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A enfermagem nosistema penitenciário, Notas de estudo de Enfermagem

A ENFERMAGEM NO SISTEMA PENITENCIÁRIO

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 19/10/2010

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Baixe A enfermagem nosistema penitenciário e outras Notas de estudo em PDF para Enfermagem, somente na Docsity! A ENFERMAGEM NO SISTEMA PENITENCIÁRIO José Ricardo Camargo Xavier 1 A ENFERMAGEM NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Por Dr. José Ricardo Camargo Xavier Enfermeiro Especialista em Saúde Pública, Administração de Serviços de Saúde, UTI - Unidade de Terapia Intensiva Nefrologia Doenças Infecto - Contagiosas, Traumatismos Raquimedulares, Auditorias, Analises e Gestão de Riscos de Saúde, Home Care – Internação Domiciliar Auditoria Ambiental entre outras Especializações. Em 30 anos de atividades profissionais Compilação de dados e fatos no período de 1990 a 2004 2 como são, arriscam sua integridade física, mental e   moral  para  atender  àqueles   infelizes  que cumprem   penas por erros cometidos. Como   relata   o   próprio   autor,   seu   objetivo   não   é   agredir   ou   denegrir   pessoas   ou   instituições,   mas   trazer   aos   interessados   em   seguir   a   profissão   de   Enfermeiro   no   Sistema   Penitenciário,   um   relato   completo e verdadeiro, vivido em sua própria carne,   aos   seus   colegas   de   Enfermagem,   quando   adentrarem ao interior de uma instituição prisional. Pois são fatos que são comentados detalhadamente,   por   segurança   e   que,   naturalmente,   venham   parecerem   absurdos   se   reproduzidos   na   mídia   sensacionalista    que é  diariamente  apresentada em  nossa imprensa escrita, falada e televisionada. É um compilado de observações e instruções úteis e   necessárias   que   vem,   portanto   preencher   aquela   lacuna que referimos no início deste prefácio. Sinto­me honrado pela lembrança do autor e amigo   que me convidou para prefaciar  este   trabalho,  que   me foi de grande importância e valia diante do papel   público que exerço. Parabéns ao Amigo.                                 SALVADOR KHURIYEH                                      Deputado Estadual 07 de junho de 2002. 5 Comentário do Autor:                            Este livro não tem a intenção de  agredir   ou   de   denegrir   nenhuma   pessoa   ou  imagens das Instituições aqui relatadas, mas de  refletir   o   que   realmente   se   passa   no   interior  destas   instituições,   que   são   mantidas   pela  população recolhendo seus impostos, querendo  ver as verbas enviadas ao Estado; dinheiro este  recebido   ser   aplicado  de   forma  correta   e   em  situações   que   sabemos   serem   de   utilidade  pública, como manda a lei. Utopia da vontade  popular.                                                      Também não tenho a  pretensão política de se ver estes dados serem  aproveitados para qualquer destes fins ou desta  natureza,   até   porque   já   sabemos   destes   fatos  pelos meios de comunicação e já se tornou até  um pouco maçante e poucos querem na verdade  discuti­los,  pelo simples fato de preocupações  de outras origens são mais patentes e vertentes  para a nossa população já tão descrente do que  aí esta. 6                             Os fatos aqui narrados são  verdadeiros  e  facilmente  apurados  se  assim o  quiserem as autoridades constituídas, pois têm  eles   todos   os   documentos   em   mãos   bem  guardadas   e   seus   respectivos   responsáveis  sabem onde estão.                            Minha primária intenção o que  pode e deve ser sentida ao discorrer na leitura,é  apenas   levar   e   esclarecer   através   destas  informações, nossos colegas de Enfermagem, e  quem mais se interessar,  o que enfrentarão ao  adentrarem   o   interior   de   uma   instituição  prisional de qualquer nível de segurança, seus  meandros   e   fatos   que   não   devem   ser  comentados, por “origem de segurança” ou por  serem absurdos e ilegais se forem reproduzidos,  passível de punição administrativa e coercitiva,  o  que  me  reservo  o  direito  de  deixá­los  bem  guardados para minha segurança pessoal.                       Espero que possa este compilado  servir  de  alguma  maneira  aos   fins  propostos,  que é de apenas servir de informativo. O autor  7 dentro   dos   recursos   físicos   e   humanos  disponíveis, por parte dos colegas de profissão,  Enfermeiros, existe a manipulação de atos a se  subestimar condutas e procedimentos, levando­ se em conta os interesses “maiores” que regem  a área de segurança. Isto não parte de uma área  isolada,  mas  do   sistema  como um  todo  e  de  seus  profissionais,   cada  um achando  que   sua  função não pode ser diminuída por qualquer um  que   não   faça   parte   do   “esquema   deles”,   isto  salvo   um   ou   outro   colega   de   trabalho   mais  lúcido e inteligente.                                            Apesar  das dificuldades  enfrentadas,   é   com   a   paciência   que   nos  forjamos nesta particularidade e que mostramos  com técnicas e atos objetivos direcionados ao  bem comum, apesar de fazê­lo em um ambiente  “medieval” tanto em nível de mentalidades da  população   alvo   e   outros   que   se   deixam  contaminar – os funcionários, quanto de toda a  estrutura   que   nos   rodeiam,   e   tornamos   e  buscamos os parcos recursos materiais e os escassos  medicamentos,  às  vezes  ao  extremo,  em algo que possa ser utilizado, como leva­los  nós mesmos a servir a população alvo e estes  desafetos gratuitos. Não somos como eles.                       Inexistentes e/ou subestimados  estes   recursos,   em   nível   amplo   e   estrito,  tentando transformar o que é  um local para a  guarda   de   reclusos   em   um   reservatório   de  novas   idéias   no   trato   com   esta   população  específica,   que   bem   sabemos   não   recupera  ninguém, ao contrário, vê, degenera o que resta de humano em todos. 10                       Qualquer indivíduo que trabalha  no sistema é transformado em semi irracional –  pois   há   o   resgate   de   instintos   escondidos   e  reservados em cada um de nós, fato este que a  psiquiatria explica com propriedade.                                    Sendo o sistema prisional um  refugo   animalesco   da   ação   e   reação   sem  raciocínios   lógicos,   e   se   o   fazem   são   para  interesses próprios, em tom individualista, não  há de ter um objetivo de recuperar ou conduzir  a melhoras,  mas  de servir  de manipulação de  poderes,   quais   estes   mandatários   conhecem  bem.                       Neste espaço a narrativa pode ser em tom mais contundente, mas são pontos de  partida verdadeiros,  pois  existe  o  menosprezo  dos   ASPs   –   agentes   de   seguranças  penitenciários, e dos internos, nossa população  alvo, e uns pelos outros, o que já irá criar um  clima   belicoso,   um   sendo   inimigo   do   outro  apesar  dos esforços para ser  ao contrário,  em  seu início de trabalho, de ambos os lados. E nós  estamos no meio disso.                       Há um estudo pormenorizado das  atitudes como se estivessem em um campo de  batalha,   havendo  espiões  de   ambos  os   lados,  inclusive os infiltrados,  conforme as ofertas e  vantagens oferecidas, materialmente, claro.                                            E não poderia deixar de nos  atingir, pois lá também estamos, e com certeza  atingem   todos   que   lá   trabalham,   afetando   de  uma   forma   ou   de   outra   a   postura   mental,  intelectual   e   social   que   carregamos   ­   reflexo  das vontades escusas e inconseqüentes. 11                       Os profissionais da área da saúde,   não por acaso, são forjados a saber entender as  razões  que  movem determinadas  atitudes,   em  especial   quando   afeta   e   nos   é   mostrado   ou  apresentado; sensibilidade, intuição e uma dose  de sabedoria na observação, parte inerente dos  currículos escolares e desenvolvidos na prática  diária, e que nos traz condições de elaborar um  diagnóstico   de   que   a   “coisa”   não   anda   nada  bem,   sofrendo   de   um   colapso   de   múltiplos  órgãos,  mas  enquanto  há  vida,  a   esperança  é  nossa pedra angular.                                  Acreditamos ainda nisso.                        Sabemos fazer perguntas e ouvir  respostas. O problema é o que fazer e o que não  fazer para ser  um bom ouvinte,  mas dar boas  respostas sob um padrão de boa educação, coisa  rara nestes ambientes ; estimular o bom senso  geral,   não   o   do   bom   senso   de   pouca  produtividade   ,   voltado   para   interesses   de  pouco. Mostrar empatia,  não condenar, menos  ainda discutir ou assumir ares de superioridade;  isso   nos   é   patente   tanto   em   nível   de  comportamento   quando   não   nos   deixamos  influenciar   por   “contaminações”,   o   que   já  sabemos   como   fazer   por   técnicas   aprendidas  nos bancos escolares, mas mostrar a todos que  nossa   missão   é   fazer   cumprir   a   assistência  àqueles que dela necessitam. Fazemos parte de  uma equipe e esta deve ser respeitada tanto em  nível individual como no coletivo.  Temos olhos a serem usados para saber ver e  ouvidos para saber como ouvir.                        Devemos ser os olhos e ouvidos,  mas   não   podemos   esquecer   que   também  12                       Ficar em posição de inferioridade  trás   algumas   vantagens   em   situações  específicas de necessidades.                       Em 2001 a Resolução COFEN  Nº   256/2001,   de   12   de   junho   de   2001,  autoriza os Enfermeiros a usarem o título de  Doutor.                                    Infelizmente, mesmo entre os  profissionais   de   enfermagem,   graduados   ou  não, encontramos muita resistência à idéia, ao  direito   de   uso   do   título   de   Doutor,   pois   a  subserviência   está   enraizada   mentalmente,  como forma de submissão inconteste.                       O fato é que aquele romantismo  de exercer  a  medicina,  e  consequentemente  o  título de Doutor, caiu em decadência pelo atual  despreparo destes profissionais, constatado pelo  fato de não mais se exercer função de  medico  com aquele desprendimento de outrora, quando  estes   profissionais,   filhos   de   pais   ricos   e   de  renomes,  já   tinham heranças que podiam lhes  dar   o   sustento,   e,   sua   prática   era   voltada   a  caridade e desprendimento.                                            