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Guias e Dicas
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apostila FGF-Remediação Ambiental, Notas de estudo de Engenharia Ambiental

apostila do curso de pós-graduação em saneamento ambiental

Tipologia: Notas de estudo

2012

Compartilhado em 18/11/2012

paulo-roberto-euo
paulo-roberto-euo 🇧🇷

4.7

(3)

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Baixe apostila FGF-Remediação Ambiental e outras Notas de estudo em PDF para Engenharia Ambiental, somente na Docsity! PÓS-GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA ZA a OS Remediação Ambiental Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 3 Sumário Apresentação ....................................................................................................................................... 4 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa ................................................................................ 5 Organização da Disciplina ................................................................................................................... 6 Introdução ............................................................................................................................................ 7 Unidade I – Poluição Ambiental .......................................................................................................... 9 Capítulo 1 – Aspectos Gerais ...................................................................................................... 9 Capítulo 2 – Contaminação Ambiental ......................................................................................... 11 Unidade II – Remediação Ambiental ................................................................................................... 19 Capítulo 3 – Tipos de Remediação .............................................................................................. 19 Capítulo 4 – Estratégias para Remediação e Processos Biológicos .............................................. 21 Capítulo 5 – Condições Ambientais que Favorecem o Desenvolvimento Microbiano ...................... 24 Capítulo 6 – Relação da Atividade Microbiana com Ambientes Poluídos ...................................... 26 Unidade III – Biorremediação .............................................................................................................. 27 Capítulo 7 – Biorremediação no Tratamento de Águas Residuais, Metais Pesados, Agrotóxicos, Fenol e Derivados, Petróleo e Derivados .............................................. 27 Capítulo 8 – Produtos Comercializados ......................................................................................... 30 Capítulo 9 – Legislação Brasileira ................................................................................................. 32 Para (não) Finalizar .............................................................................................................................. 34 Referências ........................................................................................................................................... 35 4 Re m ed ia çã o Am bi en ta l Apresentação Caro aluno, Bem-vindo ao estudo da disciplina Remediação Ambiental. Este é o nosso Caderno de Estudos e Pesquisa, material elaborado com o objetivo de contribuir para a realização e o desenvolvimento de seus estudos, assim como para a ampliação de seus conhecimentos. Para que você se informe sobre o conteúdo a ser estudado nas próximas semanas, conheça os objetivos da disciplina, a organização dos temas e o número aproximado de horas de estudo que devem ser dedicadas a cada unidade. A carga horária desta disciplina é de 40 (quarenta) horas, cabendo a você administrar o tempo conforme a sua disponibilidade. Mas, lembre-se, há uma data-limite para a conclusão do curso, implicando a apresentação ao seu tutor das atividades avaliativas indicadas. Os conteúdos foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, que farão parte das atividades avaliativas do curso; serão indicadas também fontes de consulta para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. Desejamos a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados nesta disciplina. Lembre-se de que, apesar de distantes, podemos estar muito próximos. A Coordenação do PosEAD Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Apresentação: Mensagem da Coordenação do PosEAD. Organização da Disciplina: Apresentação dos objetivos e carga horária das unidades. Introdução: Contextualização do estudo a ser desenvolvido pelo aluno na disciplina, indicando a importância desta para a sua formação acadêmica. Ícones utilizados no material didático Provocação: Pensamentos inseridos no material didático para provocar a reflexão sobre sua prática e seus sentimentos ao desenvolver os estudos em cada disciplina. Para refletir: Questões inseridas durante o estudo da disciplina, para estimulá-lo a pensar a respeito do assunto proposto. Registre aqui a sua visão, sem se preocupar com o conteúdo do texto. O importante é verificar seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. É fundamental que você reflita sobre as questões propostas. Elas são o ponto de partida de nosso trabalho. Textos para leitura complementar: Novos textos, trechos de textos referenciais, conceitos de dicionários, exemplos e sugestões, para apresentar novas visões sobre o tema abordado no texto básico. Sintetizando e enriquecendo nossas informações: Espaço para você fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com a sua contribuição pessoal. Sugestão de leituras, filmes, sites e pesquisas: Aprofundamento das discussões. Praticando: Atividades sugeridas, no decorrer das leituras, com o objetivo pedagógico de fortalecer o processo de aprendizagem. Para (não) finalizar: Texto, ao final do Caderno, com a intenção de instigá-lo a prosseguir na reflexão. Referências: Bibliografia consultada na elaboração da disciplina. