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apreciação da obra de arte, Notas de estudo de Artes

apreciacao_da_obra_de_arte

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 16/12/2010

leonardo-c-p-silva-2
leonardo-c-p-silva-2 🇧🇷

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Pré-visualização parcial do texto

Baixe apreciação da obra de arte e outras Notas de estudo em PDF para Artes, somente na Docsity! 1 Revista de educação CEAP - Ano 11 - nº 43 - Salvador, dez/2003 (p. 55 - 65) Antes de abordar o assunto propriamente dito, gostaria de apresentar um texto de Leonardo da Vinci, solicitando ao leitor que o mantenha no foco de sua atenção durante a leitura desse artigo, cujo tema é a apreciação da obra de arte tendo como ponto de partida a proposta triangular de Ana Mae Barbosa. Não vês que o olho abraça a beleza do mundo inteiro? (...) É janela do corpo humano, por onde a alma especula e frui a beleza do mundo, aceitando a prisão do corpo que, sem esse poder, seria um tormento (...) Ó admirável necessida- de! Quem acreditaria que um espaço tão reduzido seria capaz de absorver as imagens do universo? (...) O espírito do pintor deve fazer-se semelhante a um espelho que ado- ta a cor do que olha e se enche de tantas imagens quantas coisas tiver diante de si (apud Chauí, 1998, p. 31). É sobre esse absorver, sobre esse captar de que nos fala Da Vinci, que trabalharemos, abordando a me- todologia triangular para a leitura da obra de arte. Nos anos 70, ainda sob as influências da Escoli- nha de Arte do Brasil, de Augusto Rodrigues, o ensino da arte se deu na perspectiva do fazer artístico. O tra- balho dos arte-educadores estava centrado nas propos- tas de experimentação expressiva como a mola propul- sora para o processo criador. Valorizava-se o desenvol- vimento da auto-expressão e da auto-descoberta. Mui- tas experiências positivas foram realizadas nesse senti- do, e muitos equívocos foram cometidos. A nossa avaliação é de que o fazer artístico nos espaços educativos facilitou o aprendizado da arte, pos- sibilitando ao educando o desenvolvimento do pensa- mento e da linguagem presentacional, um dos siste- mas de conhecimento, conforme Susanne Langer (s.d., pp. 81-90). O outro sistema de conhecimento, diferente do presentacional, é o do pensamento/linguagem discursi- vo, que caracteriza as áreas onde o discurso verbal é mais presente e corresponde ao uso dos processos ló- gicos afeitos à ciência e aos campos verbal e escrito da linguagem. Para compreensão do mundo, utilizamos os dois sistemas de forma complementar. Embora se interli- guem, constatamos que o sistema discursivo é o mais trabalhado e desenvolvido nos processos educativos. A ênfase no discurso verbal termina por limitar a capaci- dade do educando no sentido do seu desenvolvimento integral. Para que possa dar conta da complexidade das manifestações sócio-culturais, é importante que se for- me um indivíduo completo. O sistema presentacional estabelece uma relação de conformidade com a arte. Nas artes visuais, o pen- samento presentacional apreende e processa a infor- mação através da imagem. No teatro, a presentificação se dá por meio das presenças dos atores, do espaço cênico, do cenário, figurinos, objetos e iluminação, ele- mentos constitutivos da encenação. Ainda nos anos 1970 aflora, entre os profissio- nais ligados ao ensino da arte, uma preocupação e um questionamento sobre a proposta educativa em arte centrada, apenas, no fazer. Sem negar a produção das manifestações artísticas nas diversas linguagens (tea- tro, dança, música e artes plásticas), os educadores iniciaram um processo de discussão e pesquisa que di- recionasse o ensino também para o conhecimento da arte e sua apreciação. Para Ana Mae Barbosa, A produção de arte faz a criança pensar inteligente- mente acerca da criação de imagens visuais, mas somente Apreciação da obra de arte: a proposta triangular * Mestre em Artes Cênicas – UFBA. Escritor, diretor teatral, artista plástico. Professor da Faculdade Social da Bahia. rmleao@ig.com.br Raimundo Matos de Leão* Antropofagia - Tarcila do Amaral (1929) 2 Revista de educação CEAP - Ano 11 - nº 43 - Salvador, dez/2003 (p. 55 - 65) Apreciação da obra de arte: a proposta triangular - Raimundo Matos de Leão a produção não é suficiente para a leitura e o julgamento de qualidade das imagens produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos cerca. (...) Temos que alfabetizar para a leitura da imagem. Atra- vés da leitura das obras de artes plásticas, estaremos pre- parando a criança para a decodificação da gramática