Lembremos da época que  recebíamos   os   médicos   em   casa   e   este  profissional   fazia   parte   de   nosso   cotidiano,  havendo   respeito   e   afeto   pela   pessoa   e  profissional que lá estava.                                            Houve evolução em todas as  áreas,   e   com   esta,   o   afastamento   das  pessoas,tornando   os   atendimentos   de   hoje  15 impessoais   e   distanciados   do   dia   a   dia   do  paciente,   apenas   voltado   a   doença   daquele  momento   e   não   mais   da   vida   dos  pacientes/clientes.                                            E com isso, seus problemas  inerentes   aos   tempos   e   as   mudanças   de  mentalidades   dos   homens   que   assim   o  acompanham.                       Estas situações – embutidas na  forma   mental   e   social,   refletem   no  interno/preso   ­   por   estarem   sofrendo   alguma  ameaça como fuga e proteção.                        Mas não falarão a verdade, ou  serão   dedos   duros,   e   isto   em   um   ambiente  prisional   pode   significar   mutilações,  isolamentos   ou   até   a   morte;   este   fato   não   é  tolerado nem pelos ASPs, que deles se esperava  orientação   e   mesmo   proteção   e   menos   ainda  pelos seus iguais.                                            Isto são alguns exemplos de  composições   belicosas   que   podem   e   com  certeza ocorrerem e continuarão a ocorrer, que  em nível  profissional  da área  de saúde não é  explicitado.                                            Estamos jogados como carne  nova   dentro   da   cova   dos   leões,   estes,  representados   mais   pelos   ASPs   que   pelos  internos/presos.                                              Como sabemos a contratação de  funcionários para exercício de cargo público é  somente   através   de   concursos,   mas   não   há  referências de como se deverá proceder e muito  16 menos  que   tipo de situações   irá   se  deparar  o  profissional  quando  do exercício  da   função  a  que concorreu.                        Existe uma omissão proposital  ou é falta de critério mesmo?                                              Não existem parâmetros para as  atividades   que   serão   exercidas,   pressupondo  que   sejam   as   mesmas   de   um   hospital   ou  clínicas, mas não o são.                                           Certamente se ocorresse uma  explanação e explicação contundente do que é  um   ambiente   prisional,   suas   nuances,   um  preparo de adequação e localização, os recursos  pessoais  e profissionais  que poderia  se  dispor  para evitar contundentes confrontos, orientando  os  direitos  e  obrigações  a  serem exercidas,  o  trabalho assistencial ficaria direcionado e seus  resultados mais palpáveis.                       A população alvo é “especial”  e  os demais funcionários também o são, pois suas  visões   de   trabalho   estão   diferenciadas   da  convergência em fim último.                        Visarão apenas a segurança, e  nós, a saúde como bem comum.                        Como conciliar esta divergência  se estamos acostumados a ver nossas atividades  serem protegidas para podermos servir e   atuar  e não sermos “vítimas” destas  atitudes,  quase  que impedidos de atuar?                        O fato de nossos colegas ASPs  acharem   que   “ladrão”,   referência   ao  interno/preso   não   tem   direitos,   e   assim  17                       Não quero generalizar este espaço  de   negligências   e   impotências,   mas   sua  existência é  mais que conhecida e deveria ser  trabalhada em nível estrutural  e de eficiência,  em   busca   de   solução   e   valorização   do  profissional   que   com   preso   lida,   pois   todos,  sem exceção são especiais,  basta querer ver e  saber.                                             No âmbito da Administração  Penitenciária, desde abril de 1993, foi proposto  o   preparo   dos   profissionais   de   saúde   em  especial no saber como materiais disponíveis e  como   saber   agir   frente   a   esta   população   em  especial, mas não passou de retórica barata, em  especial quando nos convidavam a participar de  palestras,   seminários,   jamais   cursos   de  aperfeiçoamento ou reciclagem.                                             Tudo não passava de pura  enganação, pois os que detinham o poder para  modificar,   não   o   queriam,   e,   assim  continuávamos a  ficar   ignorantes  para sermos  a massa de manobra desejável   ,   independente  do local  do exercício profissional. Catalepsia                                            Assim como qualquer  indivíduo pode apresentar  catalepsia, ser  manipulado fisicamente,  nos níveis mais  inimagináveis   nesta   situação,   ser  enterrado e morrer por isso, e não poder  impedir   e   se   dar   conta   do   que   ocorre;  menos   ainda,   reagir   a   este   fato   por  incapacidade física e mental, esta situação  pode ser transferida aos profissionais que  adentram no Sistema Penitenciário, dado  20 a falta de informações que nos faltam de  como   se   deve   trabalhar   em   nível   de  relacionamentos   inter   profissionais   e  pessoais nesta área e lugar.                           Faz­se presente à falta de  interesse   por   parte   das   “autoridades  competentes”   que   deveriam   mudar   este  estado   das   coisas,   mas   há   desinteresse:  desmando   por   parte   de   diretores   das  unidades e das autoridades constituídas, e  gradualmente   em   menor   grau,   vai   se  formando uma corrente  em espiral,   sem  fim, até chegar ao sentenciado.                       O certo é que nem mesmo  estas autoridades sabem como lidar com  este   estado   de   coisas,   tamanho   o  despreparo e desinteresse em aprender e  buscar soluções.                       Se souberem e não o fazem,  é   crime   de   responsabilidade   e  incapacidade para o cargo que ocupa.                       É o que diz as leis em vigor.                        Há falta de empenho em  equipar   e   fazer   funcionar   Núcleos   de  Assistência à Saúde, que literalmente são  levados   pelos   profissionais   de  enfermagem, que levam medicamentos de  suas casas, medicamentos e equipamentos  de   uso   particular   e   familiar,   para   fazer  nutrir o setor e medicar os internos para  não deixa­los perecer como estrumes que  21 existem, mas queremos fazer de conta que  não existem.                                              Não estou sendo o defensor  de criminosos, sentenciados, condenados  ou não.                       Mas fazer um trabalho pelo  qual somos contratados a executar e pago  pela população, trabalho este que requer  muito   desprendimento,   dedicação,  empenho,   em   vários   níveis,   requer,   ao  mínimo,  que  façamos nosso   trabalho da  maneira   mais   correta   possível,   com  condições de executá­lo.                                            Para  que  estes  medicamentos  e  equipamentos  adentrem  e sejam usados no interior dos presídios,  pede­se permissão a diretoria e com esta  autorização   ­   via   em   regra   ­   verbal,  fazerem se os atendimentos.                       Como é sabido, mas pouco  divulgado,  por  total   falta  de  interesse,  o  sistema de saúde do sistema penitenciário  é   mantido   pelos   profissionais   de  enfermagem,   quase   que   em   todos   os  níveis,   salvo   exceções   localizadas   e  mínimas, mas não poderia ser diferente.                                             Porque para qualquer  instituição de saúde funcionar a contento,  necessita   de   ter   uma   equipe   de  enfermagem   bem   sintonizada   e   não  22 A Segurança no Sistema Prisional                                                      Após ingressar no Sistema  Prisional   para   trabalhar,   o   profissional   de  Enfermagem   vê­se   perante   vários   dilemas,  entre eles, os mais eminentes e principais cito:  01­falta  de  preparo  pessoal  e  profissional  em  lidar   com   esta   população   especial,   tendo   em  vista a total falta de literatura e  instruções de  como proceder, tanto em nível de vida quanto  de formação curricular, menos ainda em nível  de acompanhamento e acomodação do aspecto  visual,   mental   e   físico,   frente   a   essa   nova  realidade; 02­falta   de   recursos   materiais   e   de  equipamentos,   inclusive   os   de   uso   essencial,  como   seringas,   agulhas,   gases,   algodão,  soluções   anti­sépticas   e   soluções   para  curativos; 03­falta de preparo dos ASPs em lidar com os  profissionais da saúde; 04­exposição à nova realidade, contatos com as  diferenciações  no   trato  pessoal,  profissional  e  de recursos materiais; 05­falta   de   equilíbrio   emocional   pelas  diferenças entre este submundo e seus vícios e  a   realidade  que  vivência   fora  do  trabalho,  no  dia a dia com amigos e familiares; 25 06­discriminação da população como um todo,  por trabalhar com essa população alvo, que não  entende   ou   não   aceita   entender   o   trabalho  desenvolvido   e   repassa   este   desconforto   e  insatisfação   aos   profissionais   de   enfermagem  do convívio social, por cuidarem destes presos; 07­falta   de   respeito   por   parte   dos   ASPs   e  diretores que trabalham no presídio, dos setores  de   reposição   de   materiais,   equipamentos   e  medicamentos, isto quando chegam ao destino,  conforme solicitado,   tanto  em nível  estrutural  quanto   assistencial,   deixando   os   profissionais  expostos   a   situações   de   constrangimentos   e  perigos evitáveis, até com risco de morte; 08­ausência   de   respostas   às   solicitações  mínimas   para   o   exercício   profissional   e   seus  fins,   e   à   manutenção   do   departamento   do  Núcleo de Assistência  à  Saúde (NAS)   e seu  funcionamento com um mínimo de eficiência e  eficácia.                        Por conta desse quadro, não é  nada   confortável   e   digerível   a   atuação,  subsistência e equilíbrio funcional, emocional e  profissional, a que a satisfação e estímulos em  efetivamente   trabalhar,   ficam   fortemente  comprometidos,   levando   algumas   vezes,   o  profissional   de   enfermagem   e   seus   pares,   a  tratamentos   por   depressão,   ansiedade   e  afastamentos   desnecessários,   por   não   verem  condições   mínimas   de   atuação   profissional   e  pessoal.                            