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 9 Capítulo 1 – Aspectos Gerais Atente para os seguintes conceitos: áreas contaminadas, poluentes ambientais, xenobióticos e resíduos. Desde os primórdios, a humanidade vem provocando modificações no meio em que vive. Se, no princípio, essas alterações eram desprezíveis, elas se acentuaram ao longo do tempo e se agravaram com a chegada das atividades agrícolas e com a aceleração dos processos industriais no século XX, gerando os chamados poluentes ambientais decorrentes da produção e má administração dos resíduos. A disposição e o tratamento dados aos resíduos produzidos eram bastante precários e se refletem, atualmente, nas inúmeras áreas contaminadas em todo o mundo, afetando a saúde pública e a biodiversidade. Uma área contaminada pode ser definida como uma área, local ou terreno onde há comprovadamente poluição ou contaminação causada pela introdução de quaisquer substâncias ou resíduos que nela tenham sido depositados, acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados de forma planejada, acidental ou até mesmo natural. Os poluentes ou contaminantes podem ser transportados propagando-se por diferentes vias, como o solo, as águas subterrâneas e superficiais, alterando suas características naturais de qualidade e determinando impactos negativos e/ou riscos sobre os bens a proteger, localizados na própria área ou em seus arredores. Poluentes ambientais são detritos sólidos, líquidos ou gasosos nocivos à saúde, de origem natural ou industrial, que são lançados no ar, na água ou no solo. É qualquer substância que, lançada para o meio, interfere no funcionamento de parte ou de todo o ecossistema. Muitos desses poluentes têm sido sintetizados pelo homem, como a grande maioria dos pesticidas, muitos dos quais não têm semelhanças com os compostos químicos naturais e são por isso conhecidos como xenobióticos1 (xeno = estranho, biótico = vida). XENOBIÓTICOS: Substâncias sintetizadas artificialmente que não existem normalmente no meio ambiente. 1 Xenobióticos: Composto químico totalmente sintético que não ocorre naturalmente na Terra. Unidade I Poluição Ambiental 10 Re m ed ia çã o Am bi en ta l Já os resíduos são definidos como aquilo que resta de qualquer substância e que resulta de atividades da comunidade, de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Consideram-se também resíduos, os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água. Muitos resíduos do processo produtivo são descartados no meio ambiente, sem levar em conta os riscos de seu impacto nos diferentes componentes bióticos dos ecossistemas naturais ou transformados. Na agricultura, muitos insumos utilizados, como fertilizantes e agrotóxicos, podem representar riscos ambientais e à saúde humana, se utilizados de forma abusiva e sem considerar as particularidades dos agroecossistemas. Esse comprometimento do meio ambiente interfere negativamente no próprio desempenho de atividades econômicas na medida em que elevam os custos de recuperação de recursos básicos como água e solo; restringem a atratividade e o uso de bens naturais para o turismo e o entretenimento; provocam o desequilíbrio das populações aquáticas, particularmente na região costeira, reduzindo a exploração da pesca, assim como a alternativa representada pela aquicultura. O lixo disposto sem qualquer tratamento polui o solo alterando suas características físicas, químicas e biológicas tornando-o inóspito à vida. Além disso, contamina as águas subterrâneas e as de superfície, permitindo a proliferação de vetores2, prejudiciais à saúde pública. Se queimado, o lixo pode liberar substâncias tóxicas e perigosas poluindo o ar. A maioria das doenças dos países em desenvolvimento está diretamente relacionada à falta de saneamento. Todos os problemas de resíduos e poluentes, já presentes no meio ambiente, requerem ações para a sua remediação ou descontaminação, de modo que os seus efeitos ambientais negativos sejam minimizados ou eliminados. Existem várias técnicas que são utilizadas no intuito de remediar áreas já degradadas, mas para cada uma é necessário adotar formas de tratamento dirigidas, dependendo de cada caso. O tratamento depende do tipo de resíduo/poluente e das características da própria área. As tecnologias disponíveis para o tratamento desses resíduos e poluentes são diversas e, muitas vezes, precisam ser utilizadas em conjunto, para que se possa enfrentar o problema da mistura dos diversos componentes tóxicos, que não podem ser tratados de uma única forma. Para obter êxito na remediação ambiental, primeiramente é necessária uma análise do local contaminado, para que se conheçam as características das áreas e dos impactos causados pela contaminação, o que proporciona os instrumentos necessários à tomada de decisão quanto às formas mais adequadas de intervenção. Analise na região onde você mora os tipos de poluentes ambientais e/ou resíduos existentes. Observe a origem deles e se há alguma medida reparadora. 2 Vetores: Hospedeiro intermediário de agentes causadores de infecções e infestações. Unidade IPoluição Ambiental Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 13 Os agrotóxicos podem ser persistentes, móveis e tóxicos no solo, na água e no ar. Tendem a acumular-se no solo e na biota, e seus resíduos podem chegar às águas superficiais, por escoamento, e, às subterrâneas, por lixiviação4. Dos produtos perigosos utilizados como pesticidas, inseticidas e herbicidas, destacam-se os seguintes. • Os organoclorados, como o diclorodifeniltricloretano – DDT (usado no controle da malária, porém altamente persistente no meio ambiente), foram usados intensamente no passado e atualmente são proibidos; no entanto, ainda existem depósitos abandonados em todo país, sobretudo no estado do Rio de Janeiro. • Aldrin – 2751: inseticida à base de organofosforados, usado no combate de formigas. • 2,4 D – 2765: herbicida à base de fenóxidos altamente cancerígeno; foi usado na área da usina hidrelétrica de Tucuruí/PA. • Antu-alfanaftiltiouréia – 1651: raticida. Entre as diversas situações de risco para a saúde, originadas por processos produtivos, deve-se destacar a contaminação por agentes químicos. Isso porque são em número elevado e, para a grande maioria deles, ainda não estão disponíveis conhecimentos toxicológicos, ecotoxicológicos, metodologias e tecnologias, tanto para o diagnóstico dessas situações, quanto para o desenvolvimento de atividades de vigilância que visem à sua prevenção e ao seu controle. Também desordenada ocupação dos solos urbanos, com cidades sem infraestrutura de saneamento ambiental, propicia a proliferação de pragas, induzindo suas populações à utilização de biocidas5 em seus lares, sem que sejam