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Métodos e técnicas de pesquisa social, Manuais, Projetos, Pesquisas de Enfermagem

MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA SOCIAL

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2010

Compartilhado em 06/07/2010

gerson-souza-santos-7
gerson-souza-santos-7 🇧🇷

4.8

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Baixe Métodos e técnicas de pesquisa social e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Enfermagem, somente na Docsity! Métodos e Técnicas de Pesquisa Social Os levantamentos constituem a modalidade de pesquisa mais difundida no campo das Ciências Sociais e correspondem à maioria das pesquisas desenvolvidas por alu- nos dos cursos de graduação em Ciências Sociais, Psicologia, Pedagogia, Serviço Social e Comunicações. Este livro constitui um manual de procedimentos básicos para o desenvolvimento de pesquisas sociais, sobretudo daquelas que são definidas como levantamentos. Diferentemente dos textos convencionais que têm como objetivo tratar exausti- vamente dos mais diversos métodos & técnicas de pesquisa social, ou dos que objetivam constituir-se em obras introdutórias à metodologia cientifica, ou dos que sintetizam os procedimentos necessários à elaboração de trabalhos universi- tários e relatórios de pesquisa, este livro apresenta algumas peculiaridades que fazem dele uma obra significativa: trata dos problemas fundamentais das Ciên- cias Sociais e de seus métodos, proporcionando os elementos necessários para a sua caracterização no quadro geral das ciências. A opção por privilegiar o ensino dos procedimentos necessários à realização de levantamentos baseia-se em sóli- da experiência do autar no ensino de Métodos é Técnicas de Pesquisa. Em síntese, a obra trata da natureza da ciência social, dos métodos das ciências sociais, da pesquisa social, da formulação do problema, da construção de hipó- teses, do delineamento da pesquisa, da operacionalização das variáveis, da amos- tragem na pesquisa social, da entrevista, do questionário, das escalas sociais, dos testes, da utilização de documentos, da análise e interpretação, do relatório de pesquisa, NOTA SOBRE O AUTOR ANTONIO CARLOS GIL é graduado em Ciências Políticas e Sociais, licenciado em Ciências Sociais e Pedagogia e doutor em Ciência pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Ex-professor da Pontifícia Universidade Ca- tólica de Campinas, professor do Instituto Municipal de Ensino Superior — IMES (São Castano co Sul — SP) e do Instituto Metodista de Ensino Superior — IMS (São Bernardo do Campo — SP). APLICAÇÃO Livro-texto para a disciplina MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA dos cursos de Educação, Sociologia, Psicologia, Comunicação Social e Economia. Leitura complementar para pesquisadores e profissionais da área de Pesquisa de Mercado e para estudantes de pós-graduação envolvidos na preparação de teses e disserta- ções acadêmicas” publicoção otlos ISBN 85-224-0489-5 E ANTONIO CA, LOS GIL . "Métodos e Tecnicas de Pesquisa Social 22 Edição SÃO PAULO EDITORA ATLAS SA, — 1989 10 2.3.4 O método comparativo, 35 2.3.5 O método estatístico, 36 2.3.8 O método clínico, 36 2.4 Os quadros de referência, 37 2.41 Teorias e quadros de referência, 37 2.4.2 O funcionalismo, 38 2.4.3 O estruturalismo, 38 2.44 A “compreensão”, 40 Leituras recomendadas, 42 Exercícios e trabalhos práticos, 42 3- A PESQUISA SOCIAL, 43 3.1 Definição, 43 3.2 Finalidades da pesquisa, 43 3.3 Níveis de pesquisa, 44 3.3.1 Pesquisas exploratórias, 44 3.3.2 Pesquisas descritivas, 45 3.3.3 Pesquisas explicativas, 46 3.4 O envolvimento do pesquisador na pesquisa, 46 ; 34.1 O modelo clássico de pesquisa, 45 à 34.2 Pesquisa-ação e pesquisa participante, 47 3.5 Etapas da pesquisa, 49 Leituras recomendadas, 50 Exercícios e trabalhos práticos, 51 4 A FORMULAÇÃO DO PROBLEMA, 52 4.1 Conceituação, 52 4,2 A escolha do problema de pesquisa, 53 4.2.1 Implicações na escolha do problema, 53 4.2.2 A relevância do problema, 54 4.2.3 A oportunidade de pesquisa, 55 4.2.4 O comprometimento na escolha do problema, 55 4,2,.5 O modismo na escolha do problema, 56 4.3 Regras para a adequada formulação do problema, 57 Leituras recomendadas, 59 Exercícios e trabalhos práticos, 59 5 A CONSTRUÇÃO DE HIPÓTESES, 60 5.1 Conceituação, 60 5.2 Tipos de hipóteses, 60 5.2.1 Hipóteses casuísticas, 60 5.2.2 Hipóteses que se referem à frequência de acontecimen- tos, 61 5.2.3 Hipóteses que estabelecem relações entre variáveis, 61 5.2.3.1 Variáveis e suas relações, 61 5.2.3.2 Relação causal, 62 5.2.3.3 Relações simétricas, assimétricas e recíprocas, 64 5.3 Fontes de hipóteses, 66 54 Caracteristicas da hipótese aplicável, 67 Leituras recomendadas, 69 Exercícios e trabalhos práticos, 69 5 O DELINEAMENTO DA PESQUISA, 70 6.1 Conceituação, 70 6.2 A diversidade de delineamentos, 71 6.3 Pesquisa bibliográfica, 71 6.4, Pesquisa documental, 73 6.5 A pesquisa experimental, 73 6.6 Pesquisa ex-post-facto, 75 6.7 Levantamentos, 76 6.8 O estudo de caso, 78 Leituras recomendadas, 80 Exercícios e trabalhos práticos, 80 7 A OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS, 81 7.1 O esquema de operacionalização, 81 7.2 A mensuração nas ciências sociais, 83 7.21 A complexidade do problema, 83 7.2.2 Níveis de mensuração, 84 73 A construção de indices, 85 Leituras fecomendadas, 90 Exercícios e Irabalhos práticos, 90 8 A AMOSTRAGEM NA PESQUISA SOCIAL, 91 8.1 À necessidade da amostragem na pesquisa social, 91 8.2 Conceitos básicos, 91 8.3 Princípios fundamentais da amostragem, 92 8.4 Tipos de amostragem, 93 841 Amostragem aleatória simples, 93 8.4.2 Amostragem sistemática, 94 843 Amostragem estratificada, 95 844 Amostragem Por conglomerados, 96 84.5 Amostragem Dor etapas, 96 84.6 Amostragem Por acessibilidade, 97 8.4.7 Amostragem Por tipicidade, 97 8.4.9 Amostragem por cotas, 97 8.5 Determinação do tamanha da amostra, 98 8.5.1 Fatores que determinam o tamanho da amostra, 98 8.5.1.1 Amplitude do universo, 98 ; 8.5.1.2 Nível de confiança estabelecido, 98 'B nai 8.5.1.4 Percentagem com que a fenômeno se verifica, 99 8.5.2 Cálculo do tamanho da amostra, 100 8.5.2.1 Fórmula para o cálcul ções infinitas, 100 8.5.2.2 Fórmula para O cálculo pÕes finitas, 101 8.6 Determinação da margem de erro da amostra, 102 Leiuras fecomendadas, 103 Exercícios e trabalhos práticos, 103 o de amostras Pera popula- de amostras Para popula- 9 *OBSERVAÇÃO, 104 17 Dbservação como técnica de co! eia de dados, 104 2 Observação simples, 105 3.3 Observação participante, 107 9.4 Observação sistemática, 109 Leituras recomendadas, m Exercícios e trabalhos práticos, 112 70 A ENTREVISTA, 113 trodução, 113 . v2 Vaneaudão e limitações da entrevista, 114 10.2.1 Vantagens da entrevista, ua 10.2.2 Limitações da entrevista, “ 10,3 Classificação das entrevistas, 115 10,3,1 Entrevista informal, 115 10.3.2 Entrevista focalizada, 116 10.3,3 Entrevista por pautas, 117 “0.34 Entrevista estruturada, 117 ão da entrevista, o toa 1081 O estabelecimento do contato inicial, vs 10.4.2 A formulação das perguntas, 120 10.4.3 Estimulo a respostas completas, 10.44 O registro das respostas, rim 10.4.5 A conclusão da entrevista, 1 eituras recomendadas, 122 a e trabalhos práticos, 123 4 O QUESTIONÁRIO, 124 eituação, 124 o n2 Ventsgonsa limitações do questionário, 125 11.2.1 Vantagens do questionário, 125 11.2.2 Limitações do questionário, 125 11,3 A construção do questionário, 126 11.3.1 A forma das perguntas, 126 11.3.2 O conteúdo das perguntas, 127 11.3.3 A escolha das perguntas, 128 11,34 A formulação das perguntas, 129 13 11.3.5 O número de perguntas, 129 11.3.6 A ordem das perguntas, 130 13.3.7 A prevenção de deformações, 130 11,38 A apresentação do questionário, 131 114 O pré-teste do questionário, 122 Leituras recomendadas, 133 Exercícios e trabalhos práticos, 133 12 AS ESCALAS SOCIAIS, 134 12.1 Conceituação, 134 12.2 Problemas básicos das escalas sociais, 135 12.2,1 Definição de um contínuo, 135 12.2.2 Fidedignidade, 136 12.2.3 Validade, 136 12.24 A ponderação dos itens, 137 12.2.5 A natureza dos itens, 138 12.2.6 A igualdade das unidades, 138 12.3 Escalas sociais mais utilizadas, 138 12.3.1 Escalas de ordenação, 138 1 12.3.2 Escalas de graduação, 139 “123.3 Escalas de distância social, 140 12.3.4 Escala de Thurstone, 141 123.5 Escala de Likert, 142 12.3.6 O diferencial semântico, 144 Leituras recomendadas, 145 Exercícios e trabalhos práticos, 145 13 OS TESTES, 146 13.1 Conceituação, 146 13.2 Requisitos de um teste, 147 13.2.1 Validade, 147 13,2,2 Precisão, 148 13:2.3 Padronização, 148 13.2,4 Aferição, 148 13.3 Classificação dos testes, 149 13.4 Aplicação dos testes na pesquisa social, 150 13,5 Os testes projetivos, 151 13.5.1 Testes visuais, 151 13.5.2 Testes verbais, 152 13.5.3 Testes gráficos, 153 13.5.4 Testes lúdicos, 154 13,6 O teste sociométrico, 154 Leituras recomendadas, 157 Exercícios e trabalhos práticos, 157 14 A UTILIZAÇÃO DE DOCUMENTOS, 158 14,1 As fontes de “papel”, 158 14.2 Os registros estatísticos, 158 14.3 Documentos pessoais, 161 14.4 Comunicação de massa, 182 14.5 Anátise de conteúdo, 163 Leituras recomendadas, 185 Exercícios € trabalhos práticos, 165 15 A ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO, 166 15.1 Conceituação, 166 15.2 O estabelecimento de categorias, 157 15.3 Codificação, 168 15.4 Tabulação, 169 15.4,1 Tabulação manual, 169 15.4,2 Tabulação mecânica, 171 15.4.3 Tabulação eletrônica, 174 15.5 Análise estatística dos dados, 174 15.5.1 Descrição dos dados, 174 15.5.1.1 Caracterização do que é típico no grupo, 175 15.5.1.2 Indicação da variabilidade dos individuos no grupo, 176 15.5.1.3 Distribuição dos indivíduos em relação a deter- minadas variáveis, 176 5 20 - quê para eles são. os mais adequados. E à medida que mentos da população 'lhes dão: crédito, esses conhecimentos são:tious.como ver- dadei ros, p Também os filósotos proporcionam importantes elémeritos,para a compreensão do mundo::Em virtude dese furidamentarem em proce- dimentos:-racional-especulativos, -os.:ensinamentos “dos. filósofos: têm sido considerados: como dos mais vátidospara proporcianar'ó adequa: do conhecimento do mundo. Estas: fórmas" de | conhecimento, .entretanto, não satisfazem: aos espíritos-mais críticos: Alegam: que: a: observação casual dos fatos con- - duz a graves equívocos, visto seremos. homens maus observadores dos fenômenos;mais:simples: As religides -são:as;mais variadas e. fornecem informações contraditórias. A poesia é:subjetiva, assim, como'o roman- ce.:Pais; professores 'e-políticos:também: não - podem: ser. “tidos-como AG guias de:-todã confiança, posto que 6. argumento da: autoridade: na maioria-das vezes :acaba por deixar transparecer sua fragilidade. Dico- nhecimento:filosófico, "a- despeito: de 'seus-inegáveis méritos; não raro avança para-o terreno. das explicações metafísica: e absolutistas, que não;possibilitam sua adequada verificação. SA partir -da; necessidade-de obtenção de conhecimentos: mais se: guros. que os fornecidos por outros meios," desenvolveu-se ai ciência, que:constitui-umdos:mais “importantes Somponentes intelectiais do mundo contemporâneo. í 1.27A NATUREZA DA CIÊNCIA “-: Etimologicamente, ciência significa conhecimanito: Não. há dúvida; “porém, quanto à inadequação. desta definição, considerando-se.o atual estágio de desenvolvimento da ciência: Há conhecimentos que não per “tentem à ciência; como: o:conhecimento:vulgar, o religioso e, em-certa acepção, o filosófico: “O fato de não se aceitar: a definição etimológica não) significa; : “porém; que: seja passível: hoje -definir-se; de forma bastante clara.o que e seja “definição, havendo: mesmo autores que consideram essa discussão in- sólúvel; cia; Poucas coisas em: ciência-sãotão.controversas quanto sua “Embora: ainda: sem: uma Solução. definitiva: para 0 problema da definição; torna-se possível; mediante reflexão,: discriminar-se:com rá- | | | | | ! | zoável grau de pre “50 entre o conhecimento científico e outras: for- mas de conhecimenvo. =: Pode-se: considerar à “ciência como:uma forma de conhecimento quetem: por objetivo: formular, mediante: linguagem .rigorasa e ápro- priada —:se-possível;-com auxílio: da linguagem matemática —, leis que regem'os fenômenos. Embora: sendo: as.mais. variadas, essas. leis:apre- sentam vários. pontos: em. comum: são: capazes de descrever séries de fenômenos; são .comprováveis por meio da:observação e da experimen-: tação; são Capazes de. prever — pelo menos de: forma probabilística — acontecimentos futuros. Pode-se" definir ciência de forma satisfatória mediante a identifi- cação: de suas características essenciais.: Assim, a ciência pode ser carac- terizada:como-uma: forma-de: conhecimento: objetivo, racional; siste- mático, geral, verificável-e-fal fvel;:O-conhecimento científico é objeti- vô: porque :descrevea: realidade independentemente' dos caprichos do pesquisador; :É: racional: porque se -vale'sobretudo: da:razão, e não de sensação ou: impressões, para chegar 'a-seus resultados: Essistemático porque:se preocupa em: construir sistemas: de idéias organizadas racio- nalmente: e em incluir: os: conhecimentos parciais em totalidades: “cada vez: mais: amplas. É geral porque seu interesse se dirige fundamental- mente à elaboração: de: leis “ou::normas: gerais, que explicam todos os fenômenos: de certo tipo:. É: verificáve! porque sempre possibilita de- monstrar:a:veracidade:das informações. Finalmente; é. fal fvel porque, ao: contrário: de outros. sistemas: de -conhecimento:-elaborados ipelo homem, reconhece:suã própria capacidade de errar. partir: destas: características torna-se possível, em boa parté dos Casos; , distinguir entre O'que.é-ciência e'o que não é. Há situações, en- tretanto,-ém' que: não: se torna possível. determinar. com-toda:clareza -se-determinado conhecimento: pertence'á-ciência ou: à filosofia. Estas situações: ocorrem sobretudo: no: domínia: das ciências humanas, oque é compreerisível, visto: que hã autores que: chegam: a incluir a filosafia norol dessas ciências: 1.3: A CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS Em:virtudê da multiplicidade: de objetos considerados pela ciên- cia; desenvolvem-se as ciências particulares. Ao. longo. desse. desenvol- vimento, muitos aútores vêm: procurando definir um sistema de classi- ficação das inúmeras ciências. Nenhum desses sistemas se mostra ábso- lutamente satisfatório. Todavia, podem-se classificar ar ”“ências, num primeiro momento, em duas grandes categorias: formais e empíricas. As primeiras tratam de entidades ideais e de suas relações, sendo a Ma- temática e a Lógica Format as mais importantes. As segundas tratam de fatos e de processos. Incluem-se nesta categoria ciências como a Física, a Química, a Biologia e a Psicologia. As ciências empíricas, por sua vez, podem ser classificadas em naturais e sociais. Dentre as ciências naturais estão: a Física, a Qui- mica, a Astronomia e a Biologia. Dentre as ciências sociais estão: a Sociologia, a Antropologia, a Ciência Política, a Economia e a Histó- ria. A Psicologia, a despeito de apresentar algumas características que a aproximam das ciências naturais, constitui também uma ciência social. Isto porque, ao tratar do estudo do comportamento humano, trata-o sobretudo a partir da interação entre os indivíduos. 14 PECULIARIDADES DAS CIÊNCIAS SOCIAIS É sabido que as ciências sociais não gozam do mesmo prestígio conferido às ciências físicas. Hã mesmo autores que são partidários de sua não-inclusão no roi das verdadeiras ciências. As principais objeções que apresentam são as seguintes: í a) Os fenômenos humanos não ocorrem de acordo com uma ordem semelhante à observada no universo físico, o que tor- na impossível a sua previsibilidade. bj As ciências humanas lidam com entidades que não são passí- veis de quantificação, o que torna difícil a comunicação dos resultados obtidos em suas investigações. c) Os pesquisadores sociais, por serem humanos, trazem para as suas investigações certas normas implícitas acerca do bem e do mal, prejudicando os resultados de suas pesquisas. dj A ciência se vale fundamentalmente do método experimen- tal, que exige, entre outras coisas, o controle das variáveis que poderão interferir no fenômeno estudado. Os fenôme- nos sociais, por outro lado, envolvem uma variedade tão grande de fatores que tornam inviável, na maioria dos casos, a realização de uma pesquisa rigidamente experimental. As objeções acima não sã 3 Sao emocionais. São ba: ri. me . ) stante séri que a melhor aedádEs à luz da Filosofia da Ciência. Por essa razão é lefesa do caráter científico da Psicologia, Sociologia, Ciência ves Ed de Hesquisadores e de estudiosos da Filosofia da ni Re q "proce ler à defesa do caráter científico das ciências esposta a essas objeções, podem-se considerar: a) onto emminismo absoluto das ciências naturais é hoje bas- ionado, aceito rigorosamente, discipli como a Genética não poderiam il s cien ioa K 1 Ser consideradas cient(fi visto que muitas de suas explicações sã oba! batida ED ação dia licações são de natureza proba- s . explicações probabilísticas cad: mais em voga, o determinismo ve: jeitado por i | vos m sendo rejeitad muitos cpemistas, como Heisenberg, Born e Bohr que into, amado “grupo de Copenh. “(H k p. 1746). Assim, a diferen 2 8 CiÊnCISS Daio 17 e ça entre as ciências naturai Sociais, no tocante às suas explicaçõ à em Na ar 8 ações, estará somente em que as últimas são mais probabilísticas que as primeiras. bJE impossível ne, ienti: i pos: gar que o cientista social lida com variávei pao Ela que o aração. Também é difícil discordar da ale. 1 grande adiantamento de uma ciência ser determinado pela precisão de seus instrumentos do ciais, se analisado com a merecida i s q profundida - -Se-á bem menos crítico da que aparenta. de, mostrar das pero, é oecêss sário reconhecer que o objeto de estudo as & visto em alguns meios de f dificulta o seu tratame itati Freq se nto quantitativo. São fregii afirmações do tipo: o h ae ser redusido o eo fi des E omem não pode ser reduzido a numero: não se pode tratar o homem como um conjunto de ara Adantificados etc. Estas afirmações são geralmente emociona is e não Podem merecer a atenção dos que se dedi- às ciências sociais. Entretanto, merece atenção o ques- tionamento acerca da Possibilidade de mensuração de fenô- 23 - menos intangíveis, tais como inteligência, emoções, atitu- des, nível de acuituração e mobilidade social etc. É claro que o comportamento humano é complexo & con- segiientemente muito mais mutável que O comportamento de rochas, metais ou gases. Isto não significa, porém, que seja impossível tratar do comportamento humano cientifi- camente. O que ocorre é que OS fenômenos humanos não podem ser quantificados com o mesmo grau de precisão das ciências naturais. Mas, em boa parte, podem ser mensurados com a aplicação de escalas menos sofisticadas (denominadas pelos estatísticos de nominais e ordinais). Mediante estas escalas, podem ser atribuídos números a categorias que se distinguem apenas por serem mutuamente exclusivas (esca- las nominais) ou por deixarem implícito algum tipo de or- denação (escalas ordinais). Como exemplos do primeiro casa, temos a classificação de populações segundo traços tais como sexo, cor da pele E nacionalidade. Do segundo caso, temos como exemplos à ordenação de populações segundo sejam mais ou menos agressivas, ou apresentem diferentes níveis sócio-econômicos. Embora esses níveis de medida sejam rudimentares, mos- tram-se suficientes para muitos dos propósitos perseguidos pelos cientistas sociais. c) Um dos grandes obstáculos com que se deparam as ciências sociais reside no fato de estar O pesquisador, de alguma for- ma, envolvido com o fenômeno que pretende investigar. Não hã como deixar de admitir que os valores permeiam as pesquisas sociais, tornando-se muito diffcil evitá-los. Mas isto não signífica que seja impossível superar essa dificul- dade. Hegenberg (1969, p. 218), apoiando-se em Passmore (1949), numa tentativa de esclarecer essa questão, classifica os problemas científicos em três grandes categorias: teóri- cos, técnicos e de ação. Os teóricos são tratados mediante hipóteses e abservações. Já os de ação envolvem considera- ções valorativas. Por exemplo, se cientistas sociais forem in- dagados acerca da conveniência da estatização dos meios de produção, serão obtidas algumas resposias favoráveis & OU- tras contrárias. Todavia, será bastante provável que esses mesmos cientistas, embora com posições diametralmente opostas, venham a se entender no referente às consequências +ssa medida. Poderão sustentar, por exemplo, que implica- ria o aumento do poder do Estado sobre os cidadãos. Esse acordo, não impedirá, no entanto, discrepâncias sobre o acerto da medida. A um grupo de cientistas, que vê como O maior problema do capitalismo o poder em mãos de grupos econômicos, não importará tanta o aumento de poder do Estado, A um grupo que se posiciona contrariamente ao poder do Estado sobre o indivíduo a medida seria condená- vel. Vêse assim que o problema da estatização pode ser enfocado do ponto de vista teórico, quando são considera- das as suas consegúências, e do ponto de vista de ação, quando é examinada a sua conveniência. : Já os problemas técnicos são de tipo diverso, Poderiam ser caracterizados pela pergunta: “Como construir algo se- gundo determinadas especificações?" Neste caso não são envolvidos valores, já que os problemas técnicos conduzem à verificação do que é e não do que deve ser. Estas considerações não devem indicar, entretanto, que as ciências sociais devam relegar ao esquecimento todas as questões de valor. O valor precisa ser considerado pelas ciências sociais, para que cumpra um de seus mais impor- tantes papéis, que é o de auxiliar na promoção do ser humano. dE verdade que o experimento em investigações sociais é bem pouco utilizado, visto que, de modo geral, o cientista não possui o poder de introduzir modificações nos fenômenos que pretende pesquisar, Cabe, no entanto, indagar se de fato o experimento controlado é realmente indispensável para à obtenção de resultados cientificamente aceitáveis. Não há como deixar de admitir que a experimentação representa uma das mais notáveis contribuições ao desenvol- vimento da ciência. Isto não significa, no entanto, que se deva superestimar o papel do experimento controlado. À guisa de exemplo, pode-se lembrar que a Astronomia e a Geologia não devem sua respeitabilidade à utitização de pro- cedimentos experimentais. A Embriologia, até há bem pou- co, desenvolveu-se independentemente da experimentação E o que dizer da Física Relativista? : Cabe ainda lembrar que as Possibilidades de experimen-:.: : tação nas ciências sociais têm sido muitas vezes ii nas e . negligençi das. Significativos domínios da Psicologia são suscetíveis. de. EDITORA ATLAS S.A. Rua Conselheiro Nébias, 1384 (Campos El Caixa Postal 7186 -- Tet.: (011) 2219144 01203 São Paulo (SP) Ísios) (PABX) O método indutivo procede inversamente, Parte do particular e coloca a generalização como um produto posterior do trabalha de co- teta de dados particulares. Um exemplo clássico de aplicação deste mé- todo é o des cisnes: somente depois de se verificar os casos particulares dos cisnes é que se pode emitir a conclusão geral de que todos os cisnes são brancos. De acordo com a raciocínio indutivo, a generati- zação não deve ser buscada aprioristicamente, mas constatada a partir da observação de um número de casos concretos suficientemente con- firmadores da suposta realidade, O raciocínio indutivo influenciou muito o pensamento científico. Desde q aparecimento dos trabalhos de Francis Bacon (1521-1526) e de outros empiristas, o método indutivo passou a ser visto como o mé- todo por excelência das ciências naturais. Com o advento do positi- vismo, sua importância foi reforçada e passou a ser proposto também como método de investigação nas ciências humanas. Os indutivistas apresentam duas objeções sérias à dedução. A pri- meira é de que O raciocínio dedutivo é essencialmente tautalógico, ou. seja, apresenta, de forma diferente, a mesma coisa. Isto pode ser veri- ficado no exemplo apresentado. Quando se aceita que todo homem é mortal, colocar o caso particular de Pedro nada adiciona, pois esta característica já foi indicada na premissa maior. A segunda objeção refere-se ao caráter apriorístico do raciocínio dedutivo. De fato, partir de uma afirmação geral significa supor um co- nhecimento prévio. Camo é que se pode afirmar que todo homem é mortal? Este conhecimento não pode derivar da observação repetida de casos particulares, pois isto seria indução. À afirmação de que todo homem é mortal foi previamente adotada e não pode ser colocada em dúvida. Por isso, os indutivistas argumentam que O raciocínio dedutivo assemelha-se au adotado pelos teólogos, que partem de posições dog- máticas. Não há como deixar de reconhecer a importância do método in- dutivo na constituição das ciências sociais. Serviu para que os pesquisa dores sociais abandonassem a postura especulativa e se inclinassem a adotar a observação como procedimento indispensável para se atingir o conhecimento científico. Graças a seus influxos é que foram defini- das inúmeras técnicas de coleta de dados e elaborados instrumentos capazes de mensurar os fenômenos sociais. A despeito, porém, de seus reconhecidos méritos, a indução re- cebeu várias críticas. David Hume, já no século XV IH, considerou que a indução não pode transmitir a certeza e a evidência, porque se pode pensar o contrário do induzido sem cair em contradição lógica: Pór 29 exemplo, é passível admitir que amanhã o sol não nasça, embora seja uma abservação sempre constante e verificável que todo dia o