Isto tudo em nome de uma  falsa   segurança,   pois   é   só   abrir   os   jornais,  revistas,   televisões   para   depararmos   com  situações em que agentes de segurança (ASPs),  estão   comprometidos   com   os   escusos  26 movimentos carcerários do que com os próprios  colegas   de   trabalho,   mas   felizmente   é   uma  parcela   pequena   deles   mas   a   existência   é  patente  e  inegável   ,  pois  como se explicam a  entrada   de   armas,   celulares,   drogas   e   outros  ingredientes mais?  Conscientização                           A partir do momento em que os  profissionais   voltados   à   assistência   de   saúde  dessa   população   diferenciada,   reclusa   e  consciente   por   nós,   considerada   escárnio   da  sociedade,   dita   justa,   deste   sistema   que   se  impõem, os fatos confrontam os interesses de  dirigentes   de   penitenciárias/presídios,   pelos  moldes ao longo de ensinamentos ditatoriais e  medievais,   no   trato   da   coisa   pública:   cuidar  destes reclusos / presos.                                            E as  diferenciações  se  apresentam,   criando   e   gerando   conflitos   e  muito  pouco   interesse  em buscar  as   soluções  compostas, mesmo as mais simples.                       Certamente o que vemos como  rebeliões,   revoltas,   celulares,  drogas,  passeios  noturnos   permitidos,   são   frutos   da   corrupção  (ativa   e   passiva),   induzido   pelas   autoridades  que   remuneram  mal   e  não  dão  condições  de  trabalho   adequadas   e   decentes,   além   da  degeneração contida no sistema em si.                                            O nível de entendimento  individual  é  bem diferenciado,  pela   formação  pessoal,   profissional   e   por   regras  27 passam   pelos   pacientes,   pelos   setores   de   ala  hospitalares e ambulatórios/consultórios.                                            Mas a efetiva e eficácia  assistência   ao   doente/paciente,   hospedado   ou  não   em   ambiente   hospitalar,   é   feita   pelos  profissionais   de   enfermagem,   através   das  prescrições   individuais   de   enfermagem   e   das  evoluções   ali   anotadas,   independente   das  anotações médicas.                        E isto não é diferente dentro do  sistema penitenciário, observados (visitados) na  rede   da   Coespe   (Coordenadoria   dos  Estabelecimentos Penitenciários do Estado).                           Genericamente, a contratação  para   um   determinado   número   de   horas,   06  horas diárias, não “pode” ser cumprido.                       A causa do impedimento de não  poder cumprir com este período de horas?                                            Ociosidade de atividades do  profissional.                       Portanto, as médias de consultas  são variáveis, pois existe número suficiente de  médicos e faltam de auxiliares de enfermagem  e   de   enfermeiros,   pois   estes   são  sobrecarregados em horas de atividades no pico  dos atendimentos e com possível ociosidade em  poucos   horários,   sendo   as   exceções   às  emergências.                                           A equipe de saúde (dentistas,  médicos,   enfermeiros,   auxiliares   de  enfermagem),   trabalha   em   sincronia   de  sobrevivência: ­ os auxiliares de enfermagem se  achando   mandados   pelos   médicos   apenas,   e  30 estes,   patrões   inatacáveis   na   conduta,  ”semideuses”,   salvadores   da   pátria...,   até   se  precisar   deles   em   emergências,   finais   de  semana,   feriados,   fora  do  horário  de   trabalho  (matutino ou vespertino ou noturno).                        E não adianta procurar; nunca  estão   disponíveis,   a   não   ser   que   estejam   de  escala  previamente  elaborada  pelo  Diretor  de  Saúde, mas fazer cumprir estas escalas é como  fazer Matrix.                           Se fato novo acontece, como  exemplo:   brigas,   uma   queda   acidental   (?),  crises   respiratórias   ou   cardíacas,   ansiedades,  encaminha­se   à   enfermaria   do   presídio   e   o  plantonista   enfermeiro   ou   auxiliar   de  enfermagem   atende   e   medica   “conforme  rotina”, e “anota em livro próprio”.                        Mas este vocabulário é o ideal e  rotineiro  de  um setor  de   saúde  que   se  possa  prezar?   Claro   que   não.   É   vocabulário   de  marginais,   com   malandragem   explícita   e  escrita.                       Mas qual rotina é a melhor que  poderia   ser   efetivada   em   um   setor   de   Saúde  dum presídio?                                            O que se torna difícil na  convivência com presos e com funcionários já  forjados nesta área, é manter o padrão da boa  educação,  tanto escrita  quanto falada,  e quem  dera a comportamental e a dos relacionamentos  inter pessoais.                                            Faço, ao final deste livro,  sugestão   de   Prescrição   de   Enfermagem   e  Evolução Clínica de Enfermagem, que poderia  31 ser utilizada por qualquer serviço de saúde do  Sistema Prisional.                       Nenhuma víscera é igual à outra,   por  diferenciações  da  natureza  humana  e  não  podemos tratar indivíduos, sejam eles quem for  de maneira  tão desprezível  como são tratados  atualmente.                       Sabemos que quando um preso  necessita ser removido para um Pronto Socorro,  são   deslocados   ao   menos   dois   ASPs,   um  auxiliar   de   enfermagem   ou   quem   estiver   de  plantão   (menos   os   médicos),   desfalcando   o  setor   de   saúde   e   a   segurança.   Mas   como  proceder  à   frente  a esta situação se nos NAS  não há os materiais básicos para atendimentos  rotineiros?                           Não há vontade política para  solucionar,   pois   senão,   vejam   os  mascaramentos de dados estatísticos da polícia  civil,   que     sabemos   é   apenas   a   ponta  desenterrada deste escombro da  área   de   segurança,   pois  os   cadáveres   que  comandam podem cheirar  pior ainda. Querem  procurar?                           Mas e os senhores médicos,   onde   estarão   nestes   atendimentos  emergenciais?                        Vamos procurar juntos?                       Esta conduta é aconselhada pelo  diretor   da   instituição,   com   o   intuito   de  acomodar   estes   profissionais   médicos,   pois   é  isto ou nada. 32 odontológicas,   além   é   claro,   das   orientações  que  os  auxiliares  de  enfermagem sempre  que  possível   dão,   recebendo­as,   encaminhando   o  agendamento destas consultas.                        São acolhidas as solicitações  na  conformidade do possível,  pois nem sempre é  de nossa  função o que pedem, mas sempre há  andamento   e   encaminhamento   à   solução,  mesmo   que   seja   fora   do   quadrilátero   das  prisões.                       Encaminhar à Assistência Social,  Psicólogos,   Médicos,   Odontólogos,  Enfermeiros ou outro especialista, é uma rotina,  que   poderia   ser   melhorada   se   as   condições  internas   fossem melhores,   com mais   recursos  para atuação, evidente as saldos desnecessários.                            Isto não é coisa eventual, mas  uma   coisa   constante,   pois   procedimentos  padrão deveriam ser instituídos , para que não  se obedeça aos parâmetros  do  individualismo,  mas   de   padrão   instituído   pelo   órgão   de  competência,     no   caso   o   Departamento   de  Saúde do Sistema Penitenciário  do Estado, mas  este   também   subestima   dados   e   regula   ao  mínimo   os   medicamentos   necessários   a   boa  manutenção   dos   NAS,   e   por   isso,   há   a   falta  destes materiais e equipamentos.                           As consultas de enfermagem,  médicas   e   odontológicas,   deveriam   ser  padronizadas  através  de  modelos  previamente  adotados,   e   faço   no   final   deste   livro   as  sugestões para este fim também.                                                  É certo que os pedidos de  consultas são a priori quando necessários, mas  35 tendo   em   vista   que   somos   um   porto   seguro,  estas   mesmas   consultas   tornam­se   mais  constantes  para   fins  os  mais  variados  e  mais  surpreendentes,   baseados   nas   reais  necessidades   e nas intenções por detrás delas,  mas   sempre   se   encontra   uma   maneira   de  acomodar  as  situações para evitar­se  a  recusa  do   tratamento   ou   mesmo   uma   revolta   por  pequenos   detalhes;   tudo   pode   ser   motivação  para uma revolta.                               Quando percebemos que o  interno necessita de uma consulta psiquiátrica,  o   preso   é   encaminhado   ao   especialista   que  avalia  e  medica se  necessário,  mas  existe  um  temor enorme em fazer passar um interno pelo  psiquiatra,   pois   este   profissional,   como  “sabemos”   ,   tem a  chave  da  mente   e   isto   se  torna uma faca de dois gumes.                           A integração multidisciplinar  se faz necessária, contudo deve haver respeito  entre todos, mas não uma classe achar que pode  ser  deus  ou semideus,  se  achando senhor  das  razões. No Sistema Prisional não se pode agir  com   individualismo,   mas   coletivamente,   para  que a proteção de fatores externos se faça uma  constante, mas dentro da Ética e do bom senso.                                            Os setores, NAS, são portos  seguros   destes   internos,   de   funcionários,   que  sempre   buscam   informações,   consolo,  manutenção   de   “status   quo”;   quando   há  interesse da ordem estabelecida, mas na contra  mão   e   como   rotina,   agem   como   se   inimigos  fossemos   em   outra     situação   .É   por   falta   de  preparo ou desvio de caráter?                          Por isso é que estes profissionais  36 da   área   de   saúde   têm   que   ter   um   jogo   de  cintura, controle emocional   e   estrutural mais  apurado,     com   o     uso     dos  conhecimentos  técnicos   científicos   adequados,   mas   não   nos  furtamos de também termos estas necessidades  de caráter emotivo.                       Mas nem sempre se é permitido  ter este comportamento de composição, pois as  informações geralmente chegam truncadas, por  fatores   íntimos   ou   por   restrições   sociais   e  administrativas.                       Buscamos uma “osmose” entre os  setores do presídio tanto dos dados dos internos  quanto   dos   dados   pessoais   dos   que   lá  trabalham,  para  sempre     tentar  ajudar,  mas  o  que ocorre na realidade é apenas uma irrigação  suficiente   para   não  necrosar  os  relacionamentos por completo.                         