consideradas as susceptibilidades individuais dessas exposições. Primavera Silenciosa. Rachel Carson. Ed. Melhoramentos. Neste livro, a autora afirmava que o uso indiscriminado de agrotóxicos, além de acarretar sérios riscos de câncer e outras doenças, prejudicaria o planeta a ponto de os pássaros deixarem de cantar na primavera. Lixo urbano e industrial Devido à crescente produção de lixo nos centros urbanos e à falta de locais adequados para receber todo esse montante gerado diariamente, vários problemas são originados, entre eles ambientais, sanitários, econômicos e sociais. A produção de lixo seja industrial, hospitalar ou domiciliar vem se agravando cada vez mais devido ao crescimento populacional e aumento do poder aquisitivo das pessoas. Esses resíduos6, na grande maioria das vezes, não possuem um local adequado para recolhimento e os locais adequados são sempre insuficientes para suportar tamanha quantidade produzida nos centros urbanos. O lixo produz um líquido de cor negra denominado chorume, característico de materiais orgânicos em decomposição. A descarga desse líquido nos cursos d’água, seja pela depressão natural do terreno ou seja por meio das chuvas, provoca redução de oxigênio das águas, podendo exterminar os organismos aeróbios. O aterramento e o despejo de esgotos domésticos em áreas urbanas e nos mangues são intensos, representando um sério problema de saúde pública. A qualidade de vida baseia-se na qualidade ambiental, porém os prejuízos sobre os manguezais resultam, sobretudo, de ações antrópicas. 4 Lixiviação: Processo físico de lavagem das rochas e solos pelas águas das fortes chuvas (enxurradas) decompondo as rochas e carregando os sedimentos para outras áreas, extraindo, dessa forma, nutrientes e tornando o solo mais pobre. 5 Biocidas: Substâncias que inibem o crescimento de organismos ou que os extermina. 6 Resíduos: Aquilo que resta de qualquer substância; resto. Unidade IPoluição Ambiental 14 Re m ed ia çã o Am bi en ta l A poluição das águas dos manguezais por atividades industriais, como mineração, descargas de efluentes químicos e térmicos e os derivados de petróleo, é responsável pela maioria dos impactos instantâneos, e às vezes irreversíveis, sobre a fauna e a flora. Outros poluentes que surgiram com o processo de industrialização foram os corantes sintéticos extensivamente usados nas indústrias têxteis e liberados nos recursos hídricos, causando impacto negativo ao meio ambiente. Lavanderias e tinturarias industriais poluem os rios devido à presença desses compostos nos efluentes. Corantes de natureza aromática são prejudiciais à saúde humana, além de dificultar o processo de fotossíntese. No Brasil, não há estimativas sobre o número de áreas contaminadas por resíduos perigosos. Entretanto, mesmo que um resíduo não seja originalmente caracterizado como perigoso, se não tratado de maneira adequada, fatalmente tornar-se-á fonte de contaminação ambiental e risco à saúde humana. A área onde estejam despejados pode vir a ser considerada contaminada e ambientalmente degradada. Dependendo dos processos biológicos naturais que ocorram nesses depósitos e das substâncias neles geradas a partir desses processos, a área de despejo pode ser considerada como uma área de resíduos perigosos, já que processos biológicos podem gerar substâncias perigosas. Curta metragem “Ilha das Flores” de Jorge Furtado – A Ilha das Flores está localizada no município de Porto Alegre, numa APA no Delta do Jacuí. Essa ilha, na época em que foi produzido o filme, recebia parte do lixo de Porto Alegre, que era depositado a céu aberto e, durante as chuvas, era levado pela água, poluindo o Guaíba. Como é depositado o lixo na sua cidade? Acidentes Ambientais Os desastres ambientais têm provocado sérias consequências sobre a saúde da população e ao meio ambiente. Os efeitos desses acidentes sobre a vida dependem de muitos fatores como, por exemplo, os tipos de seres que são afetados; a quantidade de poluente derramado ou resíduo gerado; a estação do ano; a presença de outros poluentes, entre outros aspectos. Apesar de os acidentes ambientais serem um problema atual, há relatos de escapamento de petróleo de camadas sedimentares do fundo dos oceanos há milhões de anos. Os acidentes com petroleiros lançam, invariavelmente, grandes quantidades de óleo nos oceanos, cujos danos não podem ser avaliados absolutamente. Em outubro de 1997, um choque entre um petroleiro do Chipre e um cargueiro da Tailândia lançou 25 mil toneladas de petróleo no estreito de Cingapura, no “pior derramamento de óleo da história do país”. Em dezembro de 1984, 40 toneladas de gases letais vazaram da fábrica de agrotóxicos da Union Carbide Corporation, em Bhopal, Índia. Gases tóxicos, como o isocianato de metila e o hidrocianeto, escaparam de um tanque durante operações de rotina. Atualmente, é cada vez mais frequente a ocorrência de acidentes envolvendo derramamento de petróleo ou de seus produtos derivados. Nas grandes cidades, existem inúmeros postos de combustível que possuem tanques de aço enterrados, Unidade IPoluição Ambiental Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 15 armazenando derivados de hidrocarbonetos. São comuns os problemas de vazamentos de combustíveis por meio de tanques velhos. Na maior parte das vezes, esses acidentes demoram a ser identificados, o que resulta na contaminação do lençol freático. No Brasil, existem vários oleodutos e gasodutos que conduzem derivados do petróleo. Esses dutos requerem obras de engenharia complexas para transporem rios. Além disso, são comuns os acidentes envolvendo navios petroleiros com a limpeza dos tanques, ou vazamentos, na plataforma brasileira, comprometendo a faixa costeira. Muitas espécies marinhas já foram extintas devido aos danos causados por derramamento de óleo. Sempre que um petroleiro derrama óleo no mar o dano é gigantesco. Algumas formas de vida marinha já foram extintas apenas devido a isso. Quando o óleo atinge a água do mar, ele se espalha pela superfície e forma uma camada compacta que leva anos para ser absorvida. Isso impede a oxigenação da água, matando a fauna e a flora marinhas e alterando o ecossistema. Estima-se que sejam despejadas anualmente nos oceanos cerca de um milhão de toneladas de óleo apenas devido a vazamentos de poços, terminais portuários e limpeza dos tanques dos petroleiros. O impacto ambiental