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4 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE PROJETO AO
DESENVOLVIMENTO DA AERONAVE LEVE
TRIATHLON
4.1 INTRODUÇÃO
O objetivo do presente capítulo é ilustrar a aplicação da metodologia de projeto
apresentada no capítulo anterior através do desenvolvimento de uma aeronave leve.
Trata-se da aeronave Triathlon, um avião bi-place, lado-a-lado, monoplano, asa baixa
sem montante, cauda convencional, trem-de-pouso escamoteável, triciclo, monomotor,
com conjunto motopropulsor instalado no nariz da fuselagem.
Na medida do possível, o projeto é apresentado de forma a servir como um
roteiro para futuras aplicações da metodologia no projeto de aeronaves leves em geral.
4.2 ESPECIFICAÇÕES E REQUISITOS
4.2.1 FINALIDADE DA AERONAVE
Pretende-se desenvolver uma aeronave monomotora, com potência na faixa de
80hp a 125hp, de dois lugares. A aeronave deverá atender simultaneamente a duas
finalidades básicas: i) treinamento avançado de pilotagem elementar (na versão
utilitário); ii) treinamento básico de acrobacia (na versão acrobático) quando operada
por um único tripulante. Com estas duas aplicações básicas, ela atenderá ao desporto
aéreo geral e ao turismo.
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descida lenta é a refrigeração do motor. Descidas mais rápidas, poderão provocar trincas
no bloco do motor.
4.2.3.2 PERFIL DE PROJETO DA MISSÃO DE VÔO DE TREINAMENTO DE ACROBA CIA
À Figura 4.2 apresenta o perfil de projeto da missão de treinamento de acrobacia
para a aeronave Triathlon.
Figura 4.2 - Perfil típico de treinamento de acrobacia
Note que, desta vez, trata-se de uma missão mais complexa, composta por várias
etapas, cujas durações e consumos estimados estão mostrados na Tabela 4.2.
Tabela 4.2 - Consumo estimado para treinamento de acrobacia
“Fempo [min] Consumo
estimado
[litros]
1- | Partida, rolagem, decolagem 5 La
2- | Subida a 10 000 ft. 9 3.1
3- | Navegação 20 6.0
4- | Mergulho com potência até VNE 2 0.7
5- | Manobras Acrobáticas 15 5.0
6- | Decida normal 4 0.6
7- | Tráfego, toque e arremetida 15 5.5
O tempo total previsto para a missão é de 70min (1h 10min) com um consumo
estimado de 22.4 litros (16.1 kg) de combustível.
188
Note que o tempo de acrobacia se restringe a 15 minutos. Um tempo superior a
este geraria cansaço excessivo do aluno com consegiente comprometimento da
aprendizagem!,
4.2.4 CARACTERÍSTICAS PRETENDIDAS
Visando-se conciliar bom desempenho com simplicidade, optou-se por priorizar
as seguintes características:
$ Simplicidade construtiva
& Possibilidade de construção por amadores.
O Baixo custo de aquisição.
O Elevada disponibilidade e manutenção simples.
O Versatilidade operacional.
O Boas características de vôo lento (estol).
$ Boas características de entrada e saída de parafuso.
O Boas características de vôo acrobático.
O Qualidade de vôo superior.
$ Desempenho elevado na sua categoria.
O Alta segurança passiva (crashworthiness)
O Alcance compatível com o vôo de turismo.
O Possibilidade de corstrução com diferentes grupos moto-
propulsores.
! Estudos sobre aprendizagem demonstraram a ineficiência de treinamento prolongado em
diversas áreas sem o descanso e o sono entre atividades consecutivas. Durante o sono ocorre a fixação do
aprendizado. No caso de acrobacia, considera-se 15 minutos por dia um ritmo adequado.
189
9 Uso preferencial de materiais nacionais em toda a célula.
9 Adequação ergonômica.
O Design atual.
4.2.5 REQUISITOS
Considerando-se o porte da aeronave Triathlon, conforme comentado no
capítulo anterior, são aplicáveis as normas FAR-Part 23 e JAR-VLA.
Como o Part 23 é mais extenso que o JÁR-VLA, contendo um número
substancialmente maior de itens, grande parte deles não aplicáveis ao projeto Triathlon,
optou-se pela adoção da norma JAR-VLA.