sol nas ce, mesmo que esteja encoberto pelas nuvens. Este enunciado, que o senso comum tem como evidente pela indução diária, não constitui rigorosamente uma evidência. Isto porque pode ocorrer que, por força de um catactismo universal, desapareça O sol. Seria possível, portanto, pensar o contrário. Este problema colocado por Hume foi, de certa forma, contor- nado pela teoria da probabilidade, que possibilita indicar os graus de força de um argumento indutivo. Outros autores, entretanto, retoma- ram o problema de Hume, entre os quais Karl Popper. Em sua obra, A lógica da investigação científica, publicada em 1925, Popper rejeita qualquer possibilidade de se constituir a indução em posição epistemológica válida. Um dos argumentos é o de que ain- dução recai invariavelmente numa regressão ao infinito. Tomanda-se o mesmo exempla dos cisnes: para se sustentar, com certeza e evidên- cia, que todos os cisnes são brancos, seria necessário verificar cada cis- ne particular possível, do presente, do passado e do futuro, porque, na, realidade, a soma dos casos concretos dã apenas um número finito, 20 passo que o enunciado geral pretende ser infinito. Outro argumento de Popper é o de que à indução cai invariavel- mente no apriorismo. À indução parte de uma incoerência metodoló- gica, pórque é justificada dedutivamente. Sua justificação indutiva exi- giria o trabalho infinito de sua verificação factual, Isto significaria cair numa petição de princípio, ou seja, apoiar-se Uma demonstração sobre a tese que se pretende demonstrar. Considerando essas objeções, Popper e outros autores propõem que a ciência se construa a partir do método hipotético-dedutivo. No método hipotético-ledutivo, de acordo com Kaplan (1972, p. 12): “... O cientista, através de uma combinação de observação cuidadosa, hábeis antecipações e intuição científica, alcança um conjunto de postulados que governam os. fenômenos pelos quais está interessado; daí deduz ele as conseguências obser- váveis: a seguir, verifica essas consegiiências por meio de ex- perimentação e, dessa maneira, refuta os postulados, substi- tuindo-os, quando necessários, por outros e assim prossegue.” Nem sempre a distinção entre o método hipotético-dedutivo e o indutivo se apresenta claramente, porque ambos se fundamentam na OPTE i 1 i 1 ração. É importante, todavia, considerar que pelo método indu- tio se ido does uma + generalização empírica de observações. Já N o método hipotética-dedutivo se pode ch a construção de teorias e mesmo de leis. O ca, propos ê . O esquema abaix por Galtung (1987, p. 453), esclarece essas diferenças: o reposto a) uma hipótese é dita sustentável se for confirmada: é chama- da proposição; bjuma hipótese é di . teorema; ese é dita válida se for dedutível: é chamada e) um sistema ipá caio é . indutivo; de hipóteses sustentáveis é chamado sistema dl um sistema de hipóteses válidas é chamado sistema dedutivo; e) um sistema indutivo-dedutivo (hipotético-dedutivo), ou teo- Da gentífica, é um sistema no qual determinadas hipóteses são sustentáveis e nenh válidas são s nhuma (ou quase nenhuma) sobre do o ano do odutivo goza hoje de notável aceitação, as ciências naturais. Nos círculos itivi tas chega mesmo a ser consideradk úni da vigorasã. au lo camo q único método ri - mente lógico. Como, porém, o método hipotéti ivo. apareço historicamente ligado à ex ri SU aBlicação da nie ist perimentação, sua aplicação às ciênci ciais apresenta sérias limitações. Ainda assim, dj jos são apre. n . seus princípios são - sentados por grande número de aut é ici ; ii a Mm í ores como suficientes para a cons- trução de modelos lógicos de investigação em ciências sociais ns 223 O métoda dialético Às considerações acerca da diatéti Sonsi iatética costumam ser polêmi porque invariavelmente conduzem a questões de natureza ideoló: gica. Entretanto, a dialética envolve muito mais aspectos do que ge- ralmente se supõe. Pode-se, fundamentalmente, considerá-la sab três :** aspectos: a) como filosofia da natureza; b)como lógica do pensamento apli ca de aplicada à compreensão do processo histórico das mudanças e dos confiitos sociais; e e) como método de investigação da realidade. “E E . Ss Évora! Wy o BIBLIOTECA COMPRA O terceiro aspecto, que se refere especificamente à metodologia das ciências sociais, é o Único que será considerado aqui. A dialética, enquanto metodologia, é compreendida de maneira diversa, segundo os autores. É possível, porém, identificar alguns princípios que são comuns a toda abordagem dialética: a) Princípio da unidade e luta dos contrários. Todos os obje- tos e fenômenos apresentam aspectos contraditórios, que são organicamente unidos e constituem a indissolúvel uni- dade dos opostos. Os opostos não se apresentam simples- mente lado a lado, mas num estado constante de luta entre si. A luta dos opostos constitui a fonte do desenvolvimento da realidade. o En . bi Princípio da transformação das mudanças quantitativas em qualitativas. Quantidade e qualidade são características ima- nentes a todos os objetos e fenômenos, e estão inter-relacio- nadas. No processo de desenvolvimento, as mudanças quan- titativas graduais geram mudanças qualitativas, e esta trans- formação se opera por saltos. e) Princípio da negação da negação. O desenvolvimento pro- cessa-se em espiral, com a repetição em estágios superiores de certos aspectos e traços dos estágios inferiores. “ Destes princípios deriva uma conclusão metodológica: para co- “ nhecer realmente um objeto é preciso estudáio em todos os seus as- pectos, em todas as suas refações e todas as suas conexões. Fica claro também que a dialética é contrária a todo conhecimento rígido. Tudo é visto em constante mudança: sempre há algo que nasce e se desen- volve e algo que se desagrega e se transforma. O método dialético tem sido apresentado muitas vezes como in- compatível com o método hipoté ico-dedutivo, em virtude de estar este último vinculado à lógica positivista. Embora haja autores que indiquem a compatibilidade entre a lógica formal e a dialética (Le- fêbvre, 1969) e que o método dialético e o método hipotético-dedus: tivo apresentam vinculações sobretudo no referente ao papel atrib do às hipóteses, na prática a postlta dos pesquisadores das duas ôrien- tações difere significativamente. O método hipotético-dedutivo' pri- vilegia os procedimentos operacionais. Já o método dialético é estra- nho aos procedimentos operacionais; opõe-se a um modo de pensa- mento no qual'a'ordem quantitativa se toma norma. Marcuse (1969, 32 p. 141), analisando-o-método dialético, afirma que: “sua concreção histórica milita contra a quantificação e a ma- tematização de um lado, e, do outro, contra o positivismo e o empirismo”. 2.24 O método fenomenológico O método fenomenológico, tal como foi apresentado por Edmund Husserl ( 1859-1938), propõe-se a estabelecer uma base se- gura, tiberta de pressuposições, para todas as ciências, Para Husserl, as certezas positivas que permeiam o discurso das ciências empíricas são “ingênuas!. A suprema fonte de todas as afirmações racionais é a “consciência doadora originária”, Daf a primeira e fundamenta] re- gra do método fenomenológica: avançar para as próprias coisas. Por coisas entende-se simplesmente o dado, o fenômeno, aquilo que é visto. diante da consciência. A fenomenologia não se preocupa com algo desconhecido que se encontre atrás do fenômeno, só visa so dado, sem querer decidir se este dado é uma realidade ou uma aparência: haja o que houver, a coisa está aí. O método fenomenológico não é dedutivo nem empírico. Consis- te em mostrar o que é dado e em esclarecer este dado. Não explica miediante leis nem deduz a partir de Princípios, mas considera imedia- tamente o que está presente à consciência, o abjeto. Conseguentemen- te, tem uma tendência orientada totalmente para o abjetivo. “Inte- ressa-lhe imediatamente não o conceito subjetivo, nem uma atividade do sujeito, mas aquilo que é sabido, posta em dúvida, amado, odiado etc.” (Bochenski, 1968, p. 137). Para Husserl existem duas espécies de ciências: ciências de fatos, que se fundamentam na experiência sensível, e ciências de essências ou eidéticas, às quais compete a intuição essencial, a “visão do eidos”. Mas todas as ciências dos fatas se baseiam em ciências de essências -- a lógica e a matemática — e, além disso, em cada um dos fatos há uma essência permanente, Logo, mesmo nas ciências dos fatos caberia a uti- tização do método fenomenológico. A adoção do método fenomenológico implica uma mudança ra- dical de atitude em relação à investigação científica. Por essa razão, é que, embora muito comentado, o método fenomenológico ainda não vem sendo muito empregado na pesquisa social. Contudo, não se pode negar que a adoção de uma postura feno- menológica possa ser enriquecedora para o pesquisador. À medida que Procura captar o essencial, como estabelece o método fenomenoló- 33 ticos, Padem também ser efetivadas pesquisas envolvendo padrões de comportamento familiar ou religioso de épocas diferentes. : Algumas vezes, o método comparativo é visto como mais .super- ficial em relação a outros. No entanto, há situações em que seus proce- dimentos são desenvolvidos mediante rigoroso contrale e seus resulta- dos proporcionsm elevado grau de generalização. Os'trabalhos de Piaget, no campo do desenvolvimento intelectual da criança, consti- tuem importantes exemplos da utilização do método comparativo, 235 O método estatístico Este método fundamenta-se na aplicação da teoria estatística da probabilidade e constitui importante auxílio para a investigação em ciências sociais, Há que se considerar, porém, que as explicações obti- das mediante a utilização do método estatístico não podem ser consi- deradas absolutamente verdadeiras, mas dotadas de hoa probabilidade de serem verdadeiras. Mediante a utilização de testes estatísticos, torna-se -possível de- terminar, em termos numéricos, a probabilidade de acerto de determi- nada conclusão, bem como a margem de erro de um valor abtido. Por- tanto, o método estatístico passa a-caracterizar-se por razoável grau de: precisão, o que o toma bastante aceito por parte dos pesquisadores com preocupações de ordem quantitativa. " Os procedimentos estatísticos fornecem considerável reforço às conclusões obtidas, sobretudo mediante a experimentação e a-obser- vação. Tanto é que os conhecimentos obtidos em: alguns setores da Psicologia-e da Economia devem-se fundamentalmente à utilização do método estatístico. “ 236 O método clínico O método clínico apóia-se ruma retação profunda entre pesquisa- dor e pesquisado. É utilizado, principaimente, na pesquisa psicológica, onde os pesquisados. são indivíduos que procuram o psicólogo. ou.0. psiquiatra .para.obter.ajuda. . O método clínico tornou-se um dos mais importantes na investi 36 gação psicológica; sobretudo depois dos trabalhos de Freud. Sua-con- “ tribuição à Psicologia tem sido muito significativa, particularmente no que se refere ao estudo dos determinantes inconscientes do comporta- mento. Todavia, o pesquisador que adota o método clínico deve-cer- car-se-de muitos cuidados ao propor generalizações, visto que esse mé- todo se apóia em casos individuais e envolve experiências subjetivas. 24 OS QUADROS DE REFERÊNCIA 24.1 Teoriss e quadros de referência A palavra teoria pode ser entendida de maneiras diversas. Na lin- guagem popular é identificada fregiientemente com especulação. En- tretanto, para a ciência, seu significado é bastante distinto. Braithwaite define teoria como: (citado por Selhiz et ai., 1967, p. 538), “... conjunto de hipóteses que formam um sistema dedutivo; ou seja, um sistema organizado de maneira que, considerando - como premissas algumas hipóteses, destas decorram logica- mente todas as outras”. As teorias são muito importantes no processo de investigação em ciências sociais, Elas proporcionam a adequada definição de conceitos, bem como o estabelecimento de sistemas conceituais; indicam lacunas no conhecimento; auxiliam na construção de hipóteses; explicam, ge- neralizam e sintetizam os conhecimentos e sugerem a metodologia apropriada para a investigação (Trujillo Ferrari, 1982, p. 119). “As -teorias" desempenham importante papel: metodolágica na pesquisa, De-acordo com Popper, as teorias são “redes estendidas para capturar o que. chamamos “o mundo”, para racionalizá-io, explicá-lo e domináio (Popper, 1972, p. 59). Boa parte das teorias desenvolvidas no âmbito das ciências sociais pode ser chamada de “teorias de médio alcance”, já que desempenham papel limitado no campo da investigação científica. Outras, no entan- to,encontram-se elaboradas de tal forma que ambicionam constituir- -Sse como “quadros de referência”, subordinando outras teorias e su- gerindo normas de procedimento científico. Alguns desses “quadros de referência” ou “grandes teorias” chegam mesmo a ser designados como métodos. E o caso do funcionalismo, do estruturalismo e-da “compreensão”. E 37: 24.2 O funcionalismo O funcionalismo é uma corrente das ciências humanas que enfa- tiza as relações e o ajustamento entre os diversos componentes de ima cultura ou sociedade. Suas origens prendem-se aos positivistas Herbert Spencer (1820-1903) e Emile Durkheim (1858-1917), que procuraram estabelecer analogias entre as formas de organização cultural e social e organismos vivas, A consolidação do funcionalismo como métoda de investigação social deve-se, entretanto, a Bronislaw Malinowski (1884- 1942). O raciocínio básico do funcionalismo para esse antropólogo é que, se os homens têm necessidades "contínuas como uma consegiiên- cia de sua composição bielógica e psíquica, então essas necessidades básicas irão requerer formações sociais que satisfaçam efetivamente tais necessidades. Daí por que o enfoque funcionalista leva a admitir que toda atividade social e cultural é funcional ou desempenha fun- ções e é indispensável. .O antropólogo Radclife-Brown (1881-1955), por sua vez, introduziu no funcionalismo a noção de estrutura, Para ele, a função de toda atividade recorrente é seu papel na vida social e sua contribuição social para sustentar as estruturas. "O funcionalismo exerceus e continua exercendo significativa in- fluência na pesquisa social, sendo inúmeros as trabalhos desenvolvidos segundo esse enfoque, inclusive no Brasil. Todavia, em alguns meios, o ; funcionalismo sofre restrições, em virtude de estar identificado, em isuas origens, com ideologias conservadoras. Para Florestan Fernandes, as críticas dessa natureza ao funciona- lismo não se justificam porque: “uma valorização construtiva do uso científico desse método não impede a adesão dos sociólogos, seja a ideologias compó- sitas (como o “terceiro caminho" liberal-socialista, de Man- nheim), seja à ideologia socialista (o que acorre com o autor destas linhas (...). Os conhecimentos empíricos e teóricos, for- necidos por esse método, são igualmente úteis e potencialmen- te exploráveis sob quaisquer ideologias” (Fernandes, 1970, p. 199). 243 O estruturalismo OQ termo estruturalismo é utilizado para designar as correntes de 38 pensamento que recorrem à noção de estrutura para explicar-a. reali- dade em todos os seus níveis. O estruturalismo parte da pressuposto de que cada sistema é um jogo de oposições, presenças e ausências, constituindo uma estrutura, onde o todo e as partes são interdepen- dentes, de tal forma que as modificações que ocorrem num dos ele- mentos constituintes implica a modificação de cada um dos outros e do próprio conjunto, ' Embora, ao longo do desenvolvimento das ciências sociais, diver- sas correntes de pensamento tenham sido designadas como estrutura- listas, este termo aplicase hoje particularmente para identificar as correntes de pensamento que têm suas bases conceituais nos estudos do linguista Ferdinand Saussure (1857-1913) e do antropólogo Claude Levy-Strauss (nascido em 1908). Para que um modelo científico possa, de acordo com Levy- “Strauss (1967), merecer o nome de “estrutura” deve satisfazer a quatro condições: a) o madelo deve oferecer um caráter de sistema, isto é, consis- tir em elementos tais que qualquer modificação num de seus elementos acarrete modificação em todas os qutros; b) todo modelo deve pertencer a um grupo de transformações, cada uma das quais correspondendo a um modelo da mesma família, de modo que o conjunto dessas transformações constitua um grupo de modelos; clas propriedades exigidas por essas duas condições devem permitir prever de que modo reagirá o medeto, em caso de modificação de um dos elementos; é . d) é necessário que o modelo seja construído de tal modo que seu funcionamento possa explicar tados os fatos observados, A oposição do estruturalismo ao empirismo é evidente. O empi- rismo concebe a realidade como singular e revelada graças à experiên- cia sensível. Dessa forma, o objeto, passa a ser O que é, ou seja, o fato, Para q estruturalismo o fato isolado, enquanto tal, não possui signifi- cado. Por exemplo: os vocébulos fromage, cheese e queijo, quando iso- lados da estrutura alimentar que os determina, referem-se à mesma rea- lidade. Todavia, quando são considerados no interior das distintas es- truturas alimentares.a que pertencem, revelem-se completamente di- ferentes. Para o francês, fromage conota um gosto picante; para o in- glês, cheese quase não possui gosto; e para o brasileiro, queijo cono- ta um gosta salgado (Levy-Strauss, 1967, p. 36). Fica claro, pois, o Caráter relativo dos elementos da estrutura: o sentido e o valor de cada se elemento advêm, exclusivamente, da posição que ocupe em relação aos demais. A investigação estruturalista, tal como a concebe Levy-Strauss, propõe como regra principal de observação que os fatos devem ser observados e descritos, sem permitir que os preconceitos teóricos alte- rem sua natureza e sua importância. Isto implica estudar os fatos em si mesmos e em relação com o conjunto. Por vutro lado, exige o estu- do imanente das conexões essenciais das estruturas independentemen- te de sua gênese ou de suas relações com o que é exterior a elas. Este estudo imanente de um objeto implica a descrição do sistema em ter- mos estritamente relacionais; onde a experiência comum só reconhece coisas, a análise estrutural descreverá redes de relações. Essas redes de relações, por sua vez, constituem os sistemas: sistema de parentesco e de filiação, sistema de comunicaçaõ lingúística, sistema de troca eco- nômica etc. . Em suma, de acordo com o estruturalismo, parte-se da investiga- ção de um fenômeno concreta, atirigindo o nível do abstrato pela representação de um modelo representativo do objeto de estudo para, finalmente, retornar ao concreto como uma realidade estruturada. Dufrenne (1968, p. 84) sintetiza bem a teoria estruturalista, quando diz que: “a estrutura é um instrumento forjado pelo cientista para, mediante a decodificação, compreender a sociedade e a cultu- ra, e para fazer as instituições aparecerem como regras deriva- das de um operador oculto; o modelo é então inventado para exprimir em termos inteligíveis uma realidade que por si mes- maé opaca e muda”. 244 A “compreensão” Max Weber (1864-1920) opõe-se à utilização dos métodos das ciências naturais no estudo da sociedade, propondo em seu lugar a apreensão empática do sentido finalista de uma ação, parcial ou intei- ramente oriunda de motivações irracionais. Este procedimento a que ele chama de compreensão envolve uma reconstrução no sentido subje- tivo original da ação e o reconhecimento da parcialidade da visão do observador. A idéia básica da Sociologia de Weber é a da ação, em que, segun- 40 do sua famosa definição, “está incluído todo O comportamento hu- mano à medida em que o ator the atribui significado subjetivo” (Weber, 1969, p. 110). A compreensão, por sua vez, refere-se ao sentido visado subjetivamente por atores, no curso de umá atividade concreta. Weber distingue, ainda, entre compreensão atual s compreensão explicativa. Compreende-se pela primeira maneira, por exemplo, o sen- “tido do comportamento de um caçador que aponta sua espingarda. Compreende-se pela segunda maneira, por exemplo, o sentido do com- portamento do caçador que se entrega a esse esporte por motivo de saúde, Ambas as formas de compreensão podem ser racionais ou irra- cionais. E racional, por exemplo, a compreensão do sentido de uma “operação aritmética ou do comportamento de um caçador que dispara contra uma caça. É irracional, por exemplo, a compreensão dos moti- vos de uma pessoa que se vale de uma espingarda com o objetivo de se vingar. Entretanto, todas essas formas de compreensão implicam cap- tar a evidência do sentido de uma atividade, Para Weber, é importante que os cientistas sociais apreendam o munde social sem eliminarem a integridade subjetiva dos atores que atribuem significado. Para tanto, Weber (1949, p. 90) desenvalve a noção do “tipo ideal” que: "é formado pela acentuação unilateraf de um ou mais pontos de vista e pela síntese de um grande número de fenômenos concretos individuais, difusos, discretos, mais ou menos presentes e ocasionalmente ausentes, os quais são organiza- dos de acordo com os pontos de vista unilateralmente acentua- dos numa construção analítica acentuada, Em sua pureza con- ceitual, essa construção mental não pode ser encontrada em parte alguma da realidade.” Esses "tipos ideais" contêm os caracteres emp ricos essenciais do fenômeno concreto e podem ser utilizados como instrumentos cientf- ficos na ordenação sociológica da realidade. Assim, o próprio Weber, ao analisar a legitimidade, estabelece três “tipos ideais”. O primeiro é o “domínio legal”, de caráter racional, que tem por fundamento a “crença na validade dos regulamentos estabelecidos racionalmente e na “Jegitimidade dos chefes designados nos termos da lei. O segundo é o "“dômínio tradicional”, fundamentado na crença da sacralidade das tra- “diçõese nq legitimidade dos que assumem o poder em função do costu- me, O terceiro é o “domínio carismático”, que se baseia no abandono dos. membros ao valor pessoal de um homem que se distingue por sua santidade ou heroísmo. 41 As pesquisas descritivas são, juntamente com as exploratórias, as que habitualmente realizam os pesquisadores sociais preocupados com à atuação prática. São também as mais solicitadas por organizações como instituições educacionais, empresas comerciais, partidos polí- ticos etc. 3.33 Pesquisas explicativas São aquelas pesquisas que têm como preocupação central identi- ficar os fatores que determinam ou que-contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Este é o tipo de pesquisa que mais aprofunda O co- 'nhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas. Por isso mesmo é o tipo mais complexo e delicado, já que o risco de cometer erros aumenta consideravelmente. Pode-se dizer que o conhecimento científico estã assentado nos resultados oferecidos pelos estudos explicativos. Isto não significa, porém, que as pesquisas exploratórias e descritivas tenham menos va- lor, porque quase sempre constituem etapa prévia indispensável-para que se possam obter explicações científicas. Uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de outra descritiva, posto que a identificação dos fatores que determinam um fenômeno exige que este esteja sufi- cientemente descrito e detalhado. As pesquisas explicativas nas ciências naturais valem-se quase que exulusivamente da método experimental. Nas ciências sociais, em virtu- de das dificuldades já comentadas, recorre-se a outros métodos, sobre- tudo ao abservacional. Nem sempre se torna possível a realização de pesquisas rigidamente explicativas em ciências sociais, mas em algumas áreas, sobretudo da Psicologia, as pesquisas revestem-se de elevado grau de controle, chegando mesmo a ser designadas “quase-experi- mentais”. 34 O ENVOLVIMENTO DO PESQUISADOR NA PESQUISA 3.4.1 O modelo clássico de pesquisa O estabelecimento de regras acerca do proceder “científico tem, sido bastante influenciado pela orientação positivista, que preconiza a utilização de procedimentos rigorosamente emp Iricos: com vistas: ná 46 obtenção de um máximo de objetividade na pesquisa. Assim é que Durkheim estabelece como a primeira regra do método sociológico “tratar dos fatos sociais como coisas”. Skinner recomenda aos pes- quisadores uma atitude de absoluta neutralidade em relação ao fenô- meno pesquisado. Para ele a ciência “é uma disposição para aceitar fatos mesmo quando eles se opõem aos desejos” (Skinner, 1953, p. 53). A objetividade, entretanto, não é facilmente obtida por causa de sua sutileza e implicações complexas. Tado conhecimento do mundo é afetado pelas predisposições dos observadores. Quanto mais as ob- servações se afastam da realidade física, maiares as possibilidades de distorção. Quando um biólogo lida com bactérias, por exemplo, há poucas possibilidades de distorção, porque seus pontos de vista e incli- nações pessoais dificilmente interferirão no estudo. Mas quando os cientistas tratam de temas como personalidade, criatividade, autori- tarismo ou classe social, as possibilidades de distorção aumentam con- sideravetmente. Com o objetivo de evitar o problema da subjetividade, os teóricos positivistas sugerem que a investigação dos fenômenos sociais restrin- .jase âquilo que possa ser efetivamente observado. Skinner indica que é.“'melhor ficar sem resposta do que aceitar uma resposta inadequada” ASkinner, 1953, p. 13). * Esta postura positivista de estudar os fenômenos sociais da mes- “ma forma que as ciências naturais teve e continua a ter muitos adep- tos. A separação rígida entre os sistemas de valores do cientista e os fa- tos sociais enquanto objeto de análise é proposta por inúmeros meta- “tólogos. Alegam em favor dessa postura que as ciências sociais devem ser neutras, apotíticas e descomprometidas. Nesse sentido, a maioria dos manuais clássicos de pesquisa social propõem o máximo distan- eiamênto entre o pesquisador e o objeto pesquisado. 