causado por vazamento de óleo na costa brasileira tem sido uma ameaça permanente à integridade dos ecossistemas costeiro e marinho. Com o aumento da produção petrolífera, um grande número de ocorrências de vazamentos e derrames acidentais de petróleo em operações rotineiras (com pequena e média gravidade) tem sido registrado: 191 acidentes entre 1974 e 1994 e 18, entre 1995 e 1998 (Tabela 2), contribuindo para a poluição crônica em áreas próximas. Tabela 2: Data Acidente Local contaminado Responsável Julho de 1992 Vazamento de 10 mil litros de óleo de manancial Rio Cubatão/SP Maio de 1994 Derramamento de 2,7 milhões de litros de óleo Litoral norte paulista Março de 1997 Vazamento de 2,8 milhões de óleo combustível Manguezais na Baía de Guanabara/RJ Rompimento de um duto da Petrobras Julho de 1997 Vazamento de FLO(1) Rio Cubatão/SP Petrobras Agosto de 1997 Vazamento de 2 mil litros de óleo combustível Ilha do Governador/RJ Petrobras Outubro de 1998 Vazamento de 1,5 milhão de litros de óleo combustível Rio Alambari/RJ Petrobras Agosto de 1999 Vazamento de 3 mil litros de óleo Igarapé do Cururue rio Negro Manaus/AM Oleoduto da refinaria da Petrobras (Reman) Agosto de 1999 Vazamento de 3m3 de nafta de xisto(2) Curitiba Novembro de 1999 Vazamento de óleo e água sanitária Rio Siriri/SE (3) Petrobras Janeiro de 2000 Vazamento de 1,3 milhões de óleo combustível Baía de Guanabara (4) Rompimento de um duto da Petrobras Janeiro de 2000 Vazamento de 200 litros de óleo diluente O vazamento foi contido na Serra do Mar Problemas em um duto da Petrobras Fevereiro de 2000 Vazamento de 500 litros de óleo Rio Paraíba São José dos Campos/SP Transbordamento na refinaria da Petrobras Março de 2000 Vazamento 18 mil litros de óleo cru Litoral gaúcho, Tramandaí/RS Petrobras Março de 2000 Derramamento de 7.250 litros de óleo Canal de São Sebastião litoral norte de São Paulo Junho de 2000 Derramamento de 380 litros do combustível Ilha d’água, na Baía de Guanabara. Navio Cantagalo, que presta serviços à Petrobras Julho de 2000 (5) Derramamento de 4 milhões de litros de óleo Rios Barigüi e Iguaçu, no Paraná Ruptura na tubulação de Refinaria (Petrobras). Unidade IPoluição Ambiental Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 19 Capítulo 3 – Tipos de Remediação Devido à crescente conscientização sobre a necessidade de se preservar o ambiente, medidas remediadoras têm sido utilizadas em vários países para conter as contaminações em larga escala. Uma grande variedade de processos químicos, físicos e biológicos têm sido utilizados na recuperação de áreas contaminadas e, entre os sistemas químicos e físicos convencionais, disponíveis têm-se: • A incineração e a disposição do solo contaminado em aterros ou contêineres apropriados, que apesar de serem alternativas usuais, implicam a remoção do solo, com riscos de contaminação durante o processo de transporte e armazenagem; além disso, a incineração pode gerar emissões de poluentes muito mais tóxicos que os contaminantes originais. • O bombeamento e tratamento que é baseado na extração de águas contaminadas do subsolo por bombeamento e tratamento ex situ 1 de efluentes para satisfazer critérios ambientais preestabelecidos, sendo um dos métodos mais comuns no tratamento de aqüíferos contaminados. • O Sistema air stripping é um processo físico de transferência de massa, usado para remoção dos compostos orgânicos voláteis presentes na água subterrânea contaminada. O sistema utiliza ar, relativamente limpo, para remover compostos dissolvidos na água, transferindo-os para a fase gasosa. É na limitação que ocorre a transferência de contaminantes de um meio para o outro, não existindo nenhuma destruição do contaminante. Por conseguinte, os riscos de se emitir poluentes para a atmosfera devem ser cuidadosamente avaliados. • O Sistema de Extração de Vapores no Solo também é uma tecnologia usada para remover contaminantes orgânicos voláteis e alguns combustíveis do solo, porém somente para a zona não saturada, onde o gás retirado deve passar por uma extração de tratamentos de vapores. O processo envolve fluxo contínuo de ar no solo promovendo a biodegradação in situ 2 dos compostos de baixa volatibilidade que podem estar presentes. Vários fatores podem limitar a eficiência da remediação como: solos compactos muito úmidos ou muito secos, ou ainda grandes quantidades de matéria orgânica. O resultado da produção de efluentes gasosos, líquidos residuais e resíduos poderá requerer tratamento com carvão ativado. • O Sistema de aeração in situ ou air sparging utiliza ar injetado para remover os compostos voláteis e pode ser aplicado em meios saturados e não saturados. Esse sistema também pode favorecer a biodegradação aeróbica de determinados compostos por incrementar a quantidade de oxigênio dissolvido nas águas do aquífero (biosparging). É utilizado, em particular, em sítios contaminados por hidrocarbonetos do petróleo e certos compostos clorados e deverá ser utilizado em conjunto com um sistema de extração de vapores, para onde os contaminantes são carregados. Essa tecnologia opera com altas taxas de fluxo de ar, a fim de se manter contato constante entre a água e o solo e propiciar maior aeração da água subterrânea. 1 Ex situ: biorremediação realizada em outro local, havendo a necessidade de remoção do solo. 2 In situ: biorremediação realizada no próprio local contaminado não havendo necessidade de remoção do solo. Unidade II Remediação Ambiental 20 Re m ed ia çã o Am bi en ta l Há também métodos de remediação que promovem a transformação química in situ dos contaminantes. É uma tecnologia baseada na injeção de oxidantes químicos em meios contaminados (água subterrânea e solo), com o objetivo de destruir o contaminante mediante reações químicas e converter a sua massa em compostos inertes encontrados na natureza. As tecnologias de oxidação química convertem os contaminantes em formas não tóxicas. Agentes oxidantes incluem o permanganato de potássio, peróxido de hidrogênio e o ozônio. Os agentes redutores podem incluir o ferro metálico, zinco e o sulfato ferroso. Há também as tecnologias de contenção física que promovem tanto o isolamento de fontes secundárias quanto o controle de migração de plumas de contaminação. O principal objetivo da contenção é tentar reduzir de imediato o risco associado com um derramamento de larga escala. As águas subterrâneas