Uma ressalva importante com relação à norma JAR-VLA é que ela proíbe o vôo
acrobático das aeronaves segundo ela homologadas. Isto significa que a operação do
Triathlon como aeronave acrobática (com restrição de peso) não poderá ser homologada
segundo a norma JAR-VLA, Contudo, se homologado como aeronave experimental
projetada para fatores de carga adequados para vôo acrobático, este tipo de operação
passa a ser permitido.
Adicionalmente, serão utilizados, no presente projeto, os seguintes instrumentos
normativos:
O As normas ABNT para os desenhos técnicos.
O As normas americanas AN (Army and Navy) para os
elementos de união (parafusos, arruelas, dzus, rebites e
assemelhados como cabos de comando, polias, etc).
O As normas SAE e ABNT para a escolha dos materiais
metálicos.
192
4.3.1.2 ADEQUAÇÃO ERGONÔMICA.
Buscar-se-á projetar a cabine da aeronave conciliando, dentro do possível, o
mínimo de área frontal com o máximo de espaço interno. Para tal, os tripulantes serão
colocados, lado-a-lado, assentados atrás da longarina principal da asa, em posição semi-
reclinada.
Para minimizar a área frontal da cabine (minimizar o arrasto da fuselagem)
fixou-se o valor da largura da cabine em 7.06m, conforme a Tabela 3.8, deixando-se a
altura da mesma para ser minimizada.
4.3.1.3 ESTÉTICA.
Seguindo a orientação dada no capítulo anterior, durante todo o projeto fatores
estéticos serão cuidadosamente considerados, seja na definição da geometria geral da
aeronave, seja na definição de detalhes. Alguns deles serão mencionados no momento
oportuno.
4.3.1.4 SIMPLICIDADE CONSTRUTIVA.
A máxima "mantenha o projeto simples e adicione leveza” será considerada com
atenção no decorrer do projeto Triathlon. Serão buscadas soluções que sejam eficientes
e, ao mesmo tempo, simples. Por exemplo, as nervuras não serão obtidas por montagem,
mas por recorte numa única peça. As cavernas serão feitas em duas metades (um único
molde, pequeno) e será evitada a construção em lâminas de madeira, por ser muito
laboriosa.
No intuito de se reduzir peso, dentro do possível, associar-se-á mais de uma
função para uma mesma peça. As ferragens deverão ser simples e robustas o suficiente.
193
4.3.1.5 CUSTO DE FABRICAÇÃO.
Um baixo custo de fabricação deverá ser atingido através das seguintes
diretrizes:
O simplicidade construtiva;
O dimensões e pesos reduzidos, em acordo com a filosofia de
solução mínima;
9 construção em materiais compostos sem uso de moldes;
Q adoção da norma mais compatível com a categoria da
aeronave em desenvolvimento;
9 previsão de uso de motor aeronautizado ou aeronáutico não
homologado pelos estritos padrões de certificação
aeronáutica (porém aceito pela norma adotada, para
utilização em aeronaves experimentais).
4,3,1.6 FACILIDADE DE TRANSPORTE NO SOLO
Visando facilitar o transporte da oficina de fabricação para o aeroporto, o
Triathlon deverá ter, não apenas o grupo motopropulsor, mas também o cone de cauda,
removíveis, conforme mostra a Figura 4.3.
f MN
Pi
Figura 4.3 — Esquema de desmontagem para transporte
194
4.3.2 MÉTODOS COMPARATIVOS
4.3.2.1] FICHAS TÉCNICAS
Seguindo a metodologia apresentada no Capítulo 3, foram selecionadas trinta
aeronaves para serem utilizadas nos Métodos Comparativos. As fichas técnicas das
aeronaves selecionadas estão apresentadas no Projeto CB.10 Triathlon — Parte 1
(Barros, 1999).
4.3.2.2 TABELA COMPARATIVA
A Tabela Comparativa para o projeto Triathlon está reproduzida na Tabela 4.3,
contendo os dados das aeronaves selecionadas a serem comparados.
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Tabela 4.3(cont.) — Tabela Comparativa
Tabela
Comparativa
Sistema Métrico
A tabela foi construída posicionando-se as aeronaves de acordo com a potência,
dentro do possível, aumentando da esquerda para à direita. Assim, a primeira aeronave
(Europa) apresenta 80 hp enquanto a última (Me-109) apresenta 1475 hp.
As treze primeiras aeronaves da tabela são aquelas com potência dentro da faixa
do projeto (80hp a 125hp). As seis primeiras, em particular, são as mais competitivas do
ponto de vista do projeto atual (mesmo porte, etc.).
