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Revista - biotecnologia ed 11 - encarte, Notas de estudo de Química

REVISTA - BIOTECNOLOGIA ED 11 - ENCARTE

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 25/11/2010

Gaucho_82
Gaucho_82 🇧🇷

4.6

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Baixe Revista - biotecnologia ed 11 - encarte e outras Notas de estudo em PDF para Química, somente na Docsity! Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - Encarte Especial 113 CLONAGEM HUMANAOPINIÃO Aspectos científicos e éticos Prof. Dr. Sérgio D.J. Pena Departamento de Bioquímica e Imunologia, Universidade Federal de Minas Gerais e Núcleo de Genética Médica de Minas Gerais (GENE), Belo Horizonte, MG. spena@genemg.com.br I. Introdução Desde a divulgação, em fevereiro de 1997, do sucesso da clonagem de uma ovelha a partir da glândula mamária de uma adulta, um amplo debate foi inici- ado envolvendo a comunidade científi- ca e a sociedade em geral. O fulcro da discussão obviamente era o fato de que a clonagem de ovelhas sinalizava que, em um futuro próximo, talvez pudesse ser possível clonar seres humanos. Essa possibilidade gerou tanto entusiasmo quanto preocupação e discussões calo- rosas. A clonagem deveria ser regula- mentada? Se sim, como? No grande esquema da sociedade, é provável que o impacto da clonagem humana como técnica reprodutiva seja bastante superficial. Permitir a clona- gem não significa que as pessoas neces- sariamente terão de usá-la. Clonar um ser humano por meio da transferência nuclear de células somáticas, por exem- plo, vai requerer envolvimento da pes- soa que será fonte de DNA, da pessoa cujos ovócitos serão enucleados e então fundidos com o núcleo da célula doado- ra, da mulher que engravidará e dará à luz a criança, e da pessoa ou do casal que criará a criança clonada. Diante dessa realidade complexa, é mais pro- vável que a clonagem seja procurada por casais que, devido à infertilidade, ao alto risco de doença genética severa, ou a outros fatores, não possam ou não queiram conceber uma criança. Além disso, as técnicas de clonagem ainda são muito ineficientes. É provável que sem- pre seja o caso de que a viabilidade de embriões clonados seja menor do que a daqueles embriões formados diretamen- te de óvulos e de espermatozóides. A experiência de clínicas de fertilização in vitro é a de que, mesmo em condições ideais, a chance de sucesso de uma implantação de um único embrião não é superior a 30 por cento. Assim, se a legislação forçar os indivíduos a assu- mirem os custos de suas próprias clona- gens, o preço por si só irá desencorajar seu uso. Entretanto, às vezes, procedimentos desenhados para um certo fim específi- co inesperadamente provam ser muito mais úteis em outras áreas. Desenvolvi- mentos científicos mais recentes permi- tiram vislumbrar uma área de aplicação muito mais interessante e promissora para a clonagem humana na área médi- ca: a produção de tecidos humanos para auto-transplantes. Esses avanços recentes têm mesmo permitido a pro- messa de uma nova medicina: a medi- cina regenerativa, que será um dos pontos focais deste artigo. Muito tem sido escrito sobre a pos- sibilidade e o potencial da clonagem humana, incluindo diversos livros. Se- ria presunçoso pensar que esta peque- na revisão possa constituir uma contri- buição significativa para a literatura. Todavia, esperamos que ela sirva como uma síntese e constitua uma plataforma para futuras discussões. Para isso, fize- mos uso de um número extenso de publicações. As principais estão listadas nas referências bibliográficas e devem ser consultadas para informações mais detalhadas. II. Algumas Definições e Conceitos Básicos A palavra clone, do grego klon, significa “broto” e foi cunhada em 1903 pelo botânico H.J. Webber (Safire, 1997). Seu significado é “qualquer grupo de células ou organismos produzidos asse- xuadamente de um único ancestral se- xuadamente produzido.” Formal- mente, mamíferos podem ser clo- nados pela fissão de embriões (produção artificial de gêmeos) ou por transferência nuclear, isto é, transferência de núcleos de células somáticas (derivadas de qualquer célula diplóide de um embrião, feto, criança ou adulto) para ovócitos sem núcleo para produzir embriões reconstituídos que são capazes, após a transferência para hospedeiros adequados, de se desenvolver em uma prole viável (Wolf et al., 1998). Neste artigo discutiremos so- mente a clonagem por meio da transferência nuclear de células so- máticas. Esta pode ser subdividida em clonagem que envolve um nú- cleo de célula adulta diferenciada ou clonagem derivada de uma célu- la embrionária ou fetal. Embora metodologicamente similares, es- ses dois procedimentos apresentam diferenças práticas enormes. Somen- te ao clonar através de transferência nuclear a partir de células de um adulto temos conhecimento sobre o fenótipo do doador para poder pre- ver, em amplos termos (pelo enten- dimento de que o genótipo será idêntico àquele do indivíduo doa- dor), o fenótipo do clone. Em ma- míferos, proles vivas já foram pro- duzidas a partir de clonagem de núcleos embrionários em camun- dongos, ratos, coelhos, porcos, ove- lhas, vacas e macacos rhesus (Wolf et al., 1998). Entretanto, apenas ovelhas (Wilmut et al., 1997), ca- mundongos (Katayama et al., 1998; Wakayama e Yanagimachi, 1999) e bovinos (Kato et al., 1998; Wells et al., 1999) já foram obtidos por trans- ferência nuclear de células adultas. 