e os solos contaminados podem ser fisicamente isolados por meio de barreiras de reduzida permeabilidade. Esses sistemas são, frequentemente, acoplados a um sistema de contenção hidráulica de forma a impedir o escape de águas contaminadas, além de evitar a difusão de contaminantes pela barreira permeável. Além dos processos químicos e físicos, existem os processos biológicos que utilizam organismos vivos, como microrganismos e plantas, na remediação. Este será mais detalhado no próximo capítulo. Unidade IIRemediação Ambiental Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 23 a comunidade microbiana e os processos bioquímicos responsáveis pelo aumento da degradação e dissipação dos poluentes. Além disso, a cobertura vegetal do solo reduz problemas de erosão hídrica e eólica, evitando contaminação de áreas próximas. A fitorremediação pode ser dividida em 5 tipos principais. – Rizofiltração: técnica de tratamento de água em que os contaminantes são removidos e retidos no tecido vegetal. – Fitoextração: contaminantes removidos do solo e retidos no tecido vegetal. – Fitotransformação: técnica que pode ser aplicada ao tratamento da água e do solo, na qual ocorre a degradação dos contaminantes por meio do metabolismo da planta. – Fitoestimulação: estimulação da atividade dos microrganismos degradadores dos contaminantes pela rizosfera da planta. – Fitoestabilização: plantas utilizadas para reduzir a migração dos contaminantes no solo. • Compostagem: tende a reduzir a quantidade de resíduos destinados aos aterros sanitários e a maximizar o seu reaproveitamento. Nesse processo de compostagem ocorre um ciclo natural em que microrganismos decompõem a matéria orgânica em nutrientes simples. A matéria orgânica é convertida em um material mais estável denominado composto ou húmus, que pode ser utilizado como adubo orgânico na recuperação de solos desgastados. Os microrganismos que participam ativamente do processo de compostagem possuem enorme diversidade. A identificação das bactérias presentes nos resíduos faz com que sejam conhecidas quais espécies e atividades microbianas estão envolvidas no processo. • Biorreatores: são como tanques aéreos fechados onde o solo contaminado é misturado com água para formar uma suspensão com 10 a 40% de sólidos, que é mecanicamente aerada por meio de rotações. A formação dessa suspensão no interior do biorreator possibilita o aumento da disponibilidade dos contaminantes aos microrganismos degradadores. Além disso, no interior do biorreator, as condições ambientais de pH, a disponibilidade de nutrientes, a aeração e a temperatura são otimizadas para o máximo crescimento microbiano, sendo possível, também, a inoculação de microrganismos comprovadamente degradadores dos contaminantes. As desvantagens desta técnica são: a limitação da quantidade de solo tratado devido ao tamanho dos biorreatores e o elevado custo de remediação do solo, em vista da alta tecnologia utilizada nos biorreatores. Compare as vantagens e desvantagens entre técnicas químicas, físicas e biológicas. Unidade IIRemediação Ambiental 24 Re m ed ia çã o Am bi en ta l Capítulo 5 – Condições Ambientais que Favorecem o Desenvolvimento Microbiano Alguns dos microrganismos sobrevivem em condições extremamente adversas, mas outros sob as mesmas condições podem morrer ou crescer muito lentamente. Para que as condições ideais sejam alcançadas, eventualmente, faz-se necessária a adição de ar, nutrientes ou outras substâncias, além de quantidades extras de microrganismos. Seguem os principais fatores que influenciam a biodegradação. • Fatores químicos e físicos: – composição química do poluente; – estado físico do poluente; – concentração do poluente; – temperatura, umidade, pH, salinidade do meio; – nutrientes; – teor de matéria orgânica do meio; – toxicidade do poluente. • Fatores biológicos: – distribuição dos microrganismos no meio; – tipo de organismos degradadores; – adaptação dos microrganismos no meio contaminado; – técnicas de inoculação. A atividade dos microrganismos biorremediadores pode ser limitada se as condições do solo não forem favoráveis à sobrevivência deles. A umidade do solo é o fator ambiental mais crítico na biodegradação, pois uma alta atividade microbiana somente ocorrerá se houver adequada disponibilidade de água para os microrganismos. A temperatura afeta a atividade metabólica, o consumo de substrato pelos microrganismos e, por consequência, a biodegradação dos compostos poluentes. O pH do solo afeta diretamente a atividade dos microrganismos por meio dos efeitos dos íons H+ na permeabilidade celular e na atividade enzimática, assim como, indiretamente, pela influência na disponibilidade de macro e micronutrientes1 e na solubilidade do alumínio e demais metais pesados, que podem ser tóxicos aos microrganismos. A atividade microbiana é um componente fundamental nos processos de transformação e transferência de carbono, energia e nutrientes no sistema solo-planta-atmosfera, representando a base da sustentabilidade dos ecossistemas em equilíbrio. Os microrganismos comportam-se distintamente conforme a fonte e o manejo da matéria orgânica adicionada ao solo, de forma que diferentes tipos de cobertura podem induzir comportamento diferenciado aos microrganismos. A 1 Micronutrientes: Elementos essenciais que são necessários em quantidades pequenas. Ex.: ferro, manganês, zinco, cobre, boro, iodo, molibdênio e o cobalto. Unidade IIRemediação Ambiental Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 25 compreensão do potencial enzimático e fisiológico dessa microbiota pode ajudar a descobrir microrganismos importantes para utilização em biotecnologia2. A literatura tem demonstrado que os microrganismos isolados de condições ambientais extremas de pH, temperatura e salinidade apresentam grande potencial biotecnológico. A condição extremamente ácida do ambiente pode influenciar de forma indireta, aumentando o potencial biotecnológico dos microrganismos no processo de nitrificação3, na formação e acumulação de ácidos orgânicos, na oxidação e redução de enxofre, na oxidação do ferro, cobre, chumbo e zinco entre outros metais. Pesquise o conceito de UBIQUIDADE e relacione com o que você aprendeu neste capítulo sobre condições ambientais que favorecem o desenvolvimento microbiano. 