Da décima quarta (Vari Eze) à décima sétima posição (Curumim), aparecem
aeronaves de potências variadas, todas com pelo menos uma parâmetro bastante
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peculiar. O Vari Eze comparece, apesar das suas dimensões diminutas e baixa potência,
devido ao seu desempenho elevado quanto aos índices CAFE. O Uirapuru comparece
por ser uma aeronave clássica no cenário nacional. O Tailwind aparece por ser um
clássico da construção amadora americana, sendo muito veloz para a sua categoria, Jão
Curumim, possuindo uma envergadura muito acima da média, aparece devido às suas
boas características de vôo.
Da décima oitava (GP-4) até a vigésima sétima (K-51) comparecem aeronaves
de potência acima da faixa do projeto (de 160hp a 300hp) mas que apresentam notáveis
características de vôo, podendo influenciar o projeto Triathlon quanto às proporções
geométricas. Também com características de vôo notáveis, porém com potência bem
superior a faixa do projeto (de 750hp a 1930hp), comparecem o Tucano, o P-51 e o Me-
109, cujas proporções geométricas podem ser úteis ao projeto Triathlon.
Finalmente, na última coluna da tabela aparece uma estimativa preliminar para o
projeto Triathlon, cujos valores, na verdade, foram determinados a posteriori, depois da
aplicação dos métodos comparativos. Note que os parâmetros estimados para o
Triathlon ficaram mais identificados com as seis primeiras aeronaves, que são da sua
categoria.
4.3.2.3 COMPARAÇÃO VIA GRÁFICOS DE BARRAS
Foram elaborados trinta e seis gráficos de barras, um para cada parâmetro da
Tabela Comparativa, conforme apresentado no Projeto CB.I0 Triathlon — Parte 1
(Barros, 1999).
De acordo com a importância atribuída ao parâmetro em exame, os valores
estimados para o Triathlon ficaram, ora próximo a média, ora majorados, ora
minorados, conforme indica a Tabela 4.3.
A título de ilustração, a Figura 4.4 e a Figura 4.5 apresentam, respectivamente,
gráficos de barras para a envergadura, um parâmetro geométrico, e para a velocidade
máxima em vôo nivelado, um parâmetro de desempenho.
199
PSRRSSPESASIASEASGSIFpERsSERaaEE
SitcgaiiiiiagçdsiCtelcads so ss
25 SaJas S233 se POC gÊ E
Foi ti o diê O A RO
8 a 8 - 5
Figura 4.4 — Gráfico de barras do parâmetro envergadura (m)
aen288 209
“E É gestor? es:
| li Ni
PoPPSSEPLILESRELEAZESIANCAREFISE
SSPRSPRcSsgiasaElSgsigaIasci ss
TDisizbocsssepaSans rECSEs ar glaa
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3 8 eo 82 8 Ê 2º 25
: ê 55
z
$
Figura 4.5 — Gráfico de barras do parâmetro velocidade máxima (km/h)
A envergadura do Triathlon foi estimada um pouco abaixo da média aritmética
das envergaduras das seis aeronaves da categoria.
Já a velocidade máxima nivelada, um dos parâmetros de desempenho almejado,
foi estimada um pouco acima dos seis primeiros, na versão acrobática, e próximo ao
limite superior na versão utilitária.
4.3.2.4 COMPARAÇÃO VIA GRÁFICOS PARAMÉTRICOS
Os principais gráficos paramétricos elaborados para o projeto Triathlon são
apresentados a seguir.
Os demais gráficos paramétricos, elaborados e analisados para O projeto
Triathlon, podem ser consultados no Projeto CB.10 Triathlon — Parte 1 (Barros, 1999).
202
Razão de Subida
A Figura 4.8 apresenta uma correlação entre a razão de subida e a relação -
potência/peso para diversas aeronaves.