34.2 Pesquisa-ação e pesquisa participante Muitas críticas têm sido feitas ao modelo clássico de pesquisa em- ;pírica, Habermas (1971, p. 308) diz que as empiristas são marcados pela: “ilusão objetivista”, ao admitirem que, pela observação direta los. fatos, seja possível chegar às evidências imediatas, sem o auxílio de: qualquer elemento subjetivo ou da ação consciente de sujeitos ativos. Marcuse (1968, p. 46) afirma que a realidade é uma.coisa “muito mais rica do que aquilo que está codificado na lógica dos fatos :- 48 e que, para se compreender como as coisas verdadeiramente são, tor- na-se necessário recusar sua simples facticidade. As criticas aàs procedimentos clássicos de pesquisa, afora os emo- cionais, têm sido motivadas por razões de ordem prática ou ideológica. As primeiras ressaitam os vultosas custos da pesquisa e os comparam com seus resultados, nem sempre significativos. Alegam esses críticos que a pesquisa rigorosa, a despeito de exigir a utilização de amplos recursos humanos, materiais e financeiros, não conduz a resultados de qualidade muito superior à obtida pelo senso comum. Lembram tam- bgm que muitas dessas pesquisas, por envolverem exaustivas tarefas de planejamento, coleta de dados, análise & interpretação, só tomam pos- sívei a comunicação de seus resultados após decorrido razoável per fo- do de tempo a contar de seu início. As críticas mais vesmentes contra as pesquisas rigorosamente em- píricas têm sido, entretanto, determinadas por razões de ordem ideo- lógica. Os argumentos mais fortes têm sido as que identificam a pes- quisa social empírica com formas de controle social, Nesse sentido, Habermas (1971, p. 8) diz que por trás dos métodos empíricos analí- ticos existe um interesse cognitivo — o do controle instrumental — que “prejulga o significado de determinados conceitos, interferindo, assim, não só na construção das teorias, como também na maneira como elas são. tratadas”. Oliveira e Oliveira (1983, p. 22) afirmam que “os cientistas sociais contribu íram para a implantação gradual de toda uma série de instituições de controle social — desde a escola até o asilo psiquiátrico e a prisão — cuja finalidade é modelar o comporta- mento de todos pelos padrões de normalidade definidos pelos donos do poder”, Com a finalidade de possibilitar a obtenção de resultados so- cialmente mais relevantes, alguns modelos alternativos de pesquisa vêm sendo propostos, sendo a “pesquisa-ação” e a "pesquisa parti- cipante” os mais divulgados. A pesquisa-ação, segunda a definição de Thiallent (1985, p. 14): “... é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletiva e no qual os pes- quisadores e os participantes representativos da situação ou da problema estão envolvidos do modo cooperativo ou parti- A pesquisa participante, de acordo com Fals Borda (1983, p. 43) é a pesquisa *... que responde especialmente às necessidades de popula- ções que compreendem operários, camponeses, agricultores e “Índios — as classes mais carentes nas estruturas sociais contem- porênees — levando em conta suas aspirações e potencialida- des de conhecer e agir. É a metodologia que procura incenti- var o desenvolvimento autônomo (autoconfiante) a partir das bases e uma reiativa independência do exterior.” Tanto a pesquisa-ação quanto a pesquisa participante se caracte- rizam pelo envolvimento dos pesquisadores e dos pesquisados no pro- cesso de pesquisa. Neste sentido distanciam-se dos princípios da pes- quisa científica acadêmica. A objetividade da pesquisa empírica ctás- sica não é observada. Os teóricos da pesquisa-ação propõem sua subs- tituição pela “relatividade observacional” (Thiollent, 1985, p. 98), segundo a qual a realidade não é fixa e o observador e seus instrumen- "105 desempenham papel ativo na coleta, análise e interpretação dos da- “dos. Seus teóricos, por outro lado, associam-na à postura dialética, que enfoca o problema da objetividade de maneira diversa do positivismo. :A “dialética procura captar os fenômenos históricos, caracterizados pelo constante devir. Privilegia, pois, o lado conflituoso da realidade “social. Assim, O relacionamento entre pesquisador e pesquisado não Se dá:como mera observação do primeiro peta segundo, mas ambos “acabam se identificando, sobretudo quando os objetos são sujeitos sociais também, o que permite desfazer a idéia de objeto que caberia somente em ciências naturais (Demo, 1984, p. 115). - 85 ETAPAS DA PESQUISA é. - Às pesquisas sociais, tanto por seus objetivos, quanto pelos pro- edimentos que envolvem, são muito diferentes entre si. Por essa ra- ão torna-se impossível apresentar um esquema que indigue todos os passos do processo de pesquisa. No que parece haver consenso de parte da maioria dos autores é que todo processo de pesquisa social envolve: Planejamento, coleta de dados, análise e interpretação e redação do relatório, Cada uma dessas grandes etapas pode ser subdividida em cipativo.” outras mais específicas, dando origem sos mais diversos esquemas. fre “Db 9 momento não foi possível definir um modelo que apresente, E 449 RBIBLIGTECA comBra 50 ma absolutamente precisa e sistemática, os passos a serem ahservados no processo de pesquisa. Não hã uma teoria suficientemente abrangen- te para tal, o que faz com que os diversos autores procedam à deter- minação e ao encadeamento das fases da pesquisa com certa arbitra- riedade. Q esquema aqui adotado compreende nove etapas, que são apre- sentadas a seguir: a) formulação do problema; b) construção de hipóteses ou determinação dos objetivos; c) delineamento da pesquisa; d) operacionalização dos conceitos e variáveis; e) seleção da amostra; f) elaboração dos instrumentos de coleta de dados; gi coleta de dados; h) análise e interpretação dos resultados; i) redação do relatório. A sucessão destas fases nem sempre é rigorosamente observada, podendo ocorrer que aigumas delas não apareçam claramente em mui- tas pesquisas. Contudo, esse encadeamento de fases parece ser o mais lógico, e com base nele é que serão desenvolvidos os demais capítulos deste livro. LEITURAS RECOMENDADAS SELLTIZ, Claire et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo, Her- der, 1967. Cap. 3. THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo, Cortez, 1985. Cap. 2. BRANDÃO, Cailos Rodrigues (org.). Pesquisa participante. São Paulo, Brasilien- se, 1981. Caps. 13 = EXERCICIOS E TRABALHOS PRÁTICOS A Indique razões de ordem e prática para a realização de pesquisa so- bre: religiosidade, agressividade, preconceito racial e motivação no trabalho. “Analise a expressão: “Pesquisas descritivas referem-se ao que & ex- . Analise as implicações da regra definida por Durkheim: “Tratar os fatos sociais como coisas.” . Estabeleça relações entre o método dialético e a pesquisa-partici- pante, sobretudo no que se refere ao papel do pesquisador. : Analise vários relatórios de pesquisas. Procure classificá-las em explo- .ratórias, descritivas e explicativas. 51 56 “Qual a relação entre o vício em entorpecentes e a estrutura da personalidade dos viciados?” Outro pesquisador poderia formular o problema sob outro prisma: “Em que medida o vício em entorpecentes é influenciado pelo nível de frustração dos anseios sociais do indivíduo?” Fica claro que cada um dos pesquisadores se orienta numa dire- ção diferente na busca de resposta para o problema, O primeiro pre- tende buscar a resposta no próprio indivíduo, e o segundo na sacieda- de. Refletem, portanto, dois modelos de concepção do homem, Fica claro, pois, que a ideologia do pesquisador. pode influenciar significa- tivamente na escolha do problema. 4.2.5 O modismo na escolha do problema É freguente ser a escolha de um problema determinada por mo- disrno, Quando em países mais desenvolvidos são realizadas com suces- so investigações em determinada área, verifica-se a tendência para re- plicá-las em outros países. Esta situação pode ser claramente verificada no desenvolvimento da pesquisa social no Brasil. O sucesso dos estudos de comunidade nos Estados Unidos fez com que no Brasil fossem desenvolvidas inúmeras pesquisas similares. À realização de estudos sobre preconceito racial nos Estados Unidos também influenciou muitos cientistas sociais bra- sileiros na investigação desse fenômeno. Por outro lado, quando um assunto é amplamente debatido, sobretudo pelos meios de comunicação, passa a ser objeto de interesse dos pesquisadores sociais, Por exemplo, as eleições de 1974 no Brasit, com a significativa vitória das oposições, determinou o interesse pela pesquisa do comportamento eleitoral. Da mesma forma, assuntos como divórcio, legalização do aborto, interesse por futebol, crença -em discos voadores, também amplamente debatidos e divulgados pelos meios de divulgação, tornaram-se objeto de atenção dos pesquisadores sociais. “V43' REGRAS PARA A ADEQUADA FORMULAÇÃO DO PROBLEMA A adequada formulação de um problema de pesquisa não é tare- fadas mais fáceis. Cohen e Nagel (1934, p. 233) chegam a identificar a capacidade de formular problemas camo sina! do gênio científico. “Todavia, a experiência dos pesquisadores saciais já é suficiente para o estabelecimento de algumas regras que facilitam a formulação de pro- “:. blemas de pesquisa. As regras existentes não são absolutamente rígidas, cabendo aos pesquisadores amoldá-las às especificidades dos problemas a serem pes- “quisados. São abaixo apresentadas algumas das regras que, de acordo com os principais autores, são as mais úteis para a adequada formula- ção do problema: a) O problema deve ser formulado como uma pergunta. Este procedimento facilita a identificação da que efetivamente se deseja pesquisar. Pode-se, por exemplo, formular um pro- blema desta maneira: “As estratégias de ensino nas escolas de 29 grau.” Se formulado como pergunta — “Que estraté- gias de ensino são adotadas nas escolas de 20 grau?” — ter- -Se-á um problema mais expt feito. . bJO problema deve ser delimitado a uma dimensão viável. Fregiientemente o problema é formulado de maneira tão ampla que se torna impraticável chegar a uma solução satis- fatória. Nem todos os aspectos do problema podem ser pes- quisados simultaneamente. Torna-se necessário, portanto, reduzir a tarefa a um aspecto que possa ser tratado em um único estudo, ou dividido em subquestões que possam ser tratadas em estudos separados, Um pesquisador pouca experiente poderá propor um pro- blema do tipo: “O que leva os jovens ao alcoolismo?” Ao procurar desenvolver à pesquisa, verificará que os fatores que podem determinar esse fenômeno são inúmeros e que muitos deles já foram razoavelmente estudados. Para conqu- zir a investigação de maneira mais adequada, deverá tomar o problema mais específico. Poderá ser o caso mesmo de desenvolver um estudo exploratório que, mediante a análi- se da literatura existente e a realização de entrevistas junto és pessoas que tiveram experiência com o problema, possibi- lite a formulação de um problema mais preciso. 57 58 c) O problema deve ter clareza. Os termos utilizados devem ser claros, deixando explícito o significado com que estão sendo utilizados. Um problema que envolva, por exemplo, o termo socialização deve ser esclarecido, Este termo, em So- ciologia, refere-se ao processo de integração mais intensa dos indivíduos no grupo; entretanto, a acepção com que é mais utilizado é a de extensão de vantagens particulares à socie- dade inteira, d)O problema deve ser preciso. Embora com significado es- elarecido, nem sempre os termos apresentados na formula- são do problema deixam claro os limites de sua aplicabili- dade. Por exemplo, se uma pesquisa tem como objetivo estu- dar populações com baixo nível de socialização urbana, tor- na-se necessário conferir maior precisão ao conceito, a fim de que se possam conhecer os limites a partir dos quais se pode considerar que uma população apresenta baixo nível de socialização urbana. e) O problema deve apresentar referências empíricas. A obser- vância a este critério nem sempre é fácil nas ciências sociais. É comum esperar dessas ciências respostas para problemas que envolvem juízos de valor, Problemas do tipo “O casa- mento é bom?”, “O parlamentarismo é o mais adequado re- gime político?”, que indagam acerca do certo e do errado das coisas, são valorativos, tornando-se muito difícil, ou mesmo impossivel, testá-los empiricamente. Há que se considerar, também, que o problema do empi- rismo nas ciências humanas é bastante discutível. Há auto- res em Psicologia que seguem a orientação subjetivista, que considera o conhecimento como pura atividade da consciên- cia, negando-lhe o status de existência real. Para estes, o cri- tério do empirismo deixa de ser relevante. Esse questionamento assume contornos epistemológicos, já que envolve os limites do conhecimento científico. O que precisa ficar claro, entretanto, é que à medida que se preten- de estudar um fenômeno cientificamente (conforme a defi- nição de ciência adotada no primeira capítulo), torna-se necessário afastar os jufzos de valor. LEITURAS RECOMENDADAS : 1. SBLLTIZ, Claire et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo, Herder, 1967. Cap. 2. : 2. TRUJNLLO FERRARI, Alfonso. Metodologia da pesquisa científica São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1982: Cap. 7. ' EXERCICIOS E TRABALHOS PRÁTICOS À. Formule problemas de pesquisa a partir dos temas: agressividade, preconceito racial, preferência político-partidária e mobilidade so- cial. Verifique, a seguir, se estes se ajustam às regras apresentadas para a formulação de problemas científicos. 2. Procure analisar em que medida o critério do empirismo na formu- lação do problema pode ser considerado por um pesquisador que tenha decidido adotar o método fenomenológico. “8. Procure relacionar alguns “modismos” que vêm determinando in- teresse pela realização de pesquisas sociais. 4. Peça a várias pessoas para formularem problemas. A seguir, pro- cure classificá-los em problemas científicos, de valor ou de “enge- nharia”. 59 5 A Construção de Hipóteses 5.1 CONCEITUAÇÃO O primeiro passo a ser dado numa pesquisa científica, como foi esciarecido no capítulo anterior, é a formulação clara de um problema. O seguinte é a construção de hipóteses. Muitas definições são propostas para o termo hipótese. Para Goade e Hatt (1969, p. 75) “6 uma proposição que pode ser caloca- da a prova para determinar sua validade”. Neste sentido, hipótese é uma' suposta resposta ao problema a ser investigado. É uma proposi- são que se forma e que será aceita ou rejeitada somente depois de devi- damente testada. . O papel fundamental da hipótese na pesquisa é sugerir explica- ções para os fatos. Essas sugestões podem ser a solução para o proble- ma, Podem ser verdadeiras ou falsas, mas, sempre que bem elaboradas, conduzem à verificação emp írica, que é o propósito da pesquisa cien- tífica. 5.2 TIPOSDE HIPÓTESES 5.2,1 Hipóteses casuísticas Algumas hipóteses referem-se a algo que ocorte em determinado caso; afirmam que um objeto, ou uma pessoa, ou um fato específico tem determinada característica. Por exempio, pode-se formular a hipótese de que Shakespeare nunca existiu; que as obras literárias «a. ele atribuídas foram na realidade escritas por outras pessoas, Outro “exemplo: o livro Moisés e o monoteísmo, de Freud, inicia-se com a hipótese de que Moisés era egípcio e não judeu. As hipóteses casuísticas são muito frequentes na pesquisa histó- fica, em que os fatos são tidos como “únicos”, no sentido de que não se:repetem. “5.2.2 Hipóteses que se referem à fregiiência de acontecimentos “+ Hipóteses deste tipo aparecem em pesquisas descritivas sobretu- do:no âmbito da Antropologia, Sociologia e Psicologia Social. De mo- “:do:geral, antecipam que determinada caracter Ística ocorre, com maior “ou menor intensidade, num grupo, sociedade ou cultura. Por exemplo, pode-se formular a hipótese de que o hábito de ler romances policiais é muito intenso num grupo de universitários. Ou então a hipótese de “que a-erença em horóscopos é muito difundida entre os habitantes de determinada cidade. 523 Hipóteses que estabelecem relações entre variáveis *:5,2.3,1 VARIÁVEIS E SUAS RELAÇÕES As hipóteses deste grupo são mais complexas que as dos anterio- res. Hã autores que chegam a considerar que só a partir deste nível é que se tem rigorosamente hipóteses. Assim, Kerlinger (1980, p. 38) “define hipótese como “um enunciado conjetural das relações entre duas ou mais variáveis”, O termo variável é dos mais empregados na linguagem das ciên- “sglas sociais. À apreensão correta de seu significado é necessária para a adequada caracterização das hipóteses deste grupo. De maneira bastante prática, pode-se dizer que variável é qual- quer coisa que pode ser classificada em duas ou mais categorias. “Se- xo”, por exemplo, É uma variável, pois envolve duas categorias: mas- culino e feminino. “Classe Social” também é variável, já que envol- * veídiversas categorias, como alta, média e baixa. Também idade cons- titui uma variável, podendo abranger uma quantidade infinita de valo- res numéricos. Outros exemplos de variáveis são: estatura, estado civil, 81 66 ter jornais conservadores e os esquerdistas a ler jornais de esquerda. Neste caso, a influência entre as variáveis leitura de jornais e ideologia palítica atua nos dois sentidos. Convieções conservadoras levam a pes- soa a preferir notícias conservadoras e, por outro tado, essas mensa- gens reforçam as convicções conservadoras. 5.3 FONTES DE HIPÓTESES As hipóteses originam-se das mais diversas fontes. Algumas deri- vam da simples observação dos fatos. Outras de pesquisas já realiza- das. Há hipóteses que são obtidas a partir de teorias e outras que têm origem na intuição, À observação dos fatos constitui o procedimento fundamental na construção de hipóteses. O estabelecimento assistemático de rela- ções entre fatos no dia-a-dia é que fornece os indícios para a solução dos problemas propostos peta ciência, Todavia, por si só, essas hipó- teses oferecem poucas possibilidades de se chegar a um conhecimento suficientemente geral e explicativo. As hipóteses decorrentes dos resultados de outra pesquisa condu- zem a conclusões mais amplas. À medida que uma hipótese se baseia em estudos anteriores, e se o estudo em que se insere a confirma, o resultado auxilia na demonstração de que a relação se repete regutar- mente. Por exemplo, se uma pesquisa realizada-nos Estados Unidos confirma que empregados de nível elevado são menos motivados por salários que por desafios, e pesquisa posterior..a confirma no Brasil, estes resultados passam a gozar de significativo grau de confiabilidade. As hipóteses derivadas de teorias são as mais interessantes no sen- tido de que proporcionam ligação clara com o conjunto mais amplo de conhecimentos das ciências sociais. Todavia, nem sempre isto se-torna possível, visto que muitos campos da ciência social carecem de-teorias suficientemente esclarecedoras da realidade. : Também há hipóteses derivadas de simples palpites ou de intui- ções. A história da ciência registra vários casos de hipóteses desse tipo que conduziram a importantes descobertas. Como, porém, as intuí- ções, por sua própria natureza, não deixam claro as razões que as de: terminaram, torna-se difícil avaliar a priori a qualidade dessas hipó- teses. 4 CARACTERISTICAS DA HIPÓTESE APLICÁVEL Nem..todas as hipóteses são testáveis. Com fregiência, os pes- quisadores elaboram extensa relação de hipóteses e, depois de detida análise; -descartam a maior parte delas. Para que uma hipótese possa ser:considerada logicamente aceitável, deve apresentar determinadas “Sgaracterísticas. Abaixo são considerados aíguns requisitos, baseados “principalmente em Goode e Hatt (1969) e McGuigan (1976), median- tes 05: quais se torna possível decidir acerca da testabilidade das hipó- teses... “a). Deve. ser conceitualmente clara. Os conceitos contidos na »- hipótese, particularmente os referentes a variáveis, precisam estar claramente definidos. Deve-se preferir as definições operacionais, isto é, aquelas que indicam as operações parti- culares que possibilitam o esclarecimento do conceito. Por exemplo, uma hipótese pode-se referir a nível de retigiasi- dade, que será definido operacionalmente a partir da fre- quência aos cultos religiosos. b) Deve ser específica. Muitas hipóteses são conceitualmente « = Claras, mas não expressas em termos tão gerais, e com objeti- va tão pretensioso, que não podem ser verificadas. Por exempio, o conceito de status social é claro; entretanto, não existe atualmente definição operacionat capaz de deter- “minar satisfatoriamente a posição dos indivíduos na socie- dade. Por essa razão são preferíveis as hipóteses que especi- ficam o que de fato se pretende verificar. Poderá mesmo ser ocaso de dividir a hipótese ampia em sub-hipóteses mais precisas, referindo-se a remuneração, ocupação, nível edu- cacional etc. 2 e)bDeve ter referências empíricas. As hipóteses que envolvem julgamentos de valor não podem ser adequadamente testa- das. Palavras como bom, mau, deve e deveria não conduzem à verificação empírica, devenda ser evitadas na construção de hipáteses. A afirmação “Maus alunos não devem ingressar em faculdades de medicina” pode ser tomada como exem- plo de hipótese que não pade ser testada empiricamente. Paderia ser o caso de se apresentá-la sob 3 forma “Alunos com baixo nível de aproveitamento escolar apresentam maiores dificuldades para o exercício da profissão de médi- 8 as vo”. Neste caso, a hipótese envolve conceitos que podem ser verificados pela observação. dj Deve ser parcimoniosa. Uma hipótese simples é sempre preferível a uma mais complexa, desde que tenha o mesmo poder explicativo. A lei de Lioyd Morgan constitui impor- tante guia para a aplicação do princípio da parcimônia à pesquisa psicológica: “nenhuma atividade mental deve ser interpretada, em termos de processos psicológicos mais al- tos, se puder ser razoaveimente interpretada por processos mais baixos na escala de evolução e desenvolvimento psico- lógico” (Morgan, 1906, p. 59). Um exemplo citado por McGuigan (1976, p. 53) esclarece este requisito. Se uma pes- soa adivinhou corretamente o símbolo de um número maior de cartas do que seria provável casualmente, pode-se levan- tar uma série de hipóteses para explicar o fenômeno. Uma delas poderia considerar a percepção extra-sensorial e outra que o sujeito espiou de alguma forma. É lógico que a última é a mais parcimoniosa e deve ser a preferida, pelo menos num primeiro momento da investigação, e) Deve estar relacionada com as técnicas disponíveis. Nem sempre uma hipótese teoricamente bem elaborada pode ser testada empiricamente, É necessário que haja técnicas ade- quadas para a coleta dos dados exigidos para seu teste. Por essa razão, recomenda-se aos pesquisadores o exame de rela- tórios de pesquisa sobre o assunto a ser investigado, com vis- tas no conhecimento das técnicas utilizadas. Quando não forem encontradas técnicas disponíveis para o teste das hipóteses, o mais conveniente passa a ser a realização de uma pesquisa sobre as técnicas de pesquisa necessárias. Ou, então, a reformulação da hipótese com vistas no seu ajusta- mento às técnicas disponíveis. t) Deve estar relacionada com uma teoria, Em muitas pesqui- sas sociais este critério não é considerado. Entretanto, as hipóteses elaboradas sem qualquer vinculação às teorias exis- tentes não possibilitam a generalização de seus resultados. Goode e Hatt (1969, p. 63) citam o exemplo das hipóteses relacionando raça e nível intelectual, que foram testadas nos Estados Unidos, no período compreendido entre as duas guerras mundiais. Mediante a aplicação de testes de nível in- telectual, verificou-se que Tilhos de imigrantes italianos e negros apresentavam nível intelectual mais baixo que os americanos de origem anglo-saxônica. Estas hipóteses, po- rém, embora confirmadas, são bastante críticas quanto à sua generalidade, Há teorias sugerindo que a estrutura intelec- tual da mente humana é determinada pela estrutura da socie- dade. A partir dessas teorias foram elaboradas várias hipó- teses relacionando o nível intelectual às experiências por que passaram os indivíduos. Essas hipóteses faram confir- madas e, por se vincularem a um sistema teórico consistente, possuem maior poder de explicação que as anteriores. “LEITURAS RECOMENDADAS GOODE, William 3. & BATT, Paul K. Métodos em pesquisa social. São Paulo, Nacional, 1969. Cap. 6. MeGUIGAN, Frank Joseph. Psicologia experimental; uma abordagem metodoló- gica. São Paulo, EPU/EDUSP, 1976. Cap. 3. EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS - Formule várias hipóteses indicando causas de determinado fenôme- o-social. Em seguida, identifique as variáveis contidas nessas hipó- “teses e classifique-as em independentes e dependentes. 2Formule várias hipóteses e depois indique o tipo de pesquisa (explo- “oratória, descritiva ou explicativa) a que correspondem. onstrua algumas hipóteses que envolvam relações causais entre riáveis e depois verifique se a variável independente. é de fato con- ição necessária o suficientes para a ocorrência do fenômeno. “Analise relatórios de pesquisa e identifique as hipóteses elaboradas pelos pesquisadores. 