2 Biotecnologia: Qualquer aplicação tecnológica que utilize sistemas biológicos, organismos vivos ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos para utilização específica. 3 Nitrificação: Conversão microbiana de amônia a nitrato. Unidade IIRemediação Ambiental 28 Re m ed ia çã o Am bi en ta l Unidade IUnidade I IBiorremediação Metais pesados A contaminação por metais pesados é um fator desencadeante de processos tóxicos para peixes, crustáceos, plantas aquáticas, mamíferos e microrganismos. Em geral, o tratamento de ambientes contaminados por metais envolve processos físico-químicos de precipitação, floculação, eletrólise, cristalização ou adsorção1. Entretanto, esses processos são onerosos e/ou contribuem para a formação de novos contaminantes ambientais, tornando-se necessário a utilização de tecnologias mais econômicas e práticas para a remoção de metais pesados. Normalmente, os microrganismos absorvem e acumulam metais dos ambientes onde proliferam, uma vez que metais como ferro, zinco, cobre, molibidênio, entre outros, são componentes essenciais de enzimas e outras moléculas biológicas. O metal é transformado em formas menos tóxicas ou voláteis por processos enzimáticos de oxidação, redução ou metilação. Os microrganismos interagem com os metais, tirando-os do meio em que vivem, desempenhando, assim, um importante papel nos ciclos geoquímicos desses elementos. Entre os microrganismos envolvidos nesses processos podem ser citados: Clostridium cochlearium, Aspergillus niger, Scopulariopsis brevicaule e Saccharomyces cerevisae. Estudos sobre ambientes ácidos como depósitos de rejeitos de carvão mostraram que esses passivos ambientais da atividade de mineração do carvão nas termoelétricas são caracterizados pela alta concentração de pirita e microrganismos capazes de oxidá-la, formando ambientes aquáticos ácidos, ricos em metais pesados em que apenas algumas espécies de microalgas são capazes de habitar. Observa-se que esses microrganismos além de bioindicadores2 têm um grande potencial para biorremediação de ambientes contaminados com metais pesados. Agrotóxicos Alguns dos xenobióticos amplamente distribuídos são os pesticidas e correspondem a componentes comuns de lixos tóxicos. Entre eles temos os herbicidas, inseticidas e fungicidas, podendo ser de uma ampla variedade de tipos químicos, incluindo compostos clorados, anéis aromáticos, compostos contendo nitrogênio, fósforo e outros. O uso de herbicidas, principalmente com o advento do plantio direto, vem alcançando quantidades cada vez maiores na agricultura moderna. Alguns agrotóxicos são xenobióticos e tão recalcitrantes que podem persistir no ambiente por mais de 10 anos. O destino dos agrotóxicos no meio ambiente está diretamente relacionado às propriedades físico-químicas dos produtos, à quantidade e frequência de uso, aos métodos de aplicação, às características bióticas e abióticas de ambiente e às condições meteorológicas. Diversas espécies de bactérias e fungos possuem a capacidade de degradar compostos xenobióticos, no qual os maiores índices são observados na rizosfera3, onde há uma maior diversidade e atividade bacteriana. Alguns estudos mostram que muitas bactérias foram capazes de degradar em diferentes graus o fungicida carbofuran e os herbicidas 2,4-D-amina, isoxaflutole, sulfentrazone e metilarsonato monossódico (MSMA). Alguns dos inseticidas clorados são tão recalcitrantes que persistem por mais de 100 anos. O desaparecimento de uma substância de um ecossistema não significa, necessariamente, que tenha sido degradado por microrganismos, pois a perda do agrotóxico pode também ocorrer por volatilização, lixiviação ou degradação química espontânea. Muitos xenobióticos são bastante hidrofóbicos4 e, portanto, pouco solúveis em água – a adsorção desses 1 Adsorção: Fixação de moléculas de uma substância na superfície de outra substância. 2 Bioindicadores: Organismos cuja presença é usada para identificar um tipo específico de comunidade biótica, ou como medida das condições ou mudanças ecológicas que ocor- rem no ambiente. 3 Rizosfera: Região das plantas localizada imediatamente adjacentes às raízes. 4 Hidrofóbico: Que repele a água; que é incapaz de dissolver ou ser dissolvido na água. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 29 Unidade IUnidade I IBiorremediação compostos à matéria orgânica e à argila do solo e de sedimentos evita o acesso ao organismo. A adição de surfactantes ou emulsificadores, frequentemente, aumenta a biodisponibilidade e, em última análise, a biodegradação do composto xenobiótico. Fenol e derivados O fenol e seus derivados são constituintes comuns dos efluentes de indústrias químicas, petroquímicas, siderúrgicas e carboquímicas, representando um sério problema ecológico por ser um poluente recalcitrante5. Tratamentos biológicos são geralmente escolhidos para degradar esses poluentes, pois possibilitam a mineralização completa de xenobióticos. Muitos trabalhos utilizando técnicas de isolamento de microrganismos autóctones6 mostram que leveduras das espécies Candida tropicalis, C. rugosa e Pichia membranifaciens estão presentes nesses ambientes contaminados, possuem potencial degradativo e podem vir a ser empregadas em atividades de biorremediação ou tratamentos de efluentes contaminados com fenol e/ou derivados. Petróleo e derivados A poluição ambiental por petróleo e seus derivados vêm se tornando um problema mundial, com o aumento da quantidade de resíduos oleosos introduzidos no ambiente em grandes quantidades, devido às atividades relacionadas à extração, ao transporte, ao refino, à transformação e à utilização do petróleo e de seus derivados. A disposição final de resíduos de maneira adequada tem sido considerada meta prioritária pelas refinarias de petróleo. Resíduos oleosos ou borra oleosa, provenientes do seu processo industrial, podem poluir o ambiente, representando perigo para todo tipo de vida. Por ter um caráter hidrofóbico, o petróleo espalha-se sobre a superfície da água, formando uma película que impede a troca de gases entre a água e o ar, afetando toda fauna e flora da superfície das áreas contaminadas. Além disso, seus compostos são prontamente absorvidos no organismo dos humanos via inalação, exposição oral e dermal, com posterior acúmulo no tecido adiposo, com potencial mutagênico7 e carcinogênico aos humanos e aos animais. O uso de microrganismos para despoluição de ambientes aquáticos e terrestres