa época teria aumentado o consu- mo de frutos e de moluscos terrestres, tendo "declinado a caça generalizada. Simultanea- mente, os instrumentos bem constituídos do período anterior foram substituídos por imple- mentos menores e menos elaborados produ- zidos por uma técnica diferente. Conchas e os- sos se tornam matérias-primas importantes. Sí- tios abertos não eram ocupados em Goiás, embora seu uso continuasse em Pernambuco e na Bahia" (Schmitz, 1980). Segundo o mesmo autor essa situação se re- pete em Minas Gerais (Prous, 1981b; Prous et alii, 1984; Dias, 1981c). Pontas foliáceas bifa- ciais, em quartzo cristalino, aparecem em Per- nambuco, mas em pequena escala, ao contrá- rio do que acontece em São Paulo e Minas Gerais. Prous (1986) classifica como Arcaico mais recente o período após 7 mil anos, e o carac- teriza pelo abandono quase total do retoque da pedra, utilizada então sob a forma de las- cas brutas. Aparece uma indústria que usa conchas como matéria-prima e constrói caba- Raspadores longos, característicos da tradição Itaparica, de populações que ocupavam áreas de cerrado no centro do Brasil, entre 9 mil e 6500 anos. 50 msTOKiv oos ivmos \c> hiumi Restos de cinco indivíduos da raça de Lagoa Santa. Cemitério de Santana do Riacho (entre 8000 e 8500 AP). Os corpos nnais recentes perturbaram os enterramentos mais antigos. ^ ^^W '<<í f nas. Segundo esse autor, por \olta de 4 mil anos .\P o milho já era cultivado. Em Minas Gerais nessa época existiriam duas tradições de pinturas: a \ordeste (com as mesmas ca- racterísticas com que aparece no Piauí) e a Pla- nalto. Esta última é ciu"acterizada por "um pre- domínio de animais monocromáticos, geral- mente cerNÍdeos, e menos frequentemente peixes, pássaros, tatus e tamanduás, cuja fre- quência varia segundo as regiões e os pe- ríodos". Algumas pinturas teriam mais de 7 mil anos. Ao fim desse período apareceria no \ ale do rio São Francisco uma tradição de pintu- ras de mesmo nome (que nos parece aparen- tada à tradição Geométrica do Piauí) na qual "os seres \ i\os estão quase completamente au- sentes, ao mesmo tempo que os signos geo- métricos mono ou policromáticos recobrem a parte inferior dos abrigos. Essa tradição se pro- longa até o período ceramista, no curso da qual os signos se tornam espetaculares". Uma tendência é portanto nítida: a uma in- dústria lítica de bela técnica, uso maior do re- toque e com grande variedade tipológica su- cede um complexo técnico menos a\ançado tecnicamente e mais restrito. O HOLOCENO NO SUL Nos estados do Sul a tradição mais antiga (en- tre 13 mil e 8500 anos .\P) é a que Miller (1976a, b) definiu graças aos trabalhos cjue de- semolveu na bacia do rio Uruguai. C) mate- rial lítico mostra duas tendências, definidas co- mo fases pelo autor Em dois sítios ele encon- trou material lítico que catalogou como fase Ibicuí: artetatos pouco elaborados a partir de núcleos de basalto e de plaquetas de arenito metamóriíco e que mostram traços de uso. Es- se material apareceu associado à megafauna fóssil. Datações 14* situam cronologicamen- te essa fase: 12 700-12 690 anos AP. Peíjuenas pontas de projétil pedunculadas e aitefatos lascados e retocados (facas bifaciais. raspadores terminais e laterais e bifaces lan- ceoladas) encontrados em dezesseis sítios lo- calizados na barranca do rio Uruguai consti- tuem a fase Uruguai, com datações 14' que vão de 11 555 a 8640 anos AP. Entre 8500 e 6500 anos AP existiriam al- guns sítios em Santa Catarina e no Rio Gran- de do Sul (Rohr, 1966; Miller, 1969a; Schmitz. 1985) com equipamento lítico diferenciado do anterior. \o Paraná, Chm>7: (1978; 1979; 1980; 1981a, b; 1982) estabeleceu a fase Vinitu com um complexo lítico composto de lascas, facas, raspadores, plainas, machadinhas, bifaces e pontas de flecha foliáceas ou pedunculadas. Entre -6500 e -2000 anos, de São Paulo ao Rio Grande do Sul, aparece a tradição que alguns autores chamam de Humaita (Schmitz. 1987), caracterizada pela ausência de pontas de flecha e por uma indústria composta de bi- faces, cJioppers e chopping-tooh. griuides picks, raspadores, furadores, ferramentas pontiagu- das e lascas. Os sítios são geralmente ao ar li- \Te, nas barrancas de grandes rios e seus tri- butários, raramente em abrigos. A existência em alguns sítios Humaitá de zoólitos (Ribeiro et alii, 1977), esculturas em forma de animais, normalmente encontradas nos sambaquis da costa sul, fez com que iilgims autores presu- missem que ha\ ia contato entre os po\os Hu- maitá e os habitantes litorâneos. Sítios do rio Paranapanema (Morais, 1983. Xiiilou. 