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O Corpo e o Devir-Monstro: A Monstruosidade na Filosofia e na História, Notas de estudo de Educação Física

Este documento explora o tema da monstruosidade no contexto da filosofia e da história, a partir da perspectiva de merleau-ponty, gil, canguilhem, foucault e outros pensadores. O texto aborda a relação entre o corpo e o espírito, a natureza da monstruosidade e sua importância na construção da teoria genealógica do poder. Além disso, o documento discute as implicações políticas e sociais da monstruosidade, especialmente no contexto da diferença e da identidade.

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 29/07/2010

elizabeth-macedo-12
elizabeth-macedo-12 🇧🇷

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Baixe O Corpo e o Devir-Monstro: A Monstruosidade na Filosofia e na História e outras Notas de estudo em PDF para Educação Física, somente na Docsity! LUGAR COMUM Nº25-26, pp. 245- O corpo e o devir-monstro107 Carlos Augusto Peixoto Junior De acordo com Merleau-Ponty, o século XX foi o responsável por um apagamento da linha divisória entre corpo e espírito, encarando a vida humana como espiritual e corpórea de ponta a ponta, sempre apoiada sobre o corpo. Se para muitos pensadores do século XIX o corpo era um feixe de mecanismos ou um pedaço de matéria, o século passado teria restaurado e aprofundado a questão da carne, ou seja, o corpo animado. Para Jean-Jacques Courtine, o século passado também foi aquele que inventou teoricamente esse corpo. Essa invenção teria surgido, em primeiro lugar, com a psicanálise, desde que Freud, ao observar os corpos das histéricas de Charcot, teria decifrado a histeria de conversão e compre- endido o que iria constituir um enunciado fundamental de muitas investigações posteriores: “o inconsciente fala através do corpo” (Courtine, 2006/2008, p. 7). Com isso, o corpo acabou sendo ligado ao inconsciente e ao sujeito, mas também inserido nas formas sociais da cultura. No entanto, desde Freud, restaria ainda um obstáculo a transpor: a ob- sessão lingüística do estruturalismo, a qual, desde o pós-guerra até os anos 1960, iria, efetivamente, tentar silenciar o corpo e seus devires. No entanto, já ao fi nal daquela mesma década, as coisas começariam a mudar. O corpo passou a de- sempenhar papéis importantes nos movimentos individualistas e igualitaristas que protestavam contra o peso das hierarquias culturais, políticas e sociais herdadas do passado. Nestas condições, o discurso e as estruturas estavam estreitamente ligados ao poder, ao passo que o corpo estava do lado das categorias oprimidas e marginalizadas: as minorias de raça, de classe ou de gênero pensavam ter apenas o próprio corpo para opor ao discurso do poder, assim como para se contrapor à linguagem como instrumento que buscava impor o silêncio aos corpos. Mas, se em linhas muito gerais, podemos considerar que esse foi o retrato da resistência do corpo às forças reativas que buscaram enterrá-lo nos últimos 107 Trabalho apresentado no Colóquio Cultura, trabalho e natureza na globalização, RJ, Casa de Rui Barbosa, 2008. Versão modifi cada de artigo intitulado “Sobre corpos e monstros: algu- mas refl exões contemporâneas”, submetido à Revista Psicologia em Estudo da Universidade Estadual de Maringá. 255 246 O CORPO E O DEVIR-MONSTRO tempos, no decorrer de toda a história da humanidade até os dias atuais, uma fi - gura, também sempre marginalizada, fez com que a questão do corpo viesse com freqüência à tona, despertando ao mesmo tempo horror e admiração. Trata-se da fi gura do monstro, que aqui buscaremos analisar a partir de questões tais como o corpo monstruoso, a monstruosidade como fenômeno, o devir-monstro e seus refl exos no âmbito de uma política de subjetivação. Em todas estas vertentes, o que poderemos notar é que o monstro sempre desestabiliza a representação e a identidade em suas diversas formas de apresentação. Segundo José Gil, o monstro mostra mais do que tudo o que é visto, pois