Pode­se afirmar com exatidão,  que este é um submundo do submundo.                                            Ajudamos sempre na medida  certa e do que é nos possível. 37                                            Certamente, por situações de  extrema   tensão,   tanto   pelos   níveis   sócio­ econômicos   (salários   baixos),   quanto   pelo  próprio   contato   com  esta  população   especial,  cria­se um clima de descontrole interpessoal,                       O que poderia advir à explicação  que   um   indivíduo   de   boa   formação   e  escrúpulos,   depois   de   certo   tempo   de  convivência   começa   a   degenerar­se  comportamental,   reflexo,   como   sabemos,   da  degeneração em nível psíquico.                       Esta situação leva o indivíduo a  atuar de forma alheia aos padrões usuais de sua  personalidade  conhecida,  da  sua  anterioridade  (passado),   tanto  no   seio  da   família,  como  no  social, refletindo em cheio no trabalho, origem  destes desvios.                                            Dizer que os psiquiatras do  sistema não sabem ou desconhecem este fato é  mentira deslavada.                                            Tanto conhecem que evitam  muito   contato   com   muitos   funcionários,   para  não ter  que ajudar;  muitas  vezes  a  mando da  diretoria estabelecida.                       Isto é um estudo que poderia ser   feito   pelos   nossos   psiquiatras   do   próprio  sistema e instituir  a devida correção em nível  de tratamento desta e de outras situações.                       Ajudaria a evitar muitos desvios e  destruição da vida de muitos funcionários, mas  o   sistema  não   tem nenhum  interesse  nisso,   e  sabidamente é contra. 40                       Se o sistema é contra a melhoria   de   conhecimento   dos   profissionais   que   lá  trabalham, que dera se interessar por problemas  que não lhes diz respeito? Mas diz respeito sim,  pois   os   responsáveis   são   eles   próprios,   que  criaram e mantém esta situação, por interesses  de manutenção de um poder que não existe, só  na   mentalidade   ditatorial   e   medieval   destes  mandatários. Os Colegas da Saúde                                            Assim como se desloca um  profissional habituado a tratar a população em  geral,   nos   hospitais,   clínicas   e   ambulatórios,  para através de concurso, ingressar no sistema  prisional, viciado e desviado dos propósitos fim  como foi exposto, sem o mínimo de orientação  e   instrução   de   como   proceder,   não   é   de   se  esperar   clima   amistoso,   mas   belicoso,   pelas  anterioridades  de  cada  um.  Como se  adequar  aos   confrontos   entre   presos,   funcionários,  através   do   vocabulário   todo   peculiar   deste  ambiente, sem modificar sua intimidade ou se  deixar refletir em seus afazeres do dia a dia, se  a  osmose  é   inevitável  em qualquer  ambiente,  por menor que seja a influência, ela existe e nos  atinge   em   vários   níveis   (estudo     do  comportamento humano). 41                       Precisamos ter este amparo para  não degenerar;  mas  onde buscá­lo se  é  “cada  um por si e dane­se o resto”.                           O melhor modo de sentir estes   deleite de desvios, é observar o que se tinha de  hábitos  no  antes  e  no  depois  de   ingressar  no  sistema   prisional:   as   tensões   aumentam,   os  nervos   ficam   em   frangalhos,   respostas   ficam  mais ásperas, fica­se mais quieto e pensativo ou  ao contrário, relaxa­se com outros meios, para  distração.                            Dizer­se que se desconhece  este problema por parte de diretores é  falsete,  mas a solução nem sempre está em suas mãos,  mas  que  poderia  haver  encaminhamento  para  solução,  poderia,  e  o  que falta  é  à  vontade  a  resolver,   com medo  de   intrometer­se   e   ainda  criarem problemas administrativos e pessoais e  então  o funcionário é aconselhado a afastar­se  por   motivo   de   saúde   e   vai­se   protelando   a  solução e prevalecendo o vá se cuidar para não  degenerar, por conta e risco próprio, sem apoio  devido pelo gerador dos problemas.                           Foi por mim proposto em abril de  1993,   durante   uma   reunião   para   tentar  solucionar estes problemas e outros de ordens  administrativas,   um   trabalho   de   pesquisa  científica   em   conjunto   com   os   colegas   lá  presentes,   estando   a   coordenação   em   minha  responsabilidade,   com   o   apoio   do  Departamento   de   Saúde   do   Sistema  Penitenciário,   mas   não   houve   retorno  algum  dos colegas, apesar de insistentes apelos feitos  por carta e telefonemas, onde referia:  42 profissionais  de   saúde  ou  de  outras  áreas  do  sistema prisional,   ficando ultrapassado o trato  da população alvo, destoando com as realidades  presentes, não evoluindo, e quando há, não se é  divulgado   e   são   apenas   para   os   poucos  privilegiados.                                            Propostas, solicitações de  informações foram encaminhadas ao Centro de  Recursos   Humanos   do   Sistema   Penitenciário  por   cartas,   telefonemas   particulares   e   em  serviço,   fax   e   pessoalmente,   mas   ao   que   se  percebe,  não há  mesmo uma vontade  política  em   investir   na   melhoria   da   assistência,  formação profissional e reciclagem, isto posto,  se   falta   até   o   essencial   como   medicamentos,  equipamentos e materiais, vão, por acaso, ligar   para funcionários que só  dão despesas e não   dão voto?                         Quando muito, a Secretaria de  Saúde   do   Estado,   através   de   iniciativas  regionalizadas das DIRs (Escritórios Regionais  de   Saúde),   solicita   o   comparecimento   de  profissionais   de   enfermagem,   médicos,  odontólogos   a   participarem   de   simpósios,  seminários,   isto   quando   os   comunicados   e  convites   não   nos   são   apresentados   na   última  hora, com um ou dois dias de antecedência, o  que   torna   quase   que   inviável   o  comparecimento,   dado   ao   tempo   disponível  para   o   preparo   para   estes   fins,   pois   envolve  transporte, o que nem sempre está a disposição  para estes fins.                                            Isto tudo somente para trazer  mais   informações   para   o   NAS,   pois   estas  informações são para serem repassadas.  45                       Contudo, esta chance de acumular  novas   experiências   e   formações   pelas  informações   divulgadas,   nem   sempre   são   em  horários   de   trabalho,   o   que   requer   do  profissional o desprendimento para “esticar” o  horário   e   como   forma   de   recompor  conhecimentos,   comparece   e   busca   a   melhor  forma de aprimoramento.                       Apesar de obter estas informações,  e quando retoma o trabalho rotineiro pelo que  se  vê,  é  que seus  superiores  hierárquicos  não  reconhecem o  esforço despendido, e em regra,  quase   que   impede   que   o   conhecimento   seja  implantado, pois não há interesse nesta atitude.                       Novamente a discriminação parte  desses   senhores   que   deveriam   estimular,  contudo não o fazem; talvez pelo simples fato  de não permitir que haja evolução nos NAS, ou  por razões desconhecidas, talvez inconfessáveis  de egoísmos ou despeito, mas que o fato existe  é mais que palpável.                           A quem reclamar, se a figura  que teoricamente deveria receber esta queixa é  o mesmo que a rejeita, contrariando a “norma  estabelecida” que time que está ganhando não   se mexe, e nos perguntamos afinal: Reclamar a quem? Reivindicar a quem? Notificar a indignação a quem? Haverá   resposta?Quando?Se   os   prazos   não  são cumpridos pelos Superiores?                        Os prazos e departamentos são  muitos   e   a   aceitação  por  parte  de  quem  tem  uma visão mais  abrangente  e   tenta  colaborar,  geralmente   não   encontram   os  ecos  46 indispensáveis   a   esta   sobrevivência   de  conhecimentos profissionais.                        Somos uma classe especial de  profissionais, por tratarmos com as doenças e o  homem   que   a   pertence,   ser   este   já  genuinamente egoísta, e ainda sermos relegados  à   condição   de  curva   de   rio,  o   que   não   nos  acalenta  em absolutamente  em nada  e  menos  ainda estimuladora.                       Propostas, trabalhos científicos,  técnicas   apuradas,   recursos   humanos   e   de  trabalho,  equipamento  de  proteção   individual,  medicamentos   específicos   não   são   aceitos   e  muito menos presentes nos NAS.                                    Pois é sabido que são poucos os  NAS em que seus diretores, têm a mentalidade  aberta, apóiam seus funcionários dando a eles o  respaldo   necessário   para   exercerem   suas  atividades   como   manda   e   recomenda   as  condições mínimas de órgãos de saúde.                           O interesse dos diretores de  NAS, não deveriam ater­se  somente  “ao bom  andamento   do   serviço”   ao   executarem   as  tarefas administrativas e fazê­las fluir, mesmo  não tendo capacitação ou especialização nesta  área, mas de estimular trabalhos científicos e o  desenvolvimento   de   técnicas   apuradas   e  atualizadas, voltadas a todos, em especial para  a população alvo (presos).                                            Isso, qualquer profissional de  bom senso e boas intenções faz, ao contrário,  são   vampiros   sagazes   vestidos   em   peles   de  fantoches. 47                                            E se ele não o mantém como  deveria, que seus representantes assumam esta  responsabilidade e a faça cumprir, sob pena que  estes  possam  passar   algum  período   lá   dentro  para sentirem o gosto amargo deste fel, criado e  mantido   por   eles,   e   quem   sabe,   talvez,   se  humanizem.                       Pois quem paga os impostos tem  o  direito  de  manifestar   sua   indignação   frente  estes fatos, verdadeiros ­ é só querer ver.                                            Tudo isso é sabido e deveria  funcionar melhor, e com certeza pode.                                            Temos  consciência   e  sensibilidades suficientes para ver e sentir que  este   estado   de   coisas   só   faz   aumentar   a  degeneração do humano que utiliza estes locais.                       