visu- al, da imagem fixa e, através da leitura do cinema e da televisão, a prepararemos para aprender a gramática da imagem em movimento. Essa decodificação precisa ser associada ao julgamen- to da qualidade do que está sendo visto aqui e agora e em relação ao passado (1991, pp. 34-35). Essa preocupação em torno do conhecer, do apre- ciar e do fazer arte resultou, no Brasil, na proposta trian- gular de Ana Mae Barbosa, tendo como referência traba- lhos desenvolvidos por pesquisadores ingleses e ameri- canos preocupados com um currículo que privilegiasse o fazer artístico, a história da arte e a análise da obra de arte, visando não só o desenvolvimento dos educandos, mas as suas necessidades e seus interesses. Dessa for- ma, as atividades de arte na escola passam a ter um sig- nificado para o educando, deixando de ser uma atividade incompreendida ou mero passatempo. A proposta triangular de Ana Mae Barbosa (1991) propõe os seguintes tópicos: Conhecer arte (história da arte) possibilita o en- tendimento de que arte se dá num contexto, tempo e espaço onde se situam as obras de arte. Apreciar arte (análise da obra de arte) desenvolve a habilidade de ver e descobrir as qualidades da obra de arte e do mundo visual que cerca o apreciador. A partir da apreciação, educa-se o senso estético e o aluno pode julgar com objetividade a qualidade das imagens. Fazer arte (fazer artístico) desenvolve a criação de imagens expressivas. Os alunos conscientizam-se das suas capacidades de elaborar imagens, experimen- tando os recursos da linguagem, as técnicas existentes e a invenção de outras formas de trabalhar a sua ex- pressão criadora. No ano de 1987, a proposta triangular foi ampla- mente utilizada no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo em atividades com crianças e adolescentes e para a formação de arte-educadores, que se tornaram multiplicadores do trabalho posto em prática na instituição, passando a ser um referencial para outras experiências educativas centradas na arte. As reflexões teórico-práticas referentes ao ensi- no da arte, levadas a efeito por Ana Mae Barbosa, estão inscritas na vertente educacional realista-progressista, em consonância com a proposta de Paulo Freire. Em síntese, apontam para a democratização do conheci- mento da arte, para a construção do conhecimento e, sobretudo, para o rompimento da prática tecnicista que permeia, ainda, o ensino da arte entre nós. Para melhor contextualizar a proposta trian- gular, abordaremos de forma simplificada dois mé- todos de trabalhar a leitura da obra de arte que dialo- gam com a proposta brasileira. O primeiro deles é o método comparativo do americano Edmund Feldman (1970). Como o próprio nome já diz, o método compara- tivo é o trabalho que envolve o conhecer, o apreciar e o fazer através da comparação entre várias obras de arte de diversos períodos para que o aluno perceba as dife- renças e as similaridades. Esse estudo centra-se nos elementos da obra de arte e o desenvolvimento crítico é o cerne da metodologia. No entanto, ao centrar seu trabalho no desenvolvimento crítico, Feldman não nega o desenvolvimento da técnica e da criação. Ao entrar em contato com a obra de arte, ao ver a imagem, o aluno desenvolve sua capacidade crítica, es- tabelecendo uma relação de aprendizagem com o objeto em questão. Para Feldman, esse desenvolvimento se dá através dos seguintes processos: ao ver atentamente, o aluno descreve; ao observar o que vê, ele analisa; ao significar, interpreta, e ao decidir acerca do valor, julga. Segunda Classe - Tarsila da Amaral (1933-!950) O segundo método é o de Robert Saunders (1984), denominado de método multipropósito. Saun- ders define a sua metodologia como um programa de ensino de arte onde o fazer se dá em função da leitura da obra de arte, articulado com outras áreas do conhe- cimento de maneira interdisciplinar. Enfatizando seu trabalho no olhar, ele propõe uma mudança da cultura verbalmente orientada para uma cultura visualmente orientada e apresenta o uso da reprodução como um meio para o ensino da arte. Em seu trabalho, Robert Saunders faz a defesa do uso de boas reproduções de obras de arte, em papel, na atividade com os alunos, descartando o uso do slide que, para ele, interfere na relação educador/educando, já que o slide, para ser mostrado, necessita de um ambi- ente escuro. Além disso, ele defende o uso de uma mes- ma reprodução ao longo de várias séries, partindo do princípio de que o educando amadurece e, conseqüen- temente, fará uma leitura diferente da obra revisitada.
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