mostra o irreal verdadeiro. O transbordamento que ele veicula ultrapassa o conte- údo representado, e está para além de sua origem e de sua causa. O monstro é, ao mesmo tempo, absolutamente transparente e totalmente opaco. Quando o enca- ramos, nosso olhar fi ca paralisado e absorto em um fascínio sem fi m. Ao exibir a sua deformidade, a sua anormalidade – que normalmente se esconde – o monstro oferece ao olhar a sua aberração para que todos a vejam. Seu corpo difere do corpo normal na medida em que revela o oculto, algo de disforme, de visceral, de “interior”, uma espécie de obscenidade orgânica. Tal obscenidade, ele não apenas a exibe como também a desdobra, virando a pele do avesso, desfraldando-a, sem se preocupar com o olhar do outro, para fasciná-lo. Mas na realidade o olhar nada vê, dado que fi ca suspenso nessa revelação-oculta- mento que é a própria imagem do corpo monstruoso. Para Gil, o que fascina é que o interior do monstro se corporifi que e que não seja realmente um corpo porque não é dotado de alma. Mostrando o avesso de sua pele, é sua alma abortada que o monstro exibe: seu corpo é o reverso de um corpo com alma. “Ao revelar o que deve permanecer oculto, o corpo monstruoso subverte a mais sagrada das rela- ções entre a alma e o corpo: a alma revelada deixa de ser uma alma, torna-se, no sentido próprio, o reverso do corpo, um outro corpo, mas amorfo e horrível, um não-corpo” (Gil, 2006, p. 79). Nestas condições, estamos na presença de um corpo não codifi cado, de um corpo que prolifera num processo de absorção dos signos que transforma o próprio corpo em signo delirante, parasitando todos os outros signos da lingua- gem. Trata-se, portanto, da irrupção no espaço social de um corpo individual a- signifi cante que, devorando os signos, amedronta e provoca angústia no nosso ser cultural. Ainda de acordo com Gil, o monstro “mostra a natureza – o corpo – tentando signifi car por ela própria, sem a ajuda de (e contra) a cultura: signifi ca, ao mesmo tempo, demasiadas coisas e nada” (Gil, 1997, p. 49). Seguindo essa mesma linha de argumentação, podemos afi rmar que o monstro é como um corpo Carlos Augusto Peixoto Junior 249 o contágio à hereditariedade, eles nos fazem ver que o devir tem a ver com híbri- dos, eles próprios estéreis, nascidos de uma união que não se reproduzirá, mas que sempre recomeçam e a cada vez ganham terreno. Diante dessas hipóteses, já poderíamos dizer que o que está em jogo no devir-monstro do corpo é a sua dimensão de absoluta singularidade. Como afi rma Perret-Gentil, de certa forma e de acordo com uma certa proporção, “tudo aquilo que é mostrado ou que se mostra afi rmando a sua singularidade contra e através do semelhante é monstruoso” (Perret-Gentil, 2004, p. 80). Se o monstro constitui algo que é mostrado, ele é aquilo que faz ver a sua singularidade numa tal evi- dência que pouco deixa a dizer, numa evidência que se mostra por si mesma sem precisar se justifi car. O seu mostrar, enquanto tal, já é sufi ciente para que se possa ver e saber o que ele é. Trata-se portanto de um momento em que a expressão não é mais propriamente equívoca, mas unívoca. Enquanto individuação absoluta, o monstro constitui o impossível de toda generalidade. Interrogando-se de forma mais detalhada sobre o que poderia ser a mul- tiplicidade no domínio das espécies monstruosas, Jean-Clet Martin considerava que a fi gura do monstro seria constituinte da multiplicidade e da unidade como um todo, a qual produz uma diferença ínfi ma e, no entanto, altamente transforma- dora. Com efeito, diz o autor, o monstro nos afeta por sua maneira heteróclita de convocar uma diferença genérica suscetível de afi rmar uma confusão entre as es- pécies, como se o gênero irradiasse sua universalidade através de todas as singula- ridades da matéria, renovando com o seu fl uxo qualquer especifi cidade típica. “O monstro é a mostração de uma vizinhança aberrante, de uma diferença que passa pelo gênero engolindo a das espécies” (Martin, apud Perret-Gentil, 2004, p. 