89 70 6 O Delineamento da Pesquisa 6.1 CONCEITUAÇÃO A formulação do problema, a construção de hipóteses e a iden- tificação das relações entre variáveis constituem passos da estabele- cimento do marco teórico ou sistema conceitual da pesquisa. À me- dida que estas tarefas são plenamente realizadas, o trabalho de inves- tigação assume o caráter de um sistema coordenado e coerente de conceitos e proposições. O estabelecimento desse marco teórico, ou sistema conceitual, que deriva fundamentalmente de exercícios ló- gicos, é essencial para que o problema assuma significado científico. Todavia, por si só, estas tarefas não possibilitam colocar o problema em termos de verificação empírica. Torna-se, pois, necessário, para confrontar a visão teórica do problema, com os dados da realidade, definir o delineamento da pesquisa. O delineamento refere-se ao planejamento da pesquisa em suá dimensão mais ampla, envolvendo tanto a sua diagramação quanto a previsão de análise e interpretação dos dados. Entre outros aspectos, o delineamento considera o ambiente em que são coletados os dados, bem como as formas de controle das variáveis envolvidas. Com o delineamento da pesquisa, as preocupações essencial- mente lógicas e teóricas da fase anterior cedem lugar aos problemas mais práticos de verificação. O delineamento ocupa-se precisamente do contraste entre a teoria e os fatos e sua forma é a de uma estráfé- gia ou plano geral que determine as operações necessárias para fazê- “lo. Constitui, pois, o delineamento a etapa em que o pesquisador passa a utilizar os chamados métodos particulares, já que estará preocupado fundamentalmente com os meios técnicos da investigação. 6.2 ADIVERSIDADE DE DELINEAMENTOS Geralmente, a solução dos problemas de pesquisa ocorre median- te o teste das hipóteses. Considerando que há muitas possibilidades de testar hipóteses, surge grande variedade de delineamentos. Pode-se mesmo dizer que cada pesquisa possui um delineamento próprio, peculiar, determinado peio objeto de investigação, pela dificuldade na obtenção dos dados, pelo nível de precisão exigido e pelos recur- sos materiais de que dispõe o pesquisador. Por essa razão, as propos- tas de classificação dos vários tipos de delineamento referem-se sem- pre a abstrações, a tipos ideais, que se aproximam mais ou menos dos delineamentos concretos, O elemento mais importante para a identificação de um delinea- mento é o procedimento adotada para a coleta de dados. Assim, po- dem ser definidos dois grandes grupos de delineamentos: aqueles que se valem das chamadas fontes de “papel” e aqueles cujos dados são fornecidos por pessoas. No primeiro grupo estão a pesquisa biblio- gráfica e a pesquisa documental, No segundo estão a pesquisa expe- rimental, a pesquisa expost-facto, o levantamento e o estudo de caso. Esta classificação não pode ser tomada como absolutamente rígida, visto que algumas pesquisas, em função de suas caracter ísti- cas, não se enquadram facilmente num ou noutro modelo. Entretan- to, na maioria dos casos, torna-se possível rotular as pesquisas com base nos títulos retrodefinidos. 6.3 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA A pesquisa bibliográfica é desenvalvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de tra- balho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir-de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios podem. ser definidos como pesquisas bibliográficas, assim como cer- to: número de pesquisas desenvolvidas a partir da técnica de anátise de.conteúdo. “A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Esta” vantagem se torna particularmente importante quando o pro- A -se sobre elas como se estivessem submetidas a controles. Por exem- pio, se em determinada região existem duas cidades com aproxima- damente o mesmo tamanho, o mesmo tempo de fundação e caracte- rísticas sócio-culturais semelhantes e numa delas se instala uma in- dústria, as modificações que aí se produzirem poderão ser atribuídas a esse fato, já que a presença da indústria constitui o único fator re- levante observado numa cidade e não na outra. Como se pode notar, 0 raciocínio aqui utilizado em nada difere do adotado no delineamento experimental; apenas os fatos são dife- rentes, porque no delineamento ex-post-facto são espontâneos. Às ciências sociais valem-se muito destes tipos de delineamento. Quase todos os trabalhos destinados à investigação de determinantes econômicos e sociais do comportamento de grandes aglomerados sociais se fundamentam numa lógica deste tipo. Nos estudos que envolvem a sociedade global, o delineamento expost-facto é insubsti- tuível, posto ser o único que possibilita a consideração dos fatores históricos, que são os fundamentais para a compreensão das estru- turas sociais. Assim, por exemplo, o estudo das crises econômicas do desenvolvimento das estruturas políticas e das diversas formações sociais conduzem inevitavelmente a este tipo de delineamento. 6.7 LEVANTAMENTOS As pesquisas deste tipo se caracterizam pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida, mediante aná- lise quantitativa, obter as conclusões correspondentes aos dados co- letados. : Quando o levantamento recolhe informações de todos os inte- grantes do universo pesquisado, tem-se um censo. Pelas dificuldades materiais que envolvem sua realização, os censos só podem ser desen- valvidos pelos governos ou por instituições de amplos recursos. São extremamente úteis, pois proporcionam informações gerais acerca das populações, que são indispensáveis em boa parte das investiga- ções sociais. Na maioria dos levantamentos, não são pesquisados todos os in- tegrantes da população estudada. Antes seleciona-se, mediante pro- cedimentos estatísticos, uma amostra significativa de toda o universo, 76 que é tomada como objeto de investigação. As conclusões obtidas a É À À amfainisanblto gd partir desta amostra são projetadas para a totalidade do universo, levando em consideração a margem de erro, que é obtida mediante cálculos estatísticos. Os levantamentos por amostragem gazam hoje de grande popu- laridade entre os pesquisadores sociais, a ponto de muitas pessoas chegarem mesmo a considerar pesquisa e levantamento spcial a mesma coisa. Na verdade, o levantamento social é um dos muitos tipos de pesquisa social que, como todos os outros, apresenta vantagens e Hmitações. Dentre as principais vantagens dos levantamentos estão: a) Conhecimento direto da realidade. À medida que as pró- prias pessoas informam acerca de seu comportamento, cren- ças e opiniões, a investigação torna-se mais livre de inter- pretações calcadas no subjetivismo dos pesquisadores. b) Economia e rapidez. Desde que se tenha uma equipe de entrevistadores, codificadores e tabuladores devidamente treinados, torna-se possível a obtenção de grande quantida- de de dados em curto espaço de tempo. Por outro lado, quando os dados são obtidos mediante questionários, os custos tornam-se relativamente baixos. c) Quantificação. Os dados obtidos mediante levantamentos podem ser agrupados em tabelas, possibilitando a sua aná- lise estatística, As variáveis em estudo podem ser codifica- das, permitindo o uso de correlações e outros procedimen- tos estatísticos. À medida que os levantamentos se valem de amostras probabilísticas, torna-se passível até mesmo conhecer a margem de erro das resultados obtidos. Dentre as principais limitações dos levantamentos estão: a) Enfase nos aspectos percenptivos. Os levantamentos reco- lhem dados referentes à percepção que as pessoas têm acer- ca de si mesmas. Ora, a percepção é subjetiva, o que pode resuktar em dados distorcidos. Há muita diferença entre o que as pessoas fazem ou sentem e o que elas dizem a esse respeito. Existem alguns recursos para contornar este pro- blema. É possível, em primeiro lugar, omitir as perguntas que sabidamente a maioria das pessoas não sabe ou não quer responder. Também se pode, mediante perguntas in- diretas, controlar as respostas dadas pelo informante. To- 77 davia, estes recursos, em muitos dos casos, são insuficientes para sanar os problemas considerados. b) Pouca profundidade no estudo da estrutura e dos processos sociais. Mediante levantamentos é possível a obtenção de grande quantidade de dados a respeito dos indivíduos. Co- mo, porém, os fenômenos sociais são determinados sobre- tudo por fatores interpessoais « institucionais, os levanta- mentos mostram-se pouco adequados para a investigação profunda desses fenômenos. e) Limitada apreensão do processo de mudança, O levanta- mento, de mado geral, proporciona uma visão estática do fenômeno estudado. Oferece, por assim dizer, uma espécie de fotografia de determinado problema, mas não indica suas tendências à variação e muito menos as possíveis mu- danças estruturais. Como tentativa de superação dessas limitações, vêm sendo desenvolvidos com fregiiência cres- cente os levantamentos do tipo painel, que consistem na coleta de dados da mesma amostra ao longo do tempo. Muitas informações importantes têm sido obtidas medi- ante esses procedimentos, particularmente em estudos sobre nível de renda e desemprego. Entretanto, os levan- tamentos do tipo painel apresentam séria limitação, que é 4 a progressiva redução da amostra por causas diversas, tais como mudança de residência e fadiga dos respondentes. Consideranda as vantagens e limitações expostas, pode-se dizer que os levantamentos tornam-se muito mais adequados para estudos descritivos que explicativos. São inapropriados para o aprofunda- mento dos aspectos psicológicos e psicossociais mais complexos, po- rém muito eficazes para problemas menos delicados como preferência eleitoral, comportamento do consumidor. São muito úteis para q estudo de opiniões e atitudes, porém pouco indicados no estudo de problemas referentes a relações e estruturas sociais complexas. 8.8 O ESTUDO DE CASO . O estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaus- tivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir conheci- mento amplo e detalhado do mesmo; tarefa praticamente impossí- vel mediante os outros delingamentos considerados. Este delineamento se fundamenta na idéia de que a análise de uma unidade de determinado universo possibilita a compreensão da generalidade do mesmo ou, pelo menos, o estabelecimento de bases para uma investigação posterior, mais sistemática e precisa. A expe- riência acumulada com delineamentos desta natureza confere vali- dade a essa suposição, muito embora não seja possível sua sustentação do ponto de vista lógico. Isto porque pode ocorrer que a unidade escolhida para o estudo do caso seja bastante anormai dentre as mui- tas de sua espécie, o que conduziria a conclusões totalmente errô- neas. Se, por exemplo, um pesquisador está interessado em conhecer a estrutura e O funcionamento das comunidades eclesiais de base, ao escolher uma para investigação, supõe que todas as comunidades apresentam algumas características comuns que naturalmente estarão presentes naquela que foi tomada para estudo. Não terá, porém, esse pesquisador a garantia plena de que a comunidade escolhida seja representativa de seu universo. A impossibilidade de generalização dos resultados obtidos com o estudo de caso constitui séria limitação deste tipo de delineamento. Todavia, o estudo de caso é muito frequente na pesquisa social, de- vido à sua relativa simplicidade e economia, já que pode ser realizado por um único investigador, ou por um grupo pequeno e não requer a aplicação de técnicas de massa para coleta de dados, como ocorre nos levantamentos. A maior utilidade do estudo de caso é verificada nas pesquisas exploratórias. Por sua flexibilidade, é recomendável nas fases iniciais de uma investigação sobre temas complexos, para a construção de hipóteses ou reformulação do problema. Também se aplica com per- tinência nas situações em que o objeto de estudo já é suficientemente conhecido a ponto de ser enquadrado em determinado tipo ideal. Por exemplo, se as informações disponíveis fossem suficientes para afir- mar que existem três tipos diferentes de comunidades de base e hou- vesse interesse em classificar uma comunidade específica em algum desses tipos, então o estudo de caso seria o delineamento mais ade- quado, Alguns dos inconvenientes do estudo de caso podem ser su- perados estudando-se certa variedade de casos. Isto exige, porém, que se tenha algum conhecimento prévio do universo. Sabino (1979, p. 110) indica alguns critérios para selecionar os casos. São eles: a) Buscar casos típicos. Trata-se de explorar objetos que, em função da informação prévia, pareçam ser a melhor ex- pressão do tipo ideal da categoria, 79 so b) Selecionar casos extremos. A vantagem da utilização de casos extremos está em que podem fornecer uma idéia dos timites dentro das quais as variáveis podem oscilar. ce) Tomar casos marginais, Trata-se de encontrar casos atípi- Sos ou anormais para, por contraste, conhecer as pautas dos casos norrnais e -as possíveis causas de desvio. Quando os pesquisadores tomam a precaução de selecionar os casos adequadamente, mediante estes e outros critérios, é possível que as conclusões do estudo apresentem um valor muito alto e que possam ser generalizadas para todo o universo, com razoável grau de confiança. LEITURAS RECOMENDADAS TRUJLLO FERRARI, Alfonso. Metodologia da pesquisa científica. São Paul McGraw-Hill do Brasil, 1982. Cap. 7. o FESTINGER, Leon & KATZ, Daniel. A pesquisa na psicologia social Rio de Taneiro, Fundação Getúlio Vargas, 1974. Caps. 1-4. EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1. Formuis um problema de pesquisa e localize materia! bibliográ- fico presumivelmente importante para o seu desenvolvimento. 2. Formule problemas de pesquisa no âmbito das ciências sociais gue possam ser pesquisados experimentalmente. 3. Analise relatórios de pesquisas e procure classificálas de acordo com os vários tipos de delineamento. 4. Formule problemas de pesquisa cujos dados possam ser obtidos exclusivamente a partir da análise de documentos. à É A Operacionalização das Variáveis 7.1 O ESQUEMA DE OPERACIONALIZAÇÃO Na pesquisa social há uma fase essencialmente teórica, que é a de formulação do problema e de sua inserção numa perspectiva mais ampla; o que geralmente envolve a construção de hipóteses e a iden- tificação dos nexos entre as variáveis, A seguir, vem o delineamento da pesquisa, que indica de que maneira os conceitos e as variáveis devem ser colocados em contato com os fatos empíricos para a obten- ção de: respostas significativas. Resta, ainda, outra tarefa, que é in- dispensável para que se possa obter os dados necessários ao teste das hipóteses. É a operacionalização das variáveis, que pode ser definida como o processo que sofre uma variável (ou um conceito) a fim de se encontrar os correlatos empíricos que possibilitem sua mensura- ção ou classificação. Quando se pretende que uma proposição atinja o status de hi- pótese científica, é condição básica que seja passível de refutação empírica. Para tanto, suas variáveis devem ser operacionalizadas, ou seja, traduzidas em conceitos mensuráveis, Boa parte das variáveis identificadas nas pesquisas sociais correspondem à categoria de “fatos sociais não manifestos”, de acordo com a terminologia de Durkheim. Como a prova empírica exige medição, é necessário estudar estes fatos não manifestos por intermédio de fatos manifestos que os re- presentem. Ou seja, é necessário definir as variáveis teóricas em termos de variáveis empíricas. O processo lógico de operacionalização de uma variável requer primeiramente .a definição teórica da variável e a enumeração de suas dimensões, no caso de ser uma variável muito complexa. A seguir, 81 6 de maneira tal que se obtenha um valor total, que é denominado índice. Um exempio prático, para fins didáticos, acerca da construção de índices é o referente à variável “exposição aos meios de comunicação de massa”, apresentada por Sabino (1979, p. 140). Existem muitos meios de comunicação de massa na sociedade moderna, sendo o cine- ma, a televisão, o rádio e os jornais os mais importantes. Assim, podem ser identificadas quatro dimensões da variável, que correspondem à ex- posição a cada um dos meios de comunicação. Os indicadores dessas dimensões, por sua vez, podem ser definidos como a intensidade do contato que um indivíduo ou grupo tem com, esses meios. Mais espe- cificamente: e Exposição ao cinema: frequência mensal de assistência a filmes no cinema, s Exposição ao rádio: média semanal de horas escutadas. » Exposição à TV: média semanal de horas assistidas. e Exposição aos jornais: média semanal de jornais lidos. Após a definição dos indicadores, a tarefa seguinte é a constru- ção de escalas que possibilitem medir cada um dog indicadores, No caso; da exposição ao cinema, a escala poderá ser constituída de três valores, correspondendo a baixa, média e alta exposição. Cada um desses três graus de exposição estará associado a uma conduta expres- sa em termos quantitativos que, por sua vez, apresentará uma equiva- lência numérica. Dessa forma, ter-se-á: Tabela 7.1. Valores escalares correspondentes à exposição ao cinema. CONCEITOS CONDUTAS ESSALARES Baixa exposição Vai menos de uma vgz por mês ao cinema 0 Média exposição Vai de uma a trãs vezes por mês ao cinema 1 Exposição alta Vai mais de três vezes por mês ao cinema 2 Para cada um dos outros meios de comunicação será realizada ta- refa semelhante. Assim, serão constru ídas as seguintes escalas: Tabela 7.2. Valores escalares correspondentes à exposição ao rádio. conceiTOS conDuTAs ESCALARES lhfima exposição | Menos de uma hora semanal de audição D Fraca exposição De 1a 3 horas semanais de audição 1 Média exposição De mais de 3 horas até 10 horas semanais 2: de audição Alta exposição Mais de 10 horas semanais de audição 3 Tabela 7.3. Valores escalares correspondentes à exposição à TV, VALORES CONCEITOS CONDUTAS ESCALARES Infima exposição Menas de uma hora semanal o Baixa exposição De 13 horas semanais 1 Média exposição De mais de 3 até 10 horas semanais 2 Alta exposição De mais de 10 até 20 horas semanais, 3 Muito alta exposição Mais de 20 horas semanais 4 Tabela 74, Valores escalares correspondentes à exposição a jornais. E: concertos CONDUTAS Es [ínfima exposição | Menos de 1 jornal lido por semana 0 Baixa exposição De 1 a 3 jomais lidos por semana 1 Média exposição De4a 7 jornais tidos por semana 2 Alta exposição Mais de 7 jornais lidos por semana 3 De posse destas quatro escalas, uma para cada indicador, pode- -se chegar à elaboração do índice, Para tanto será necessário: a) igualar as escalas entre si; 6 b) panderar os indicadores. Para igualar as escalas, toma-se um valor único que corresponde- rá ao máximo de cada uma delas, De modo geral, toma-se -o..valor 100, por ser o mais prático. Dessa forma, a pessoa mais exposta a cada 87 um dos meios de comunicação receberá o valor 100 e à menos expos- ta, o valor zero. A escala referente ao cinema, que originalmente variava de zero a dois, passa a variar de zero a 100. O valor intermediário, que era um, passa a ser 50 na nova escala. As escalas referentes ao rádio e aos jomais, que apresentavam quatro valores, passam a ter os seguintes valores proporcionais. VALOR ORIGINAL VALOR PROPORCIONAL o o 1 33 2 7 3 400 Por fim, a escala referente à TV, que abrangia cinco pontos, passa a ter os seguintes valores. VALOR ORIGINAL VALOR PROPORCIONAL o o 1 25 2 so 3 75 4 100 Igualadas as escalas, a tarefa seguinte passa a ser a de pondera- ção dos indicadores. Esta ponderação se faz necessária porque é ra- zoável considerar que os vários meios de comunicação exercem in- fluência maior ou menor sobre o público, É sabido, por exemplo, que a influência proporcionada pela exposição à TV é maior que a exposição ao cinema, A ponderação dos indicadores objetiva, por tanto, estabelecer o peso da influência relativa que cada indicador tem em relação à variável. Para tanto, serão atribuídos valores numé- ricos a cada indicador de forma tal que a relação entre eles reflita sua maior ou menor importância dentro do conjunto. : A ponderação dos itens exige conhecimento prévio acerca do fenômeno que está sendo medido. No casa aqui considerado, torna- -se necessário saber antecipadamente qual a influência: relativa dos 8 vários meios de comunicação sobre as pessoas. Essa influência varia, naturalmente, em função do tempo e da região considerada, Pesquisas com finalidade especifica poderão esclarecer acerca desses dados. O exemplo aqui considerado é arbitrário, mas suponha-se que se- jam conhecidos os valores: Paraa TV. 10 Para jomais 7 Paraorádio ...... 4 Para ocinema..... 2 Convém ressaltar que estes coeficientes não podem ser canside- rados em qualquer situação. Correspondem a uma realidade especí- fica. Os valores relativos sofrem alteração significativa em função da região e do período considerado. É possível, por exemplo, que em de- terminada localidade o rádio apresente maior poder de influência que a TV, em virtude de ser este último meio pouco difundido na região. Como ilustração para o exemplo aqui considerado, tome-se a situação de uma pessoa que tenha informado que: e Vai ao cinema duas vezes por mês, em média. e Escuta rádio durante 4 ou 5 horas por semana, » Assiste a programas de TV cerca de duas horas diárias. e Lãumjornal por dia. A Tabela 7,5 indica as operações necessárias para a obtenção do índice de exposição referente a essa pessoa. Tabela 7.5. Cálculo do índice de exposição. meios DE | VALORNA | VALOR SOERCIENTE ESCALA |PROPORCIONAL ão! MH Xt2 COMUNICAÇÃO ORIGINAL (13 PONDERAÇÃO Cinema 1 50 2 100 Rádio 2 87 4 268 Tv 3 75 10 750 Jornais 2 67 7 469 Totais 23 1,587 Bg 20 O valor do índice passa a ser, então: 21.587 (= 5 Este índice expressa que para a pessoa considerada existe um grau de exposição de 69 pontos numa escala que vai de um mínimo de zero a um máximo de 100 pontos. Se expresso em termos per- centuais, o grau de exposição dessa pessoa corresponde a 69% do máximo possível. 89 LEITURAS RECOMENDADAS SBLLTIZ, C. et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo, Herder, 1967. Cap. 5. BOUDON, Raymond. Mérodos quantitativos em sociologia. Petrópolis, Vozes, 1971. Cap. 2. EXERCICIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1. Selecione certo número de variáveis e elassifique-as de acordo com o seu nível de mensuração. 2. Selecione indicadores para as variáveis: ideotogia política, prestígio ocupacional, satisfação no trabalho e preconceito racial. 3. Proponha definições operacionais para os conceitos: aspiração pro- fissional, opinião sobre o casamento e nível intelectual. 4. Selecione, por acaso, 20 conceitos de um livro de psicologia ou de sociologia e verifique queis os que mais facilmente poderão ser operacionalizados. À Amostragem na Pesquisa Social 8.1 A NECESSIDADE DA AMOSTRAGEM NA PESQUISA SOCIAL De modo geral, as pesquisas sociais abrangem um universo de elementos tão grande que se torna impossível considerá-los em sua totalidade. Por essa razão, nas pesquisas sociais é muito frequente trabalhar com uma amostra, ou seja, pequena parte das elementos que compõem o universo, Quando um pesquisador seleciona uma pequena parte de uma população, espera que ela seja representativa dessa população que pretende estudar. Para tanto necessita observar os procedimentos de- finidos pela Teoria da Amostragem. A Teoria da Amostragem encontra-se hoje consideravelmente desenvolvida, ficando difícil a qualquer pesquisador justificar a sele- ção de uma amostra sem recorrer a seus princípios. 8.2 CONCEITOS BÁSICOS A definição de alguns conceitos básicos é fundamental para a compreensão do problema da amastragem na pesquisa social, São eles: a) Universo ou população, É um conjunto definido de ele- mentos que possuem determinadas características, Comu: “89 8.4.4, Amostragem por conglomerados À amostragem por conglomerados é indicada em situações em que é bastante difícil a identificação de seus elementos. É o Caso, por exemplo, de pesquisas cuja população seja constituída por todos os habitantes de uma cidade. Em casos desse tipo é passível proceder à seleção da amostra a partir de “congtomerados”. Conglomerados típicos são quarteirões, famílias, organizações, edifícios, fazendas etc. Por exemplo, num ievantamento da população de uma cidade pode-se dispor de um mapa indicando cada um dos quarteirões. Tor- nase possível, então, colher uma amostra de quarteirões e fazer a contagem de todas as pessoas que residem naqueles quarteirões. A partir dessa contagem, é possivel selecionar aleatoriamente os ele- mentos que comporão a amostra. A amostragem por conglomerados é vantajosa quando é elevado O custo de preparação de uma lista de toda a população, Neste caso, basta elaborar a lista da população dos conglomerados e não a da po- pulação total. 8.4.5 Amostragem por etapas À amostragem por etapas pode ser utilizada quando a popula- ção se compõe de unidades distribuídas em diversos estágios. Seja o caso de uma divisão do Exército, que é camposta de regimentos, estes de batalhões, estes de companhias e, por fim, as companhias de pelo- tões. Se houver interesse em selecionar uma amostra de soldados de uma divisão, a amostragem ao acaso poderia implicar selecionar grande número de soldados dispersos pelas várias unidades. A amos- tragem por etapas, neste caso, tomaria uma amostra aleatória, pri- meiro dos regimentos e depois uma dos batalhões que compõem os regimentos selecionados na primeira amostra. A seguir, seria tomada a amostra de batalhões e assim sucessivamente pelas companhias e pe- lotões até se chegar aos soldados, Desta maneira, os soldados seriam selecionados de alguns pelotões e não da divisão inteira, A amostragem por etapas é muito útil quando se deseja pesqui- sar uma população cujos elementos se encontram dispersos em uma grande área, como, por exemplo, um Estado, ou mesma um país. Cabe, no entanto, lembrar que a adoção desta modalidade de amos- tragem implica a pressuposição da homogeneidade das unidades, o 96 que nem sempre ocorre na realidade. 