Sabe­se também que existem por  detrás   destas   atitudes,   interesses   escusos   e  inconfessáveis:   fios   de   tear   que   vão   se  amarrando  por   interesses  comuns   a  manter  o  poder que não é emanado do povo, mas de uma  parte ínfima dele.                             Assistir o indivíduo em situação  de necessidade de saúde é direito, não favor do  Estado, nas pessoas de seus representantes, seja  em   que   situação   for;   e   dentro   do   sistema  prisional   este   estado   de   situação   é   FAVOR,  pois   não   adianta   a   força   da   lei   PESSOAL  contra a “lei” do sistema.                                            Para diretores e alguns  funcionários   do   sistema,   a   área   de   saúde   é  privilégio e deve ser manipulada com interesse  próprio. 50                       Não podemos atuar conforme é  de   recomendação   no   nosso   Código   de   Ética  Profissional   nos   interiores   do   sistema,  principalmente   como   deveria   ser   e   estamos  preparados para atuar, por que amamos o que  fazemos.                       Falar ou demonstrar sentimentos  de   compaixão  ou  de   interesse   em  ajudar  um  doente   ou   necessitado,   dentro   do   sistema  penitenciário   é   demonstração   de   sexualidade,  ignorância, inimizades, ser mal visto, desprezo,  cumplicidade   com   bandidos,   e   torna­se  também,   escárnio   para   esta   sociedade   em  particular.                       Naturalmente e conscientemente  temos   de   nos   acautelar   com   propósitos  subliminares de alguns  internos  /  presos,  pois  também é sabido que há intenções nada nobres  e recomendadas sobre estas intenções e desejos,  mas felizmente não é  a maioria como querem  fazer crer.                         É falta de oportunidade clara e  objetiva no amanhã desta população.                             Mas também existe a massa de  conformados,   acomodados,   desestimulados,  que   desistiram   de   lutar   pelo   que   é   certo;  melhorar  o  sistema é  possível,  apesar  de  não  acharem nenhum tipo de respaldo nos colegas  de enfermagem (alguns locais), em diretores de  NAS e nas diretorias da instituição, até porque  estes   também   estão   desestimulados   pelos  próprios   desencontros   administrativos   do  Estado.                           Como deve funcionar o sistema  51 em   seu   aspecto   estratégico,   funcional   e  estrutural  é   sabido,  mas  não podemos  fazê­lo  por impedimentos administrativos.                       Será que este estado de coisas é   também de interesse dos mandatários eleitos ou  nomeados?                                                    Saber como atuar nos é   oxigênio,  contudo somos   impedidos  por   tipos  de   normas   e   pelas   questões   de   segurança  segundo dizem os responsáveis.                           Então porque existem agentes  de segurança, senão para segurança dos presos  e   dos   colegas   de   trabalho   que   no   sistema  atuam?                                                    Propostas isoladas foram  colocadas   aos   diretores   de   NAS,   que  vislumbram   um   horizonte   mais   atualizado   e  realista, integrando­se com outros profissionais  de   saúde   e   desempenhando   suas   funções   de  uma   maneira   menos   ociosa   e   degenerativa,  como     o   que   deveria   ocorrer   em   todos   os  presídios. E   tomara   que   possam   implementá­los...,   se  deixarem.                               Como proposta de atuação  mínima   dentro   dos   parâmetros   esperados   do  profissional   de   saúde,   em   especial   o   de  enfermagem, sob a coordenação do Enfermeiro,  é as que abaixo exponho:  01­integração   entre   os   profissionais   de  enfermagem,   formadores   de   opinião   e  atualização; 52 vazamentos,   estimulando   e   exigindo   as  reformas necessárias, através de meios legais se  for o caso; 15­educar para não degenerar; 16­controle   de   materiais   e   equipamentos  indispensáveis   à   manutenção   à   vida   e   para  procedimentos diários e rotineiros; 17­programação   de   trabalhos   em   equipe   e  discutir a sua efetivação e manutenção; 18­caixa de proposta de sugestões; 19­   Manter   disponível   Caixa   de   Emergência,  móvel,  com os equipamentos indispensáveis à  vida.                       É sabido que para implantar este  projeto, esta idéia, que desde 1993, quando foi  apresentado pela primeira vez, não é difícil.                                            Basta querer fazer, pois não  implica em gastos vultosos,  apenas em básica  reciclagem e boa vontade em implementar.                                            Talvez por não ter gastos  vultuosos   é   que   há   tanta   dificuldade   em  implementa­los. Ou não?                       Sabemos que existem obstáculos  e impedimentos pessoais, por parte de diretores  de NAS e de outros setores que aparentemente  perderão   “poderes”   sobre   nós   e   os   demais  funcionários.                        Não queremos tomar poder de  ninguém, apenas  e  somente   trabalhar,  exercer  as   tarefas   para   a   qual   fomos   contratados   e  55 preparados   profissionalmente,   sem   estes  obstáculos ilegais, pois o que pleiteamos é legal  e já deveria estar sendo feito. Sistema Computadorizado                       Desde a década de 80, o sistema  computadorizado   vem   sendo   implantado   nos  56 lares,   lojas,   sistemas   governamentais,   nos  poderes legislativo, judiciário e executivo.                       Com certas restrições no início,  por   condição   pessoal   de   estranhar   o  desconhecido,   confirma­se   o   que   temiam  alguns  e  desfez­se  ao  vento  para  outros,  mas  nos dias de hoje, em pleno início do século 21,  o computador tornou­se mais um elemento dos  tantos eletroeletrônicos disponíveis e de acesso  fácil,   indispensáveis   para   certas   atividades   e  fins, em especial no trabalho.                           Sabemos de suas utilidades e  de seus manejos e basta ter um pouco de aulas  com um parente  próximo,  a  namorada (o)  ou  amigo  (a)  ou  com um professor  habilitado,  e  pronto,   já   estamos   acessando   e   viajando   por  este mundo, fato este que já foi bem assimilado  e aceito pelos mais resistentes.                       O sistema penitenciário não ficou  atrás.                        Com tantos processos entrando e  saindo, com dados individuais surgindo a cada  instante, estas informações vão se acumulando  e   a sua inclusão manual, que apesar de ainda  ser   muito   usada,   o   sistema   computadorizado  facilita sobremaneira a elaboração de relatórios,  as   escalas,   os   laudos,   fax,   avisos,   portarias  baixadas   pelos   departamentos,   entres   outros  fins.                       Mas este instrumento hoje já tão  bem incorporado no dia a dia de todos não é  usado  em  todos  os  departamentos  do  sistema  prisional. 57                       Não vivemos sem informações; e,  dentro   e   com   as   informações   colhidas   e  contidas   em   um   prontuário   de   um  interno/preso, pode­se fazer muita coisa, entre  elas   manipular   o   próprio   interno/preso   ou  grupos deles para fins que desconhecemos.                        Imagine estas informações em  mãos erradas?...pensemos e vamos dar solução  para este grave problema de falta de condições  de   guarda   de   dados   e   instalar   um   sistema  computadorizado nestes NAS.                        Ou continuaremos a viver na era  jurássica?                           Fundamental não é a retórica,  mas a diferença.  60 Pergunte Certo e Ouça as Respostas...                                              Todos  nós   falamos  ou  expressamos   o   que   somos   e   o   que   sentimos  através de informações, por gestos,  interesses,  conversas;  uma linguagem corporal,  que pode  refletir   entusiasmo,  empatia,  curiosidade,  mas  na   contra   mão,   reflete   através   dos   silêncios:  angústia,   indiferença,  suspiros de desconforto,  comentários   sarcásticos,   uma   outra   leitura  corporal.                       Qual destas gostaria de vivenciar  no dia a dia?                       Certamente não poderíamos viver  em   plena   paz   do   Jardim   do  Éden   por   longo  tempo,   nem   contrariamente   viver   um  desinteresse desprezível constantemente.                        Sempre o meio termo é a situação  mais aceitável, pelo simples fato de a natureza  humana não ser uma constante também, mas de  natureza egoísta, por essência, mas sempre com  um  nível  de   educação  básica   e  de   tolerância  visível e palpável, para compreender e ser parte  das soluções.                        Pois ser parte dos problemas é  mais   um   estímulo   a   fazer   as   pessoas   se  fecharem  e   a   rotularem  condutas  que  não   se  explicam, por mera conformidade e revolta.   61                       O que fazer e que não fazer para  ser um bom ouvinte?                         Aprender a ouvir é mais difícil do  que aprender a fazer  boas perguntas,  portanto  vamos   nos   lembrar   quando   observamos   um  grupo   de   pessoas,   sempre   se   questionando   e  mostrando suas experiências e inexperiências.                           Muitos estão preocupados em  manter   uma   “linha   de   raciocínio”,   com   suas  respostas evasivas ou algum assunto importante  para si e para o grupo.                       Se pudesse dar uma sugestão a  pessoas   ao   meu   redor,   diria:  saibam   ouvir  antes de elaborar e formular perguntas.                                            Ouvir é essencial, passivo é  verdade,   o   que   leva   a   considerar­se   que   é  submissão ou estar  subestimado.                       Mas sabiamente quem ouve ou  sabe  ouvir  antes  de   formular  perguntas,  estas  certamente seriam mais objetivas e produtivas.                       Como você ouviu a última pessoa  com quem esteve no trabalho, no restaurante ,  nas compras,  no supermercado e   em   especial  em casa ou em uma festa?                        Se você é como a maioria das  pessoas, não tenho medo de dizer que não sabe  ouvir,  e está  perdendo a oportunidade real  de  saber  ler   as   pessoas,   de   decifrá­las,  mas   o  tempo de aprender a ouvir  não se esgota.                       Quantas vezes você interrompeu  uma conversa? 