77). Ser híbrido, o monstro designa a singularidade de um gênero materializado, indi- vidualizado embora não-específi co, atualizado no aqui e agora. Ele seria o gênero enquanto tal, realizado em carne e osso. Portanto, ainda de acordo com Martin, o que o monstro expõe por todos os lados é a realidade do gênero, o realismo do universal e sua individualização no sensível: a idéia como formosa deformidade. Essa relação complexa entre monstro e gênero – não mais no domínio de uma história natural crítica, mas no contexto das discussões sobre o corpo e a sexualidade no mundo contemporâneo – também foi objeto de algumas dis- cussões do pós-feminismo americano, o qual busca realizar uma política de sub- versão radical do conceito de gênero no âmbito do sexo. Em seu “Manifesto Ci- borgue”, Donna Haraway afi rma que os monstros sempre defi niram os limites da comunidade na imaginação ocidental. Os centauros e as amazonas da Grécia antiga estabeleceram os limites da polis centrada do humano masculino grego 250 O CORPO E O DEVIR-MONSTRO ao vislumbrarem a possibilidade de casamento e as confusões de fronteira entre o guerreiro, de um lado, e a animalidade e a mulher, de outro. Hermafroditas e gêmeos univitelinos constituíram o confuso material humano dos primórdios da França moderna, o qual fundamentava o discurso no natural e no sobrenatural, no médico e no legal, nas maravilhas excepcionais e nas doenças, todos eles elemen- tos cruciais no estabelecimento da identidade moderna. As ciências voltadas para o estudo da evolução e do comportamento dos macacos e símios marcaram as múltiplas fronteiras das identidades industriais do fi nal do século passado. Já “os monstros-ciborgue da fi cção científi ca feminista defi nem possibilidades e limites políticos bastante diferentes daqueles propostos pela fi cção mundana do Homem e da Mulher” (Haraway, 1991, p. 180). De acordo com Haraway, essas seriam algumas das conseqüências de se levar a sério a imagem dos ciborgues como sendo algo mais do que apenas nossos inimigos. Nossos corpos, atesta a autora, são nossos eus; os corpos são, na verdade, mapas de poder e identidade, e os ciborgues não constituem uma exceção a isso. Só que o corpo do ciborgue não busca uma identidade unitária e, portanto, não produz infi ndáveis dualismos antagônicos. Para o ciborgue, um é pouco e dois, apenas uma possibilidade. Com ele, o intenso prazer na habilidade da máquina deixa de ser um pecado e passa a constituir um importante aspecto do processo de corporifi cação. Assim, a máquina deixa de ser idolatrada e começa a fazer parte de nossos processos corporais. Se podemos ser responsáveis pelas má- quinas, também podemos nos responsabilizar pelas fronteiras e passamos a cons- tituir, nós mesmos, essas fronteiras. Nesse sentido, os ciborgues podem expressar seriamente o aspecto, às vezes parcial ou fl uido, do sexo e da corporifi cação se- xual. A encarnação ciborguiana, não obedece a um calendário edípico no qual as terríveis clivagens de gênero seriam curadas através de uma utopia simbiótica oral ou de um apocalipse pós-edipiano. “Os mais terríveis e promissores monstros dos mundos ciborguianos estão corporifi cados em narrativas não-edípicas, obedecen- do a uma lógica de repressão diferente, a qual, em nome de nossa sobrevivência, precisamos compreender” (Haraway, 1991, p. 150). Nesse sentido, o ciborgue é uma criatura do mundo pós-gênero que não tem qualquer compromisso com as sexualidades edipianas em geral, todas elas fundadas em representações dicotô- micas. Aproximando os monstros das mães e das máquinas, Rosi Braidotti tam- bém traz contribuições signifi cativas para a apreensão do papel subversivo das fi guras monstruosas no que diz respeito ao debate sobre as relações entre sexo e gênero em uma política pós-feminista. Segundo a autora, os monstros sempre Carlos Augusto Peixoto Junior 251 ocuparam um lugar importante na história e na fi losofi a das ciências biológicas, indicando a relação delas com a diferença e com os corpos