114 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - Encarte Especial IV. A Ciência e a Tecnologia da Transferência Nuclear Resumidamente, os passos indivi- duais no procedimento de transfe- rência nuclear incluem: 1) Preparação de um ovócito enu- cleado (citoplasto). 2) Isolamento da célula doadora ou do núcleo doador. 3) Ativação do citoplasto. 4) Fusão celular para produzir um embrião reconstituído. 5) Cultura do embrião. 6) Transferência do embrião para um útero hospedeiro. Os dois primeiros experimentos que tiveram sucesso em produzir proles vivas da transferência nuclear de células somáticas adultas foram o de Wilmut et al. (1997) em ovelhas e o de Wakayama et al. (1998) em camundongos. Os dois procedimen- tos diferem consideravelmente em detalhes nos vários passos descritos acima. Wilmut et al. (1997) usaram cultu- ras de células de glândulas mamárias como doadoras de núcleo. Essas célu- las foram de ovelhas Finn Dorset, en- quanto os ovócitos foram de ovelhas escocesas do tipo Blackface. Um passo chave parece ter sido a retirada de soro das culturas de células de glândulas mamárias para induzir a parada de divisão celular (quiescência; G0). Na verdade, Wilmut and Campbell (1998) acreditam que o sucesso da clonagem somente pode ser obtido de células quiescentes. Obviamente que, para a clonagem, as células doadoras têm de estar em G0 ou G1, isto é, antes da duplicação do DNA. Em seguida, a célula doadora foi colocada no espaço perivitelino do ovócito enucleado e tanto a fusão da célula doadora ao ovócito enucleado quanto a ativação do ovócito foram induzidos por cor- rente elétrica. Esse procedimento re- sultou no ovócito tendo um genoma nuclear da célula doadora, mas um genoma quimérico do DNA mitocon- drial de citoplasmas fundidos. Dolly foi a única ovelha nascida de 277 embri- ões reconstituídos, criados seguindo a transferência nuclear de células mamá- rias adultas, um rendimento de 0,4%. Desses 277 embriões, 29 se desenvol- veram em mórulas ou em blastocistos e foram transferidos para 13 recipien- tes, resultando em um único parto a termo (1/29; 3,4%). Atualmente, dados de quatro laboratórios diferentes indi- cam que a taxa de sucesso total do procedimento de transferência nuclear é relativamente baixa quando os resul- tados são expressos em nascimentos vivos por transferência de embrião reconstituído, da ordem 1-2% (Wilmut, 1998). O motivo para essa alta inefici- ência é desconhecido. Há uma perda fetal de 50% e uma taxa total de morte de ovelhas, ao nascimento, de 20% (Wilmut, 1998). Uma observação pe- culiar é o elevado peso ao nascer de ovelhas criadas por transferência nu- clear. Esse fenômeno, que pode estar relacionado com os mecanismos de “imprinting” gênico, não foi visto em camundongos clonados pela transfe- rência nuclear (Wilmut, 1998). Junho Gurdon e Uehlinger relatam que rãs adul- tas foram desenvolvidas a partir de trans- ferência nuclear de células intestinais de girino em ovos Xenopus enucleados. 1966 1975 1996 1998 1998 1998 Abril Wells et al., na Nova Zelândia, relatam o nascimento de dez bezerras clonadas por transferência de células somáticas de uma vaca adulta de alta qualidade. A eficiência da clonagem foi de 10% e todas as bezerras sobreviveram. 1999 1999 Maio A empresa Geron Corporation, que financiou os estudos de culturas de células-tronco humanas anuncia a formação de uma parceria de 20 milhões de dólares com o Instituto Roslyn da Escócia, onde foi clonada Dolly. A intenção da parceria é o desenvolvimento de técnicas de clonagem seguida de cultura de células-tronco para uso em terapia regenerativa humana sem rejeição imunológica. Julho Wakayama et al. descrevem a clonagem de 22 camundongos fêmeas saudáveis. Em cada caso, a transferência nuclear foi feita de uma célula da granulosa (um tipo diferenciado de célula que cerca o óvulo). Maio Cibelli et al. relatam o nascimento de três bezerros transgênicos gerados a partir da transferência nuclear de fibroblastos fe- tais em divisão ativa, não quiescentes. Março Nasce na França, Marguerite, uma bezer- ra produzida por transferência nuclear de uma célula muscular embrionária. Março Campbell et al. relatam que ovelhas foram clonadas com sucesso por transfe- rência nuclear a partir de células fetais cultivadas. Agosto Gurdon et al. relatam que a transferência nuclear de células de pele de rãs adultas para ovos Xenopus enucleados permite o desenvolvimento de girinos