62 m­Saiba ouvir com todos os seus sentidos; n­Tente   criar   um   ambiente   agradável   para  desenvolver a conversa; o­Evite ter platéia, a não ser que queira fazer  uma conferência ou teatro; p­Não tenha obstáculos físicos entre você e  seu interlocutor, e terá uma boa conversa; q­Evite as distrações ou ficar distraído com  alguém ou alguma “coisa”; r­Tenha   uma   postura   para   receber   as  informações   da   conversa,   nunca   cruze   os  braços ou seu interlocutor interpretará como  uma recusa de conversa; s­Nunca   queira   discutir   quando   estiver  cansado ou no fim de um dia longo e difícil;  isto   serve   também   para   seu   interlocutor,  portanto se ele/ela estiver cansado, respeite; t­Avalie o estado físico e emocional de seu  interlocutor, para melhor decifrá­lo; u­Crie um vínculo conforme seus interesses,  mas não atropele os potenciais de cada um; v­Pergunte   se   ele/ela   quer   fazer   alguma  pergunta,   pois   isto   abre   um   leque   de  informações   confiáveis   ou   não   –   saiba  avalia­las; w­Devemos pensar  no assunto  ou deixar  o  interlocutor   pensando?   –   refletir   sobre  qualquer   assunto   é   essencial   e   de   boa  educação; x­Saiba ser ouvinte e saiba ser ouvido pelo  seu interlocutor; y­Saiba o que perguntar e o que responder.                            A boa conversa sempre começa  com   um   bom   discernimento   sobre   o   outro   e  sobre si , mas não com  tom  de superioridade,  mas de igualdade,  removendo os obstáculos e  sendo honesto. 65 Nunca se explique. Aos amigos, não é preciso.  Aos inimigos não adianta                      O Coren – Conselho Regional de Enfermagem                       Diferentemente do que ocorria a  alguns anos passados, diziam que o Coren não  assistia  os   profissionais   de   enfermagem   de  conformidade   com   as   expectativas   dos  profissionais   que   o   fizeram   existi­lo,   mas  apenas   caminhava,   aos   olhos   dos   colegas,  contra   nós   e   contra   nossas   atitudes   não   nos  amparando e não nos acolhendo.                        Isto é sabido, mas não é de todo  verdade.                                            Contudo, mas que deixava  transparecer que o Coren só servia para punir,  isto   parecia,   mas   não   tenho   informações   se  acontecia e realmente não acredito nisto, apesar  do artigo 14 inciso V, que cita; “V – conhecer e  decidir   os   assuntos   atinentes   à   ética  profissional, impondo as penalidades cabíveis”.                                            Arbitrariedades e desafetos  podem ocorrer em todos os lugares, e conheço  66 muitos   casos   que   fiscais   despejavam   suas  amarguras   bem   pessoais,   intolerâncias   e  vinganças   em   colegas   sabidamente   e  comprovadamente inocentes.                       Ocorrências que resultavam em  absolvição   das   acusações   formuladas   e  nenhuma punição aos acusadores, pois o Coren  escudava seus pares.                                            Como se pode ver, em quase  todas   as   áreas   do   relacionamento   humano,  existem regras que devem ser   respeitadas e a  ética  para  promover   a   justiça,  mas  o  gênero  humano é hipócrita por natureza – você sabe  disso!                       Nos últimos anos, os Corens, em  especial   o   do   Estado   de   São   Paulo,   tem  primado pela visão global e estrita no trato com  seus   iguais,   com   distinção   e   honestidade,  lembrando sempre que existimos e mostrando  que estão lá para servir, orientar, encaminhar, e,  se   necessário   punir,   esta   última,   dando   as  oportunidades   antes   de   defesa   ampla  (esperamos).                                             Eles sabem que existimos e  sentimos sua presença sempre, através de envio  de   relatórios   e   novas   resoluções   entre   outros  fins.                                             E devemos perceber novas  evoluções,   o   que   os   colegas   também   podem  participar dando suas sugestões.                                   Ao longo dos anos, esta visão  deformada e incompleta serviu para nos afastar  de   nossos   direitos   e   talvez   de   nossas  67                       Talvez se houvesse maneiras de  se  queixar  buscando   resguardar   a   integridade  pessoal   e   profissional,   e   não   ser   atingido  enquanto   se   apura   a  verdade,   fosse  uma  boa  saída e poderia ser colocada em prática.                             Isto é uma constante dentro do  sistema prisional e em outros locais onde estão  os profissionais de enfermagem.                        Queremos trabalhar de acordo  com nosso Código de Ética, mas é difícil.                                            Ficamos descompensados em  cuidar de todos os lados: das diretorias de NAS,  dos   colegas   já   descompensados   e   estressados  pela   mesma   situação,   de    ASPs   que   sofrem  pressões   de   todos   os   lados   ­   de   presos   de  diretores   e  de   colegas   comprometidos   com o  crime, de diretores de outras áreas.                                             Não podemos é continuar a  sermos  saco   de   pancadas,   pois   não   temos  aptidão   para   sermos   as “saudosas Amélias”,  da velha canção. A Lei, o Preso, e os Funcionários do   Sistema Prisional                                            Recentemente, em 1999, foi  elaborado por Procuradores Gerais do Estado,  uma   Cartilha   dos   Direitos   e   Deveres   dos  Presos, onde estão relatadas de forma didática  com   perguntas   e   respostas,   as   principais  dúvidas tanto de presos quanto de funcionários. 70                       Dúvidas de funcionários?                        É isso mesmo.                                            Os funcionários do sistema  prisional   também   têm   dúvidas   e   deficiências  em   informações   e   formações   tanto   quanto  qualquer cidadão. Algumas vezes mais ainda.                                            Estas informações são para  algumas   pessoas   que   procuram   conhece­las,  mas não deveria ser desta maneira.                        Talvez neste ponto estejam as  razões  das   revoltas,   rebeliões,   fugas,   resgates  de   presos,   deficiências   estruturais.   Sabemos  que   os   novos   centros   de   detenções   e   outros  afins, são construídos para alojar em melhores  condições   o   cidadão   preso   e   para   mostrar  atenção   para   com   este   estado   de   coisas   por  parte do Estado.                       Seria muito bom se funcionasse  como está no papel, mas é o inverso disso.                                            Cita a referida Cartilha, na  pergunta:                       Quais são os direitos básicos dos  presos?                                             E as respostas vão desde  alimentação; vestimenta fornecida pelo Estado;  alas arejadas e higiênicas; visitas da família e  amigos; escrever e receber cartas; ser chamado  pelo nome (e não de ladrão como é feito desde  há muito); receber três quartos (3/4) do salário  mínimo para ajudar no sustento da família e até  o “direito  à  assistência  médica” entre outros  71 itens.                       Ora, se não é explicitado nem ao  preso,   nem   aos   funcionários   seus   deveres   e  direitos,   por   que   exigir   destes   o   respeito  profissional aos demais funcionários do sistema  se não é explicado a ninguém isto.                       E se o foi explicado, porque não  se coloca em prática?                                            O interessante e de direito a  todos, é a informação, mas se não se informa.                       Como obter informações se não  sabemos as fontes (os livros de leis não são tão  acessíveis   quanto   podemos   imaginar),   e   se  sabemos, temos dificuldades no seu acesso.                       O Regimento Interno Padrão dos  Estabelecimentos Prisionais do Estado de São  Paulo, no  Capítulo III, Secção I, dos Direitos,  no artigo 23, letra d inciso XIII, cita:                                             “...o preso tem direito a  tratamentos   médico­hospitalar   e   odontológico  gratuitos, com os recursos humanos e materiais  da  própria  unidade  ou  do   (Sistema  Único  de  Saúde SUS)...”                       E novamente há a omissão das  atividades   de   enfermagem,   mais   presentes   e  constantes que os demais profissionais da área  de   saúde,   relegando   nossas   funções   a   planos  inexistentes.                                             Médico tem sua função e  obrigação   diferenciada   das   funções   e  obrigações da Enfermagem. 72 O Processo de Enfermagem no Sistema  Prisional                           Quando estava na Faculdade de  Enfermagem, em 1979,   tivemos a  informação  que a futura colega de ofício, a Dra.Wanda de  Aguiar   Horta   e   colaboradores,   elaboraram   o  chamado Processo de Enfermagem.                                              Nele   constavam,  contundentemente,   as   maneiras   de   assistir   ao  paciente   de   forma   cientifica   e   racional,  hospitalizado  ou  não,   em  liberdade  ou  preso,  não  distinguindo  em que   condições  de   locais  seriam os atendimentos,  mas as formas de os  recursos que seriam utilizados para prestar  da  melhor maneira possível a assistência.                       Apesar das digestões difíceis do  atual sistema de saúde do sistema prisional,  e  que   nos   deu   uma   visão   mais   abrangente   e  específica   do   cuidar   em   condições   adversas,  tentamos   implantar   este   Processo   de  Enfermagem   nestes   estabelecimentos,   para  melhor cuidar desta população já mais carente.                       Como já disse anteriormente em  outros   tópicos,   a  Enfermagem   é   para   o  paciente o que  o paciente não pode ser para  si,  e   portanto,   entramos   naquilo   que   ficou  incompleto ou dependente de outros.                       Hoje, na maioria dos hospitais e  clínicas   médicas   e   de   enfermagem,  ambulatórios,   já   são  utilizados  o  Processo  de  Enfermagem, mas no sistema penitenciário isto  ainda não foi possível ser instituído . 75                       A primeira tentativa ocorreu em  1993,   quando   exercia   minhas   funções   de  Supervisor de Enfermagem no Hospital Central  do   Departamento   de   Saúde   do   Sistema  Penitenciário, em São Paulo, com o Apoio da  Diretoria  de Enfermagem e da Administração  do Hospital,   e  com o apoio   incondicional  do  Diretor do Departamento de Saúde .                                            