19S3-4) pertenceriam (Schmitz. 1987) a essa tradição de caçadores-coletores das florestas twpicais úmidas. Em algims sítios Humaitá apiuvivm gra\uras rupestres (Brochado e Schmit/. 1976). .\s datas obtidas para essa tradição \ão de 7020 a 1920 anos AP. Ocupando tiunbém t>s estados do Sul. a tra- dição l'mhu. representada em cerca de iiua- trocentos sítios, é earacteri/adu pela presen- ça de pontas de projéteis. Em algvnnas ártMs ela tli\itle o territiMÍi> com a tradição llunuii- tá. Seus sítios, ao ar li\rt^ ou em ahrigi^s, a^xi- recem nas bordas do planalta mas tamlvm nos cerrito.s, ele\ações artificiais construídas AS OCUPAÇÕES PKK-IIISTÓKIC.AS DO BKASII. 51 na planície. Praticavam a caça de pequenos e médios animais, coletavam tartarugas e frutos (Schorr, 1975; Schmitz, 1976). No estado de São Paulo, em sítios atribuídos por alguns au- tores (Schmitz, 1987) a essa tradição, foram en- contrados fogões associados com lascamento de pedra e sepultamentos (Pallestrini, 1975, 1977; Pallestrini et alii, 1981-2; Morais, 1979, 1983; Caldarelli, 1983). Essa atribuição não é aceita por todos, sendo proposta uma filiação com os grupos de Minas Gerais, também por- tadores de pontas. O complexo lítico é com- posto por machados, bolas, lascas, raras lâmi- nas, facas bifaciais, raspadores, buris, bifaces e as pontas de flecha, triangulares ou foliáceas. Gravuras rupestres do Rio Grande do Sul es- tariam ligadas a essa tradição (Brochado e Schmitz, 1976; Schmitz e Brochado, 1982; Ri- beiro, 1978). Umbu, segundo alguns autores, poderia ter derivado da fase Uruguai. As da- tas disponíveis situam a tradição entre 5950 e 290 anos AP. O HOLOCENO NO LITORAL Os sítios mais conhecidos do litoral são os sam- baquis, colinas formadas por conchas de mo- luscos que foram consumidos por populações pré-históricas. Os sambaquis existem desde o litoral do Nordeste (onde são raros) até o Rio Grande do Sul. Neles são encontrados sepul- tamentos, restos de comida, uma indústria lí- tica lascada rudimentar, peças líticas polidas, além de uma abundante indústria sobre ossos, dentes e conchas. No litoral sul, de Cananéia até Torres, aparecem esculturas zoomórficas, os zoólitos (Prous e Piazza, 1977). Em razão da subida do nível do mar, nos últimos 6 mil anos, os sambaquis mais antigos estão sob as águas; somente subsistem os sí- tios de menos de 6 mil anos. A bibliografia so- bre esses sítios é abundante (líurt, 1974, 1980, 1983; Prous, 1976; Prous e Piazza, 1977; Gar- cia, 1972; Rauth, 1967-8; Fairbridge, 1976; Hurt e Blasi, 1960; Bigarella, 1950-1; Beck, 1969; Beltrão et alii, 1978; Bryan, 1977; Em- peraire e Laming, 1956; (iarica e Uchoa, 1980). Gontemporaneamente à formação dos sam- ba(iuis, a costa é ocupada pela tradição Itai- pu, (jue se diferenciaria da cultura dos sam- bacjuis pela tecnologia, padrões de subsistên- cia e de enterramento. Os sítios se situam sobre dunas ou ficam mais afastados da costa. na borda de mangues ou lagunas. Em vez de moluscos marinhos teria havido maior utiliza- ção de peixes, mamíferos, vegetais e moluscos de água doce. Alguns autores aventaram a hi- pótese de que essa tradição teria uma agricul- tura incipiente (Turner e Machado, 1983). A tradição Itaipu iria de —4 mil até —1475 anos (Perota, 1971, 1974; Car\alho, 1984; Dias, 1976-7, 1981a; Dias e Carvalho, 1983; Macha- do, 1983). AGRICULTORES E/OU CERAMISTAS Não existem no país trabalhos direcionados es- pecialmente ao estudo do aparecimento da agricultura. Essa informação é sempre aces- sória. Na área arqueológica de São Raimundo Nonato, os primeiros indícios de cultivo de amendoim, feijão e cabaça foram datados pe- lo 14' em 2090 anos AP. Em Minas Gerais (Dias, 1981c; Prous, 1981b) o aparecimento de plantas cultivadas seria mais antigo, entre —4 mil e —3500 anos. Ao lado: Artefatos típicos da tradição Humaitá, de populações que ocupavam as matas ao longo dos rios Uruguai e Paraná (6000 a.C—1000 d.C). Abaixo: Pontas de projéteis típicos da tradição Umbu, de populações que ocupavam áreas mais abertas do Sul do Brasil e do Uruguai (9000 a.C—1000 d.C). iiViH|iin[nii|[íí(|iiii|iiii|iiii|nii|íiii|iiii|iiii|iiii|iiij^^
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