impactados por vazamentos de petróleo e seus derivados é uma tecnologia bastante promissora e economicamente mais viável que os métodos físicos, pois faz uso da capacidade biodegradativa da microbiota natural. A utilização de hidrocarbonetos, como fonte de carbono por fungos filamentosos, possibilita a aplicação desses organismos na biorremediação de ambientes poluídos. Estudos com bactérias pertencentes ao gênero Acinetobacter e Pseudomonas demonstraram que elas têm um grande potencial como biodegradoras de óleo e poderão ser usadas como remediadoras de ambientes impactados por compostos hidrocarbonados. Trabalhos desenvolvidos em manguezais, no estado de Pernambuco, avaliaram a produção emulsificante em bactérias isoladas de dois manguezais com diferentes graus de impacto ambiental, um altamente contaminado por esgotos e efluentes industriais (rio Paratibe, PE) e um bem preservado (Pontal de Maracaípe, Porto de Galinhas, PE), além de quantificar diferenças na velocidade da emulsificação do óleo diesel pelas bactérias isoladas desses manguezais. Os resultados mostraram a viabilidade da aplicação de processos biológicos em biorremediação, provando que os microrganismos de áreas não afetadas são naturalmente capazes de produzir biossurfactantes, podendo ser bastante eficazes para a recuperação do ambiente em regiões degradadas. Algumas pesquisas sugerem que, em solos contaminados por petróleo, a microbiota predominante está constituída por bactérias termofílicas8 do gênero Bacillus e Geobacillus. Alguns fungos filamentosos também são eficientes na remoção dos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) e, devido a sua forma de crescimento, ramificam-se rapidamente degradando o substrato por meio da secreção de enzimas extracelulares. Em condições adversas, como solo com 5 Recalcitrante: Resistente ao ataque microbiano. Persistente na natureza; que não degrada facilmente. 6 Microrganismos autóctones: Microrganismos de ocorrência natural da região. 7 Mutagênico: Que provoca modificação na informação genética que resulta em células ou indivíduos com alterações fenotípicas. 8 Bactérias termofílicas: Bactérias cuja temperatura favorável de crescimento varia entre 45 a 80ºC. 30 Re m ed ia çã o Am bi en ta l Unidade IUnidade I IBiorremediação valores extremos de pH, limitação de nutrientes e baixo teor de umidade, os fungos são considerados mais eficientes na degradação de hidrocarbonetos. Vazamentos em tanques de armazenamento de combustíveis vêm se destacando como uma das principais causas de contaminação de solos subsuperficiais e do lençol freático. Dentre os subprodutos do petróleo, a gasolina merece atenção especial, dado o perigo da liberação dos compostos: benzeno, tolueno e xileno (BTX) na água subterrânea. Tais compostos são extremamente hidrossolúveis e tóxicos à saúde humana, o que pode inviabilizar a exploração de aqüíferos por eles contaminados. O benzeno é reconhecidamente o mais tóxico, pois trata-se de uma substância comprovadamente carcinogênica. Microrganismos que são encontrados em áreas contaminadas por petróleo e/ou seus derivados podem ser indicativos da capacidade que eles possuem de degradarem esses compostos e utilizando-os como fonte nutritiva. O isolamento de microrganismos nessas áreas contaminadas e a otimização nas condições de crescimento em laboratório podem contribuir, eficazmente, na ação de degradação no ambiente por parte desses microrganismos. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 33 Unidade IIRemediação Ambiental Capítulo 9 – Legislação Brasileira De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro, 1992. A Legislação Brasileira refere-se indiretamente a diferentes aspectos sobre áreas contaminadas, como por exemplo: os itens que abordam a conservação ou a recuperação da qualidade ambiental; os instrumentos legais, como a Política Nacional ou Estadual de Meio Ambiente; as normas para controle da poluição e os fatores ambientais de risco à saúde. Porém, não há normas gerais específicas que regulam o assunto. A convenção de Basileia trouxe a primeira regulamentação sobre resíduos, estabelecendo um acordo entre vários Estados para o repatriamento de resíduos considerados perigosos. Na lista de resíduos perigosos, estão incluídos os industriais, hospitalares, domésticos e industriais provenientes da incineração. Entre os princípios da Convenção, têm-se que a exportação só deve ocorrer caso o estado importador disponha de capacidade técnica e financeira para o tratamento ecologicamente racional dos resíduos, mas trata basicamente da sua realocação e não do tratamento dos mesmos. Normalmente, o tratamento de ambientes poluídos envolve processos físico-químicos que são onerosos e ainda podem resultar na formação de novos contaminantes ambientais. Diversos estudos têm mostrado a eficiência do uso de produtos biorremediadores e a adoção de diretrizes gerais para a utilização desses produtos faz-se necessária. É importante a definição de estratégias de ação por uma legislação adequada, uma vez que estão sendo usados microrganismos vivos que podem reproduzir-se, disseminar-se por novos locais e transferir o material genético para microrganismos naturalmente presentes no ambiente. Segundo Machado (2001), o princípio da precaução, “visa à durabilidade da sadia qualidade de vida das gerações humanas e à continuidade da natureza existente no planeta”. A precaução caracteriza-se pela ação antecipada diante do risco ou perigo. O Brasil não dispõe ainda de uma legislação federal específica sobre a regulamentação de produtos biorremediadores nem para as questões que envolvam áreas contaminadas, enquanto norma geral. Essa matéria vem sendo regulada no âmbito estadual e somente pelo estado de São Paulo, por meio da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB, ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo de São Paulo. A Norma L1-022 de setembro de 1994 – CETESB/SP estabelece, como condição específica, que só serão avaliados para uso produtos registrados no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – Ibama. Posteriormente a essa Norma, o CONAMA pela Resolução nº 314 de 29/10/2002 em seu Art 1º, estabeleceu que os produtos remediadores devem ser registrados junto ao IBAMA: “Os produtos remediadores deverão ser registrados junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA para fins de produção, importação, comercialização e utilização.” 