8.4.6 Amostragem por acessibilidade Constitui o menos rigoroso de todos os tipos de amostragem. Por isso mesmo é destitufda de qualquer rigor estatístico. O pesqui- sador seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo. Aplica-se este no de amostragem em estudos explaratórios ou qualitativos, onde não requerido elevado nível de precisão. 8.4.7 Amostragem por tipicidade Também constitui um tipo de amostragem não probabitística e consiste em selecionar um subgrupo da população que, com base nas informações disponíveis, possa ser considerado representativo de toda a população. A principal vantagem da amostragem por tipi- cidade está nos baixos custos de sua seleção. Entretanto, requer can- siderável conhecimento da população e do subgrupo selecionado. Quando esse conhecimento prévio não existe, torna-se necessária a formulação de hipóteses, o que pode comprometer a representati dade da amostra. Por exemplo, para escolher uma cidade típica, com vistas em um estudo sobre o país, o pesquisador deverá procura uma cidade cuja distribuição de renda seja semelhante à do paio como um todo, cujo nível de industrialização se aproxime do nível do país etc. O fato de ser uma cidade típica em relação a alguns as- pectos não assegura que o seja em relação a outros. Daf por que à generalização a partir de uma amostra desse tipo pode ser bastante arriscada. 8.4.8 Amostragem por cotas De todos os procedimentos de amostragem definidos. como não-probabilísticos, este é o que apresenta maior rigar. De medo ge- ral, é desenvolvido em três fases: . a) classificação da população em função de propriedades tidas como relevantes para o fenômeno a ser estudado; bydeterminação da proporção da população a ser colocada em cada classe, com base na constituição conhecida ou presumi- da da população; e : 97 98 c) fixação de cotas para cada observador ou entrevistador en- carregado de seleciónar elementos da população a ser pes- quisada, de modo tal que a amostra total seja composta em observância à proporção das classes consideradas. Este procedimento é usualmente aplicado em levantamentos de mercado e em prévias eleitorais. Tem como principais vantagens o baixo custo e o fato de conferir alguma estratificação à amostra. Contudo, possibilita a introdução de vieses devidos à classificação que o pesquisador faz dos elementos e à seleção não aleatória em cada classe, 8.5 DETERMINAÇÃO DO TAMANHO DA AMOSTRA: 8.5.1 Fatores que determinam o tamanho da amostra Para que uma amostra represente com fidedignidade as caracte- rísticas do universo, deve ser compasta por um número suficiente de casos. Este número, por sua vez, depende dos seguintes fatores: extensão do universo, nível de confiança estabelecido, erro máximo permitido e percentagem com a qual o fenômeno se verifica. 8.5.1.1 AMPLITUDE DO UNIVERSO À extensão da amostra tem a ver com a extensão do universo. Para tanto, os universos de pesquisa são classificados em finitos e infinitos. Universos finitos são aqueles cujo núrhero de elementos não excede a 100.000. Universos infinitos, por sua vez, são aqueles que apresentam elementos em número superior a esse. São assim denominados porque, acima de 100.000, qualquer que seja o núme- ro de elementos do universo, o número de elementos da amostra à ser selecionada será rigorosamente o mesmo. 8.5.1.2 NÍVEL DE CONFIANÇA ESTABELECIDO De acordo com a teoria geral das probabilidades, a distribuição das informações coletadas a partir de amostras ajusta-se geralmente à curva “normal” (curva de Gauss), que apresenta valores centrais elevados e valores externos reduzidos, conforme indica a Figura 8.1. -B0 -20; 10 *0 +20 +30 Figura B.1. Curva “normal”, O nível de confiança de uma amostra refere-se à área da curva | normal definida a partir dos desvios-padrão em relação à sua média. Numa curva normal, a área compreendida por um desvio-padrão à direita e um à esquerda da média corresponde a aproximadamente 68% de seu total, A área compreendida por dois desvios, por sua vez, corresponde a aproximadamente 95,5% de seu total. Por fim, a área compreendida por três desvios corresponde a 99,7% de seu total. Isso significa que, quando na seleção de uma amostra são con- siderados dois desvios-padrão, trabalha-se com um nível de confian- ça de 95,5%. Quando, por sua vez, são considerados três desvios- -padrão, o nível de confiança passa a ser de 99,7%. 8.5.1.3 ERRO MÁXIMO PERMITIDO Os resultados obtidos numa pesquisa elaborada a partir de amostras não são rigorosamente exatos em relação. ao universo de onde foram extraídas. Esses resultados apresentam sempre um erro de medição, que diminui na proporção em que aumenta o tamanho da amostra. O erro de medição é expresso em termos percentuais e nas pesquisas sociais trabalha-se usualmente com uma estimativa deerro entre 3 e 5%. 8.5.1.4 PERCENTAGEM COM QUE O FENÔMENO SE VERIFICA A estimação prévia da percentagem com que se verifica um fe- nômeno é muito importante para a determinação do tamanho da amostra. Por exemplo, numa pesquisa cujo objetivo é verificar qual. 99 a percentagem de protestantes que residem numa cidade, à estimati- va prévia desse número é bastante útil. Se for possível afirmar que essa percentagem não é superior a 10%, será necessário um número de casos: bem menor do que numa situação em que a percentagem presumivet estivesse próxima de 50%. 8.5.2 Cálculo do tamanho da amostra O cálculo do tamanho de uma amostra pode exigir o concurso de procedimentos estatísticos bastante especializados. Estes, todavia, têm sempre o seu fundamento nas fórmulas básicas para o cálculo do tamanho da amostra de populações infinitas e finitas. 8.5.2.1 FORMULA PARA O CÁLCULO DE AMOSTRAS PARA POPULAÇÕES INFINITAS A fórmula básica para o cálculo do tamanho de amostras para populações infinitas é a seguinte: a n pa. ande: n = Tamanho da amostra 5? = Nível de confiança escolhido, expresso em número de desvios-padrão = Percentagem cam a quat o fenômeno se verifica Percentagem complementar (100 - p) Erro máximo permitido " p g e Seja o exemplo acima considerado: verificação do número de protestantes residentes em determinada cidade. Se esta cidade tiver uma população superior a 100.000 habitantes, ter-se-á, em termos estatísticas, uma população infinita. Logo, a fórmula será adequada. Se for possível admitir que ao número de protestantes se situa por volta de 10%, não excedendo essa percentagem, tem-se p = 1D, 100 Consequentemente, q será igual a 100 = 10, ou seja, 90. Se for desejado um nível de confiança bastante alto (superior a 99%), aplicase à fórmula 3 desvios; logo, o? será igual a 3º, ou seja, 9. Se o erro máxima tolerado for de 2%, e? será igual a 22, ou seja, 4. Assim, tem-se a equação: - 92.10.90 | 8.100 n 4 4 1.025 Logo, para atender às exigências estabelecidas, o número de ele- mentos da amostra deverá ser de 1.025. : Se, todavia, for aceito o nível de confiança de 95% (correspon- dente a dois desvios) e um erro máximo de 3%, o número de elemen- tos da amostra será bem menor, como se vê mediante a aplicação da fórmula: 4.10.90 3.600 nego “9 “400 Convém lembrar que neste caso a estimativa da percentagem com a qual o fenômeno se verifica foi estabelecida previamente. Quando isto não é possível, adota-se o valor máximo de p, que é 50. 8.5.2.2 FÓRMULA PARA O CÁLCULO DE AMOSTRAS PARA POPULAÇÕES FINITAS Quando a população pesquisada não supera 100.000 elementos, a fórmula para o cálculo do tamanho da amostra passa a ser a seguinte: Pq n =---2. Lo “CE INDAÃOo? pa. onde: " = Tamanho da amostra q? = Nível de confiança escolhido, expresso em número de desvios-padrão » = Percentagem com a qual o fenômeno se verifica g = Percentagem complementar N = Tamanho da popuiação e? = Erro máximo permitido 101 análise e interpretação, o que lhe confere a sistematização e o contro- le requeridos dos procedimentos científicos. A observação simples apresenta uma série de vantagens, que pode ser assim sintetizada: a) Possibilita a obtenção de elementos para a delimitação de problemas de pesquisa. b) Favorece a construção de hipóteses acerca do problema pesquisado. c) Facilita a obtenção de dados sem produzir querelas ou sus- peitas nos membros das comunidades, grupos ou institui- ções que estão sendo estudadas. Em contrapartida a observação simples apresenta algumas timi- tações, que são: a) É canalizada pelos gostos e afeições do pesquisador. Muitas vezes sua atenção é desviada para o lado pitoresca, exótico ou raro do fenômeno. b)O registro das observações depende, frequentemente, da memória do investigador. , c) Dá ampla margem à interpretação subjetiva ou parcial do i fenômeno estudado. A observação simples é muito útil quando é dirigida ao conhe- cimento de fatos ou situações que tenham certo caráter público, ou que pelo menos não se situem estreitamente no âmbito cas condutas privadas. É, pois, muito apropriada para o estudo das condutas mais manifestas das pessoas na vida social, tais como: hábitos de compra, de vestuário, de convivência social, de fregiiência a lugares públi- cosetc. . Como a observação simples é realizada de forma pouco siste- mática, não é adequada às pesquisas que tenham por objetivo tes- tar hipóteses ou descrever com precisão as características de uma po- pulação ou de um grupo. É, pois, bem mais adequada aos estudos qualitativos, sobretudo âqueies de caráter exploratório. Na observação simples, o primeiro problema a ser enfrentado pelo pesquisador refere-se ao que deve ser observado. Não é fácil, entretanto, oferecer uma resposta satisfatória a esta questão. Como 106 a observação simples é utilizada freqlentemente em estudos explo- EA ratórios, onde os objetivos não são claramente especificados, pode ocorrer que o observador sinta a necessidade de redefinir seus obje- tivos ao longo do processo. Nos estudos descritivos, onde os objetivos são claramente defi- nidos antes da coleta dos dados, a decisão acerca do que deve ser abservada constitui tarefa mais simples. Todavia, pela própria na tursza da observação, o pesquisador precisa estar sempre atento para considerar acontecimentos não previstos. Regras fixas para a tarefa de observação não existem. Apesar disso, é possível a sugestão de alguns itens que, por serem significativos em todas as situações so- ciais, devem ser considerados pelos pesquisadores (Selltiz et al., 1967, p. 234): a) Os sujeitos. Quem são os participantes, quantos são, como estão relacionados entre si? b)O cenário. Onde as pessoas se situam, quais as caracter(s- ticas desse local, com que sistema social pode ser iden- tificado? c) O comportamento social. O que realmente acorre em ter- mos sociais, o que os sujeitos fazem, com quem e com que o fazem? O registro ca observação simples se faz geralmente mediante diárias ou cadernos de notas. O momento mais adequado para o re- gistro é, indiscutivelmente, o da própria ocorrência do fenômeno. Entretanto, em muitas situações é inconveniente tomar-notas no local, pois com isso elementos significativos da situação podem ser perdidos peto pesquisador, e a naturafidade da observação pode ser perturbada pela desconfiança das pessoas observadas. Por essa razão, é conveniente que o pesquisador seja dotado de boa memória e que se valha dos recursos mnemônicos disponíveis para melhorar seu desempenho. Também podem ser utilizados outros meios para O re- gistro da observação, tais como gravadores, câmaras fotográficas, filmadoras etc. Há, porém, que se considerar que em muitas situações a utilização desses instrumentos é contra-indicada, pois podem com- prometer de forma definitiva o processo de observação. 9.3 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE A observação participante, ou observação ativa, consiste na participação real do observador na vida da comunidade, do grupo ou 107 e uma situação determinada. Neste caso, o observador assume, pelo menos até certo ponto, o papel de um membro do grupo. Daí por que se pode definir observação participante como a técnica pela qual se chega ao conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo. A técnica de observação participante foi introduzida na pes- guisa social pelos antropólogos no estudo das chamadas “sociedades primitivas”. A partir daí passou a ser utilizada também pelos antro- Pólogos nos estudos de comunidades e de subculturas especificas. Mais recentemente passou a ser adotada como técnica fundamental nas potudos designados como “pesquisa. participante” (Brandão, 1981). A observação participante pode assumir duas formas distintas: a) natural, quando o observador pertence à mesma comunidade qu grupo que investiga; e b) artificial, quando o observador se integra ao grupo com o objetivo de realizar uma investigação. Na observação artificial, a observador depara-se geralmente com- mais problemas que na observação natural. Em primeiro lugar, precisa decidir se re- velarã o fato de ser um pesquisador ou se tentará a integração no grupo utilizando um disfarce. Depois, precisa considerar, no caso de não revelar os objetivos da pesquisa, se as suas atividades disfarçadas podem prejudicar algum membro do grupo e, nesta hipótese, se os resultados: que vierem a ser obtidos são tão importantes para justi- ficar sua aquisição com esses riscos. A observação participante apresenta, em relação às outras mo- dalidades de ohservação, algumas vantagens e desvantagens. As prin- cipais vantagens podem ser assim relacionadas, com base, principal- STE ponderações do antropólogo Florence Kluckhohn (1946, p. 103-18): a) Facilita o rápido acesso a dados sobre situações habituais em que os membros das comunidades se encontram en- volvidos. b) Possibilita o acesso a dados que a comunidade ou grupo considera de domínio privado. c) Possibilita captar as palavras de esclarecimento gue acom- panham o comportamento dos observados. As desvantagens da observação participante, por sua vez, refe- rem-se especialmente às restrições determinadas pela assunção de pa- 108 péis pelo pesquisador. Este pode ter sua observação restrita a um es- e e trato da população pesquisada. Numa comunidade rigidamente estra- tificada, o pesquisador, identificado com determinado estrato social, poderá experimentar grandes dificuldades ao tentar penetrar em outros estratos, Mesmo quando o pesquisador consegue transpor as barreiras sociais de uma camada a outra, sua participação poderá ser diminuída pela desconfiança, o que implica timitações na gualidade das informações obtidas. Nas comunidades menos estratificadas, o problema de identi- ficação com determinado segmento social é bem menar. Mas, mes- mo assim, o pesquisador tende a assumir uma posição dentro de um grupo social, o que também implica a restrição da amplitude de sua experiência. 9.4 OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA A observação sistemática é freglientemente utilizada em pes- quisas que têm como objetivo a descrição precisa dos fenômenos ou O teste de hipóteses. Nas pesquisas deste tipo, a pesquisador sabe quais os aspectos da comunidade ou grupo que são significativos para alcançar os objetivos pretendidos. Por essa razão, elabora pre- viamente um plano de observação. A observação sistemática pode ocorrer em situações de campo ou de laboratório. Nestas últimas, a observação pode chegar a certos níveis de controle que permitem definia como procedimento qua- se experimental, Muitas das pesquisas realizadas no campo da psi- ecologia experimental foram na realidade desenvolvidas a partir de observação sistemática. Como já foi indicado, na observação sistemática o pesquisador, antes da coleta de dados, elabora um plano específico para a organi- zação e o registro das informações. Isto implica estabelecer, anteci- padamente, as categorias necessárias à análise da situação. Para que as- categorias sejam estabelecidas adequadamente, é conveniente a realização de estudos exploratórios, ou mesmo de es- tudos especialmente dirigidos à construção de instrumentos para re- gistro de dados. Por exemplo, para observar situações de grupo, Bales (1950) criou um sistema que envolvia inicialmente 50 categorias. À medida gue foi acumulando experiência, o número de categorias: também foi reduzindo-se, até chegar à sua versão final, que é cansti- tuída por um conjunto de daze categorias padronizadas de compor- tamento, que é reproduzido na página seguinte. 109 O Sistema de Bales para o Registro de Interação do Grupo 1. Mostra solidariedade, eleva O status g do autro, dá ajuda, prêmio. Área Social- 8 emocional ã 2 Mostra alívio de tensão, brinca, ri, fpositiva) 8 mostra satisfação. “—T Ê + 3. Concoria, mostra eceiteção passiva, compreende, apóla, sibmere-sa, “7 4. Dá sugestão e orientação, supondo a g Eutonomia do autro. 1] E E E 5. Dá opinião, avaliação, análise, expri- Ê me sentimento, desejo. Ê 6. Dé orintação, informação, repeto, esclarsca, confirma. q] Area de Tarefa bede (Noutra) cy) 7. Pede orientação, informeção, repetir | ção, confirmação. B E 8. Pede opinião, avalisção, análise, ex- Ê B pressão de sentimento. “— g 9. Pede sugestão, orlentação, maneiras possíveis da ação. = 10. Discorda, mostra rejeição passiva, for- g malidada, recusa ajuca. — 2 Área Social. É E “empeional g 1“. Mostra tonsão, pede ajuda, afastasa | | iNegative) í Po, B E 12. Mostra antaponkmo, reduz O status do outro, defenda-se, afirma-se. a) Problemas de comunicação bj Problemas de avaliação c) Problemas de controle d) Problemas de decisão e) Problemas de rodução de tensão fi Problemes de reintegração 10 Rsproduzido de Bales, R. F. Interaction process analysis Cambridge, AddisonWestey, 1950. 1 | Também foi indicado que a observação: sistemática é adotada para testar hipóteses. Por exemplo, um estudo desenvolvido numa gomunidade indígena do México (Cancian, 1976) apresentou as se- guintes hipóteses: a) a afeição é correspondida por afeição; bja dominação implica submissão; e c) quanto maior a afeição entre duas pessoas, tanto maior 6 a taxa de interação. Para medição da taxa de interação foi utilizado um sistema envol- vendo quinze categorias formadas pela combinação de três recursos linformação, afeição e dominação) com cinco formas de ação (pedir, dar, negar, aceitar, rejeitar). O registro da observação sistemática é feito fregilentemente mediante à utilização de folhas de papel com a lista de categorias a serem consideradas, e os espaços em que devem ser marcadas gra- vações de som e de imagem também são utilizados quando se preten- de descrever determinado acontecimento com maior precisão. Estes recursos, no entanto, não são suficientes para a obtenção de dados necessários. Torna-se necessário definir as categorias significativas para o registro do comportamento, bem como decidir acerca das unidades de tempo e estabelecer critérios para o registro das ações. - A relação entre o observador e o observado é bastante crítica na observação sistemática. Seu aparecimento, numa situação, precisa ser cuidadosamente preparado para que os membras do grupo possam aceitá-lo. Como de modo geral fica ocupado no registro do comporta- mento em folhas preparadas, fazendo uso de cronômetro e de outros recursos técnicos, o observador não consegue esconder que está fa- zendo pesquisa. Por essa razão, toma-se necessário convencer os observados que o comportamento dos observadores não representa qualquer ameaça ao grupo. “LEITURAS RECOMENDADAS GOODE, William J. & HATT, Paul K. Métodos em pesquisa social São Paulo, Nacional, 1969. Cap. 10 SELLTIZ, Claire. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo, Herder, 1967. Cap. 6 AM a coleta de dados. O que se pretende com entrevistas deste tipo é a obtenção de uma visão geral! do problema pesquisado, bem como a identificação de alguns aspectos da personalidade do entrevistada. A entrevista informal é recomendada nos estudos exploratórios, que visam abordar realidades pouco conhecidas pelo pesquisador, ou então oferecer visão aproximativa do problema pesquisado. Nos estudos desse tipo, com fregiiência, recorre-se a entrevistas informais com informantes-chaves, que podem ser especialistas no tema em es- tudo, líderes formais ou informais, personalidades destacadas etc. Também se recorre a entrevistas informais na investigação de certos problemas psicológicos, onde é importante que o pesquisado expresse livre e completamente suas opiniões e atitudes em relação ao objeto de pesquisa, bem como os fatos e motivações que consti- tuem o seu contexto. Nestes casos, a entrevista informal é denomi- nada entrevista clínica ou profunda e, em algumas circunstâncias, não dirigida. A entrevista clínica exige grande habilidade do pesquisador. Piaget (s/d., p. 11), que a utilizou exaustivamente no estudo das crianças, lembra que: “O bom entrevistador deve, efetivamente, reunir duas qualidades muitas vezes incompatíveis: saber observar, ou seja, deixar a criança falar, não desviar nada, não esgotar nada e, ao mesmo tempo, saber buscar algo de preciso, ter a cada instante uma hipótese de trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para controlar.” 10.3.2 Entrevista focalizada A entrevista focalizada é tão livre quanto a anterior; todavia, enfoca um tema bem específico. O entrevistador permite ao entre- vistado falar livremente sobre o assunto, mas, quando este se desvia do tema original, esforça-se para a sua retomada. Este tipo de entrevista é bastante empregado em situações experimentais, com o objetivo de explorar a fundo alguma experiên- cia vivida em condições precisas. Também é bastante utilizada com grupos de' pessoas que passaram por uma experiência específica, 116 como assistir a um filme, presenciar um acidente etc. Nestes casos, o entrevistador confere ao entrevistado ampla liberdade para expres- sar-se sobre o assunto, A entrevista focalizada requer grande habilidade do pesquisador, que deve respeitar o foco de interesse temático sem que isso impli- que conferir-lhe maior estruturação. 103.3 Entrevista por pautas A entrevista por pautas apresenta certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesse que o entre- vistador vai explorando ao longo de seu curso. As pautas devem ser -ordenadas e guardar certa relação entre si. O entrevistador faz poucas perguntas diretas e deixa o entrevistado falar livremente à medida que refere às pautas assinaladas. Quando este se afasta delas, 0 entre- vistador intervém, embora de maneira suficientemente sutil, para preservar a espontaneidade do processo. As entrevistas por pautas são recomendadas sobretudo nas si- tuações em que os respondentes não se sintam à vontade para respon- der a indagações formuladas com maior rigidez. Esta preferência por um desenvolvimento mais flexível da entrevista pode ser determinada pelas atitudes culturais dos respondentes ou pela própria natureza do tera investigado ou por outras razões. À medida que o pesquisador conduza com habilidade a entre- vista por pautas e seja dotado de boa memária, poderá, após seu término, reconstruíla de forma mais estruturada, tornando possi- vel a sua análise objetiva. 10.34 Entrevista estruturada A entrevista estruturada desenvolve-se a partir de uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanece invariável para todos os entrevistados, que geralmente são em grande número. Por possibilitar o tratamento quantitativo dos dados, este tipo de entre- vista torna-se o mais adequado para o desenvolvimento de levanta- mentos sociais. Entre as principais vantagens das entrevistas estruturadas estão a sua rapidez e o fato de não exigirem exaustiva preparação dos pes- nz quisadores, o que implica custos relativamente baixos. Outra van- tagem é possibilitar a análise estatística dos dados, já que as respostas obtidas são padronizadas. Em contrapartida, estas entrevistas não possibilitam a análise dos fatos com maior profundidade, posto que as informações são obtidas a partir de uma lista prefixada de per- guntas, Esta lista de perguntas é frequentemente chamada de questio- nário ou de formulário. Este último título é preferível, visto que questionário expressa melhor o procedimento auto-administrado, em que o pesquisado responde por escrito as perguntas que lhe são feitas. As entrevistas deste tipo podem assumir maior ou menor grau de estruturação em função do tipo de perguntas que aparecem nos formulários. Estas podem ser abertas ou fechadas. No primeiro caso proporcionam ampla variedade de respostas, pois podem ser expressas livremente pelo respondente. No segundo caso, apenas se oferece ao entrevistado a possibilidade de escolher entre um número limita- do de respostas. Quando a entrevista é totalmente estruturada, com alternativas de resposta previamente estabelecidas, aproxima-se do questioná- rio. Alguns autores preferem designar este procedimento como ques- tionário por contato direto. Outros autores (Goode e Hatt, 1969; Nogueira, 1968; Trujilio Ferrari, 1970), por sua vez, vêem neste pro- cedimento uma técnica distinta do questionário e da entrevista, e O designam como formulário. 10.4 A CONDUÇÃO DA ENTREVISTA Como já foi demonstrado, a entrevista pode assumir diferentes formas. Cada uma delas exige, naturalmente, do entrevistador habi- lidades e cuidados diversos em sua condução. Do responsável pela aplicação de entrevistas estruturadas exige-se apenas mediano nível de inteligência e de cultura, bem como treinamento operacional. Já daquele que vai proceder à condução de uma entrevista profunda, de caráter absolutamente não diretivo, exigem-se profundos conhe- cimentos da personalidade humana e, pelo menos, um ou dois anos de treinamento. Torma-se difícil, portanto, determinar a maneira correta de se 118 conduzir uma entrevista. Isto dependerá sempre de seus objetivos, bem como das circunstâncias que a envolvem. Entretanto, torna-se possível considerar alguns aspectos importantes que são comuns à maioria das modalidades de entrevista. 