Razão de Subida [m/s]
un
o 0.05 o 0.15 02 0.25 os
Potência ! Peso [hp !kgf]
Figura 4.8 - Correlação entre razão de subida e potência/peso
Imagine, para cada aeronave nesta figura, uma reta ligando a origem com o seu
ponto representativo. Quanto maior a inclinação da reta, melhor a aeronave sob este
aspecto. Assim, as aeronaves mais próximas da borda superior da faixa azul (por
exemplo, o K-51) apresentam razão de subida melhor do que aquelas mais próximas à
borda inferior (Aero Boero e Uirapuru). Note que o Katana, embora com uma razão de
subida inferior ao Ban-Bi está numa Posição mais favorável (a reta que passa por ele é
mais inclinada que aquela que passa pelo Ban-Bi). Note que o Triathlon, posicionado na
Figura 4.8 de acordo com os valores da Tabela Comparativa, aparece próximo a
bissetriz da faixa azul. Dentro do possível, nas etapas subsequentes do desenvolvimento
do projeto, deve-se buscar reposicioná-lo acima da reta atual. Em outras palavras, uma
melhora na razão de subida e, ao mesmo tempo, na razão potência/peso, só será
tecnicamente positiva se a razão entre estes parâmetros também aumentar.
203
4.3.2.5 COMPARAÇÃO POR VISTAS EM PLANTA NA MESMA ESCALA
A seguir aparecem as vistas em planta das aeronaves listadas na tabela
comparativa (Tabela 4.3), todas na mesma escala (1:100), permitindo uma comparação
visual rápida (porte, envergadura, área alar, etc.).
al
Europa / Europa Turbo
Pulsar / Pulsar Turbo
SGráb G115
207
SF 260
CAP 10-b
K51
Triathlon
T-25 Universal
Cessna 152
Aerô Bóero TTS
Me 109
208
209
P-51
A vista em planta referente ao projeto Triathlon, obtida a posteriori , já aparece
incluída para comparação, na página 207.
212
800
800
700
800
500
Peso Vazio [kgf]
300
200
100
0 10 20 so 40 so 60 70 ao so
Volume da Asronave [m?]
100
Figura 4.11 - Correlação entre o volume da aeronave e peso da aeronave
Às aeronaves mais robustas são aquelas mais próximas da borda superior da
faixa azul. A Figura 4.11 mostra que quanto maior o volume da aeronave, maior o peso
vazio da mesma.
Objetivando projetar o Triathlon o mais leve possível, procurou-se posicioná-lo
o mais próximo possível da borda inferior da faixa azul, chegando-se ao posicionamento
mostrado na Figura 4.11.
Note que, tanto a Figura 4.10 como a Figura 4.11 reforçam a filosofia solução
minima para projetos de alto desempenho aerodinâmico.
4.3.3 DELIMITAÇÃO DO PROTÓTIPO
4.3.3.1 ESCOLHA DA CONFIGURAÇÃO EXTERNA
A) Posição das asas
Como a presente aeronave deverá operar tanto para vôos acrobáticos como para
uso utilitário, optou-se pela configuração em asa baixa, que é a disposição que melhor
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atende, simultaneamente, a estas duas categorias. Note que, na Tabela Comparativa,
todas as aeronaves direcionadas para vôo acrobático apresentam asa baixa.
B) Forma em planta das asas
Considerando os comentários do capítulo anterior, para otimizar a relação
resistência/peso da asa, minimizar a resistência induzida e preservar um valor baixo do
momento de inércia transversal da aeronave (o que facilitará manobras acrobáticas de
rolamento) será adotada a forma em planta trapezoidal. O autor também considera que,
do ponto de vista estético, esta geometria é a mais adequada para o presente projeto.
C) Enflechamento das asas
No projeto Triathlon, as espessuras máximas dos perfis da asa estão a 40% da
corda, região mais apropriada para colocação da longarina. Assim, para otimizar o
projeto da longarina e facilitar a fabricação da longarina e suas ferragens, o
enflechamento da asa será nulo a 40% da corda, ficando ligeiramente positivo a 25% da
corda.
D) Diedro das asas
Considerando se tratar o Triathlon de um aeronave com asa baixa, para permitir
um vôo de cruzeiro mais confortável, será adotado um ângulo de diedro ligeiramente
positivo.
4.3.3.2 ASPECTOS DA CONFIGURAÇÃO INTERNA
Optou-se pela configuração lado-a-lado, a qual traz os seguintes benefícios: i)
minimiza a alteração da posição do centro de gravidade da aeronave quando com um ou
com dois tripulantes; ii) facilita a comunicação entre tripulantes e iii) é comercialmente.
mais aceita,
Um aspecto relevante no caso do projeto Triathlon é que, considerando-se a
grande largura dos motores possíveis de serem utilizados, a configuração lado-a-lado
não acarretará aumento significativo da largura máxima da fuselagem.