diferentes. No contexto biológico, eles sempre representaram não apenas as mal-formações do organismo humano, como também assinalavam o lugar intermediário das misturas e da ambi- valência. Esse aspecto já estaria implícito na raiz grega antiga da palavra monstro, teras, a qual signifi cava tanto horrível como maravilhoso, objeto de abjeção e adoração. Desde o século XIX, seguindo o sistema de classifi cação da monstruo- sidade elaborado por Geoffroy Saint-Hilaire, as mal-formações corporais haviam sido defi nidas em termos de excesso, falta ou deslocamento de órgãos. Mesmo que antes de chegar a esse tipo de classifi cação científi ca a fi losofi a natural já lutasse para dar conta destes objetos de abjeção, Braidotti afi rma que “a constitui- ção da teratologia como ciência oferece um exemplo paradigmático das manei- ras pelas quais a racionalidade científi ca lidava com diferenças do tipo corporal” (Braidotti, 1994, p. 78). Assim, de acordo com a autora, fi ca evidente que o discurso sobre os monstros incide sobre uma questão de suma importância para a teoria feminista: o estatuto da diferença no escopo do pensamento racional. Com sua lógica de oposi- ções binárias, tal pensamento sempre tratou a diferença como aquilo que é alguma outra coisa que não a norma. Considerando que o corpo feminino em diferentes momentos foi aproximado do monstro devido à sua falta ou incompletude em re- lação ao corpo do homem, e que o corpo e o desejo das mães foram tomados como causa ou origem de diferentes anomalias ou anormalidades, Braidotti nos mostra que isso se deveu antes de tudo ao fato de que, durante muito tempo, não se con- seguiu pensar diferentemente a diferença. Nestes termos, a aproximação entre os corpos dos monstros, das mulheres e das mães nos serve como instrumento de denúncia do pensamento falogocêntrico que sempre procurou tratar o feminino e a feminilidade como objeto de abjeção. Além disso, marcando a sua diferença singular, como um degenerado que se contrapõe ao tipo genérico, o monstro tam- bém nos obriga a recusar a idéia de mulher genérica. Conforme mostrou Eliane Robert Moraes, “diante das interrogações que as criaturas teratológicas lançam, na afi rmação de sua diferença, não seria possível postularmos um ideal universal feminino, que negaria, igualmente, a singularidade de cada ser” (Moraes, 2005, p. 24). Se mulheres e monstros puderem ser considerados fi guras emblemáticas da incompletude, acima de tudo, vale lembrar que ambos nos mostram que somos, cada um de nós, um desvio em relação ao suposto homem genérico e universal e que, portanto, nessa qualidade, cabe a cada um e a todos a aventura sensível de uma existência. 254 O CORPO E O DEVIR-MONSTRO mos aprender a amar certos monstros e a combater outros” (Negri e Hardt, 2005, p. 256). Assim, precisamos utilizar as expressões monstruosas da multidão para desafi ar e subverter as metamorfoses da vida artifi cial transformadas em merca- doria, o poder capitalista que vende as mutações da natureza e a nova eugenia que sustenta esse poder. Pois, se como afi rmam Negri e Hardt, “o conceito de multidão obriga-nos a entrar num novo mundo no qual só podemos entender a nós mesmos como monstros” (Negri e Hardt, 2005, p. 253), é justamente nesse mundo dos monstros que a humanidade tem que se apropriar do seu futuro. Referências BRAIDOTTI, R. “Mothers, monsters and machines”. In: Nomadic subjects: embodi- ment and sexual difference in contemporary feminist theory, New York: Columbia University Press, 1994 CANGUILHEM, G. “La monstruosité et le monstrueux”. In: La connaissance de la vie, Paris: Vrin, (1965) 1992. COURTINE, J-J. “O corpo anormal – história e antropologia culturais da deformida- de. In: Corbin, A., Courtine, J-J & Vigarello, G. História do corpo - vol. 3 - As muta- ções do olhar: o século XX, Petrópolis: Editora Vozes, 2006/2008. DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol.4. Rio de Janeiro: Editora 34, (1980) 1997. FOUCAULT, M. 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