10.4.1 O estabelecimento do contato inicial Para que a entrevista seja adequadamente desenvolvida, é neces- sário, antes de mais nada, que o entrevistador seja bem recebido. Algumas vezes O grupo de pessoas a ser entrevistado é preparado ante- cipadamente, mediante comunicação escrita ou contato pessoal pré- vio. Outras vezes, todavia, os informantes são tomados de surpresa, o que passa a exigir da pesquisador muito mais habilidade na condu- ção da entrevista. Para iniciar a conversação, o mais aconselhável é falar amistosa- mente sobre qualquer tema do momento que possa interessar ao ên- trevistado. A seguir, o entrevistador deve explicar a finalidade de sua visita, o objetivo da pesquisa, o nome da entidade ou das pessoas que a patrocinam, sua importância para a comunidade ou grupo pesquisado e, particularmente, a importância da colaboração pessoal do entrevistado. Convém, ainda, neste primeiro contato, deixar claro que a entrevista terá caráter estritamente confidencial e que as informações prestadas permanecerão no anonimato. É de fundamental importância que desde o primeiro momento se crig uma atmosfera de cordialidade e simpatia. O entrevistado deve sentir-se absolutamente livre de qualquer coerção, intimidação ou pressão. Desta forma, torna-se possível estabelecer o rapport (quebra de gelo) entre entrevistador e entrevistado. À medida que estas questões preliminares tenham sido sufici- entes para a criação de uma atmosfera favorável, o entrevistador pas- sará a abordar o tema central da entrevista. Como esta atmosfera deve ser mantida até o fim, convém que o entrevistador considere que na situação de pesquisa os únicos elementos mativadores do in- formante são o conteúdo da entrevista e o próprio entrevistador. 10.4,2 A formulação das perguntas Nas entrevistas estruturadas, a formulação das perguntas assu- me um caráter metódico.: Já nas entrevistas não estruturadas o de- senvolvimento das perguntas depende do contexto da conversação. 119 Em ambos os casos, todavia, as perguntas devem ser padronizadas na medida do possível a fim de que as informações obtidas possam ser comparadas entre si. Não existem, naturalmente, regras fixas a serem observadas para a formulação das perguntas na entrevista. Todavia, a experiên- cia de muitos pesquisadores possibilita a formulação de algumas re- comendações que são válidas para a maioria das entrevistas. As mais importantes são: a) só devem ser feitas perguntas diretamente quando o entre- vistado estiver pronto para dar a informação desejada e na forma precisa; b) devem: ser feitas em primeiro lugar perguntas que não con- duzam à recusa em responder, ou que possam provocar algum negativismo; c) deve ser feita uma pergunta de caca vez; d) as perguntas não devem deixar implícitas as respostas; e) convém manter na mente as questões mais importantes até que se tenha a informação adequada sobre elas; assim que uma questão tenha sido respondida, deve ser abando- nada em favor da seguinte. * Nas entrevistas estruturadas, as perguntas devem ser formuladas de maneira tal que correspondam a um estímulo idêntico para todos os informantes. Daí por que nesse tipo de entrevista as questões de- vem ser feitas exatamente como estão redigidas no formulário e-na mesma ordem. O único momento em que se pode madificar esse pro- cedimento é quando o informante não entende a pergunta. Mesmo nestes casas, o entrevistador deve repeti-la textualmente antes da explicação, porque muitas vezes a aparente falta de entendimento corresponde mais a um problema de desatenção do que à incapaci- dade de compreender seu significado. 10.4.3 Estímulo a respostas completas Freglentemente, a pergunta provoca uma resposta incompleta ou obscura. O entrevistador precisa, então, valer-se de alguma técnica para estimular o entrevistado a fornecer uma resposta mais precisa, 20 Isto, porém, deve ser feito de maneira a não prejudicar a padroniza- ção. Uma pergunta da tipo “Você não acha que...” pode sugerir a resposta, não sendo, portanto, recomendada numã entrevista. Há algumas formas de indagação que apresentam maior neutralidade, como as seguintes: “Poderia contar um pouco mais a respeito?” “Qual a causa, no seu entender?” “Qual a sua idéia com relação a este ponto?” “Qual o dado que lhe parece mais exato?” Outro problema que aparece fregiientemente é quando o entre- vistado responde “não sei”, mas fica claro que, na verdade, não se dispõe a pensar. Neste caso, o entrevistador deve estimular o entre- vistado a responder, mas com o devido cuidado para não sugerir a resposta. Pode, para tanto, valer-se de expressões deste tipo: “Enten- do que este é um problema que geralmente não preocupa muito as pessoas, mas gostaria que me falasse um pouco mais a esse respeito.” 1044 O registro das respostas O único modo de reproduzir com precisão as respostas é regis- trálas durante a entrevista, mediante anotações ou com o uso de gravador. A anotação posterior à entrevista apresenta dois inconve- nientes: os limites da memória humana que não possibilitam a reten- são da totalidade da informação e a distorção decorrente dos ele mentos subjetivos que se projetam na reprodução da entrevista. Embora se possa admitir que em certas situações o mais indica- do será não proceder a qualquer anotação no degorrer da entrevista, na maioria dos casos o entrevistador deverá definir previamente um Plano para o registro das respostas. A definição deste plano dependerá de múltiplos fatores, tais coma o tipo de entrevista, o assunto e as características do entrevis- tado, Tratando-se de entrevistas estruturadas, é mais fácil definir os procedimentos a serem adotados para o registro das respostas. Para estes casos, têm sido elaborados até mesmo manuais, tais como a do Survey Research Center, da Universidade de Michigan (citado por Ander-Egg, 1974, p. 117), que recomenda: a) dispor o formulária sobre a mesa ou superfície tisa; b) situar na mesma linha visual o formulário e q entrevistado, para poder observar a um e ao outro sem grandes movimen- tos, centrando a atenção na informante; c) começar a anotar somente depois que o entrevistado come- gar a responder; 121 a) exclui as pessoas que não sabem ler e escrever, o que, em certas circunstâncias, conduz a graves deformações nos resultados da investigação; ' bl impede o auxílio ao informante quando este não entende corretamente as instruções ou perguntas; c) impede o conhecimento das circunstâncias em que foi res- pondido, o que pode ser importante na avaliação da quali- dade das respostas; d) não oferece a garantia de que a maioria das pessoas de- volvam-no devidamente preenchido, o que pode implicar a significativa diminuição da representatividade da amostra; e) envolve, geralmente, número relativamente pequeno de perguntas, porque é sabido que questionários muito exten- sos apresentam alta probabilidade de não serem respondi- dos; ?) proporciona resultados bastante críticos em relação à obje- tividade, pois os itens podem ter significado diferente para cada sujeito pesquisado. 11.3 A CONSTRUÇÃO DO QUESTIONÁRIO “ A construção do questionário consiste basicamente em traduzir os objetivos específicos da pesquisa em itens bem redigidos. Para tanto é necessário que a fixação dos objetivos tenha sido realizada de forma adequada para garantir sua operacionalização. A maior parte do que se sabe a respeito da elaboração de ques- tionários decorre da experiência. Resulta daí que boa parte da que se dispõe nesse domínio é constituída por receitas baseadas no senso comum, sem maior apoio em provas científicas rigorosas ou em teorias. Pode-se, no entanto, determinar alguns aspectos que devem ser observados na elaboração dos questionários de pesquisa. Os mais importantes são esclarecidos a seguir. 11.3.1 A forma das perguntas De acordo com a forma, as perguntas podem ser classificadas 126 em três categorias: abertas, fechadas e duplas. mm E E Perguntas abertas são aquelas em que o interrogado responde com-suas próprias palavras, sem qualguer restrição. Em virtude das dificuldades para tabulação e análise, perguntas deste tipo são pouco recomendadas em estudos descritivos ou explicativos. Cumprem, na entanto, importante papel nos estudos formuladores ou exploratórios. Perguntas fechadas são aquelas para as quais todas as respostas possíveis são fixadas de antemão. Há casos em que são previstas ape- nas as respostas “sim” ou “não” (dicotômicas). Mas há também casos em -que as perguntas admitem número relativamente grande de res- postas possíveis (múltipla escolha). As perguntas duplas, por fim, reúnem uma pergunta fechada e outra aberta, sendo esta última frequentemente enunciada pela forma “por quê?” 11.3.2 O conteúdo das perguntas , O questionário, tal como já foi lembrado, é um instrumento ade- quado para a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos da vida social, Daí por que as perguntas, em função de seu conteúdo, podem ser classificadas em diversas categorias, como é feito a seguir. Há que se reconhecer, entretanto, que nem sempre as perguntas po- dem ser colocadas nitidamente numa ou noutra categoria. As distin- ções entre elas decorrem muito mais de uma questão de hábito ou conveniência do que de rigor técnico. a) Perguntas sobre fatos Estas perguntas referem-se a dados concretos e fáceis de precisar, tais como idade, sexo, estado civil, número de fi- lhos, nacionalidade etc. De modo geral, estas perguntas são respondidas com sinceridade, salvo quando o pesquisado possa supor que' de suas respostas deriva uma consequên- cia negativa para ele, tal como aumento de impostos, des- prestígio social etc, b) Perguntas sobre crenças Estas perguntas referem-se às experiências subjetivas das pessoas, ou seja, dd que as pessoas acreditam que sejam os. fatos. São muito utilizadas em questionários cuja finalidade é fornecer dados sobre preconceitos, ideologias e convic- ções religiosas. 127 c) Perguntas sobre sentimentos As perguntas deste tipo referem-se às reações emocionais das pessoas perante fatos, fenômenos, instituições ou ou- tras pessoas, Medo, desconfiança, desprezo, ódio, inveja, simpatia e admiração são alguns dos sentimentos mais pes- quisados mediante questionários. d) Perguntas sobre padrões de ação As perguntas sobre padrões de ação referem-se generica- mente aos padrões éticos relativos ao que deve ser feito, mas podem envolver considerações práticas a respeito das ações que são praticadas. O interesse destas perguntas está em que podem oferecer um reflexo do clima predominante de opinião, bem como do comportamento provável em si- tuações específicas. í e) Perguntas dirigidas a comportamento presente ou passado O comportamento passado ou presente de uma pessoa é um tipo de fato que ela pode observar de uma posição privi- tegiada. Entretanto, esse tipo de fato é aqui isolado em vir- tude do valor que pode ter para a predição do comporta- mento futuro. O comportamento anterior de uma pessoa em determinada situação constitui sempre indicador expres- sivo de seu compartamento futuro em situações similares. f) Perguntas referentes a razões conscientes de crenças, senti- mentos, orientações ou comportamentos Estas perguntas são formuladas com o objetivo de desco- brir os “porquês”, Embora sejam perguntas simples de se- rem formuladas, há que se considerar que as respostas obti- das referem-se apenas a uma dimensão desses “porquês”: a dimensão consciente. 14,3,3 A escolha das perguntas A escolha das perguntas está condicionada a inúmeros fatores, : tais como: a natureza da informação desejada, o nível sócio-cultural I dos interrogados etc. Algumas regras para a escolha das perguntas podem ser assim 128 enunciadas: I a) devem ser incluídas apenas perguntas relacionadas ao pro- blema pesquisado; b) não devem ser incluídas perguntas cujas respostas podem ser obtidas de forma mais precisa por outros procedi- mentos; c) devem-se levar em conta “as-implicações da pergunta com os procedimentos de tabulação e análise dos dados; d) devem ser incluídas apenas as perguntas que possam ser respondidas sem maiores dificuldades; e) devem ser evitadas perguntas que penetrem na intimidade das pessoas. 1134 A formulação das perguntas O conteúdo da resposta relaciona-se diretamente 3 maneira como foi formulada a pergunta. Algumas normas já consagradas a esse res- peito podem ser assinaladas: a) as perguntas devem ser formuladas de maneira clara, concre- tae precisa; b) deve-se levar em consideração q sistema de referência do interrogado, bem como o seu nível de informação; c) a pergunta deve possibilitar uma única interpretação; d) a pergunta não deve sugerir respostas; e) as perguntas devem referir-se a uma única idéia de cada vez. 11.3.5 O número de perguntas Para definir o número adequado de perguntas é preciso levar em consideração o possível interesse dos respondentes pelo tema pesqui- sado. Entretanto, alguns autores estabelecem como regra geral que o número de perguntas de um questionário não deve ultrapassar a trinta. 129 113.6 A ordem das perguntas A ordem das perguntas, embora com fregúência passe despercebi- da, tem muita importância. Diversas pesquisas demonstram a ocorrên- cia de contágio das respostas umas pelas outras. Por essa razão, torna- -se conveniente dispersar pergunias suscetíveis de contágio. Também têm sido observados problemas decorrentes de mudan- ças bruscas do tema. Para evitá-los, torna-se conveniente marcar niti- damente uma parada e recomeçar a preparação para a fase seguinte, fornecendo as explicações necessárias. 11,3.7 A prevenção de deformações Na etaboração do questionário torna-se necessário levar em consi- deração os mecanismos de defesa social. Estes, de maneira inconscien- te, intervêm na situação de resposta a um questionário. Q redator do questionário deverá, portanto, estar atento a isso. A seguir, são descritas algumas das deformações mais frequentes e as medidas que podem ser tomadas para evitá-las. a) A defesa de fachada Quando o respondente acredita estar correndo o risco de ser julgado, reage oferecendo respostas defensivas, estereoti- padas ou socialmente desejáveis, encobrinde sua real percep- ção acerca do fato. Para minimizar esse efeito, convém evitar que o questio- nário seja iniciado por perguntas que trazem o risco de pro- vocar respostas de fachada. Convém, ainda, formular respo: tas articuladas, a fim de que se possa verificar a autenti dade de uma resposta a partir de outra, ou chegar à verda- deira resposta por inferência, a partir de questóes que isola- damente não trazem o risco de provocar a defensiva. bj A defesa contra a pergunta personalizada As perguntas personalizadas, diretas, que geralmente se iniciam por expressões do tipo “O que você pensa a respeito de ...”, “Na sua opinião...” ete. tendem a provocar respos- tas de fuga. Nessas circunstâncias são frequentes as recusas ou hesitações do tipo “Não sei", “Não estou seguro” e "N tenho opinião”. Para evitar as defesas desse tipo, convém não iniciar o questionário por perguntas que provoquem esse tipo de-rea- ção, Deve-se também preferir a utilização de perguntas indi- retas, quando o tema for delicado, c) A deformação conservadora É natural que as pessoas ofereçam certa resistência à mu- dança. Esta se manifesta pela tendência a responder “sirn” de preferência a “não” e também a oferecer respostas indi- cadoras de conformismo. Para se prevenir para esta causa de deformação, cuidados especiais devem ser tomados na formulação das questões. Deve-se estar atento sobretudo ao “tom” das perguntas, mesmo em sua simples expressão escrita. djO efeito de palavras estereotipadas Certas palavras, quando colocadas numa pergunta, predis- põem as pessoas a respondê-las de forma preferencialmente a outra. Ninguém duvida de que palavras como comunista, nazista, vermelho, crente, burguês são possuidoras de carga emocional suficiente para provocar distorções. Por esta ra- zão, na redação das perguntas, devem ser evitadas as palavras chocantes, efetiva ou socialmente carregadas e substituídas por equivalentes mais neutros. e) A influência da referência a personalidades de destaque A simples referência a uma personalidade de destaque po- de ser suficiente para influir nas respostas, tanto em sentido positivo quanto negativo. Assim, devem ser evitadas, nas questões, referências a pessoas que suscitem simpatia, anti- patia, autoridade moral ou desprezo público. 113.8 A apresentação do questionário A apresentação material do questionário merece particular aten- ção, sobretudo porque as respostas devem ser dadas sem a presença do pesquisador. Como a apresentação material constitui, na maiória dos casos, o mais importante estímulo para a obtenção de respostas, cuidados especiais deverão ser tomados em relação a: ; 481 12.2.2 Fidedignidade Uma escala é tida como fidedigna quando, aplicada à mesma amostra, produz consistentemente os mesmos resultados. Seria inútil uma escala que oferecesse resultados diferentes depois de cada aplica- ção, da mesma forma como teria pouco valor uma régua fabricada com material elástico que se expande em função da força que lhe é aplicada. Para medir a fidedignidade de uma escala, três métodos são habi- tuaimente utilizados: a) Teste-reteste. A escala é duas vezes aplicada à mesma popu- lação e os resultados são comparados. Para tanto, divide-se a população em dois grupos (experimental e de contrale), O primeiro grupo é submetido à apficação da escala por duas vezes, enquanto o segundo é submetido uma única vez. A seguir, comparam-se os resultados da primeira aplicação ao grupo experimental (A) com os da segunda (B) e também com os da única aplicação ao grupo de controle (C). Se B se afasta mais de À do que C de A, provavelmente a primeira aplicação da escala terá afetado as respostas da segunda. b) Formas múltiplas. São constru (das duas escalas bastante cor- relacionadas e aplicadas sucessivamente à mesma amostra. Se os resultados da segunda aplicação forem significativa- mente diferentes dos obtidos na primeira, justifica-se a su- posição de que as escalas não são fidedignas. el Técnica das metades. Aplica-se uma única vez uma escala que tenha sido dividida ao acaso em duas metades. Embora sendo uma única escala, cada um dos dois conjuntos de itens É considerado como uma escala separada. A seguir, correla- cionam-se os valores obtidos nos dois conjuntos. O coefi- ciente constituirá uma medida de fidedignidade. 12.23 Validade Lima escala apresenta validade quando mede realmente o que se propõe a medir. Percebe-se de imediato que isto é muito difícil de ser constatado e pode-se afirmar que em muitos casos não há medidas ade- quadas para serem utilizadas como critério de validade de uma escala. 136 Todavia, as-escalas, para serem úteis, devem apresentar alguma indica- ção acerca de sua validade. Dois são os procedimentos mais utilizados para verificar a validade das escalas e vêm discutidos a seguir: a). Opinião de um júri. A validade de uma escala é confirmada “apartir da opinião de um grupo de pessoas tidas como es- pecialistas no campo dentro do qual se aplica a escala, Por exemplo, se fosse elaborada uma escala para medir atitude perante o trabalho, poderia ser constitu fdo um júri formado por psicólogos, administradores, supervisores e operários. Estas pessoas opinariam acerca dos itens do contínuo e, após a aplicação de medidas estatísticas aos dados obtidos, seria determinada a validade da escala. b) Grupos conhecidos. Neste caso, a validade é obtida a partir das opiniões ou atitudes manifestadas por grupos opostos. Por exemplo, se uma escala é construída para verificar atitu- des em relação ao socialismo, as questões podem ser verifica- das mediante aplicação a um grupo conhecido coma adepto desse regime, Essas questões serão comparadas com aquelas de um grupo conhecido coma hostil ao socialismo. Se a es- cala distingue os dois grupos, pode-se dizer que é válida em relação à mensuração dessa atitude. 12.24 A ponderação dos itens Os itens de uma escala referem-se a qualidades que existem ou estão ausentes na determinação de uma atitude. Essas qualidades precisam ser combinadas para darem lugar a uma variável quantita- tiva. Daí surge a indagação: qual o valor específico de cada uma dessas qualidades no contexto da escala? Ou, em outras palavras: como pon- derar os itens? A ponderação dos itens pode ser feita com o auxílio do júri de especialistas, cujos membras atribuem pesos aos vários itens. Após a aplicação de medidas de tendência central e de dispersão, obtém-se o valor de cada item. Também se pode ponderar os itens mediante: a técnica dos “grupos conhecidos". Neste caso, aplica-se a mesma pr: va de validade a cada um dos itens. Mediante procedimentos estatíst cos aplicados a seguir, pondera-se cada item em termos de sua habi dade de discriminar entre os dois grupos. . 12.2.5 A natureza dos itens Os itens da escala podem ser de dois tipos: direto ou projetivo. O Primeiro é constituído por aqueles itens que são apresentados sob a forma de enunciados referentes à opinião ou atitude que está sendo medida, cabendo ao pesquisado indicar sua concordância ou discor- dância em relação a eles. Os itens projetivos são apresentados como es- tímulos que conduzem a respostas dos pesquisados, Estes estímulos podem ser frases incompletas ou simples menção do nome de pessoas e objetos, A vantagem alegada em favor dos itens projetivas reside no fato de possibilitar a obtenção de respostas independentemente do autocanhecimento da pessoa e de seu desejo de revelar-se, 12.26 A igualdade das unidades Um dos maiores problemas na quantificação de variáveis sociais refere-se à determinação do quanto uma unidade é mais baixa ou mais alta que outra. Já foi considerado que a mensuração de determinados fatos ou fenômenos sociais não ultrapassa o nível de ordenação, ou seja, possibilita apenas verificar se uma unidade é maior au menor que outra. Há casos em que se atinge o nível intervalar. Por exempio, numa «escala de prestígio, a ocupação de juiz poderá estar situada no percen- “til 86, Esta escala possibilita determinar a distância entre o prestígio desta ocupação e o das demais ocupações consideradas. Entretanto, não permite afirmar que os juízes gozam de duas vezes mais prestígio em relação a uma ocupação situada no percentil 43 da mesma escala. Isto somente seria possível com uma escala de razão, que teria como ponto de origem um valar zero, As escalas sociais não apresentam essa característica, Os valores obtidos podem ser somados ou subtraídos, mas não multiplicados ou divididos. Não é necessário, porém, que uma escala apresente essa ca- racterística, posto que, embora desejável, não é essencial para o proce- dimento científico correto. 12.3 ESCALAS SOCIAIS MAIS UTILIZADAS 12.3.1 Escalas de ordenação Estas escalas são constituídas por uma série de palavras ou enun- 138 ciados que os sujeitos devem ordenar de acordo com sua aceitação ou rejeição. Por exemplo: pode-se solicitar que as pessoas ordenem: série de nacionalidades de acordo com sua preferência em termos: relacionamento. Estas escalas tornam-se mais perfeitas quando combi nam as palavras ou enunciados em pares, Na hipótese de a escala envo ver as nacionalidades português, inglês, alemão, argentino e japonês, combinações possíveis seriam: inglês-argentino inglês-japonês alemão-argentino alemão-japonês argentino-japonês português-inglês português-alemão português-argentino português-japonês inglês-alemão As combinações, depois de embaralhadas, são apresentadas aos sujeitos que indicam sua preferência em relação a cada par. Depois da apuração dos dados têm-se a ordenação da escala segundo cada um dos respondentes. 123.2 Escalas de graduação As escalas de graduação apresentam um contínuo de atitudes pos- síveis em relação a determinada questão, Os enunciados de atitudes correspondem a graus, que indicam maior ou menor favorabilidade. O exemplo abaixa é o de uma escala de graduação destinada a mensu- rar a opinião perante a pena de morte. "Como você se coloca em relação à pena de morte?” ( ) Totalmente favorável (3 Favorável com algumas restrições ( ) Nem aprovação nem desaprovação () Desaprovação em muitos aspectos f ) Totalmente desfavorável Estas escalas apresentam geralmente cinco graus, sendo que O central corresponde a uma posição indefinida. Podem-se, porém, elaborar escalas com três ou quatro graus. Em alguns casos, a escala de quatro pode ser preferida porque evita a tendência central. Esca- fas com mais de cinco graus geralmente são inconvenientes. 139: 140 123.3 Escalas de distância social . Estas escalas são utilizadas para estabelecer relações de distân- Sia entre as atitudes em relação a determinados grupos sociais. A pri- meira escala de distância social foi elaborada por Bogardus (1925) e teve como objetivo medir a intensidade dos preconceitos raciais. Esta escala é constituída por sete itens indicadores de distância social, nu- merados de 1a 7. Para responder, o indivíduo indica sua concordân- cia ou discordância com os enunciados apresentados. A escala canstru fda por Bogardus, após vários testes, foi aplicada a 1.725 cidadãos norte-americanos, que indicaram sua posição em re- lação a quatro grupos étnicos. Os resultados obtidos foram os se- guintes: Tabela 12.2. Reações de 1.725 cidadãos norte-americanos em relação à quatro grupos étnicos, em percentagem* Níveis de) (1) (2) (3) (3) 68 (6) (q ceitação Ê o Be E g 8 | 6 ê é 8 Grupos ES | Bal E ss | Bl Ee | SS émicos N) 62 | 84 | 83 | GE | 83/65 || é Ingleses 83,7 96,7 97,3 95,4 959 1% 00 Suecos 45,3 62,1 756 78,0 B5,3 54 10 Poloneses 114,0 n, 28,3 443 58,3 19,7 42 Coreanos % s8 130 214 23 44 19,1 * Fonte: Bogardus, 1928, página 25. o Depois de Bogardus, vários autores etaboraram outras escalas de distância social baseadas nos mesmos princípios. Assim, Dodd (1935) elaborou uma escala para medir atitudes em relação a grupos étnicos, religiosos e sociais. Embora baseada nos mesmos princípios da escala de Bogardus, esta apresenta apenas cinco graduações que são: 1.Se quisesse casar-me, não haveria inconveniente em fazélo com pessoa desse grupo, 2, Não veria nenhum inconveniente em convidar uma pessoa desse grupo para almoçar. 