É um hospital somente para  presos   portadores   de   DST/AIDS   e   outras  doenças infecciosas  e infecto­contagiosas, com  sessenta e oito leitos disponíveis, que tinha uma  equipe   de   médicos,   enfermeiros,   auxiliares   e  técnicos   de   enfermagem,   devidamente  treinados   e   afinados   com   os   propósitos   fins,  invejável   a   outros   departamentos   de   outras  localidades, dado o nível de conhecimento que  estes profissionais dispunham e ainda acredito  que disponham nos dias de hoje.                                            As atuações eram com total   desprendimento,   dedicação  e   integração   entre  os profissionais.                       Tudo era novo, funcionava bem e  fluía   melhor   ainda   com   as   condutas  apresentadas  por   estes  profissionais,   como   se  um rio  calmo fosse,  mas que levava em suas  intenções o servir.                                            Dispúnhamos de diretoria de  Enfermagem com autonomia para as atividades  e   uma   equipe   de   profissionais   enfermeiros,  auxiliares, técnicos e serviçais afinados, de boa  formação   pessoal   e   profissional,   que   se  entendiam e se   reciclavam,  de boa  vontade  e  muito estimulados. 76                                            Não havia falta de materiais,  equipamentos;   recursos   humanos   em   número  suficiente,  medicamentos  gerais  e  específicos,  alguns   importados;   testes   laboratoriais   eram  feitos   imediatamente   após   os   pedidos  efetivados   tanto   por   médicos   quanto   pelos  enfermeiros, como já é rotina nos dias de hoje,  dado os conhecimentos que ambos dispunham.                       Os resultados dos exames logo  que ficavam prontos eram entregues para que o  paciente/preso   fosse   atendido   imediatamente,  havendo   intervenção   em   tempo   real,   de  conformidade   às   necessidades   do   paciente   e  conforme manda a lei,  e assim deveriam ser  todos nós atendidos.                       A equipe médica que plantonava  com   assistência   diária   só   medicavam   ou  prescreviam   para   o   paciente   após   pedir   a  colaboração   e   parecer   dos   profissionais   de  enfermagem ou do supervisor de enfermagem.                       Os profissionais de enfermagem  forneciam   todas   as   informações   pertinentes  àquele paciente/preso e desta forma direcionava  os   procedimentos   mais   adequados   a   serem  efetuados, e isso criava uma dinâmica de ajuda  e colaboração constantes.                       Sabemos todos que a equipe de  enfermagem   é   o   advogado   da   saúde   dos  pacientes,   zelando   contra   atitudes   ou  intervenções   desnecessárias   ou   resolvendo   os  efeitos destas.                        Equipe de primeiro mundo, só  vista   em  filmes,   diferente  da  nossa   realidade  77   “Conhece   os   defeitos   de   quem   te   rodeia   e  conhecerá suas virtudes.”.                                  Ditado Chinês                                    A Penitenciária 1 (de Tremembé)                             Quando ingressei no sistema  penitenciário, em fevereiro de 1990, através de  concurso  público,   iniciei   minhas   experiências  nesta   área   na   Penitenciária   Dr.   Edgar  Magalhães   Noronha   de   Tremembé,   mais  conhecido como PEMANO.                       Neste local tive a oportunidade de  trabalhar   com   um   grande   conhecedor   deste  universo  de adversidades,  e,  saber  usufruir  as  mazelas   em   benefício   da   assistência   aos  internos e à equipe de enfermagem; falo de Dr.  Andraus.                       Este diretor de núcleo de saúde,  psiquiatra de carreira invejável,  nos acolheu e  nos orientou no que era possível,  para àquele  ambiente novo e aparentemente hostil, para nos  nutrir   com   idéias   e   maneiras   de   agir   com  poucos   recursos  materiais,   nos   estimulando  a  continuar,   a   fazer   uma   assistência   possível  80 naquelas   condições   de   guerra   branca   de  mocinhos e bandidos.                       Estes mocinhos e bandidos não  era   necessariamente   nós   contra   nossa  população alvo, mas muitas vezes nos defender  de   colegas   de   profissão   e   de   ASPs   mal  intencionados.                       A assistência era aplicada como  deveria   ser   feita,   apesar   de   “certos”  procedimentos administrativos difíceis, sempre  presentes,   e   conforme   já   foi   descrito;  “...   O  lobo perde o pêlo, mas não perde o vício...”                       Foram meses trabalhando ao lado  de   quem   nunca   desistiu   de   assistir   e   dar   o  melhor de si.                        Sempre nos decifrava, e através  de suas palavras e atos, nos ajudava a exercer  nossa função, usando como escudo os anos de  medicina no sistema e a influência de diretor de  saúde do complexo penitenciário.                                                    Quando inauguraram a  Penitenciária   Um   de   Tremembé–SP,   hoje  Penitenciária Leônce Pinheiro, em dezembro de  1990,   fui  convidado    pelo  Dr.  Andraus  a   ser  chefe se secção de saúde daquela Penitenciária,  o   que   me   deixou   muito   triste   e   contrariado,  abalando minha credibilidade  naquele  homem  que   se   tornou   uma   lenda   dentro   do   sistema  prisional,   dado   a     sua   dedicação   por   anos  seguidos.                           De início não entendi o porque  desta   conduta,   e   conforme   já   disse,   me  contrariou muito, mas mal sabia eu que aquela  81 atitude iria mudar por completo toda a história  da minha vida; com os aprendizados que se me  impuseram pelas dificuldades que presenciava,  talhando­me como pessoa e profissional de uma  maneira   que   em   lugar   nenhum   poderia  encontrar, só viver e ver.                                            Sentir  sentimentos  que  desconhecia   da   natureza   humana   e,   nunca  ouvira falar ou descrição havia lido ou sabido.                        Hoje, agradeço aquela atitude de  um “pai”  que   sabe  o  que  é  melhor  para   seu  filho.                            Quando nesta penitenciária  cheguei, encontrei apenas: salas vazias, mesas e  cadeiras   amontoadas   e   uma   caixa   de   sapato  vazia  com aspirinas  e  dipirona (analgésicos  e  antitérmicos), emprestados de outro presídio.                                            Indaguei ao responsável pelo  almoxarifado da Penitenciária I, um biólogo de  formação, mas um administrador por vocação,  como   deveria   proceder   para   equipar   o   setor,  que formulários deveriam ser preenchidos para  obter   o   necessário   em   nível   de   materiais,  equipamentos e recursos humanos, e não eram  poucas   as   necessidades,   e,   finalmente,   em  quanto tempo chegariam os pedidos.                       Foi um grande colaborador que  de   imediato   solicitou   todo   material   que  necessitava o setor de saúde, o que levou cerca  de duas semanas.                        Neste período ouvi, presenciei e  senti   ofensas   de   internos/presos   e  principalmente   de   ASPs,   que   queriam  82 eletroencefalogramas,   alguns   exames  laboratoriais   e   consultas   internas   com  especialistas.                                            Isto, com a ajuda recíproca e  desprendida   de   alguns   poucos   ASPs,   que   se  transformaram   em   agentes   de   saúde   e,  estimulados   pelo   ambiente   criado,   conversas  sobre   as   atuações   da   enfermagem   no   cuidar,  começaram   a   procurar   cursos   de   formação  profissional   e  hoje   são   referências  pessoais   e  profissionais para muitos de nós.                       O setor de saúde dispunha de toda  assistência necessária ao bom funcionamento e,  cobertura  na área de saúde,  com exceções  de  exames   mais   específicos,   como   ultra­ sonografia,   tomografia   e   ressonância  magnética,   exames   estes   que   nem   nós   na  aparente liberdade temos acesso fácil.                       Mas, quando os internos/presos  necessitavam,   conseguíamos   marcar   estes  exames nos hospitais da região, não sem uma  grande resistência.                                             As   consultas   e   os  acompanhamentos   de   tratamentos   eram   no  mesmo   dia,   ou   conforme   as   necessidades   e  possibilidades, dependendo do caso, na mesma  hora,   sempre   com   um   primor   de   assistência  como se esta fosse particular, sem as grades a  segurarem   estes   internos   /   presos,   no   que  refletiam   nos   comportamentos   disciplinares  destes.                                            Nesse período onde os  atendimentos eram efetivados com respeito ao  ser   humano,   com   tratamentos   sérios   e  85 adequados,   não   houve   revoltas,   rebeliões,  paralisações   ou   qualquer   outro   movimento  reivindicatório mais substancial, especialmente  na área de saúde.                                            Dispúnhamos de leitos para  internação,   quarto   de   isolamento,   quarto  psiquiátrico,   com   área   verde   montada   pelos  internos / presos e funcionários do setor,  com  mudas   de   plantas   cedidas   e   autorizadas   sua  entrada e plantio,  pela  diretoria  geral,  no que  transformava   o   ambiente   conciliatório   e   de  resolução,   dado   o   tratamento   igualitário   e  recuperador que era proporcionado.                                            Consegui com minha equipe,  colocar   em   prática   uma   administração   de  serviços   de   saúde,   naquele   departamento   de  saúde,  que recebeu vários elogios, mas estava  apenas aplicando e praticando uma de minhas  especializações que detenho.                                           Foi uma realização do grupo,  sendo   que   cada   um   participou   e   dedicou   o  melhor   de   si,   independentemente   dos  obstáculos   da   administração   geral   da  penitenciária, que após a montagem da secção,  passou a nos bloquear  e inibir em iniciativas,  obstando   atividades,   alegando   razões   de  segurança   sempre   lembradas   mas   nunca  justificadas,   o   que  nos   impedia   de   exercer   o  direito   de   assistir   a   quem   necessitava   como  vínhamos fazendo.                           Às vezes me perguntava quem  era mais criminoso.                                             É difícil dissociar um fato de  outro,   sendo   que   de   um   lado   havia  86 impedimento   físico,   e   de   outro,   o   poder   de  autoridade penitenciária, não de lei.                          