34 Re m ed ia çã o Am bi en ta l Unidade IIRemediação Ambiental Embora ainda não tenha sido publicada nenhuma regulamentação de uso dos produtos biorremediadores visando ao registro deles, as empresas não são proibidas de comercializá-los, visto que limitações só existem para os produtos geneticamente modificados. De acordo com o Art 5º da Resolução CONAMA nº 314/2002, os produtores de remediadores devem informar ao IBAMA suas atividades e produtos produzidos. “Os produtores, importadores ou comercializadores de remediadores devem dar ciência das suas atividades e produtos ao IBAMA.” Dessa forma, o IBAMA elaborou um cadastro dessas empresas contendo informações básicas das mesmas e dos produtos por elas manipulados. Ao mesmo tempo, segundo a Instrução Normativa IBAMA nº 10 de 17 de agosto de 2001, em seu Art 1º, todas as pessoas físicas e jurídicas que estiverem envolvidas em consultoria técnica relacionada ao controle de atividade potencialmente poluidoras devem se inscrever no Cadastro Técnico Federal. As pessoas físicas e jurídicas constantes dos Anexos I e II desta Instrução Normativa que se dedicam à consultoria técnica relacionada a questões ambientais e à indústria e comércio de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividade efetiva, ou potencialmente poluidoras e as que se dedicam à atividade potencialmente poluidoras e/ou extração, produção, transporte e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao meio ambiente, assim como de produtos e subprodutos da fauna e flora, são obrigadas à inscrição no Cadastro Técnica Federal, instituída pelo Art. 17, incisos I e II, da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, quando será emitido o Certificado Provisório com validade até 31 de março de 2002. Assim, todas as empresas devem se cadastrar no Cadastro Técnico Federal – CTF. Caso o produto seja importado também deve estar registrado no Sistema Integrado de Comércio Exterior – SISCOMEX, que foi instituído pelo Decreto nº 660, de 25/09/1992, e trata da sistemática administrativa do comércio exterior brasileiro, que integra as atividades afins da Secretaria de Comércio Exterior – SECEX, da Secretaria da Receita Federal – SRF e do Banco Central do Brasil – BACEN, no registro, acompanhamento e controle das diferentes etapas das operações de exportação. Esse registro no SISCOMEX tem o objetivo de obter a licença de importação previamente ao embarque no exterior. A partir da licença de importação, o IBAMA dá anuência ou não à importação. A anuência dá-se com base na análise das informações mínimas a respeito da empresa e caracterização do produto. Diante da atual impossibilidade do IBAMA em registrar biorremediadores (por ainda não haver lei reguladora), fica claro que a inexistência do registro não pode constituir impedimento a qualquer tipo de operação com esses produtos. Contudo, fica mantida a necessidade de cumprimento da legislação estadual cabível. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 35 Para (não) Finalizar A partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, promovido pela ONU, em Estocolmo, 1972, as mais diversas questões ambientais vêm sendo discutidas pela comunidade global no intuito de buscar soluções. É praticamente consensual que o desenvolvimento, sem a preservação, recuperação e proteção do meio ambiente, não se sustenta em longo prazo. Normalmente, o tratamento de ambientes poluídos envolve processos físico-químicos que são onerosos e ainda podem resultar na formação de novos contaminantes ambientais. Tratamentos físicos separam os contaminantes do solo sem destruí-los ou modificá-los quimicamente, mas apresentam muitas limitações, destacando-se o alto custo. Por outro lado, processos biológicos são uma tecnologia promissora para remover esses contaminantes, principalmente devido à simplicidade e à eficiência de custo. Tecnologias desenvolvidas a partir dos estudos de biodegradação têm contribuído para descontaminação de resíduos orgânicos e inorgânicos em solos e águas. Muitos desses poluentes podem ser persistentes e/ou recalcitrantes na natureza. Entre as várias estratégias de tratamento a serem utilizadas para recuperação de locais contaminados, a biorremediação vem se apresentando como um processo bastante promissor. Todos esses processos necessitam de um monitoramento eficaz para definir se a estratégia de tratamento implementada está se mostrando eficiente ou se está comprometendo de forma negativa o ecossistema local. A utilização de ferramentas de biologia molecular em estudos de microbiologia ambiental vem tornando possível uma avaliação e caracterização mais detalhada do ambiente. O conhecimento dessas variáveis, assim como do custo econômico, da dependência de condições ambientais, da aceitação pública e dos impactos ambientais das técnicas é fundamental na escolha e aplicação do processo de biorremediação. Por outro lado, esses dados demonstram que a biorremediação está sendo utilizada em larga escala em outros países, com resultados satisfatórios. Essa biotecnologia apresenta grandes possibilidades de desenvolvimento no Brasil, uma vez que o país apresenta condições climáticas mais favoráveis à biodegradação que os países do Hemisfério Norte, podendo tornar a biorremediação uma alternativa eficiente para a remoção dos contaminantes do ambiente. Fatores ambientais, como disponibilidade de água e oxigênio, temperatura, pH e disponibilidade de nutrientes inorgânicos, influenciam a sobrevivência e a atividade dos microrganismos degradadores, sendo necessário manejá-los de forma a possibilitar condições adequadas para a manutenção da população inoculada ao solo. É o homem, que destrói e depois reconstrói, o dono da natureza? 38 Re m ed ia çã o Am bi en ta l Referências NOBRE, M. M.; NOBRE, R. C. M. Revista química e derivados. 2005. Disponível em: <http://www.quimica.com. br/revista/qd417/solo3.htm>. PAES, R. A.; HISSA, D. C.; PINTO, N. W.; SAKATA, S.; MELO, V. M. M. Perfil fisiológico e enzimático de bactérias isoladas da estação de tratamento de esgoto do campus do PICI da UFC, Fortaleza-CE. IX ENAMA – Encontro Nacional de Microbiologia Ambiental. 2004. p 57. PARREIRA, A. G.; TÓTOLA, M. R.; BORGES, A. C. Isolamento, triagem e identificação de microrganismos que crescem em BTX. 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