3. Prefiro considerálas como pessoas conhecidas de vista e com as quais se trocam algumas palavras ocasionais. 4, Não me agradam encontros com essas pessoas, 5. Preferiria que essas pessoas fossem eliminadas. 1234 Escala de Thurstone A escala de Thurstone constitui a primeira experiência de mensu- ração de atitudes com base numa escala de intervalos, A despeito das críticas que lhe têm sido formuladas e de ter caído em desuso, esta escala é tomara frequentemente como a base metodológica para os procedimentos de mensuração de atitudes. À elaboração de uma escala deste tipo segue os seguintes passos: a) Pede-se a certa número de pessoas que manifestem por es- crito suas opiniões acerca do problema a ser estudado, Os enunciados dessas opiniões devem ser ciaros, breves e em número suficiente para cobrir toda a gama de atitudes pos- síveis, desde as mais favoráveis até as mais desfavoráveis. .b) Depois de elaborada a lista de enunciados (cerca de 100), cada um deles é transcrito em cartões que são entregues a um grupo de pessoas. Estas pessoas (ju (zes), cujo número se situa em tomo de 100, são solicitadas a ordenar os enuncia- dos em onze grupos, de acordo com uma escala de gradua- ção que vai da atitude mais favorável à menos favorável, c) Depois de terem os enunciados recebido uma nota variando de 1a 17, calcula-se a mediana e o desvio quartilica da dis- tribuição de cada enunciado segunda a ponderação atribu f- da pelos juízes. Aqueles enunciados que apresentam eleva- da dispersão são excluídos por sua ambigúidade ou irrete- vância. Os demais recebem um valor, de acordo com a me- diana de sua distribuição. . “d) Por fim, seleciona-se certo número de enunciados: (entre 15 e 30) uniformemente distribuídos ao longo de uma escala': de onze pontos separados por intervalos equivalentes: AS: 146 13 Os Testes 13.1 CONCEITUAÇÃO À palavra teste provém do latim (testis = testemunha), por inter- médio do inglês (test = prova), Assim, aplicar um teste significa fazer uma prova. Os testes são aplicados nos mais diversos campos da atividade humana, pais sempre há a necessidade de se colocar alguma coisa à prova. Nas ciências, particutarmente, os testes são amplamente reque- ridos. Todavia, neste domínio o significado de teste é bem mais preci- so, puis envolve o sentido de medida. Assim, aplicar um teste significa medir, isto é, comparar com um critério determinado. Em Psicologia, a palavra teste foi utilizada pela primeira vez por «James Cattel! (1890), que se dedicava à medição das diferenças indivi- duais nas reações a uma mesma prova. Desde então têm sida elabora- dos milhares de testes para explorar as mais diversas características hu- manas, em múltiplos domínios, tais como no da Psicologia, Psiquia- tria, Psicologia Social, Educação etr. Pode-se definir teste psicológico como uma situação experimental que serve de estímulo a um comportamento. Ou como “uma medida objetiva e padronizada de uma amostra do comportamento (Anastasi, 1965, p. 26). p - 13.2 REQUISITOS DE UM TESTE 13.2.1 Validade Validade refere-se ao fato de o teste medir realmente aquiio a que se propõe. A validade requerida de um teste psicológico é semelhante à das escalas sociais, que rigorosamente também são testes. Assim, os procedimentos para validação das escalas sociais podem ser adotados para boa parte dos testes psicológicos. Entretanto, esses procedimen- tos são questionados em relação a muitos testes, sobretudo os de per- sonalidade. Alega-se que a validação por intermédio de técnicas como ado “júri” ou dos “grupos conhecidos” apresentam dificuldades, pois nos julgamentos ou na escolha dos grupos há o risco da subjetividade. Para superar essas dificuídades, que se tarnam bastante sérias no Plano de investigação da personalidade, vêm sendo desenvolvidos os procedimentos de validação dê conteúdo e de “construto”. Estes procedimentos, ao contrário daqueles já considerados, que são baseados essencialmente na experiência, são de natureza lógica, porque se reportam à fundamentação teórica do teste. A validação de conteúdo consiste em “mostrar que os itens do teste são amostras do universo no qual o pesquisador está interessado” (Van Kolck, 1975, p, 19). indica até que ponto o teste representa bem o tipo de situação estudada, e assim pode ser considerado válido como amostra representativa do comportamento em apreço. A validação de “construto” investiga as qualidades psicológicas que o teste mede (Van Kolck, 1975, p. 19). Procura verificar a exten- são em que a teste mede um definido “construto”, ou seja, o atributo humano que se supõe refletido na realização do teste. Estes procedimentos não substituem os testes empíricos, mas completam-nos. Recomenda-se, portanto, que os testes mais comple- xos, sobretudo os de personatidade, sejam submetidos a provas empf- ricas depois da análise de conteúdo e da validação de “construto”. Se houver coincidência de resultados, então o teste estará validado do ponto de vista lógico e empírico. Caso contrário, o melhor será formu- lar hipóteses acerca da não-coincidência, com vistas no aprimoramen- to do teste. - 147 13.22 Precisão A precisão de um teste refere-se à sua qualidade de medir com acuracidade o que se propõe a medir. Os procedimentos adotados para testar a precisão de um teste são basicamente os mesmos adotados para as escalas de atitude. 13.23 Padronização A padronização diz respeito à uniformidade no processo de apli- cação, análise e interpretação do teste. No caso dos testes psicológi- -cos, padronizar significa fixar critérios que possibilitam comparar objetivamente os resultados de diferentes indivíduos. É condição essencial de qualquer método científico rigoroso. Por essa razão, um procedimento não pode ser designado como teste se não apre- senta uniformidade em todo o seu processo. Para assegurar essa uniformidade são elaborados os manuais de instruções para aplicação, análise e interpretação dos testes. 1324 Aferição A aferição de um teste refere-se ao estabelecimento de normas para avaliação e interpretação dos resultados no teste, A aferição de um teste está contida em sua padronização. Quan- do um teste é apresentado como padranizado, está implícito que foi aferido, pais a uniformicdade de avaliação e interpretação implica a estabelecimento de critérios para julgamento dos sujeitos de forma a poder compará-los entre si. Quando, porém, um teste é usado com um grupo diferente daquele para o qual foi organizado, deve passar por nova aferição, a fim de que sejam fixadas unidades de medida mais adequadas aos novos sujeitos. A aferição de um teste, na maioria das vezes, constitui tarefa hbas- tante exaustiva, Geralmente é desenvolvida por organizações especia- lizadas com o concurso de equipes de psicólogos e estatísticos, A tare- fa de aferição envolve a tradução — no caso de testes elaborados em outros países — e a adaptação das questões, em relação à forma e ao em que será utilizado. Concluídas essas atividades, procede-se à aferi- ção propriamente dita. 133 CLASSIFICAÇÃO DOS TESTES O grande número de testes psicológicos exige que sejam classifi- cados em grandes categorias, Coma, porém, os testes são muito dife- rentes entre si, sua classificação tem sido feita segundo critérios os mais variados, nem sempre mutuamente exclusivos. A título ilustrati- vo, apresenta-se aqui a classificação proposta por Odete Lourenção Van Kolck (1975, p. 23). a) Segundo o uso ou emprego: e individuais; e coletivos; e auto-administrados. b) Segundo a modalidade de apresentação: de lápis e papel; verbais; não verbais; mistos; de realização ou execução; e com uso de projeções ou televisão. c) Segundo a abordagem: e analíticos; e sintéticos; e sincréticos. d) Segundo o objeto: * de eficiência (inteligência, aptidões artísticas, motoras, mecânicas, sensoriais, profissionais etc.); e de personalidade (interesses, atitudes, valores ete.);. * de escolaridade, 148 conteúdo, para adequá-lo às peculiaridades sócio-culturais do grupo . “CÊ tag e) Segundo a natureza da função: e de capacidade; e de involução; e de deterioração. f) Segundo a modalidade de construção: * com referência à construção interna: — testes constituídos de um só tipo de prova; — testes organizados com tarefas, itens ou provas variadas; € com referência à construção externa: — testes isolados; — baterias ou escalas. 134 APLICAÇÃO DOS TESTES NA PESQUISA SOCIAL A utilização de testes deve revestir-se de uma série de cuidados. Primeiro porque, de modo geral, a aplicação e, sobretudo, a interpre- tação dos testes constituem tarefa bastante complexa, Depois porque a aplicação dos testes pode provocar efeitos nos sujeitos. Por essas razões, os testes só devem ser utilizados por pessoas reconhecidamente habilitadas para tal. A própria divulgação de muitos testes é mesmo restrita aos psicólogos, com vistas a evitar tanto o seu uso inadequa- do quanto a familiarização com o material, que pode provocar sua invalidação. Por sua própria natureza, os testes são fundamentalmente instru- mentos para o diagnóstico psicológico. Todavia, podem ser úteis ou necessários para a investigação de certos tipos de problemas em pesquisa social. Pode ocarrer, par exemplo, que em determinada pes- quisa seja necessário investigar 0 nível mental de determinada popu- lação ou a agressividade de um grupo. Nestes casos, a aplicação de tes- tes de inteligência ou de personalidade é indicada. Por tudo o que foi considerado, fica claro que maiores considera- ções acerca da teoria subjacente aos vários testes ou dos procedimen- tos para sua aplicação e interpretaçãa estão fora do âmbito deste livro. Todavia, considerando a utilidade de certos tipos de testes na pesquisa social, serão mencionados alguns dos mais frequentemente utilizados, 50 que são os testes projetivos e os testes sociométricos. 13.5 OS TESTES PROJETIVOS Os testes prajetivos fundamentam-se na apresentação de uma si- tuação estimulante, perante a qual o sujeito reage de acordo com o sig- nificado particular e específico que essa situação assume para ele. À situação estimulante pode ser uma gravura, um borrão de tinta, uma boneca etc. O sujeito é solicitado a falar acerca dessa situação. Contu- do, as respostas são interpretadas como indicações da visão que o indi- víduo tem do mundo, de sua estrutura de personalidade, de suas ne- cessidades, sentimentos, valores etc, Muitos dos testes projetivos podem ser utilizados para o estudo das atitudes sociais. Em função dos materiais utitizados e das técnicas de abordagem, podem ser classificados em visuais, verbais, gráficos e lúdicos. 13.51 Testes visuais Neste grupo estão os testes que se valem de imagens como situa- ções para provocar projeções. Alguns desses testes valem -se de borrões ou desenhos, como é o caso do Rorschach. Outros apresentam como estímulos quadros e gravuras. São os testes aperceptivo-temáticos, que têm como protótipo o TAT (Teste de Apercepção Temática). Os testes deste grupo são muito úteis para o estudo dos proble- mas, conflitos, anseias, aspirações, temores, medos e angústias dos in- divíduos. Em virtude, porém, da complexidade de que se reveste sua in- terpretação e da delicadeza dos temas que investiga, sua aplicação de- verá ser confiada apenas a pessoas de reconhecida capacitação técnica. É possível, no entanto, aplicar os princípios do teste de apercep- ção temática na elaboração de técnicas simples para o estucio de atitu- des sociais. Um exemplo é o “Teste de Relações Humanas” (Cooke, 1950), que consiste em dez desenhos que mostram situações ambíquas de relacionamento intergrupal. Numa figura aparece uma cena de jogo de" bola-ao-cesto, onde se evidencia um jogador branco caído e um jogador negro de pé; noutra aparece um casal numa portaria de hotel, onde se lê um anúncio indicando que o hotel tem clientela restrita; numa terceira aparece uma cena de restaurante, na qual três negros es- tão na entrada, falando com o maitre, que está com a mão levantada. Todas as outras figuras apresentam igualmente cenas que podem ser interpretadas como expressões de conflito ou amizade. As pessoas são 151 56 A partir da apuração dos dados, torna-se possível a construção de índices sociométricos e mesmo classificar os componentes do grupo em temos de aceitação ou rejeição. Todavia, a melhor forma de ex- pressão dos dados é o chamado sociograma. Neste, os indivíduos são representados por um círculo (ou, nos grupos mistos, os homens por um triângulo e as mulheres por um círculo), no interior do qual se colo- ca O número correspondente, As aceitações e rejeições entre os indiví- duos são indicadas por flechas. A aceitação é representada por traço contínuo, a rejeição por traço descontínua e a eleição mútua por fle- cha de duas pontas. Para indicar os níveis de aceitação lem 19, 20, 39 lugar) podem ser utilizadas cores' diferentes. Os indivíduos mais escolhidos são colocados no centro e os menos escolhidos na perife- ria. O conjunto se encerra com um círculo maior que simboliza to- doogrupo. A Figura 13.1, tomada como ilustração de sociograma, represen- ta as primeiras escolhas que aparecem na sociomatriz acima conside- rada, Fernando] Figura 13.1. Modelo de sociograma. E E i É rm tt teqaec LEITURAS RECOMENDADAS SELLTIZ, Claire et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo, Her- der, 1967. Cap. 8 ALVES, Danny José. O reste sociométrico; sociogramas. Porto Alegre, Globo, 1974, EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1. Construa uma série de perguntas incompletas que possam ser utili- zadas para a pesquisa de atitudes em relação a determinado grupo nacional. 2. Elabore uma lista com o nôme de dez grupos étnicos ou nacionais. A seguir, leia cada um desses nomes para um grupo de pessoas, soli- citando para que registrem, por escrito e rapidamente, a primeira idéia que lhes surgir na mente. Verifique, por fim, quais as idéias que com maior frequência se associam aos nomes dos grupos. 3. Aplique aos alunos de determinada classe um questionário com a pergunta: "Quem você escolheria para organizar um piquenique, em 19, em 2º e em 39 lugar?” Com base nesses dados, elabore um sociograma. 157 14 À Utilização de Documenjos 14.1 AS FONTES DE "PAPEL" Todos os procedimentos para coleta de dados considerados nos capítulos anteriores têm em comum o fato de serem aplicados dire- tamente às pessoas. Todavia, não são apenas as pessoas vivas que constituem fontes de dados. Muitos dados importantes na pesquisa social provêm de fontes de “papel”: arquivos históricos, registros es- tatísticos, diários, biografias, jornais, revistas etc. * As fontes de “papel” muitas vezes são capazes de proporcionar ao pesquisador dados suficientemente ricos pára evitar a perda de tempo com levantamentos de campo, sem contar que em muitos casos só se torna possivel a investigação social a partir de documentos. Como são em grande número as fontes de documentação, serão aqui consideradas apenas as mais importantes, que são: os registros estatísticos, os documentos pessoais e os meios de comunicação de massa. 142 OS REGISTROS ESTATÍSTICOS Todas as sociedades modernas dispõem de grande quantidade de dados estatísticos referentes às características de seus membros. Tais dados são geralmente coletados e armazenados para servir aos interesses de organizações, sobretudo da Administração Pública. To- 58 davia, podem ser muito úteis para a pesquisa social. À natureza dos dados disponíveis depende dos objetivos da entidade que os coleta e os organiza. Entidades governamentais como a Fundação IBGE dispõem de dados referentes a características sócia- -econâmicas da população brasileira, tais como: idade, sexo, tamanho da família, nível de escolaridade, ocupação, nível de renda ete. Os órgãos de saúrie tomecem dados a respeito de incidência de doenças, causas de morte etc. Uma entidade como o Departamento Intersin- dical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos dispõe de dados sobre desemprego, salários, greves, negociações trabalhistas etc. Orga- nizações voluntárias têm dados referentes a seus membros e também às populações que atendem. Institutos de pesquisa vinculados a uni- versidades dispõem de grande acervo de dados referentes aos mais diversos campos de conhecimento. Além disso, número cada vez maior de entidades vem-se preocupando em manter bancos de dados. Isto se verifica em hospitais, escolas, agências de serviço social, enti- dades de classe, repartições públicas etc. De modo geral, a coleta de dados a partir de registros estatísti- cos é muito mais simples do que mediante qualquer procedimento direto. No entanto, exige que o pesquisador disponha de um bem ela- borado plano de pesquisa que indique com clareza a natureza dos dados a serem obtidos. E também que saiba identificar as fontes ade- quadas para a obtenção de dados significativos para os propósitos da pesquisa. O livro de Durkheim, O suicídio, é sempre citado como um dos mais notáveis exemplos de como um pesquisador dotado de grande argúcia intelectual é capaz de obter resultados altamente significa- tivos a partir de dados estatísticos. Durkheim havia formulado a hi- pótese de que as causas do suicídio são de natureza social. Para tanto, estudou todos os registros de suicídio disponíveis nos países euro- peus. Considerou; ainda, várias hipóteses alternativas muito aceitas na época — que o suicídio é causado por fatores cósmicos, raciais, hereditários e psicopatológicos — e demonstrou como estão em de- sacordo com as estatísticas. Por exemplo, a hipótese de que o sui- cídio é influenciado pelo clima baseava-se na observação, feita por outros pesquisadores, de que a incidência de suicídio aumenta re- gularmente de jansiro a junho (mês em que se inicia o verão no he- misfério norte), e depois declina até dezembro (mês em que se inicia o inverno no hemisfério norte). Durkheim analisa cuidadosamente à influência da temperatura sotire o suicídio e rejeita essa hipótese, Sustenta que, se à temperatura fosse a causa básica, o suicídio varia- ria simultaneamente, mas isso não ocorre. Na primavera ocorrem mais suicídios que no outono, embora naquela estação a temperatura seja 159 ligeiramente mais baixa. Além disso, o suicídio atinge o nível má- ximo de incidência não nos meses mais quentes, que são julho e agosto, mas em junho, Assim, Durkheim formula a hipótese de que O Índice de suicídio está ligado não à estação do ano, mas à atividade social que varia de acordo com a estação. : O raciocínio de Durkheim avança, considerando outras influên- cias, tais como religião, família e atmosfera política. Assim, verifi- ca menar índice de suicídios entre católicos que entre protestantes, entre pessoas casadas que entre solteiras, entre os que têm filhos que entre os que não têm. Também verifica que em tempos de guerra e de fervor nacional o índice de suicídios é menor. A partir desses dados, Durkheim conclui que a causa do suicídio está na quebra dos laços de solidariedade entre os indivíduos, ou que a participação num grupo social coeso reduz o índice de suicídios. . O emprego de dados estatísticos na pesquisa social apresenta algumas limitações. Selltiz et al, (1967, p. 364) lembram que freguen- temente a definição de categorias empregadas no material estatístico não coincide com a empregada na pesquisa social. Por exemplo, o pesquisador pode ter interesse em estudar a situação matrimonial de uma população. Os registros estatísticos oficiais geralmente indicam a distribuição da população de acordo com o estado civit, ou seja, a situação prevista em lei, Numa pesquisa social, de modo geral, in- teressa a efetiva situação matrimonial das pessoas, que nem sempre “coincide com a oficial, Também deve merecer atenção do pesquisador a metodologia utilizada na coleta de dados. Muitos registros são coligidos com a. intenção de refletir a realidade, Entretanto, par razões as mais diver- sas, as declarações dos indivíduos em muitos casos tendem a ser falhas. É provável, por exemplo, que informações sobre renda basea- das em declarações para fins de coleta de dados sejam subestimadas. Também é admissível que estatísticas sobre filhos ilegítimos não se- jam muito exatas. Os cuidados com a natureza dos registros não implicam que devam ser desprezados sempre que sobre eles pairarem dúvidas. Mui- tas vezes, é possível a correção dos registros com base naquilo que se sabe acerca das técnicas de coleta de dados. Outras vezes isso não é possível. Em qualquer circunstância, porém, torna-se necessário investigar adequadamente a natureza dos dados disponíveis para que se possa decidir, de maneira apropriada, acerca dé sua aceitação ou 14.3 DOCUMENTOS PESSOAIS Há uma série de escritos ditados por iniciativa de seu. autor que possibilitam informações relevantes acerca de sua experiência pessoal. Cartas, diários, memórias e autobiografias são alguns desses documentos que podem ser de grande valia na pesquisa social. Cartas como fonte de dados têm sido utilizadas em algumas pes- quisas sociais. The polish peasant, de Thomas e Znaniecky (1918), constitui o mais importante exemplo de pesquisa em que se utilizou exaustivamente de dados dessa natureza. Os autores dessa obra utili- zaram cartas entre poloneses nos Estados Unidos e no país de origem para estudar problemas de integração na sociedade norte-americana. Essas cartas foram obtidas a partir de anúncios numa revista. Mais de 700 cartas foram compradas e os resultados foram anatisados em 50 conjuntos sob o nome de família. Embora se reconheça o valor da pesquisa realizada por Thomas e Znaniecky, a utilização da correspondência pessoal na pesquisa social tem sido muito criticada. Alega-se que nos dias de hoje pouco valor. podem ter as cartas para fins de pesquisa, pois em decorrência do telefone e de outros meios de comunicação as pessoas tendem a restringir o número de cartas. Além disso, é pouco provável que cartas indicando experiências íntimas cheguem às mãos dos pesqui- sadores. Por essas razões, o uso de correspondência pessoal é tido como de pouco valor na pesquisa social, a não ser no caso de cartas históricas. Diários, memórias e autobiografias também são apresentados como documentos de alguma utilidade na pesquisa social, As diferen- ças entre esses três tipos de documentos não são tão fáceis de ser estabelecidas. Mas, para fins de pesquisa, pode-se definir diário como o documento escrito na ocasião dos acontecimentos; memórias são reminiscências do autor relativas a determinado período e autobio- grafia é uma tentativa de apresentar um registro cronológico e siste- mático da vida do próprio autor. Os diários, entre esses documentos, são os mais comuns e podem ser escritos pelos mais diversos motivos. Para políticos e chefes mi-. litares pode ser o recolhimento de fatos para um futuro tivro,.mas.. também uma forma de preparar-se para a defesa de possíveis acusa- ções post mortem. Diários de adolescentes têm sido utilizados: para 160 Fejeição. o exteriorização de sentimentos ou apenas para manter uma atividade: 4) ires 166 15 À Análise ea Interpretação 15.1 CONCEITUAÇÃO Após a coleta de dados, a fase seguinte da pesquisa é a de análise e interpretação. Estes dois processos, apesar de conceitualmente distintos, aparecem sempre estreitamente relacionados. A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que possibilitem o fomecimento de respostas ao problema proposto para investigação. Já a interpretação tem como objetivo a procura do sen- tido mais amplo das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos. Os processos de análise e interpretação variam significativamente em função do plano de pesquisa. Nos delineamentos experimentais ou quase experimentais, assim como nas levantamentos, constitui tarefa simples identificar e ardenar os passos a serem seguidos. Já nos estudos de caso não se pode falar num esquema rígido de aná- lise e interpretação. A despeito da variação das formas que podem assumir os pro- cessos de análise e interpretação, é possível afirmar que em boa parte das pesquisas sociais são observados os seguintes passos: a) estabelecimento de categorias; b) codificação; c) tabulação; d) análise estatística das dados; e) avaliação das generalizações obtidas com os dados; 1) inferência de relações causais; e 9) interpretação dos dados. 