Foi quase três anos de intensos  trabalhos,   renunciando   família,   o   particular,  lazer, em benefício de poucos, mas que quando  realizado,   foi   com   dedicação   e   amor   ao  próximo.                       Amor ao próximo dos que ama  ajudar, assistir e servir ao menos favorecido e  neste caso, aos enjaulados.                       Como um trabalho bem feito e  funcionando   se   torna   incômodo   aos   supostos  administradores   do   bem   público,   pois   via   de  regra   não   é   esta   uma   conduta   comum,   fui  transferido compulsoriamente para trabalhar no  Hospital Central do Departamento de Saúde do  Sistema   Penitenciário,   aos   cuidados   de   seu  diretor,   que   já   foi   comentado   no   capítulo  anterior.                        O que sei, é que algum tempo  depois   de   minha   transferência   desta  penitenciária, a rotina que havia sido instituída  e os atendimentos aos internos / presos da P I  decaiu e houve uma rebelião violenta e cruel,  onde   uma   colega   de   enfermagem   se   tornou  refém por dias,  e uma das   justificativas deste  motim,   era   o   péssimo   e   mal   atendimento   e  assistência de saúde prestado a época.                       Foi uma grande perda de tempo  ou não poderia ocorrer diferentemente?                       Basta uma análise superficial e  direcionada para se obter a resposta.                       Quando queremos fazer certo, é  87                       Quando reivindicava através de  ofícios,   que   eram   difíceis   de   serem  protocolados, pois só o seriam se o diretor geral  concordasse e quisesse que fossem registrados  no   expediente   e,   a   partir   daí,   passava   a   ser  visado e até de receber ameaças de morte, o que  se   transformara  até   em  rotina,   apesar  de  não  terem êxito nesta intenção.                       Apesar de representações junto a  delegacias  de polícia,  e procuradoria  geral  do  estado,   que   não   sei   por   que   nunca   sequer  levaram a nada, em nenhuma resposta sequer,  sendo   negligenciados   e   esquecidos   estes  Ofícios   numa   gaveta   qualquer,   apesar   dos  apelos   às   autoridades   constituídas,  independente   dos   meus   pedidos   oficiais   e  formais.                       Os interesses por detrás desse tipo  de situação são de amizade de raposa a raposa  e,   portanto,   evitei   e   evito   ser   ovo   para   a  degustação   profissional   e   pessoal,   por   parte  destes Canídeos.                       Perguntava­me: eles estão acima  da   lei   ou   as   leis   os   servem   conforme   suas  vontades?                        Nunca obtive respostas claras, só  ameaças.                       Daí recebi nova transferência de  Taubaté para Tremembé, desta vez para o mais  conhecido presídio da região, além de ser um  dos mais antigos, o antigo IRT.                                                                    Lá fui recebido pelo senhor  diretor geral, que muito em seu estilo próprio,  90 relatou as dificuldades que eu enfrentaria pelos  poucos recursos lá existentes, com solicitações  não   atendidas   por   bloqueio   de   verbas   e   de  vontades   além   de   sua   competência  administrativa,   como   equipamentos,  medicamentos   essenciais,   além   dos   poucos,  mas   duvidosas   eficiências   dos   recursos  humanos que lá dispunham.                       Pude perceber que pela primeira  vez   trabalhando   no   sistema   prisional,   um  diretor   geral   admitia   suas   dificuldades   e  limitações,   com   extrema   franqueza   e  contundente verdade,  admitindo até  que todos  nós   não   passamos   de   piões   nas   mãos   dos  poderosos e que nos colocávamos em situações  de conflitos por isso.                       O efeito propulsor da realidade no  sistema prisional  como um  todo,  é  que  ele  é  uma   curva   de   rio,   e   que   nós   fazemos   parte  disso.                        Infelizmente, isto é uma verdade.                           Sei que gostaríamos que fosse  diferente...                        Tentamos, enquanto funcionários,  fazer o que é possível para manter um sistema  sabidamente  falido;  desprezado pelo Estado e  pela coisa pública, e em especial pela sociedade  como um  todo,  pois   esta  age  como avestruz,  funcionando,  mas   sabemos  que  não  podemos  mante­lo.                                            Esperamos por muito tempo  mudanças   que   ainda   não   vieram   e   que  reclamamos. 91                                            É um paciente em estado  terminal,   com  início  de   falência  de  múltiplos  órgãos,   restando   apenas   a   boa   vontade   e   a  dedicação   de   alguns   para   fazê­lo   sobreviver  enquanto temos forças para suportar.                           Passei por duas rebeliões nesse  trabalho,   e   fatos   e   situações   que   jamais  esquecerei,   com   violências   de   parte   a   parte,  pois nestes locais há  uma guerra declarada de  gladiadores   contratados   da   sociedade   de   um  lado e de impotência velada de outro.                       O sistema usa os internos/presos  como massa de manobra para levantar fundos  para fins daqueles que mantém a aparência de  sociedade civilizada.                                                    A mais conhecida e de  repercussão  internacional,   foi  a do Carandiru,  onde   lá   estava   para   meu   primeiro   dia   de  trabalho.                          Após a transferência da PI de  Tremembé,   para   conhecer   e   me   familiarizar  com   os   “setores”   de   saúde   lá   existentes,   fui  surpreendido com este famoso massacre, sob o  comando   de   “cidadãos”   acima   de   qualquer  suspeita,   que   lá   desencarnaram   seus   mais  odiosos sentimentos reprimidos.                        A segunda rebelião foi no próprio  IRT (hoje Penitenciária II de Tremembé).                       Apesar de estar em licença para  tratamento   de   saúde,   fui   convocado   como  “voluntário”   para   ajudar   a   assistir   de   forma  contundente aos internos feridos e necessitando  92                       Nos meses e trimestres seguintes,  este procedimento se repete.                                             Sempre reclamamos da baixa  quantidade   de   medicamentos   e   materiais,   até  que   eles   nos   informam   que   por   dados  estatísticos   anteriores,   a   nossa   média   eram  menores do que estávamos pedindo, e que não  há  motivo para esse aumento tão significativo  (?).                        É uma matemática perversa,  que subestima as nossas necessidades mínimas  e   que   por   isso   temos   que   fazer   pequenos   e  grandes   milagres;   mendigar   em   diferentes  locais para tentar suprir com o mínimo e fazer  cumprir   o   que   é   uma   obrigação   legal,   não  assumida pelo Estado.                          Reclamar a quem se não há  ouvidos a nos escutar?                                  Sabemos o que diretores e nossos  colegas   da   área   de   saúde   passam   e   sentem  quando   precisamos   indicar   ou   medicar   com  determinado fim ou utilizar materiais  para fins  específicos,   com   risco   de   vida   do   interno   e,  risco de vida para o profissional, que o assiste,  sem ter os recursos suficientes para fazer.                       Colocando todos em situação de  omissão   prevista,   imposta   por   vontades   de  quem tem a obrigação de fazê­lo e não o fazem,  pois   preferem   permanecer   em   seus   gabinetes  refrigerados   com   lanches,   almoços   e   cafés   à  vontade,   pagos   por   todos   nós,   e   não   usar   a  caneta para suprir esse buraco.                        A usam sim para apenas punir  95 quem   os   repreende   ou   os   lembram   de   suas  obrigações legais e funcionais.                       Quando morre um interno/preso  em nossas mãos, ou esse está correndo risco de  vida,   os  demais   internos/presos  não   reportam  suas indignações aos verdadeiros responsáveis  pelo estado da coisa, mas a nós que lá estamos ,  servindo de vidraças  para descarregarem suas  iras, no que estamos tentando servir apenas.                        Contudo, impedidos, até certo  ponto,   por   força   de   responsabilidades   não  cumpridas   em   fazer   manter   e   funcionar   um  NAS.                        É incompetência de quem pede  ou   de   quem   deve   mandar   estes   materiais   e  equipamentos, que não são comprados por eles,  mas fazem uso do dinheiro público?                                                                             A justiça tem termos  interessantes quando ela quer fazer parecer que  é um dos pilares da verdade e da democracia.                                            Então que se faça valer esta  verdade e democracia,  e pedimos justiça pelo  descalabro em que nos encontramos e vivemos,  seja   ela   por   incompetência,   negligência,  intolerância  por  esses   infelizes  que  nas  mãos  dela está, e, peçamos a Deus misericórdia. O ATENTADO 96                                            Em setembro de 2003 fui  “convidado”   a   assumir   a   chefia   do   Setor   de  Saúde   do   CDP   de   Taubaté/SP   –   cargo   de  Diretoria, onde encontrei aberrações de caráter  e desvios de condutas e de personalidades que  poderiam   servir   de   estudos   psicológicos   e  psiquiátricos anos a fio, se Setores da sociedade  civil quisesse e autorizações fornecessem para  isso.                                            Encontrei o Setor em total   desorganização,   entre   as   quais   cito   algumas:  ROUBO   DE   MEDICAÇÕES,  EQUIPAMENTOS   E   MATERIAIS,  Funcionários   onerosos   e   sem   vontade   de  trabalhar,   domínio   do   Setor   Penal,   que   lá  levavam   internos   para   torturá­los,   sob   a   anuência da Diretoria Geral e de Delegados   de   Polícia,  Internos   jogados   ao   chão,   e,  suplicantes  de socorro e  assistência  de saúde,  como   casos   de   AVC   –   Acidente   Vascular  Cerebral   que   eram  negados  pedidos   junto   ao  Juízo da cidade para a remoção para hospitais  do Estado, portadores do virus HIV em estado  de  magreza,   fome,   só   encontrados   em  filmes  “fictícios”,   onde   se   vê   masmorras   fétidas   e  esquecidas de todos, por conveniências sociais  e de equilíbrio e busca de PODER, além dos  desmandos imagináveis  e  inimagináveis,  além  de articulações para se  manterem o status quo  desejado  pelos   funcionários  desse  Setor   e  de  outros, além é claro, do Sistema jurídico. 97
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