até o estágio de batimentos cardíacos, mas não até o estágio adulto. III. Cronologia da Clonagem pela Transferência Nuclear Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - Encarte Especial 117 Ao invés de usar espermatozóides, ovóci- tos ou embriões de doadores anônimos, alguns casais inférteis poderiam optar por clonar um dos parceiros. Se o marido fosse a fonte de DNA e a esposa forneces- se o ovócito para receber a transferência nuclear e depois gerar o feto, eles teriam um filho biologicamente relacionado a cada um deles e não precisariam contar com um gameta anônimo ou um embrião de doador. Evidentemente, a grande mai- oria dos casais inférteis ainda prefeririam a doação de gametas ou embriões ou a adoção. Uma questão que deve ser levantada aqui é se a clonagem é suficientemente parecida com a atual reprodução assistida para ser tratada de modo similar, ou seja, como um exercício da liberdade de re- produção de cada casal. Casais que re- querem a clonagem não estariam procu- rando criar filhos saudáveis, com os quais tivessem um laço genético ou biológico, assim como os casais que concebem seus filhos sexuadamente o fazem? Quer des- crito como “cópia”, quer descrito como “reprodução”, o recurso da clonagem parece similar o suficiente, em propósito e efeitos, às outras práticas de reprodução e pode ser tratado da mesma forma. Assim, um casal teria liberdade de optar pela clonagem, a menos que houvesse razões para se achar que isso criaria danos que outros procedimentos não causariam (ver abaixo). Por outro lado, as diferenças entre a clonagem e as práticas atuais não deveriam ser esquecidas. O objetivo da maioria das outras formas de reprodução assistida é o nascimento de uma criança que seja descendente de, pelo menos, um membro do casal, e não um gêmeo idêntico com um intervalo do nascimento do primeiro. No tocante a esse ponto, considerações sobre a natureza e a criação são relevantes. O comportamento humano é uma função tanto do genoma quanto do ambiente. Di- ferenças no ambiente uterino (que certa- mente existirão entre um indivíduo e seu clone) seguramente ocorrerão e serão sufi- cientes para causar grandes diferenças de personalidade e de comportamento. Outras diferenças em dieta e cuidados, em modas e costumes, em ocupação e educação, para não mencionar o intervalo temporal, serão suficientes para impossibilitar qualquer du- plicação perfeita de um indivíduo e assegu- rarão a individualidade do clone. Pode-se também examinar essa ques- tão sob uma perspectiva evolutiva. Mui- tas espécies têm mecanismos reproduti- vos alternativos, sexual e assexual, que adotam para maximizar sua eficiência evolucionária. Por exemplo, afídeos e rotíferos monognatos podem reprodu- zir-se tanto assexuadamente quanto se- xuadamente, mas somente usam a se- gunda opção quando as condições ambi- entais não são favoráveis. A espécie humana evoluiu biologicamente a partir de precursores primatas até que seu cérebro alcançou o tamanho e a comple- xidade necessários para permitir o surgi- mento da cultura, juntamente com suas manifestações e veículos, a linguagem. Daí em diante, o Homo sapiens tornou-se capaz de adaptar-se, transformando ati- vamente o ambiente e propagando essa adaptação através de transmissão cultu- ral. A agricultura, a criação de animais e a medicina são produtos dessa evolução cultural. Assim também é a clonagem que agora abre a possibilidade de uma reprodução assexual como uma estraté- gia adaptativa para os seres humanos. Um detalhe adicional é que, presu- mivelmente, casais que optam pela re- produção por meio da clonagem, geral- mente vão querer ter somente um filho ou no máximo dois (um com a carga genética do pai e outro com a da mãe?). A partir daí, qualquer filho seria geneti- camente idêntico a um dos dois primei- ros. Também, uma mistura de clones e crianças sexuadamente produzidas pode criar sérias tensões. Portanto, é possível que a clonagem como uma estratégia reprodutiva possa produzir menos cri- anças do que a média de casais pro- duziria sexuadamente. B. Que danos individuais ou sociais a clonagem humana pode produzir? Como indicado por Epstein (1998), a clonagem, como técnica reproduti- va, não apresenta nenhuma das for- mas usuais de danos que têm sido alvo de ações legais. A clonagem não pertence a uma lista que inclui estu- pro, incesto, ilegitimidade, deprava- ção ou negligência. O que temos na clonagem humana é a criação de uma nova pessoa cujo componente gené- tico é idêntico ao de outro ser huma- no, vivo ou morto. Qual o dano que isso pode causar? A resposta simples seria: nenhum. Entretanto, um cardá- pio de malefícios, reais ou imaginári- os, tem sido apresentado e não pode ser ignorado. Eles serão discutidos abaixo. 1. Danos aos Indivíduos A clonagem humana acarretaria riscos inaceitáveis para o clone? Essa é uma preocupação real e EMBRAPA FUNDAÇÃO GIACOMETTI
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