15.2 0 ESTABELECIMENTO DE CATEGORIAS As respostas fornecidas pelos elementos pesquisados tendem a ser as mais variadas. Para que essas respostas possam ser adeguada- mente analisadas, torna-se necessário, portanto, organizá-las, o que é feito mediante o seu agrupamento em certo número de categorias. Para que essas categorias sejam úteis na análise dos dados, devem atender a algumas regras básicas, assim definidas por Seliz et al, (1967, p. 44%): a) 6 conjunto de categorias deve ser derivado de um único princípio de classificação; bjo conjunto de categorias deve ser exaustivo; e c) as categorias do conjunto devem ser mutuamente exclusivas, Para que se torne possível o agrupamento de grande número de respostas a determinado item em um pequeno número de categorias, tornase necessário estabelecer um princípio de ctassificação. Imagi- nese, por exemplo, que uma pesquisa destinada a verificar a atitude acerca dos integrantes de determinado grupo religioso tenha ofere- cido as seguintes respostas: “São pessoas muito ignorantes.” “São como todas as outras.” “São pessoas muito boas.” “Não tenho o que dizer delas.” “Não gosto detas.” “São muito antipáticas." “Não sei o que dizer.” “São uns vagabundos.” “São pessoas muito respeitosas. *Não tenho opinião formada.” Tomando-se como princípio de classificação a favorabilidade ou desfavorabilidade em relação ao grupo, as categorias poderiam ser favorável, desfavorável e neutra, além de uma categoria residual para respostas que eventualmente não pudessem ser enquadradas nas três anteriores. Em muitas situações, o estabelecimento de categorias é tarefa bastante simples. É o caso das pesquisas cujo planejamento envolveu a construção de hipóteses e que tiveram os dados obtidos a partir de instrumentos padronizados. Já nas pesquisas desenvolvidas sem hipó- teses explícitas e com o auxílio de instrumentos nãa padronizados, essa tarefa se torna consideraveimente mais difícil. Nestes casos, tor- na-se conveniente selecionar uma amastra das respostas obtidas e a partir daf construir hipóteses que sirvam de princípio de classificação. Para que o conjunto de categorias seja exaustivo, é necessário que estas sejam suficientes para incluir todas as respostas. Não se deve, entretanto, estabelecer número muito grande de categorias, pois isto poderá dificultar a análise estatística e a interpretação dos dados. Por isso é sempre conveniente a inclusão de uma categoria residual com vistas a eliminar categorias que envolvem poucos elementos. Para que o último critério seja observado, as categorias devem ser organizadas de forma tal que não se torne possível colocar determi- nada resposta em mais de uma categoria do conjunto. É algo que tem mais a ver com a coerência interna do conjunto de categorias que com as respostas obtidas. 15.3 CODIFICAÇÃO Codificação é o processo peto qua! os dados brutos são transfor- mados em símbolas que possam ser tabulados. A codificação pode ser feita anterior ou posteriormente à cole- ta dos dados. A pré-codificação ocorre frequentemente em levanta- mentos em que os questionários são constituídos por perguntas fe- chadas, cujas alternativas são associadas a códigos impressos no pró- prio questionário. Também ocarre em pesquisas desenvolvidas com o auxílio da técnica da observação sistemática, em que os códigos já aparecem na folha de registro. A forma mais prática de proceder à pré codificação em ques- 168 tionários padronizados consiste em imprimir no espaço à direita do enunciado de cada alternativa o código correspondente, como. apare ce no fragmento do Quadro 15.1. ES Quadro 15.1. Fragmento de questionário pré-codi ficado. 1. Sexo 4. Escolaridade Masc. ty oq Nunca foi à escala (jaz Fem, (+ 02 1Ograuincompleto ( ):13 1º grau completo (a 2. Idade! 2º grau Incompleto LI) E de 1Ba 20 anos tros 29 grau completo (+16 de 21a 2] anos ts 04 Superior incompleto (1.177 He 24 a 26 anos t) 05 Superior completo (1 48 de 27» 29anos (3 06 mais de 29 anos (1 07 5. Religião: Católico 1319 3, Procedência: Evangélico ty 20 Grande São Pauto 11 08 Espírita tha Interior de São Paulo ( ] 08! Umbandista to az Outros Estados tj ao Outra religião 11 23 Exterior tam Sem religião tj za 154 TABULAÇÃO Tabulação é o processo de agrupar e contar os casos que estão nas várias categorias de anátisa. Pode haver tabulação simples e cru- zada. A tabulação do primeiro tipo, que também é denominada mar- ginal, consiste na simples contagem das frequências das categorias de cada conjunto. A tabulação cruzada, por sua vez, consiste na con- tagem das fregiiências que ocorrem juntamente em dois ou mais con- juntos de categorias — por exemplo: tabulação dos casos referentes às categorias de renda e de escolaridade, Três procedimentos de tabulação podem ser identificados: ma- nual, mecânico e eletrônico. 154.7 Tabulação manual O procedimento mais elementar de tabulação é 0 manual, Co! siste no uso de lápis.e papel. Toda vez que apareça determinad ilo este é registrado com um traço (ou outro sinal qualquer! erros, costuma-se distribuir os traços de maneira a formar um quadra- do com o quinto traço em transversal: | 1) (2) (3 149) (5) Quando se deseja realizar a tabulação cruzada pelo processo manual, é conveniente a utilização de "folhas de contagem”. Estas folhas, na proporção de uma para cada questionário (ou outro ins- trumento de coleta de dados que porventura tenha sido aplicado), devem conter todos os códigos correspondentes às alternativas pro- postas, como exemplifica o Quadro 15.2. . Quadro 15.2, Folha de contagem. q oz 03 04 05 06 07 08 09 19 mu 12 13 14 15 16 17 18 19 20 “21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 3 32 33 34 35 36 3? 38 39 40 al a2 43 44 45 46 47 48 49 Bo Em cada uma dessas folhas são assinalados com um círculo (ou com outro sinal qualquer) os códigos referentes às respostas dadas no respectivo questionário. Um exemplo de utilização da “falha de contagem” pode ser dado considerando as questões pré-codificadas que aparecem na pá- gina 169. Seja o caso de estabelecer o cruzamento entre sexo e ida- de. Separam-se todas as folhas em que esteja assinalado o código 01, que correspondem a pessoas do sexo masculina, A seguir, classificam- -se todas as folhas deste bloco segundo os códigos de 03 a 07, que, por sua vez, correspondem às várias faixas etárias consideradas. O mesmo procedimenito será adotado em relação às folhas em que es- teja assinalado o código 02, que correspondem ao sexo feminino. 70 Assim, será possível construir uma tabela de dupla entrada, onde rm vo Pe as categorias correspondentes ao sexo inscrevem-se nas linhas e as correspondentes à idade nas colunas, como é indicado no Quadro 15.3. Quadro 15.3. Tabela de dupla entrada. Idade emanos | des de 21 de 24 de 27 mais a 20 a23 a26 a29 de 29 Sexo Masculino Feminino 154.2 Tabulação mecânica O processo de tabulação pode ser abreviado quando, em lugar de marcações por escrito, são utilizadas perfurações, o que permite a classificação e a contagem mecânica das cartões. O sistema mais simples de utilização de cartões perfurados é o que apresenta fileiras de perfuração marginal. Nestas fileiras apare- cem conjuntos de perfurações correspondentes aos vários códigos utilizados. Para cada unidade numérica considerada nos códigos apa- recem quatro furos, associados aos números 01, 02, 04 e 07, res- pectivamente. Mediante o uso de um picotador, afasta-se a partícula de papel entre o orifício perfurado e a margem do cartão. Torna-se possível, pois, mediante um picote, registrar qualquer dos valores impressos (01, 02, 04 ou 07). Picotando-sa os espaços corresponden- tes aos valores 01 e 02, obtém-se, por sua vez, O registro do número 0341 +2 = 3), Paraa marcação dos demais valores, procede-se às combinações: t+4 =5 2+4-6 1+7 =8 2+7=8 Cada conjunto de quatro perfurações corresponde, naturalmen- te, à representação das unidades. Quando se deseja representar de- 171 que é mais típico. Quando se analisa, por exemplo, o salário médio predominante num setor industrial, faz-se referência ao valor modal ou mais frequente. 15.5.1.2 INDICAÇÃO DA VARIABILIDADE DOS INDIVÍDUOS NO GRUPO A indicação do grau de semelhança ou diferença dos indivíduos num grupo em relação a determinada característica é obtida pela utilização das medidas de dispersão, das quais as mais comuns são a amplitude, o desvio médio, o desvio-padrão e o desvio quartílico. A amplitude é a mais simples dessas medidas e serve para mos- trar os extremos da variação num grupo. Pode mostrar, por exemplo, que pelo menos uma pessoa nunca vai à igreja enquanto pela menos uma vai diariamente. O desvio médio é utilizado quando se deseja medir a distância média entre indivíduos e a média do grupo. O des- vio-padrão tem o mesma objetivo; constitui, entretanto, medida de maior estabilidade e torna-se vantajoso quando se necessita da utili- zação posterior de procedimentos inferenciais. O desvio quartílico, por fim, é utilizado nos casos em que a medida de tendência central aplicada foi a mediana. 15.5.1.3 DISTRIBUIÇÃO DOS INDIVIDUOS EM RELAÇÃO A DETERMINADAS VARIÁVEIS Pode-se estar interessado em verificar como se distribui a popu- lação pesquisada em relação a determinada variável. Por exemplo, se o número de pessoas que vão à igreja uma vez por semana é maior ou menor que o daqueles que vão uma vez por mês. Ou se a proporção dos que vão mais de uma vez por semana é maior do que a dos que nunca vão. Para verificar estes dados, utiliza-se sobretudo o polfgano de frequências. Assim, pode-se saber se a distribuição é do tipo “nor- mal”, quando o polígono assume a forma de sino. Ou se existe um número aproximadamente igual de pessoas em cada ponto da dis- tribuição, resultando num gráfico retangular. Ou se o número de casos é maior num dos lados da distribuição, formando uma curva assimétrica. Ou, ainda, se existe um acúmulo em dois ou mais pontos da escala, com relativamente poucos no meio, determinando uma 176 curva bimodal ou multimodal, 15.5.1.4 DETERMINAÇÃO DA FORÇA DA RELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS A idéia básica nos estudos explicativos é a da existência de re- lações entre variáveis. Ou, em outras palavras, em que medida a va- riação numa característica está ligada a variações em .outra. O procedimento estatístico adequado para esse fim é a corre lação que se expressa por um coeficiente. Este coeficiente é igual a 0,00 quando duas variáveis são absolutamente independentes entre si, ou seja, não existe qualquer relação entre elas. Pode assumir um valor máximo de + 1,00, quando a associação for positiva e o mais forte passível, Pode, também, assumit um valor méximo de - 1,00, quando a associação for negativa e o mais forte possível. Um exemplo de forte correlação positiva é a relação entre idade € estatura de uma criança; quanto maior a idade, maior a estatura. Um exemplo de forte correlação negativa é a relação entre a calor e o consumo de cobertores: quanto maior o calor, menor 0 consumo. Por fim, um exemplo que provavelmente indicará inexistência de correlação é a relação entre o número do calçado de um adulto e seu nível intelectual. Existe grande número de testes de correlação e o uso de cada um deles depende das características dos dados disponíveis. Para que se possa escolher adequadamente um desses testes, é necessária ter as seguintes informações acerca dos dados: a) o tipo de distribuição dos dados (normal ou não); bjo nível de mensuração alcançado; c) o formato das tabelas (número de finhas e colunas). Como é sabido, muitas das distribuições abservadas na natureza são do tipo “normal”. Nestes casos, sua representação estatística assume à forma de uma curva que cresce inicialmente, até atingir o ponto mais alto na altura da média aritmética, decrescendo em segui- da; na parte ascendente e descendente da curva há um ponto de in- flexão que se encontra na altura da média + desvio-padrão. A Figu- ra 15.2 representa a distribuição normal. Quando se sabe que a distribuição dos dados é a “normal”, utili- zam-se os testes chamados paramétricos, sendo que o mais conhecido é o coeficiente de correlação de Pearson. Quando não se temmaiores 177: -Je 20 10 ig 20 30 Figura 15,2. 4 curva da distribuição normal. informações sobre o tipo de distribuição, ou se sabe que esta não é do tipo normal, utilizam-se os testes de distribuição livre também denominados não paramétricos. Os testes não paramétricos são em grande número. Os mais co- nhecidos são: coeficiente phi, coeficiente de correção de postos de Spearman, coeficiente de correlação de postos de Kendall, coeficien- te de contingência e cosficiente O de Yule, À adequada aplicação de cada um deles exige informações prévias acerca do nível de mensura- ção alcançado em cada uma das variáveis e também acerca da sua disposição nas tabelas. : Será considerado aqui apenas um desses coeficientes, o O de Yule, que é aplicável a grande número de situações na pesquisa. Seu cálculo é bastante simples e segue a fórmula: q = 42.-8C AD+BC Aplica-se o O de Yule a tabelas quádruplas. Isto significa que as duas variáveis deverão ser dicotômicas, ou seja, apresentar duas cate- gorias. Algumas variáveis são naturalmente dicotômicas. Todavia, em muitos casos haverá a necessidade de dicotomizá-as. A mais con- veniente forma de dicotomização é a que segue o critério 50:50, ou seja, a que possibilita separar os casos em dois grupos, de forma tal que cada um deles contenha metade dos elementos considerados. Quando os dadas se apresentam em escalas ordinais, de intervalo ou de razão, o problema é simplesmente o de saber onde cortar a se- quiência. Quando, parém, os dados são nominais, o problema é que eles podem ser redistribuídos, não apenas cortados. Considerem-se, 178 por exemplo, os dados hipotéticos apresentados na Tabela 15.1. m Tabela 15.1. Distribuição percentual! de profissionais liberais num gru- po hipotético. Profissionais ...ccccccicccc se ctrecceneraars % Advogados .. 25 Engenheiros .. 18 Médicos ... 15 Dentistas... 14 Psicólogos ..... 14 Sociólogos ... 9 Químicos ... 3 Físicos ....... 2 Totat 100 Neste caso, como no da maioria dos que envolvem escalas nomi- nais, torna-se necessário estabelecer algum critério que possibilite dividir a distribuição em dois grupos. Para isso a intuição e o conhe- cimento da literatura são mais importantes do que regras estatísticas. Tudo o que pode ser dito é que se devem agrupar as categorias que apresentam maior semelhança entre si. Parece razoável, portanto, combinar advogados, psicólogos e sociólogos, cuja formação se encon- tra na área de ciências humanas. Os demais constituiriam o grupo de profissionais da área de ciências físicas e biológicas. Davis (1976, p. 46) apresenta duas regras práticas que podem auxiliar no processo de corte das variáveis que se apresentam em escalas nominais: “1. Se uma das categorias for exageradamente maior em fre qiiência do que o resto, use-a sozinha coma metade da di- cotomia, se eta estiver na faixa de 30:70. Se não, acrescen- telhe o mínimo necessário de categorias aparentemente compatíveis para alcançar o critério de 30:70. 2, Se você tiver um grande número de categorias com pequenas fregúências, comece formando pares aparentemente compa- tíveis; depois combine os pares em conjuntos de quatro. etc., até um dos grupos alcançar o critério de 30:70,". 180 Davis enfatiza a conveniência de manter pelo menos 30% dos casos em cada uma das categorias. Isto é importante, sobretudo com amostras pequenas, para garantir maior significância aos resultados. O problema da significância é bastante complexo e será considerado adiante, embora de maneira não exaustiva. A seguir, apresenta-se um exemplo do cálculo de O. Imagine-se que uma pesquisa tenha como objetivo verificar a hipótese de que a atitude em relação à legalização do aborto está relacionada ao nível de frequência à igreja. Para tanto foram ouvidas 300 pessoas e obti- dos, entre outros, os dados da Tabela 15.2. Tabela 15.2. Distribuição de uma população segundo a fregiência à igreja. Fregiência à igreja N % Pelo menos uma vez por semana .. 52 17,33 Em média uma vez pormês ..... 74 24,867 Algumas vezes por ano . 68 2267 Raramente se 22,00 Nunca aq 13,33 TOTAL Lelis eia a00 100,00 Tabela 15.3. Distribuição de uma população segundo a favorabitidade à legalização do aborto. Favorabilidade Mv % Totalmente favorável... ......... 48 14,33 Favorável em muitosaspectos ...... 118 39,33 Favorával em poucos aspectos ...... 76 25,33 Totalmente desfavorável o 21,00 TOTAL ..ccicc aa 300 100,00 As cinco categorias da variável frequência à igreja poderiam ser agrupadas da seguinte maneira: os que vão à igreja pelo menos : uma vez por semana e os que vão em média uma vez por mês formam o grupo dos mais assíduos e os que se inciuem nas outras três, o grupo cos menos assíduos. Desta forma, o primeiro grupo reuniria 42% dos participantes e o segundo 58%, o que representa uma situação bas- tante favorável com relação às regras práticas enunciadas. As categorias da variável favorabilidade à legalização do aborto poderiam ser assim reunidas: um grupo formado pelos que são totalmente favoráveis ou favoráveis em muitos aspectos e outro gru- po pelos que são favoráveis em poucos aspectos ou totalmente desfa- voráveis. Desta forma, o primeiro grupo abrangeria 53,66% do total de pesquisados e o segundo, 45,33% — situação altamente favorável, já que se aproxima da faixa de 50:50, que é a ideal. Imagine-se, agora, que estes dados estejam assim distribuídos: Tabela 15.4. Fregiiência à igreja e atitude perante a fegalização do aborto. Favorabilidade] à legalização Mais Menos Total Fregiiência o aborto favoráveis favoráveis àigraja Mais frequentes ag 7” 126 Menos frequentes 112 174 TOTAL . 161 139 300 Aplicando-se a fórmula, obtém-se: 49.6) (7112) O =tagea + (rig 047 O coeficiente obtido indica que enire as duas variáveis existe uma correlação negativa mocerada, ou seja, as pessoas que mais. frequentam a igreja manifestam atitudes menos favoráveis à legali- zação do aborto. a Dam No exemplo, tem-se « < 0,001. Isto significa que a relação entre preferência político-partidária e origem da população pode ser considerada não casual com uia certeza de 99,9% . O teste do x*, como se pode verificar, é bastante simples. Toda- via, apresenta limitações. Uma das mais sérias refere-se às frequências esperadas em cada uma das casas. Tanto é que não se recomenda sua aplicação quando em alguma das casas surgir um valor esperado in- feriora 5. 0.010 0.005 0.025 15.6 A INFERÊNCIA DE RELAÇÕES CAUSAIS 0.050 ? Como é sabido, a maioria das pesquisas realizadas no âmbito das ' ciências sociais não tem por objetivo verificar hipóteses causais. Por essa razão, O tratamento exaustivo desse assunto está fora do alcance : deste livro, Entretanto, convém que sejam tecidas aigumas cansidera- ções acerca da inferência de relações causais na pesquisa social. i De acordo com Selitiz et al. (1967, p. 475), para a inferência de relações causais são necessários três tipos de provas: * a) que x e y variam juntamente, de acordo com a maneira pre- vista na hipótese específica; b) que y não precedeu x no tempo; e c) que outros fatores não determinam y. Nas pesquisas experimentais cuidadosamente controladas, é pos- sível elaborar provas estatísticas para todos esses aspectos, Já nas pes- ! quisas não experimentais, a inferência de relações causais tende a ser bastante arriscada, Diversos procedimentos estatísticos têm sido elaborados com o objetivo de possibilitar a inferência de relações causais a partir de pesquisas não experimentais. São procedimentos destinados a esta- belecer relações entre muitas variáveis, sendo que os mais conhecidos são a análise fatorial e “a análise de trajetória” (path analysis). De modo geral, exigem cálculos bastante complexos, que podem, no en- tanto, ser significativamente simplificados com a aplicação de proces- samento eletrônica, já que existem programas correspondentes. A despeito, porém, da eficiência desses procedimeêntos estatis- t ticos, o mais importante na inferência das relações causais é a análise lógica das relações que aparecem na pesquisa, com vistas a eliminar a espuriedade. Uma relação aparente entre duas variáveis é chamada de espúria 186 se sua variação concomitante decorre não de uma ligação entre elas; mas do fato de cada uma delas estar ligada a uma terceira variável.ou 187: 0.250 0.100 0.500 0.750 0.950 0.900 0.975 0.990 0.995 Tabela 15.7. Distribuição de xº. combinação de variáveis que não servem de ligação no processo pelo. qual x determina y. Um exemplo clássico e pitoresco é o da verifi- cação de que, na Suécia, existe uma relação entre o número de cego- nhas em certa área e o número de crianças nascidas na mesma área. Quando, porém, a partir desses dados, se afirma que o número de nascimentos depende da quantidade de cegonhas, está-se estabelecen- do uma relação espúria. A razão da relação entre o número de ce- gonhas e o de crianças deve ser encontrada noutra variável, queéa localização rural ou urbana. A maioria das cegonhas encontra-se nas áreas rurais e o índice de nascimentos nessas áreas tende a ser superior ao das áreas urbanas. - Muitos dos problemas referentes ao estabelecimento de relações espúrias tem a ver com o planejamento da pesquisa. Quando se cons- trói determinada hipótese, é necessário assegurar as condições que possibilitem o seu teste, É preferível, muitas vezes, construir hipó- teses simples, que apenas indiquem a existência de relações entre va- riáveis, a hipóteses causais cujo teste é improvável. 15.7 À INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Na introdução deste capítulo foi lembrado que a análise e a in- terpretação dos dados da pesquisa constituem processos estreitamente relacionados. Por essa razão, não é muito fáci! definir ande termina a análise e começa a interpretação. Alguns autores ressaltam que na análise o pesquisador prende-se unicamente aos dados, ao passo que, na interpretação, procura um sentido mais amplo para os dados, atra- vés de sua ligação a outros conhecimentos já obtidos. Também há quem compare à análise com a atividade artesanal e a interpretação com a atividade artística. Embora não sendo essas definições total- mente adequadas, deixam claro que a análise da pesquisa pode ser feita mediante determinadas regras, ao passo que a interpretação não está submetida a qualquer cânone. Não existem, pois, normas que indiquem os procedimentos a serem adotados no processo de interpretação dos dados. O que existe na literatura especializada são recormendações acerca dos cuidados que devem tomar os pesquisadores para que a interpretação não com- prometa a pesquisa. Quase tudo o que é dito sobre interpretação dos dados na pes- quisa social refere-se à relação entre os dados empíricos e a teoria. 188 Wright Mills (1965, p. 18), analisando essas relações, define duas cmi | EXERCICIOS E TRABALHOS PRÁTICOS posturas indesejáveis entre os sociólogos americanos: os qu valorizam os dados empiricamente obtidos (“o empirismo-absti e a dos que se perdem em construções teóricas (“as grandes Poder-se-ia dizer que os primeiros estacionam na análise dc os últimos rigorosamente não a praticam, Assim, o que se! é o equilíbrio entre essas duas posturas, a fim de que os res: pesquisa sejam reais e significativos. Goode e Hatt (1969, p. 16) enfatizam a importância da: para o estabelecimento de generalizações empíricas e sistemas der lações entre proposições. Mediante uma teoria pode-se -verificar qui atrás dos dados existe uma série complexa de observações, um grupi de suposições sobre o efeito dos fatores sociais no comportamento & um sistema de proposições sobre a atuação de cada grupo. últa Quando a interpretação dos dados se apóia em teorias suficien- temente confirmadas, lançam-se “raios de luz no obscuro caos das materiais” (Merton, 1964, p. 102), Porém, quando as tearias não apre- sentam mais que um ligeiro grau de comprovação, as explicações que se seguem produzem uma falsa sensação de adequação à realidade, o que pode servir para inibir a realização de investigações apropriadas. LEITURAS RECOMENDADAS SELLTIZ, Claxe et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo, Herder, 1967. Cap. 11. DAVIS, James A. Levantamento de dados em sociologia; uma análise estatística elementar. Rio de Janeiro, Zahar, 1976. SCHRADER, Achim. Introdução à pesquisa socitl empírica. Parto Alegre, Globo, 1974.8 34,43. é 1. Aplique um questionário com algumas perguntas abertas tes a determinado tema. A seguir, estabeleça categorl suficientes para incluir todas as respostas apresentadas. 2. Localize um questionário que apresente perguntas mente fechadas e procure estabelecer previamente:6; as respostas. : 3. Analise as hipóteses apresentadas em alguns relatórios de pesquisa. Procure identificar os procedimentos estatísticos mais adequados para seu teste. 4. Localize algumas tabelas que apresentem dados cruzados, organi- zados em poucas categorias, e teste a sua significância. 5. Procure diversos relatórios de pesquisa. Analise a parte referente à interpretação dos dados e procure identificar as contribuições de teorias e de estudos anteriormente realizados. 190 a 16 O Relatório da Pesquisa 15.1 A REDAÇÃO DO RELATÓRIO A última etapa do processa de pesquisa é a redação do relatório, Embora algumas vezes desconsiderado, mesmo nos meios científicos, o relatório é absolutamente indispensável, posto que nenhum resul- tado obtido na pesquisa tem valor se não puder ser comunicado-aos outros. É bem verdade que as habilidades para o desenvolvimento desta etapa diferem daquelas requeridas nas etapas anteriores. Entre- tanto, a comunicação dos resultados da pesquisa é de responsabili dade do pesquisador e como tal deve receber atenção semelhante à das demais etapas da pesquisa.' Como todo e qualquer instrumento destinado à comunicação, o relatório de pesquisa deve considerar o público a ser atingido. Mui tos pesquisadores elaboram relatórios como se fossem destinados a si próprios. Nestes casos, o relatório apresenta pouco valor como instrumento de comunicação. O pesquisador precisa ter em mente as características do pú- blico a que se destina o relatório. Um relatório destinado a pesquisa- dores deverá ser bastante diferente de outro destinado ao público.em geral. Ambos deverão ainda ser diferentes de um relatório apresenta: do a autoridades governamentais, que podem dirigir sua ação de.acor- do com os resultados apresentados. Qualquer que seja, no entanto, o público a que é dirigido o relatório, alguns aspectos devem ser. necessariamente considerados pelo pesquisador, ou seja, certas:nor mas referentes à estrutura do texto, ao seu estilo e à sua apresenta: ção gráfica. vs
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